blogue de carla hilário de almeida quevedo bombainteligente@gmail.com

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

The sound of bomba: hoje vou mascarar-me com um belíssimo bigode, como é tradição já há uns três ou quatro anos. Temos de nos adequar às temperaturas cada vez mais baixas. Biquinis e plumas? Nada disso: bigodes, palas, cabeleiras, narizes. No gira-discos do bomba toca Canta, canta minha gente, de Martinho da Vila. Bom Carnaval!

Canta, canta minha gente
de Martinho da Vila
canta Simone

Canta, canta minha gente
Deixa a tristeza prá lá
Canta forte, canta alto
Que a vida vai melhorar

Canta, canta minha gente
Deixa a tristeza prá lá
Canta forte, canta alto
Que a vida vai melhorar

A vida vai melhorar
Vai melhorar
A vida vai melhorar
Vai melhorar

Cantem o samba-de-roda
O samba-canção e o samba rasgado
Cantem o samba-de-breque
O samba moderno e o samba quadrado
Cantem ciranda, o frevo
O coco, maxixe, baião e xaxado
Mas não cante essa moça bonita
Porque ela está com o marido do lado

Canta, canta minha gente
Deixa a tristeza prá lá
Canta forte, canta alto
Que a vida vai melhorar

Quem canta seus males espanta
Lá em cima do morro
Ou sambando no asfalto
Eu canto o samba-enredo
Um sambinha lento e um partido-alto
Há muito tempo não ouço
O tal do samba sincopado
Só não dá prá cantar mesmo
É vendo o sol nascer quadrado
Apio verde! Ao jovem e activo blogue O Insurgente, muitos parabéns pelo primeiro aniversário na blogosfera!
Nas bancas, hoje!

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domingo, fevereiro 26, 2006

Modos de vida

I wish I loved the human race;
I wish I loved its silly face;
I wish I loved the way it walks;
I wish I loved the way it talks;
And when I'm introduced to one
I wish I thought What Jolly Fun!

Sir Walter Alexander Raleigh, Wishes of an Elderly Man
Sobre a BB: João, prefiro-a, naturalmente, na versão "boa", mas entendo a aproximação à extrema-direita, a misantropia e a dedicação aos animais. As pessoas mudam, isolam-se e, algumas, enlouquecem. Daqui a 40 anos, quem sabe como acordaremos.
Uns sobre outros: "Probably the only place where a man can feel really secure is in a maximum security prison, except for the imminent threat of release." Germaine Greer
Monólogo de génio: é o de Stewie, o bebé de Family Guy, quando Brian, o cão, lhe diz que vai participar num reality show. Estão ambos sentados no sofá, ao lado um do outro. O episódio é o décimo da quarta série e chama-se Brian, the Bachelor.

Brian: They are stupid, but I figure I got a few days of free booze and free food before they kick me off. I could use a vacation.

Stewie: Oh, yes, 'cause you've got such a heavy workload around here. Hmm, how you, uh... how you coming on that novel you working on? Hmm? Got a big, uh, big stack of papers there? Got a, got a, got a nice little story you working on there? Your big, big novel you've been working on for three years? (voice rising in pitch) Hmm? Got a, got a compelling protagonist, eh? Got a, got an obstacle for him to overcome? Huh? Got a story brewing there? Working on... Working on that for quite some time, huh? Yeah, talking about that three years ago. You've been working on that the whole time? Nice little, uh, narrative... beginning, middle and end? Some friends become enemies, some enemies become friends? Eh? At the end your main character is richer (voice still higher in pitch) for the experience, yeah? Yeah? Yeah, you've got, uh, no, no. You deserve some time off.

Retoma no final do episódio, quando Brian volta para casa, depois de Brian ter ganho o concurso, ter levado com os pés e de uma série de outras peripécias.

Stewie: Oh, I know it hurts now, Brian, but look at the bright side. You have some new material for that novel you've been writing. You know, the novel you've been working on. You know, the one you've been working on for three years? (voice rising in pitch). You know, the novel? Got something new to write about now, you know? Maybe your... maybe your main character gets into a relationship? (voices rises in pitch again) Suffers a little heartbreak? Something like what-what you've been... you've just been through? Draw from real-life experiences? A little heartbreak, you know, work it into the story? Make those characters a little more three dimensional? (very high pitch) A little richer experience for the reader? Make those second hundred pages really keep the reader guessing what's going to happen? Some twists and turns? (squeaking in high falsetto) A little epilogue? Everybody learns the hero's journey isn't always a happy one? (normal voice) Oh, I look forward to reading it.

sábado, fevereiro 25, 2006

Diva dixit

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"Spaghetti can be eaten most successfully if you inhale it like a vacuum cleaner." Sophia Loren
The sound of bomba: neste sábado de Carnaval, dancemos ao som de Sem Perdão, cantado por Alcione. "Se pensa que é chegar, ver e vencer..." Mais samba no Controversa Maresia e n'A Praia. "... pode parar que já não quero nem lhe ver..." Todos agora!
Uns sobre outros: "A man is in general better pleased when he has a good dinner upon his table, than when his wife talks Greek." Samuel Johnson
Dos Antigos: em Atenas não havia acidentes.
Eu hoje acordei assim...

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Brigitte Bardot

... a pensar que a gripe das aves deixou de ter piada. Quanto mais se aproxima, menos graça tem. No entanto, há que registar a primeira suspeita do caso (atenção aos sintomas: arrobas e sinais estranhos no template) na blogosfera. Nos últimos tempos só me tenho lembrado de um título de uma peça de Ibsen: O Pato Selvagem. Não sei o que é que uma coisa pode ter a ver com a outra, mas há dias que ando a pensar nisto. Tenho de ler a peça, é o que é.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Da idade adulta: o Blogue dos Marretas faz hoje três anos e um dia. Muitos parabéns ao Statler (tenho saudades da UBL, há que dizê-lo sem nenhuma vergonha), ao Animal e ao Waldorf!
Caracóis, Sandálias e Traições

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Roland Barthes a limpar o suor ao actores. Por acaso, parece-me que Lúcio Voreno e Tito Pulo suam bastante. Barthes, you're fired! Pompeu, em apuros, afirma esperançoso que sem ouro não há pessoas e que sem pessoas não há César. "Let the birds fly where they may." E os pássaros voaram na direcção certa. Apreciei a camaradagem entre escravos de primeira classe. Octaviano precisa de comer testículos para não ficar com a anima efeminada, que os Julianos são machos de não deixar escapar uma única escrava. Átia cada vez melhor. César: "I plan on killing no one." Strabo: "That would be an element of surprise." Servilia tem uma boa "cosmetic slave". Átia diz a Servilia que César olhou para ela "como o touro que cobriu Europa". César para Marco António: "Never question my judgements in front of our enemies." Regras básicas. Octaviano presencia o ataque de epilepsia de César, que só não controla o que não pode (ninguém controla a morbus comitialis). mas o que não me sai da cabeça é o vestidinho preto de Servilia, la petite robe noir, muitíssimo à frente do seu tempo.
Modo de vida: sempre que alguém invoca a decepção como argumento de crítica pergunto como se convenceu da importância das suas expectativas.
Blockbomba: She Hate Me (nada como um bom filme imoral - e no entanto... - para animar), La Marche de l'Empereur (aconselho a que vejam sem som nem legendas; o texto é ridículo), The 40 Year Old Virgin (muito engraçado: do you know why I know that you're gay?).
Estado em que se encontra este blogue

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Dedicado ao Fórum.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Diva dixit

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"Hope and curiosity about the future seemed better than guarantees. That's the way I was. The unknown was always so attractive to me... and still is." Hedy Lamarr
The sound of bomba: o samba para hoje chama-se Tô voltando e canta a adorada Simone. Basta clicar no play. (Aqui para nós, que ninguém nos ouve, só os brasileiros fariam um hino à amnistia.)

Tô voltando
de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós
canta Simone

Pode ir armando o coreto
E preparando aquele feijão preto
Eu tô voltando

Põe meia dúzia de Brahma pra gelar
Muda a roupa de cama
Eu tô voltando

Leva o chinelo pra sala de jantar
Que é lá mesmo que a mala eu vou largar
Quero te abraçar
Pode se perfumar
Porque eu tô voltando

Dá uma geral, faz um bom defumador
Encha a casa de flor
Que eu tô voltando

Pega uma praia aproveita tá calor
Vai pegando uma cor
Que eu tô voltando

Faz um cabelo bonito pra eu notar
Que eu só quero mesmo é despentear
Quero te agarrar
Pode se preparar
Porque eu tô voltando

Põe pra tocar na vitrola aquele som
Estréia uma camisola
Eu tô voltando

Dá folga pra empregada
Manda a criançada pra casa da vó
Que eu tô voltando

Diz que eu só volto amanhã se alguém chamar
Telefone não deixa nem tocar
Quero la la iá la la iá la la iá
Porque eu tô voltando

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Última hora!

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Não gosta do Carnaval? Só porque nunca o festejou com os dois DJs do C******, Nuno Miguel Guedes e Zé Diogo Quintela!

SEXTA-FEIRA, 24 de Fevereiro, no NAPRON (antigo Três Pastorinhos) na Rua da Barroca, a partir da meia-noite. Apareça!
Eu hoje acordei assim...

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Natalie Wood

... a pensar na última parte do excelente Status Anxiety. Fiquei a saber que Schopenhauer era amigo de Séneca e com imensa vontade de ler As Meditações, de Marco Aurélio. O que mais me interessou no documentário foi a questão da igualdade, muito enfatizada por Alain de Botton. Esta ideia que nos metem diariamente na cabeça de que somos todos iguais, com idênticas oportunidades, as mesmas capacidades para fazermos o que queremos, o mesmo talento, é uma grande mentira e uma mentira cruel, tanto para quem fracassa como para quem é bem sucedido. O elemento do acaso desapareceu das nossas vidas. Recentemente li quatro textos sobre a inveja de quatro autores diferentes, ingleses e americanos. Todos afirmavam que a igualdade implicava a comparação, que por sua vez levava à inveja e à tal ansiedade, de que Botton tanto falou: o desconforto de ver os outros a fazerem coisas às quais, em princípio, todos estaríamos destinados. No outro dia, passei por uma frase de Charlotte Rampling, em que dizia que nunca fazia comparações. Percebo-a perfeitamente: as coisas boas - aquelas a que chamamos melhores - dispensam que se olhe para o lado. O estudo dos textos antigos não soluciona todas as angústias. Depende de quem os lê, com que gosto e com que atenção; se pretende mudar a sua vida e... aprender com aquilo com que outros há muito se ocuparam. Ler é uma coisa muito complicada e a maioria das pessoas hoje em dia não sabe fazê-lo. Mesmo os que sabem, por vezes enganam-se. Mas Alain de Botton esqueceu-se dos fármacos, da quantidade de ansiolíticos e soníferos que existem no mercado, todos prontos para resolver aflições. Temporariamente, é certo, mas resolver. Um dos livros de que mais gostei foi o de Solomon Schimmel, que desde já recomendo. O autor é psicólogo e, enquanto analisa os pecados capitais, apresenta os casos dos seus pacientes, observando que se soubessem reconhecer os seus problemas como questões relacionadas com a natureza humana, das quais não podemos escapar, não precisavam de tomar antidepressivos. Viver nos dias de hoje será mais difícil para quem acredita que o mundo começou agora.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Diva dixit: "Os blogues são um sinal claro de maluqueira generalizada. Basta dar uma olhadela ao de leve, por aqui e por ali. A proeza nos dias que correm é conseguir fazer um blogue em que o autor não pareça que está a pedir para ser internado de urgência numa clínica especializada em ansiedade de estar vivo", de maradona.
Ninho de cucos (39)

Passo agora a apresentar os familiares próximos do gato Varandas: os primos Marieta, Agostinho e Casimiro.

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Marieta, prima mais nova, salva pelo Varandas da morte certa, através das maravilhas da transfusão de sangue.

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Agostinho, primo mais velho, gato mau, gosta de festas, já deu uma sapatada no Varandas, que, vingativo, retribuiu com idêntica força. Coisas de primos.

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Casimiro, primo de pais desconhecidos, de uma beleza mais popular. Outro género, mas giríssimo à mesma.
Modo de vida: "Duas ou três vezes as belas coisas." A expressão é utilizada por Platão de várias maneiras em textos diferentes e pretende ser um incentivo à repetição. Para a Constança Cunha e Sá, por causa deste post.
The sound of bomba: na minha visita diária ao Impensável, reparei na letra de um samba de Dorival Caymmi que gostaria de pôr no blogue (a propósito, adorei a continuação da letra no sábado, muito adequado e divertido). Infelizmente, não tenho esse samba. Mas tenho outro: Rosa Morena, numa gravação de 1961, cantado pelo próprio. Toca no gira-discos do bomba.

Rosa Morena
de Dorival Caymmi e Antônio de Almeida
canta Dorival Caymmi

Rosa morena
Onde vais morena Rosa
Com essa rosa no cabelo
E esse andar de moça prosa
Morena, morena Rosa
Rosa morena
O samba está esperando
Esperando pra te ver
Deixa de lado essa coisa de dengosa
Anda Rosa, vem me ver
Deixa de lado essa pose
Vem pro samba, vem sambar
Que o pessoal tá cansado de esperar
Eu hoje acordei assim...

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Raquel Welsh

... preparada para festejar o segundo aniversário do Controversa Maresia! Parabéns, minha querida Sofia!

domingo, fevereiro 19, 2006

Estado em que se encontra este blogue

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Jean Seberg
Dos Antigos: como fala Séneca da sorte, pergunta um estimado leitor. Apanhei o tutor de Nero em duas afirmações bastante contraditórias. Já nos vamos desentender outra vez, porque sábios que se contradizem estão tramados comigo! Vejamos. Na carta 70, Séneca afirma: "A condição humana assenta numa base excelente: ninguém é desgraçado, senão por sua própria culpa." Ora logo na carta seguinte, escreve: "O acaso tem (...), necessariamente, muito peso na nossa vida, porquanto nós vivemos ao acaso." Como é, afinal? Ou dominamos tudo e somos capazes de fazer das nossas vidas aquilo que queremos e, se isso não acontecer, foi porque não quisemos, ou a vida é, acima de tudo, uma piada, em que a sorte auxilia uns e abandona outros, sem grande razão nem critério. A primeira hipótese é perfeita para estimular a inveja: todos podemos chegar , seja esse onde for. Alain de Botton desenvolveu a questão muito bem na segunda parte de Status Anxiety. Se é assim, se afinal tudo depende de nós, porque é que há uns que chegam de facto e outros não? O êxito é encarado com insatisfação pelos bem sucedidos e com desconfiança pelos outros; e o fracasso vivido com ressentimento e culpa. E, no entanto, o que vejo é uma maior simplicidade nas coisas que acontecem e que dispensam elaboradas teorias da conspiração ou mesmo explicações. Precisamente: que acontecem. Ou não. Não se poderá arranjar qualquer coisa a meio do caminho? (Talvez continue.)
Eu sabia que isto estava escrito em qualquer sítio (35)

"Para formar juízos de valor sobre as grandes questões há que ter uma grande alma, pois de outro modo atribuiremos às coisas um defeito que é apenas nosso, tal como objectos perfeitamente direitos nos parecem tortos e partidos ao meio quando os vemos metidos dentro de água. O que interessa não é o que vemos, mas o modo como vemos (...)"

Séneca, Cartas a Lucílio, 71.
Modo de vida: "(...) não te preocupes que fulano ou sicrano te achem estúpido. Deixa que os outros te ofendam e te injuriem; desde que possuas a virtude em nada serás lesado por isso. Se queres ser feliz, se queres ser um homem de bem e digno de confiança, não te importes que os outros te desprezem." Sócrates citado por Séneca, Cartas a Lucílio, 71.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Diva dixit

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"If you want to see the girl next door, go next door." Joan Crawford
The sound of bomba: e o samba para hoje é, Se acaso você chegasse, de Lupicínio Rodrigues. Sei que estou a pôr o ferrari dos sambas muito cedo. Depois de pôr a fasquia tão lá no cimo, o que restará? Arrisco, claro. À especial atenção dos lupiciniófilos, Francisco e Alberto.

Se acaso você chegasse
de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins
canta Cyro Monteiro

Se acaso você chegasse
No meu chatô encontrasse
Aquela mulher que você gostou
Será que tinha coragem
De trocar nossa amizade
Por ela que já lhe abandonou

Eu falo porque essa dona
Já mora no meu barraco
À beira de um regato
E um bosque em flor
De dia me lava a roupa
De noite me beija a boca
E assim nós vamos vivendo de amor
Caríssimo Impensado: gosto de outro mau conselho, adequado, parece-me, aos dias sombrios de hoje: "Those who are easily shocked, should be shocked more often". Há mais aqui.
Eu hoje acordei assim...

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Nicole Kidman

... Varandas, tomaste banho finalmente!

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

The sound of bomba: agora que nos aproximamos do Carnaval, proponho que ouçamos alguns sambas. Começo por Rainha Morena, um personal favourite, da espantosa Simone.

Rainha Morena
letra de Simone
música de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro
canta Simone

Sou morena
A rainha morena da tribo de Iracema
Sou morena
Ando nua na selva encantada de Ipanema
Sou a índia brasileira
Tenho as pratas e os ouros das matas na bandeira
Bugigangas
Quero mesmo é as contas de vidros e as missangas
Tenho tudo o que pedir
Segura xará que é isso aí
Voltei a falar a língua tupi
Na aldeia global que é isso aqui
Que vai do Oiapoque ao Chuí
Mesmo pobre de marré decí
Eu sou brasileira e tô aí

Sou morena
Já nasci mesmo pra ser escrava dos sistemas
Sou morena
Pouco a pouco, porém rebentei minhas algemas
Sou de paz, mas sou guerreira
Devagar chego lá derrubando essas fronteiras
Tô de tanga
Mesmo assim já tô dando o meu grito do Ipiranga
Quero tudo o que perdi
Eu quero escolher o que não escolhi
Quero ser cacique guarani
Poder crer no meu pajé daqui
Ter como quiser meu bacuri
Mesmo pobre de marré decí
Eu sou brasileira e tô aí.
Dos Modernos: Séneca é o meu amigo imaginário.
Modo de vida: a namorada de um amigo tem sempre uma máquina fotográfica na mão e tira fotografias a quase tudo o que se passa. Pergunto-lhe se é fotógrafa. Responde, sorridente, que não, que tira fotografias porque quer guardar os bons momentos com o namorado e os amigos e porque não sabe quando as coisas podem acabar. A rapariga não é portuguesa, como decerto percebem. Séneca condenaria este comportamento hedonista. Eu adoro. (E assim nos começamos a desentender outra vez.)
Eu sabia que isto estava escrito em qualquer sítio (34)

"O motivo por que a divindade criou o mundo foi a sua bondade; dada a sua bondade, tudo o que é bom é digno do seu apreço; por isso criou o mundo tão bom quanto lhe foi possível."

Platão, Timeu, 29 d-e, citado por Séneca, em Cartas a Lucílio, 64.
Diva dixit

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"I like to wake up each morning feeling a new man." Jean Harlow

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

The sound of bomba: por falar em South Park e no Natal, o tema Merry Fucking Christmas fica bem em qualquer leitor de cêdês que se preze e é sempre actual. Canta Mr. Garrison. Clique no play e divirta-se!
Gostar de homens©

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Trey Parker e Matt Stone, criadores de South Park, ontem lembrados a propósito de um dos melhores episódios da série, Mr. Hankey, The Christmas Poo. Howdy ho!
Caracóis, Sandálias e Traições: actualizado.
Caprichos

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High heel ankle strap sandals. 95mm heel. Beige/ebony GG fabric with rose leather trim.
Phosphatidyl Serine: as preocupações do Tiago foram bem explicadas pelo Tiago, no post "O homem que se esquecia que tinha uma abundante vida sexual".
Eu hoje acordei assim...

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Sarah Jessica Parker

... a descobrir que o bomba é um blogue pachanga. Mas preciso de maiores pormenores. Por exemplo, haverá bom pachanga e mau pachanga?

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Uns sobre outros: "Every man with a belly full of the classics is an enemy of the human race." Henry Miller
Dos Antigos: numa das cartas ao amigo Lucílio (de carne e osso), Séneca menciona um episódio da vida de Alexandre que encontrei há uns tempos em Plutarco (suponho, aliás, que a fonte de Séneca tenha sido esse mesmo texto). Conta, então, que Alexandre, foi atingido por uma flecha, durante o cerco a uma cidade na Índia. Aguentou a dor estoicamente; ou seja, continuou montado no cavalo como se não fosse nada com ele, com a flecha espetada na perna, a sangrar. Só quando a perna começou a ficar dormente, Alexandre resolveu desmontar e lidar com o problema, embora não sem antes gritar em alto e bom som: "Toda esta gente jura que eu sou filho de Júpiter, mas esta ferida grita bem alto que não passo de um homem!" Ora este "toda a gente" é um bocado estranho, mas talvez não seja completamente errado. A mãe de Alexandre, Olímpia, com os seus delírios femininos, convenceu talvez toda a gente (incluindo ela própria) de que o pai de Alexandre era Júpiter. Até aqui nada de especial. Não faltam misturas de deuses com mortais e com deusas e tudo ao molho e fé em Zeus. Mas há na frase de Alexandre um equívoco: ser filho de um deus e de uma mortal (ou vice-versa) não dá garantias de imortalidade. Veja-se o caso de Aquiles. Ora se Alexandre sabia disso (algo completamente impossível de verificar), a frase - boa, do ponto de vista da retórica e da persuasão - é uma traição. À mãe, que tinha lá aquela fantasia, e ao pai, Filipe II da Macedónia, que, aos olhos modernos, não fica muito visto nesta história toda. Note-se que Alexandre já estava na Índia (no auge da megalomania, portanto) quando o episódio aconteceu. E era mesmo preciso ter ido tão longe?
Verdades absolutas: "O resultado da sabedoria é a obtenção de uma alegria inalterável." Séneca, Cartas a Lucílio, 59.
Vai uma aposta? O EA de Wittgenstein não foi um EHI, mas um EO (Enunciado Ofensivo, uma nova categoria que talvez não seja possível), sem H, claro. Tenho boas razões para pensar assim, mas ao afirmá-lo, escorrego em §4. Bolas.
The sound of bomba: no gira-discos do bomba, toca neste Dia dos Namorados, Weak, das SWV. Embora Homero tenha dito melhor, a letra é encantadora. Podem lê-la no último post do curso de Eros.
Diva dixit

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"I used to be Snow White, but I drifted." Mae West

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Caracóis, Sandálias e Traições

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Depois das chibatadas, ofegante: "Ela chega ao fim mais cansada do que ele." Átia esteve espantosa neste episódio (tirando aquele pormenor escusado de ter mandado matar Glábio, o marido de Octávia). Piratas ilírios? O delírio de Pompeu, ao saber da proximidade de César, soou um bocadinho a Monty Python. Marco António: "It's a crime if we lose. Not if we win." E confia em Lúcio Voreno. Eu, por acaso, nem por isso. Prefiro Tito Pulo, que tem as mulheres desde Narbo até Tebas a gritar pelo seu nome ("wet as October"?). "Atirem-me ao rio Letes, nem assim olvidarei Tito Pulo ministrando rudimentos de Mentalidade e Anatomia da Fêmea a Lúcio Voreno." Somos duas, Cláudia! Catão disse uma asneira: "Juno's cunt"! O caso não é para menos, tendo em conta que Pompeu se prepara para abandonar Roma. Átia, maravilhosa, no momento de crise. Para Octaviano: "Think, think, think, that's all you do you silly boy." Para Castor: "Castor, be sure you cut Octavia's throat before you cut mine." Depois de a multidão furiosa se retirar, lemos o que está escrito no portão a branco: "Atia fellatia." Diálogo tenso entre Bruto e a mãe, Servilia. Não são maneiras, não senhor! Duas boas palmadas... Afinal, era filho de César ou não? "If the Gods are not respected, then why should they help us?" Boa pergunta, Lúcio Voreno. Entrada de César em Roma: "Glaucus, [play] something more cheerful."
Eu hoje acordei assim...

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Brigitte Bardot

... não, ainda não decidi se gosto do título Calma, Larry! Uns dias acordo e gosto, noutros acordo e enervo-me, mas às segundas - dia da série - tenho acordado hesitante. É melhor que A Louca Vida de Larry, isso não podemos negar. Talvez seja do ponto de exclamação, porque é sabido que ninguém fica mais calmo com alguém a gritar para que se acalme. Ouço ali um grito, pronto. Mas a minha cabeça já foi melhor, é certo. Ainda assim, nada que se compare à do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, cuja linha de pensamento se degrada de dia para dia. Campeonato de futebol euro-árabe? E porque não um festival euro-árabe da canção ou uma edição da ModaLisboa em Meca?

domingo, fevereiro 12, 2006

Dos Antigos: não, Lucílio não era o amigo imaginário de Séneca.
Modos de vida: "Acabei de chegar de um passeio em liteira, tão cansado como viria se tivesse feito a pé todo o trajecto. Afinal também cansa andar às costas dos outros, e talvez ainda canse mais por ser antinatural: a natureza não nos deu os pés para andarmos, assim como nos deu os olhos para vermos por nós próprios?" Séneca, Cartas a Lucílio, 55.
Dos Antigos: "Por exemplo, o mínimo gesto pode servir de indício da moralidade das pessoas. Assim, o homem depravado denuncia-se pelo modo de andar, pelos gestos, por um aparte ocasional, pelo levar do dedo à testa, pelo revirar dos olhos; o aldrabão trai-se pelo modo de rir, o louco, pelo rosto e pelas atitudes. Todos estes defeitos se notam por certas marcas perceptíveis." Séneca, Cartas a Lucílio, 52.

sábado, fevereiro 11, 2006

Uns sobre outros: "The language of Aristophanes reeks of his miserable quackery: it is made up of the lowest and most miserable puns; he doesn't even please the people, and to men of judgement and honour he is intolerable; his arrogance is insufferable, and all honest men detest his malice." Plutarco sobre Aristófanes.
The sound of bomba: para acompanhar Ian McShane, toca na grafonola do bomba, Je Bois, de Boris Vian.
Gostar de homens©

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Ian McShane, o mau de Deadwood. Luís, das séries mais recentes da HBO, escolheria esta como a melhor, a mais bem escrita.
Dos Antigos: o problema de Cassandra diverte-me. Apolo prometeu-lhe que lhe ensinaria a arte da profecia, em troca de uns beijinhos e mais algumas coisas. Cassandra aceitou, Apolo ensinou, mas depois, na hora de reclamar os prazeres prometidos, Cassandra armou-se em virgem (algum bombista já terá tratado do assunto) e recusou o deus, coitado. Apolo vingou-se, retirando credibilidade às palavras de Cassandra. Ou seja, ela falava e falava, mas ninguém lhe ligava nenhuma. Nada do que dizia era credível. Tudo porque não cumpriu uma promessa respeitável, sobretudo em tempos caóticos como aqueles (ah, saudades da bandalheira do pré-judaicocristianismo), em que a médio e longo prazo (e quem sabe se a curto, afinal um deus é um deus) ficaria claramente a ganhar.
Eu hoje acordei assim...

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Catherine Deneuve

... completamente reconciliada com Séneca (tivemos um arrufo há uns meses, quando lhe expliquei que os prazeres me interessavam muitíssimo), porque, na hora de escolher, percebo que o faço por causa de actos e não por causa de palavras.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Eu hoje acordei assim...

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Madonna

... a cantar "If you can't stand the heat, then get off my street, get off my street, get off my street..." No iPod nano do bomba toca I Love New York. Para ouvir entre o altíssimo e o máximo.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Confessions at the Grammys

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Fotografia de Madonna a actuar na cerimónia dos Grammys, gentilmente enviada por António Pereira.

Canta Madonna: "I've heard it all before, I've heard it all before, I've heard it all before..." Bom vídeo, by the way.
Como uma liberdade: assino.
Metabloggers do it better (11)

Eu agora estou assim: chamam-me racista, ponho no destaque (por pouco tempo, é certo, mas ponho). Mas não me mandem para a aula de lógica, nem ler o Innumeronomics nem o Freakacy. Tenham dó de mim.
Bombas de Ouro

"Deus me perdoe se o negrume moral e a decadência intelectual se não se exprimem na degradação dos traços: sem precisão de caricatura", de Clara.

"Sejamos claros: apenas entendo que as piadas não são formas de expressão. (...) São formas desvinculadas de expressão. Onde não existe vínculo entre o que se diz e a pessoa que diz, esta desobrigada de defender ou acreditar no que acaba de dizer: contenta-se com o riso dos outros, a tola", de Groucho.

No blogue mais giro (BMG): Deus me livre de ter um blogue!
Gosto mais do Smart

I'm a Porsche 911!


You have a classic style, but you're up-to-date with the latest technology. You're ambitious, competitive, and you love to win. Performance, precision, and prestige - you're one of the elite, and you know it. Take the Which Sports Car Are You? quiz.

Via Lamborghini Murcielago.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Bomba de Ouro: "A Liberdade de Expressão não confere o direito à injúria. A injúria ultrapassa em muito a expressão de uma opinião e visa ofender por ofender. Por isso, não estamos perante um caso de Liberdade de Expressão sempre que se provar que determinada pessoa disse algo sem qualquer conteúdo opinativo com a única intenção de ofender", em O que a Liberdade de Expressão não é, do João Miranda.
COMUNICADO - CONVITE

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A cartoon by John Bramblebough

Na próxima 5.ª feira, 9 de Fevereiro, pelas 15 horas, um grupo de cidadãos portugueses irá manifestar a sua solidariedade para com os cidadãos dinamarqueses (cartoonistas e não-cartoonistas), na Embaixada da Dinamarca, na Rua Castilho, 14, em Lisboa. Convidamos desde já todos os concidadãos a participarem neste acto cívico em nome de uma pedra basilar da nossa existência: a liberdade de expressão.

Não nos move ódio ou ressentimento contra nenhuma religião ou causa. Mas não podemos aceitar que o medo domine a agenda do século XXI. Cidadãos livres, de um país livre que integra uma comunidade de Estados livres chamada União Europeia, publicaram num jornal privado desenhos cómicos. Não discutimos o direito de alguém a considerar esses desenhos de mau gosto. Não discutimos o direito de alguém a sentir-se ofendido. Mas consideramos inaceitável que um suposto ofendido se permita ameaçar, agredir e atentar contra a integridade física e o bom nome de quem apenas o ofendeu com palavras e desenhos num meio de comunicação livre.

Não esqueçamos que a sátira - os romanos diziam mesmo "Satura quidem tota nostra est" - é um género particularmente querido a mais de dois milénios de cultura europeia, e que todas as ditaduras começam sempre por censurar os livros "de gosto duvidoso", "má moral", "blasfemos", "ofensivos à moral e aos bons costumes".

Apelamos ainda ao governo da república portuguesa para que se solidarize com um país europeu que partilha connosco um projecto de união que, a par do progresso económico, pretende assegurar aos seus membros, Estados e Cidadãos, a liberdade de expressão e os valores democráticos a que sentimos ter direito.

Pela liberdade de expressão, nos subscrevemos
Rui Zink
Manuel João Ramos
Luísa Jacobetty

terça-feira, fevereiro 07, 2006

A ver: Status Anxiety, um documentário de Alain de Botton, hoje, às 22h30, na 2:. Sim, João, continua na próxima semana. Julgo que serão três episódios.
Caracóis, Sandálias e Traições

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"Como Leónidas nas Termópilas", diz César a Marco António. Antes de lhe ser cortada a cabeça, claro. por falar em cabeça, que raio de cirurgia foi aquela ao pobre Tito Pulo? Vou consultar o De Medicina, do Celso, e já cá venho. (Mais de 12 horas depois) Não consegui descobrir nada em relação àquele tipo de cirurgia, mas, segundo Celso, o cirurgião devia ser jovem, ter uma mão firme, uma visão excelente e o espírito claro. Devia também comover-se com a dor do seu paciente, ao ponto de o querer tratar, mas devia igualmente ignorar todos os gritos de dor. Isso parece-me que aconteceu. Brrr. Os bordéis serem ao pé do Templo Venéreo parece uma piada, mas não é: vem de Vénus, Templo de Vénus. Átia recebe Lúcio Voreno e Tito Pulo. E depois Marco António, Cícero, Catão, Pompeu, Cipião: "I feel like Helen of Troy". Óptima. Octaviano observa. Não tem nada a ver, mas depois será um Imperador cheio de problemas de saúde: colites, eczemas e bronquites, comia pouco, tinha medo de correntes de ar, enfim, um desastre ambulante. Pompeu acredita que César está fraco, mas Cícero avisa: "The dying serpent bites deepest". No Senado, technicalities: a sessão poderá ser retomada porque não foi oficialmente terminada. E Marco António que não foi ouvido? Ninguém ouviu o que disse, não é extraordinário? Mas devia ser mesmo assim. Infelizmente, as coisas mudam.
Os cartoons são bons cartoons

Caro Eduardo Pitta, talvez devesse ter lincado o artigo no Guardian e não o seu post. Mas depois com quem falava? Não vejo nenhum problema em que um editor de um jornal se recuse a publicar caricaturas sobre Jesus Cristo (note-se que isso aconteceu há três anos; ou seja, há muito tempo, parece-me) e encomende caricaturas sobre Maomé (há quatro ou cinco meses). Qualquer jornal tem uma linha editorial (recusa, aceita e propõe o que se quiser), algo que só é possível em liberdade. O Jyllands-Posten tem a sua. Convenhamos que a ressurreição de Jesus Cristo não está na ordem do dia (nem há três anos estava) e Maomé nunca esteve tão na berra. Pelos piores motivos: actos de terrorismo justificados pela religião islâmica. Talvez não fosse má ideia avaliarmos os cartoons. Afinal, aquilo tem graça ou não? Por mim, tem. Gosto particularmente do da cabeça de Maomé em forma de bomba, porque há muita verdade naquele desenho: mata-se inocentes em nome de Alá. E gosto do das virgens, também por ser verdadeiro: os bombistas-assassinos têm à sua espera 70 virgens. É natural que o stock acabe. Os outros já são mais fraquinhos, mas não são maus de todo.

Mas voltando aos desenhos recusados, podemos imaginar que a publicação dos cartoons sobre a ressurreição de Cristo levariam a cenas de violência provocadas pelos católicos dinamarqueses, conhecidos mundialmente pela sua intransigência teológica, ainda mais quando podem sempre contar com o apoio dos compatriotas calvinistas e luteranos conhecidos pela sua solidariedade. Graças a Deus que não foram publicados! Há três anos que a Europa estaria a ferro e fogo.
Contradiction, anyone?

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Caro Eduardo Pitta, a "opinião pública branca", quando é incomodada, não queima bandeiras, nem destrói embaixadas. Consulta os advogados, faz abaixo-assinados, manifesta-se pacificamente, escreve em blogues ou em jornais, ou amua em casa. Era só o que faltava não podermos criticar e ridicularizar terroristas, que matam pessoas em nome de Alá! Daí a pertinência das caricaturas: a religião islâmica está cada vez mais associada ao terror. Não se matam pessoas em nome de Jesus Cristo. Já passámos essa fase. Outra diferença fundamental.
Diferenças fundamentais: desenhos não são actos. A Europa vê as suas bandeiras a serem queimadas, embaixadas e consulados a serem destruídos, pessoas a morrer e agacha-se perante a "falta de responsabilidade" de publicar caricaturas de Maomé. Estamos a falar de desenhos humorísticos por um lado e destruição e ameaças de morte por outro. Mas qual é a questão, afinal? Qual é a dúvida de que a barbárie existe? Os muçulmanos interpretaram os desenhos como insultuosos - está tudo muito bem explicado aqui - e reagem com violência. E na Europa há quem ache isto normal? Que é preciso ter "responsabilidade", "bom senso" (bem, João Miranda), que não convém ferir as susceptibilidades de assassinos e - imagine-se! - que é preciso pedir desculpas por uns desenhos, bem engraçados, diga-se de passagem? Não tenho respeito nenhum por uma religião que tolera a violência e a opressão e que fomenta a tirania. Não posso respeitar uma cultura de morte.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Diva dixit

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"I don't mind growing old. If I have to go before my time, this is how I'll go - cigarette in one hand, glass of scotch in the other." Ava Gardner
Modo de vida

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Uns sobre outros: "Until I was thirty-five years old I had not read any of her poetry. In fact, with the exception of some children's verses of my father's when I was very young, I hadn't read his either." Frieda Hughes, filha de Sylvia Plath e Ted Hughes.
Early Morning Blogs©

The Courage of Shutting-Up
Sylvia Plath

The courage of the shut mouth, in spite of artillery!
The line pink and quiet, a worm, basking.
There are black discs behind it, the discs of outrage,
And the outrage of the sky, the lined brain of it.
The discs revolve, they ask to be heard,

Loaded, as they are, with accounts of bastardies.
Bastardies, usages, desertions and doubleness,
The needle journeying in its groove,
Silver beast between two dark canyons,
A great surgeon, now a tattooist,

Tattooing over and over the same blue grievances,
The snakes, the babies, the tits
On mermaids and two-legged dreamgirls.
The surgeon is quiet, he does not speak.
He has seen too much death, his hands are full of it.

So the discs of the brain revolve, like the muzzles of cannon.
Then there is that antique billhook, the tongue,
Indefatigable, purple. Must it be cut out?
It has nine tails, it is dangerous.
And the noise it flays from the air, once it gets going!

No, the tongue, too, has been put by,
Hung up in the library with the engravings of Rangoon
And the fox heads, the otter heads, the heads of dead rabbits.
It is a marvellous object?
The things it has pierced in its time.

But how about the eyes, the eyes, the eyes?
Mirrors can kill and talk, they are terrible rooms
In which a torture goes on one can only watch.
The face that lived in this mirror is the face of a dead man.
Do not worry about the eyes?

They may be white and shy, they are no stool pigeons,
Their death rays folded like flags
Of a country no longer heard of,
An obstinate independency
Insolvent among the mountains.

domingo, fevereiro 05, 2006

To whom it may please

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Sylvia Plath lê o poema Lady Lazarus.
"He put himself in a position"

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Ontem revi Jackie Brown, de Quentin Tarantino (pela quarta ou quinta vez), e elegi a minha fala preferida. Ordell (Samuel L. Jackson) tem o corpo de Beaumont Livingston dentro do porta-bagagens e explica a Louis (Robert de Niro): "He put himself in a position where he was gonna have to do ten years in the penitentiary, that's what he did. (taking out a Viceroy and lighting it up) And if you know Beaumont, you know there ain't no way in hell he can do no ten years. And if you know that, you know Beaumont's gonna do any goddam thing Beaumont can to keep from doin' those ten years including telling the federal government everything they want to know about my black ass. Now that, my friend, is a clear case of him or me. And you best believe it ain't gonna be me."
Eu hoje acordei assim...

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Rita Hayworth

... um bocadinho confusa: Jean-Marie Le Pen deu razão aos muçulmanos que, furiosos e estúpidos (em inglês, dimwitted), se manifestam contra os cartoons dinamarqueses, queimando bandeiras e incendiando embaixadas na Síria e em Beirute. Pretenderá ganhar a simpatia dos muçulmanos? Bizarro. Entretanto, a extrema-direita dinamarquesa manifesta-se em Copenhaga a favor da liberdade de expressão. E o Verão que nunca mais chega.

sábado, fevereiro 04, 2006

Uns sobre outros: "I am only one, only one, only one. Only one being, one at the same time. Not two, not three, only one. Only one life to live, only sixty minutes in one hour. Only one pair of eyes. Only one brain. Only one being. Being only one, having only one pair of eyes, having only one time, having only one life, I cannot read your MS three or four times. Not even one time. Only one look, only one look is enough. Hardly one copy would sell here. Hardly one. Hardly one." A. J. Fifield, rejeitando um manuscrito de Gertrude Stein.
Um chuto é um passe é um pontapé*
Harper's Magazine

Excerto de uma entrevista na rádio com Gertrude Stein, publicada na edição de Outono de 1990, de The Paris Review. A entrevista, conduzida pelo repórter da NBC, William Lundell, foi transmitida a 12 de Novembro de 1934. A transcrição, nunca publicada, foi descoberta por Steven Meyer na Biblioteca de Beinecke, na Universidade de Yale.

William Lundell: Pode explicar a passagem de Four Saints in Three Acts, sobre os pombos na relva, que começa assim: "Pigeons on the grass alas. Pigeons on the grass alas. Short longer grass short longer longer short yellow grass" e termina assim: "Lily Lily Lily let Lily Lucy Lucy let Lily. Let Lucy Lily"?
Gertrude Stein: É simples. Estava a passear nos jardins do Luxemburgo em Paris. Era o fim do Verão e a relva estava amarela. Tinha pena de que o Verão estivesse a terminar, vi os pombos gordos na relva amarela e disse "pombos na relva ah" e continuei a escrever, "pombos na relva ah, relva curta e mais comprida baixa e mais comprida mais comprida e baixa relva amarela pombos grandes pombos na relva", e continuei a escrever até me esvaziar da emoção. Se uma mãe, quando dá banho ao seu filho, está cheia de emoção, fala e fala e fala, até que a emoção se esgote. É assim que o escritor lida com a emoção.
Lundell: Mas como sabe o leitor disso?
Stein: O leitor sabe porque gosta. Se gostamos, compreendemos, se compreendemos, gostamos. Compreender significa ser capaz de transformar aquilo de que gostamos noutras palavras, mas não é necessário fazê-lo. Gostar de um jogo de futebol é compreendê-lo de uma maneira futebolística.
Lundell: Viu o jogo entre o Yale e o Darmouth no sábado passado, não viu? Compreendeu-o ao modo americano ou futebolístico ou como?
Stein: Ao modo americano. Interessou-me sobretudo ver que os movimentos e as acções do americano moderno num jogo de futebol se parecem muito aos da dança do índio pele-vermelha, o que só prova que o país que fez um também fez o outro e que o índio pele-vermelha ainda está entre nós. Baixam as cabeças com solenidade e depois debruçam-se para a frente, enquanto os suplentes fora do campo se mexem como os índios. Depois caem todos de gatas como os índios.
Lundell: Mas esses movimentos são exercícios de aquecimento.
Stein: Não importa por que razão os fazem, fazem-nos e pronto, como o índio se mexe, dança e depois temos aquela bola castanha pequena que todos veneram e por que todos se debruçam.
Lundell: Mas a ideia é chutar a bola para lá da linha de golo.
Stein: Acha que não sei isso e não acha que os índios tinham tantas razões e gostavam tanto de dançar como eles?
Lundell: Talvez.

*Texto que traduzi para a Best Of há cerca de sete anos e que não chegou a ser publicado. Já não sei onde está o original. Lembrei-me dele por causa do Poesia & Lda. e por causa do comentário em cima.
So you're Brad Pitt?*

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Absolutamente de acordo.

* de That Don't Impress Me Much, Shania Twain.
Caprichos

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À especial atenção de todas as heroínas românticas, pálidas e olheirentas. De longe, o melhor do mercado.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Diva dixit

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"I thought I told you to wait in the car." Tallulah Bankhead a um antigo amante, quando se cruzaram uma vez depois de muitos anos sem se verem.
Machado de Assis sobre "Eu hoje acordei assim..."

"Na manhã seguinte acordei livre das abominações da véspera; chamei-lhes alucinações, tomei café, percorri os jornais e fui estudar uns autos."

Dom Casmurro, CXX/Os Autos.
Ninho de cucos (38)

Não tenho tido tempo para escovar nem para pentear o gato Varandas. O bicho assemelha-se a um tufo de alcatifa, a um tapete mal lavado, a um gremlin malcheiroso. Os nós acumulam-se, as orelhas metem nojo e a tosquia parece ser, cada vez mais, uma inevitabilidade. "Outra vez, não", mia. Mas ao pegar no Varandas, verifico a evidência: o gato é um animal e um animal não é uma menina.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Uns sobre outros: "It's like kissing Hitler." Tony Curtis sobre Marilyn Monroe.
Diva dixit

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"Hollywood is a place where they'll pay you a thousand dollars for a kiss and fifty cents for your soul." Marilyn Monroe
Estou a ver na RTPN: o presidente do Irão a gritar a palavra energeia perante uma multidão de homens muito parecidos com o próprio e mulheres de preto da cabeça aos pés. O jornalista afirma: "O programa nuclear no Irão assume contornos cada vez mais explosivos". Interessante escolha de palavras. E pensar que eram os mais civilizados da zona...
Uns sobre outros: "There are two ways of disliking poetry. One is to dislike it. The other is to read Pope." Oscar Wilde sobre Alexander Pope.
Eu hoje acordei assim...

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Ingrid Bergman

... hoje, por exemplo, parece-me um dia óptimo para acordar assim. Aguarela: precisamente e mais qualquer coisa.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Uns sobre outros: "How can I take an interest in my work when I don't like it? Francis Bacon
Caracóis, Sandálias e Traições: actualizado.
Papisa responde: o El Ranys pergunta o que quero dizer com aquela "lei fundamental" ditada no artigo na Atlântico (depois de rasgadamente elogiar o blogue do meu amigo maradona, note-se): "Nunca lincar: blogues com caixas de comentários; ou seja, mais de metade da blogosfera lusa. Só para começar." Ora a frase é antecedida de um "Lincar sempre: Alexandre Soares Silva". Pois tratava-se de uma piada de tal maneira subtil que até pareceu uma coisa séria. O objectivo era o de ridicularizar os extremados "sempre" e "nunca", dando exemplos que se anulassem entre si. Por exemplo, o blogue que recomendo tem caixa de comentários (ouço uma gargalhada ao fundo, que agradeço). Basta uma rápida visita à minha lista para perceber que tenho lincados muitos blogues com caixas de comentários.

É, contudo, verdade que antipatizo com caixas de comentários porque já assisti a conversas que fariam vomitar um toxicodependente, com gente ordinária a insultar e a fazer insinuações. Aproveito para explicar porque é que o meu blogue não permite comentários. O motivo principal é este: teria de viver no blogue. Não tenho tempo para gerir caixas de comentários, nem para responder aos comentadores, algo que iria gostar de fazer (respondo a 99% dos e-mails que me enviam). Admiro, no entanto, a tolerância, a caridade, o espírito democrático e a paciência daqueles que têm caixas de comentários e que suportam hóspedes inaceitáveis.
The sound of bomba: por falar em bomba, toca na grafonola La java des bombes atomiques, de Boris Vian. A ouvir e a ler.

La java des bombes atomiques
de Boris Vian

Mon oncle un fameux bricoleur
Faisait en amateur
Des bombes atomiques
Sans avoir jamais rien appris
C'était un vrai génie
Question travaux pratiques
Il s'enfermait tout' la journée
Au fond d'son atelier
Pour fair' des expériences
Et le soir il rentrait chez nous
Et nous mettait en trans'
En nous racontant tout

Pour fabriquer une bombe "A "
Mes enfants croyez-moi
C'est vraiment de la tarte
La question du détonateur
S'résout en un quart d'heur'
C'est de cell's qu'on écarte
En c'qui concerne la bombe "H "
C'est pas beaucoup plus vach'
Mais un' chos' me tourmente
C'est qu'cell's de ma fabrication
N'ont qu'un rayon d'action
De trois mètres cinquante
Y a quéqu'chos' qui cloch' là-d'dans
J'y retourne immédiat'ment

Il a bossé pendant des jours
Tâchant avec amour
D'améliorer l'modèle
Quand il déjeunait avec nous
Il avalait d'un coup
Sa soupe au vermicelle
On voyait à son air féroce
Qu'il tombait sur un os
Mais on n'osait rien dire
Et pis un soir pendant l'repas
V'là tonton qui soupir'
Et qui s'écrie comm' ça

A mesur' que je deviens vieux
Je m'en aperçois mieux
J'ai le cerveau qui flanche
Soyons sérieux disons le mot
C'est même plus un cerveau
C'est comm' de la sauce blanche
Voilà des mois et des années
Que j'essaye d'augmenter
La portée de ma bombe
Et je n'me suis pas rendu compt'
Que la seul' chos' qui compt'
C'est l'endroit où s'qu'ell' tombe
Y a quéqu'chose qui cloch' là-d'dans,
J'y retourne immédiat'ment

Sachant proche le résultat
Tous les grands chefs d'Etat
Lui ont rendu visite
Il les reçut et s'excusa
De ce que sa cagna
Etait aussi petite
Mais sitôt qu'ils sont tous entrés
Il les a enfermés
En disant soyez sages
Et, quand la bombe a explosé
De tous ces personnages
Il n'en est rien resté

Tonton devant ce résultat
Ne se dégonfla pas
Et joua les andouilles
Au Tribunal on l'a traîné
Et devant les jurés
Le voilà qui bafouille
Messieurs c'est un hasard affreux
Mais je jur' devant Dieu
En mon âme et conscience
Qu'en détruisant tous ces tordus
Je suis bien convaincu
D'avoir servi la France
On était dans l'embarras
Alors on l'condamna
Et puis on l'amnistia
Et l'pays reconnaissant
L'élu immédiat'ment
Chef du gouvernement
Sim, mas...

"Um dos gestos que melhor exprimem a minha essência foi a devoção com que corri no domingo próximo a ouvir a missa em S. António dos Pobres."

... ou ainda...

"Por que morrer exatamente há meia hora? Toda hora é apropriada ao óbito; morre-se muito bem às seis ou sete da tarde."

... e definitivamente...

"A leitora, que é minha amiga e abriu este livro com o fim de descansar da catavina de ontem para a valsa de hoje, quer fechá-lo às pressas, ao ver que beiramos um abismo. Não faça isso, querida; eu mudo de rumo."

Machado de Assis, Dom Casmurro, LXIX, LXXXIV e CXIX.

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