blogue de carla hilário de almeida quevedo bombainteligente@gmail.com

quarta-feira, agosto 31, 2005

Estado em que se encontra este blogue



Imagem de Kirstin Davis gentilmente enviada por António Pereira.
Metabloggers do it better (7)

O bomba inteligente é um blogue livre.
Blockbomba: The Interpreter (as únicas cenas interessantes do filme são aquelas em que Nicole Kidman contracena com Sean Penn, sempre sentados, ou de pé, com Kidman em baixo nas escadas e Penn em cima, para que não nos apercebamos do desnível escandaloso de alturas dos actores. A fazer lembrar Humphrey Bogart e Lauren Bacall, dadas as devidas diferenças, sobretudo no que diz respeito a Sean Penn). Kinsey (muito bom).

terça-feira, agosto 30, 2005

Última hora! Portugal não permite que Manuel Alegre seja ambíguo! O significante está abolido. Saussure indignado!
Se é assim...



... que seja entregue no Miss Pearls com um beijinho especial.
Ninho de cucos (24)

A cadela Rosa Maria entra esbaforida pela casa. Felizmente, graças à sua desorientação e ao seu desassossego naturais, vira à esquerda em direcção à sala. Digo "felizmente" porque o gato Varandas encontra-se a dormir - esta história do comprimido (meio, mas grande) tem cansado muito o bichano - na parte de trás da casa e sempre ouvi dizer que cão e gato não é uma boa mistura, embora, por vezes, enfim, resulte bem. Prefiro não arriscar o encontro. Desde que vi o Varandas furioso (uma única vez na vida) todo muito concentrado a fazer um som parecido ao de um motor de um carro e, finalmente, à chapada com os primos, nunca mais o quis ver perto nem de gatos nem de cães. O Varandas acredita que é o único da sua espécie e o seu desconhecimento da vida doméstica e selvagem deve ser mantido. Entretanto, com esta conversa toda, a cadela Rosa Maria dirige-se, sempre a cheirar tudo, para a parte de trás da casa. Tento impedi-la: não, vá, para trás, vai para a varanda, minha querida, cadela mais linda da tia, é muito linda, pois é, mas ali está um gato muito quido sozinho, que se transforma em monstro quando está em contacto com outros bichos, uaauf, não queiras saber mais, Rosa, vai para ali. E arrasto-a para a sala. O Varandas, sempre a bocejar, aparece a meio do caminho. Está um bocado aborrecido, coitadinho. Um cheiro a cão que não se pode. A Rosa é amiga, é prima do Varandas. Ai que me maçaram o bichinho, que não anda nada bem. Farto de cenas, o gato dá meia volta e regressa à sesta da qual não devia, naquela altura, ter acordado. Já lá vou dar o beijinho.

domingo, agosto 28, 2005

Porque é que adoro Desperate Housewives (16)

Lynette: So what did Mike say when he gave you the letter?
Susan: That it explains everything.
Bree: Well, does it?
Susan: I haven't read it.
Edie: Well, why the hell not?
Susan: I just can't.
Lynette: You're a better woman than me. I would have ripped that open with my teeth. Aren't you dying to know what he wrote?
Susan: Yes. What if it just a bunch of far-fetched stories.
Bree: Well, you should assume that it is.
Lynette: Why?
Bree: Well, think about how good men are at lying on the spot. I mean, God forbid, you should give them time and a pen!

Cena do décimo sétimo episódio, There Won't Be Trumpets.
Ninho de cucos (23)

Ah! Se o gato está isento de registo, licenciamento e imposto de selo fico mais descansada.



O Varandas não é um chartreux, mas tem agora o pêlo deste tamanho.
Ninho de cucos (22)

Todos os dias, há cerca de 20, o gato Varandas tem de tomar um comprimido. Meio, mas que, ainda assim, equivale a um comprimido grandito. À noite, um apanha-o e põe-no ao colo, virado de barriga para cima, faz-lhe festas, aproximando muito a cara do focinho e dos bigodes sempre a sorrir. Ninguém está ali para lhe fazer mal. O outro pega numa colher e mergulha o tal meio comprimido grande no azeite que ali colocou. Segundo conselhos do veterinário, o remédio será mais bem absorvido pelo organismo por causa da gordura que o envolve. Além de escorregar melhor pela boca abaixo. Está tudo a postos e o gato confiante (no sentido em que confia) só mexe o rabo, em sinal de desconforto. Mas está imóvel e deixa que um lhe abra a boca e o outro lhe ponha o comprimido bem no fundo, atrás da língua. Desde que a boca é aberta, demora um segundo: vupt e já está. Logo depois, o bicho vai à sua vida: come umas bolachas, bebe água e dorme mais umas 10 ou 12 horas para recuperar.

sábado, agosto 27, 2005

Estados em que se encontra este blogue


E se fechasse os olhos um bocadinho?


Estava a brincar!


Bebo um copo de leite com chocolate agora ou vou jantar?


Vou jantar!

Mas antes...

Fotografias de Marilyn Monroe enquanto jovem gentilmente enviadas por António Pereira.

sexta-feira, agosto 26, 2005

Mesmo científico


Your Power Color Is Lime Green
At Your Highest: you are adventurous, witty, and a visionary.
At Your Lowest: you feel misunderstood, like you don't fit in.
In Love: you have a tough exterior, but can be very dedicated.
How You're Attractive: your self-awareness and confidence lights up a room.
Your Eternal Question: "What else do I need in my life?"

Via Sam having fun at the spa.
O menino da mamã e da avó (15)

António, a imagem que ilustra essa frase extraordinária é a primeira...



Mantegna, Martirio di S. Giaco, 1453, Padua

... não há nada, nadinha, mais bonito na vida do que a empatia. Excede em muito a mera, embora graciosa e encantadora, simpatia.
O menino da mamã e da avó (correio dos leitores)

Mensagem enviada por Anabela Barros Correia: "Quanto ao menino da mamã e da avó: ainda não encontrei nenhuma referência precisa da idade dele (8, 9, 11, 13, 15 anos?); o que se vai sentindo, à medida que a leitura avança, é que o menino não pára de crescer: no final da terceira parte do volume I, já o menino está na sua paixoneta de adolescente. Também eu nunca percebi bem a idade exacta dele. A propósito das madalenas: como sei que adorou 'a passagem das madalenas', penso que talvez gostasse de ver uma imagem das verdadeiras madalenas que Proust descreve:



"Ela mandou buscar um daqueles bolos pequenos e roliços chamados «madalenas», que parecem ter sido moldados na concha estriada de uma vieira." (p. 52)

quinta-feira, agosto 25, 2005

Swear to God...


de Basic Instinct

... que atirei o picador ali para baixo. Óptimo template.

quarta-feira, agosto 24, 2005

A perfeição existe*


Sharon Stone

*Outros títulos possíveis para este post:
- Porque é que adoro Sharon Stone
- Estado em que se encontra este blogue
- Eu hoje acordei assim...
- The sound of bomba (este é para despistar)
- Blockbomba (com linque na fotografia para o site da actriz)
- Etimologia hebdomadária (com texto incluído sobre a palavra beleza, em grego omorfiá)
- Passear pela blogosfera é bom e faz crescer (numa tentativa de recuperação de alguns blogues moribundos)
- Coisas que melhoram algumas vidas (caso na alínea anterior fosse bem sucedida)
- Adenda (simplesmente, fica sempre bem)
- Bomba de Ouro (de Diamante!)
- Caprichos com asterisco para Ninho de cucos
- Eu sabia que isto estava escrito em qualquer sítio (porque no bomba nunca há hybris suficiente)
- E, finalmente, o início de uma nova rubrica intitulada O teu médico é melhor que o dela, com mais imagens e estudos comparativos.
Blogame... blogame mucho, como si fuera esta noche la última veeez. Blooogameee, blooogame mucho, que tengo miedo perderte, perderte otra veeez... Muitos parabéns ao blogame mucho, por dois anos calientes na blogosfera! Beijinhos especiais à lolita e ao caríssimo besugo.

terça-feira, agosto 23, 2005

O menino da mamã e da avó (14)

Marcel idolatra a senhora de Guermantes. O rapaz podia ser feio, mas não tinha mau gosto. A senhora de Guermantes era o supra-sumo da barbatana, não sei se me faço entender. Marcel sonha em conhecê-la: "E esses sonhos advertiam-me de que, já que queria ser um dia escritor, era tempo de saber o que contava escrever. Mas, logo que me interrogava sobre isso, tentando encontrar um assunto em que pudesse pôr de pé um significado filosófico infinito, o meu espírito parava de funcionar, não via mais que o vazio diante da minha atenção, sentia que não tinha génio, ou que talvez uma doença cerebral o impedisse de nascer." (183) Talvez fosse um problema de caneta...




... que a Montblanc, sempre prestável, logo tratou de resolver.
O menino da mamã e da avó (13)

Não sei se por causa das notas que aqui vou escrevendo, se pelo prazer na leitura ou se por me perder no meio de tantas referências, tenho relido algumas passagens deste primeiro volume. Além da maravilhosa passagem da madalena e da hilariante descrição do sono e do pesadelo da tia Léonie (118), que "exigia que ao mesmo tempo que a aprovassem no seu regime, que a lamentassem pelos seus sofrimentos e que a tranqulizassem no seu futuro" (77), li repetidamente (como se fizesse uma espécie de rewind), esta passagem, também sobre a tia Léonie, sobre o seu fim de vida: "O que nela começara - apenas mais cedo do que habitualmente acontece - era aquela grande renúncia da velhice que se prepara para a morte, que se envolve na sua crisálida, e que podemos observar, no fim das vidas que se prolongam até tarde, mesmo entre os amigos unidos pelos laços mais espirituais e que a partir de um certo ano deixam de fazer a viagem ou a saída necessária para se verem, deixam de se escrever e sabem que não mais comunicarão neste mundo." (153) A notícia da morte da tia está na página 163.
O menino da mamã e da avó (12)

É possível que estejam a pensar - muito provavelmente desde o começo desta leitura - porque é que o primeiro volume se chama Do Lado de Swann. Afinal de contas, é um título um pouco estranho (como quase todos), se o virmos assim desgarrado do seu contexto. A resposta está no final da página 143, continuando pelo início da 144: "É que havia em torno de Combray dois «lados» para os passeios, e tão opostos que, com efeito, não saíamos de casa pela mesma porta quando queríamos ir para um lado ou para o outro: o lado de Méséglise-la-Vineuse, a que se chamava também o lado de Swann, porque se passava diante da propriedade do senhor Swann para ir para lá, e o lado de Guermantes." Mais à frente, na página 145, percebemos que para ir pelo lado de Méséglise (ou de Swann) não era preciso sair cedo de casa. O passeio era curto e tão interessante como ir do Jardim das Amoreiras ao Rato (sem dúvida muito bonito, mas não esplendoroso). Já o lado de Guermantes era outra conversa: "Se era bastante simples ir para o lado de Méséglise, coisa diferente era ir para o lado de Guermantes, porque o passeio era longo e queríamos ter a certeza do tempo que iria fazer." (175) O lado de Guermantes promete.
Para o besugo...


(Clique na imagem para ouvir)

Por una cabeza
de un noble potrillo
que justo en la raya
afloja al llegar,
y que al regresar
parece decir:
No olvidés, hermano,
vos sabés, no hay que jugar.
Por una cabeza,
metejón de un día
de aquella coqueta
y burlona mujer,
que al jurar sonriendo
el amor que está mintiendo,
quema en una hoguera
todo mi querer.

Por una cabeza,
todas las locuras.
Su boca que besa,
borra la tristeza,
calma la amargura.
Por una cabeza,
si ella me olvida
qué importa perderme´
mil veces la vida,
para qué vivir.

Cuántos desengaños,
por una cabeza.
Yo jugué mil veces,
no vuelvo a insistir.
Pero si un mirarme hiere al pasar,
sus labios de fuego
otra vez quiero besar.
Basta de carreras,
se acabó la timba.
¡Un final reñido
ya no vuelvo a ver!
Pero si algún pingo
llega a ser fija el domingo,
yo me juego entero.
¡Qué le voy a hacer!

... que não faz a mais pequena ideia (tanto que sabe perfeitamente) de como gosto deste tango e de todos os outros que, a partir de Setembro - vou telefonar à grafonola! -, aqui tocarão. Um beijo!
Blockbomba: Der Untergang (ainda gostava de saber porque viram Hitler como uma figura humana, com sentimentos e simpatias pelos outros).

segunda-feira, agosto 22, 2005

Estados em que se encontra este blogue


A sério? Para mim?


Não posso aceitar, de maneira nenhuma.


E gatos, quido? Gostas de gatos?


Não tenhas medo. O Varandas é boa pessoa.

Imagens gentilmente enviadas por António Pereira.

domingo, agosto 21, 2005

Porque é que adoro Desperate Housewives (15)



Cena do décimo sexto episódio, The Ladies Who Lunch.
Sendo assim: fica combinado. A partir de Setembro, a grafonola do bomba (no momento de férias no Quénia, a copiona) passará a funcionar como os vídeos nos posts descartáveis: se o leitor quiser ouvir, bastar-lhe-á clicar no play. Se, no entanto, tiver as colunas desligadas, continuará sem ouvir nada, por muito que clique no play. Se for surdo de computador, como o maradona, esta medida ser-lhe-á indiferente: clicar ou não clicar não será a questão. Finalmente, caso não consiga desligar as colunas (acontece-me no portátil, talvez por azelhice), levantará os braços em direcção aos céus e gritará "Aleluia!", para logo depois os pousar e enviar um e-mail de agradecimento ao Abrupto por ter conseguido fazer com que eu mudasse de ideias.
Passear pela blogosfera é bom e faz crescer

- Com a imagem de Nate assim tão sorridente, só pode ter acabado mal. Ou bem. Ou... Também quero ver!
- Cláudia, criemos os Fasianídeos Anónimos! "Chateado que nem um peru" é bocadinho isto:


de Basic Instinct.

"Não, está tudo bem. Tudo óptimo! Estou só aqui a picar o gelo. Acabem mais blogues, acabem. As pessoas são livres e a liberdade é uma coisa muito bonita. Comment te dire quê? É só uma letra de uma canção. Está tudo bem."
Eu hoje acordei assim...


Jessica Lange

... Adolfo, hoje parece-me ser um dia tão perfeito como qualquer outro.

sábado, agosto 20, 2005

Dos Antigos: já não há Plutarcos. Mas não faz mal porque também já não há vidas grandiosas e exemplares. Muito menos paralelas. (pausa de sete minutos) Acabo de me lembrar de duas vidas exemplares, muito próximas. Afinal, é capaz de haver Plutarcos.
O menino da mamã e da avó (11)

Além de não ter a certeza absoluta do nome do narrador, do protagonista, do menino da mamã e da avó propriamente dito, tenho outro problema: não percebo bem que idade terá. Por vezes, parece-me ter uns oito anos - a obsessão com o beijinho de boas-noites leva-me a pensar que não terá ainda dez anos, talvez erradamente, porque, pensando bem, poderia até, e em certos casos, ter cinquenta; mas, se assim fosse, teríamos outro romance, provavelmente com serial killers à mistura - noutros momentos parece-me ser um bocadinho mais velho. Encontrei, até agora, duas referências à época de vida em que Marcel se encontra. Uma leva-me a pensar que o menino é pequenino: "Quanto a Guermantes, havia um dia de conhecer mais esse lado, mas apenas muito mais tarde; e durante toda a minha adolescência (...)" (144) A outra dá-me a sensação de que se trata de um adolescente. Diz o senhor Legrandin: "(...) faça-me respirar da distância da sua adolescência essas flores das estações primaveris que eu também percorri há muitos anos." (135) Mas ninguém me tira da cabeça esta imagem, a primeira. Marcel terá 13 anos.

sexta-feira, agosto 19, 2005

Acho mal: acho mal, pronto! E logo agora que há tantos argentinos no FCP! Que diabo. Eip. Bom, que voltem é o que desejo.
Adenda: a expressão "chateada que nem um peru", que merece toda a minha atenção e que, a seu tempo, tratarei de dissecar, está presente na sequência de fotografias da cara de Marilyn Monroe, sobretudo na terceira fotografia. Não sei o que poderá um atarantado peru ter em comum com a mais bela das mulheres tristes, mas alguma relação hei-de arranjar.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Estados em que se encontra este blogue







Grata ao leitor António Pereira.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Bomba de Ouro: "O A Causa Foi Modificada não acaba aqui. A todos os que nestes 2 anos e picos me leram, linkaram, comentaram e escreveram, muito obrigado", do maradona, claro.
A única coisa que se me oferece dizer hoje é o seguinte: acho mal que blogues acabem. Depois do Malapata - que devia ser julgado e condenado por ter apagado o blogue e assim ter cometido um crime contra a humanidade blogueira - foi a vez de o Quartzo, Feldspato & Mica fechar as portas. Acho mal. Depois o Jaquinzinhos. Acho mal. Agora o Fora do Mundo. Acho mal e estou oficialmente chateada que nem um peru.

terça-feira, agosto 16, 2005

Caprichos



À especial atenção da Miss Pearls.

Trate-se!

E qual é o mais quido, qual é? Cutchi, cutchi, cu...
O menino da mamã e da avó (10)

O Nese-Nese sugere que me inscreva no Concurso para Resumir Proust. Julgo que Carlos Quevedo e Rui Zink ganharam o primeiro prémio com este resumo, publicado na Revista Kapa: "Marcel Proust. À la recherche du temps perdu. Paris, Gallimard. 1922 (I.ere edition) - À procura do tempo perdido. Livros do Brasil Colecção Dois Mundos). 1965 Resumo: Um rapaz asmático sofre de insónias porque a mãe não lhe dá um beijinho de boas-noites. No dia seguinte (pág. 486. I vol.), come um bolo e escreve um livro. Nessa noite (pág. 1344. VI vol.) tem um ataque de asma porque a namorada (ou namorado?) se recusa a dar-lhe uns beijinhos. Tudo termina num baile (vol. VII) onde estão todos muito velhinhos e pronto." Daqui.
O menino da mamã e da avó (9)

A minha amiga Vera disse-me que Marcel não era bufo, coitadinho, mas apenas puto, quando muito, totó e enviou-me dois linques: Proust comentado por Cocteau e correspondência de Rilke sobre Du côté de chez Swann.
"Repetir é divino"

"Não pode haver, nesta vida em que a repetição mata, maior louvor a uma coisa amada do que querer unicamente, muitas vezes, repeti-la."

Miguel Esteves Cardoso, Explicações de Português, Lisboa, Assírio & Alvim, 2001, p. 208.
Estado em que se encontra este blogue

O menino da mamã e da avó (8)

O célebre episódio da madalena de Proust é ainda mais bonito do que pensava. Não o posso pôr aqui. Não quero sequer citá-lo. Terão de o ler. Começa no último parágrafo da página 51 e termina, imediatamente antes da parte II, na página 55. Mas não resisto a transcrever uma descrição do carácter de Françoise, a criada da tia Léonie: "Habitualmente, depois de a Eulalie se ir embora, a Françoise profetizava sem benevolência a seu respeito. Odiava-a mas temia-a, e julgava-se obrigada, quando ela lá estava, a fazer-lhe «boa cara». Desforrava-se depois de ela sair, a bem dizer sem nunca a nomear, mas proferindo oráculos sibilinos ou sentenças de carácter geral como as do Eclesiastes, mas cuja aplicação não podia escapar à minha tia." (117) Maravilhoso.
O menino da mamã e da avó (7)

Marcel*, que além de feio era bufo - depois de ver uma menina no escritório do tio Adolphe e de este lhe pedir discrição, o menino foi a correr contar o episódio aos paizinhos (87). Ah, fosse meu filho... agarrava-o pelo bracinho e sussurrava-lhe ao ouvido: "Com que então a falar da vida dos outros... Sabes o beijinho da mamã? Pois durante três dias não vais ter." Mas não. Os pais de Marcel cortaram relações com o pobre tio Adolphe, que, coitado, gostava de actrizes, e fecharam o escritório, onde Marcel habitualmente lia -, tinha um amigo chamado Bloch. O amigo é descrito por Swann, depois de Marcel lhe contar que fora Bloch que lhe indicara as obras de Bergotte: "Ah, sim, aquele rapaz que eu encontrei uma vez aqui, que se parecia tanto com o retrato de Maomé II de Bellini. Oh, impressionante, tem as mesmas sobrancelhas circunflexas, o mesmo nariz adunco, as mesmas faces salientes. Quando tiver uma barbicha será a mesma pessoa." (106)


Bellini, Sultão Maomé II, 1480

Valha-me Deus.

*Tenho estado a chamar-lhe Marcel porque vi o nome mencionado noutros sítios. Ainda ninguém o tratou pelo nome próprio. E não, "palerminha" não conta. Quando isso acontecer, aviso.

segunda-feira, agosto 15, 2005

Blockbomba: Entre tinieblas (excelente).

domingo, agosto 14, 2005

Apio verde! À Polly, por dois anos de Diotima (Aus Lissabon)!
A realidade que nos salva: a ler, absolutamente, Fase de recessão na blogosfera? de Paulo Gorjão, no Bloguítica.

sábado, agosto 13, 2005

O menino da mamã e da avó (6)

Esqueci-me de referir o campanário de Santo Hilário, descrito em Do Lado de Swann como se fosse mais uma personagem. E decente, diga-se de passagem; ou melhor, cite-se para se comprovar que o sítio parece mesmo uma pessoa e, ainda por cima, (muito) decente: "Sem saber muito bem porquê, a minha avó atribuía ao campanário de Santo Hilário aquela ausência de vulgaridade, de pretensões, de mesquinhez, que a levava a amar, e a julgar ricos de benéfica influência, a natureza, quando a mão do jardineiro da minha tia-avó, e as obras de génio. (...) mas era no campanário que parecia tomar consciência de si mesma, afirmar uma existência individual responsável. Era ele que falava por ela." (71) A vista do campanário era única: "Do campanário de Santo Hilário é outra coisa, é toda uma rede onde a localidade está inscrita." (115)



Os mais atentos estarão agora a pensar: "Espera lá! Mas ali diz Illiers! Essa igreja não é em Combray?" Pois digo-vos que é a mesmíssima coisa, Illiers passou a chamar-se Illiers-Combray depois do romance de Proust. Uma grande pinta.

Só mais uma coisa: a Rua de Santo Hilário era a rua da igreja. Mas a tia Léonie morava na Rua de Santiago (55). Pronto, seria de mais.

Bombas de Ouro

"Perguntam-me, não foi ninguém que perguntou, mas aqui fica bem: tens ouvido música? Sim, respondi -e pensei: que raio de pergunta-. O que é que tens ouvido mais vezes, se se pode dizer assim? Olha, é o hino dos Estados Unidos", do Luís, em A Montanha Mágica.

"Quem só vive no presente já morreu e não sabe", da Ana Cláudia Vicente, no Quatro Caminhos.

Ideias contra-intuitivas, do João Miranda, no Blasfémias.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Influência (9)

A palavra para hoje é influência. O particípio presente do verbo latino influere - influens, influentis - estará na origem do vocábulo influência (e muito com certeza de influente, uma vez que é a cara chapadinha em português do dito particípio latino). Ora influere bem dissecado dá in + fluo, ou seja, correr para, lançar-se em; ou mesmo insinuar-se em, espalhar-se em. Ouço um rio a desaguar em influere mas será porque ainda não jantei. A influência será então a acção de alguma coisa sobre outra, quer de maneira ansiosa (correr para), precipitada (lançar-se em) ou inevitável (espalhar-se em), algo que indica uma relação de autoridade: é influente quem ou o que é importante, mesmo que não o percebamos. Sinónimos de influência são, por exemplo, predomínio e crédito e não cópia e decalque. E ainda bem que os antónimos não se anulam, se não, pela simples existência da palavra influência teríamos de abolir vocábulos como originalidade.

Post repetido. Cada vez gosto mais da repetição.

quinta-feira, agosto 11, 2005

Chapéu na mão ou na cabeça?



Marcel Proust e Ramalho Ortigão
Enquanto Sócrates chega e não chega...

I have issues with...
temporary
forget
rest
hinder
scars
Take Word Association Test


Via dear Sam.
Última hora! José Sócrates telefonou mais de duas vezes a António Costa (dixit) a perguntar se deveria interromper as suas férias. Ora mais de duas vezes não são três vezes. Serão, talvez, duas vezes e meia. Já assisti a conflitos em blogues colectivos, em que houve maior insistência telefónica.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Mais resumos úteis: Pulp Fiction, The Texas Chainsaw Massacre e The Shining, em 30 segundos cada!
Ninho de cucos (20)

Rrrrnhaaauuu...
Eu hoje acordei assim...


Hedy Lamarr

... Agosto já não é o que era: um mês quente, passado na praia, sem interrupções. Agora, o melhor de Agosto está nos dias que fazem lembrar o Outono: uma brisa, chuviscos, o céu nublado e o rio cor de prata. O melhor de Agosto é já não ser o que era. E o pior também.

terça-feira, agosto 09, 2005

O menino da mamã e da avó (5)

Uma mulher jovem, sentada a comer uma tangerina, no escritório do tio Adolphe, olha para Marcel, de visita, e comenta: "Como ele se parece com a mãe." (84) Mau.



Afinal não. Respiro de alívio.
O menino da mamã e da avó (4)



Giotto, Caritas, Invidia, 1305-6, Cappella Scrovegni, Padua.

"A moça da cozinha era uma pessoa moral (...) quando [Swann] nos pedia notícias da moça da cozinha dizia-nos: 'Como vai a Caridade de Giotto?' De resto, ela própria, a pobre moça, engordada até às faces que lhe caíam direitas e quadradas, se parecia bastante, efectivamente, com aquelas virgens fortes e varonis, melhor, aquelas matronas, nas quais as virtudes são personificadas na Arena. (...) A Inveja, essa, poderia ter mais uma certa expressão de inveja, mas também nesse fresco o símbolo ocupa tanto espaço e é representado como tão real, a serpente que silva nos lábios da Inveja é tão grossa, enche-lhe tão completamente a grande boca toda aberta, que os músculos da cara estão distendidos para poderem contê-la, como os de uma criança que enche um balão soprando, e toda a atenção da Inveja - e ao mesmo tempo a nossa -, concentrada na acção dos seus lábios, pouco tempo tem para prestar a invejosos pensamentos." (Do Lado de Swann, pp. 88-89)
O menino da mamã e da avó (3)

Quando Swann chega para jantar, Marcel percebe que tem a noite estragada. Será enviado para o quarto, sem direito ao beijinho de boas-noites por que espera durante todo o dia. Uma vez no quarto, Marcel envia um bilhete à mãe, por intermédio de Françoise, a criada, que logo o olha com profundo desprezo: "Então não é uma infelicidade para os pais terem um filho assim?" (36) A mãe mandou que Françoise repetisse: "Não tem resposta." (38) Finalmente, depois da saída de Swann, a mãe sobe as escadas e encontra o filho, ansioso, no corredor e, encolerizada, manda que Marcel desapareça, para que o pai não o encontre "assim à espera, como um tolo!" (42) Nessa noite, o pai, farto daquelas "pieguices" (43), deixa que a mãe durma no quarto de Marcel. A mãe compreende a sua dependência: "(...) parecia-me que, com mão ímpia e secreta, eu acabava de traçar na sua alma uma primeira ruga e de nela fazer surgir um primeiro cabelo branco." (45) Mas suporta o episódio com doçura: "Aqui está a minha moeda de oiro, o meu canarinho, que vai fazer da mãe uma palerminha tão grande como ele, se isto continua assim." (46) Mesmo assim, "o palerminha" lamenta-se de a noite ser "artificiosa e excepcional" (50) e só pensa no dia seguinte, passado longe da mãe, à espera da noite e do beijinho. Já disse que Marcel era uma criança muito feia, não disse?
O menino da mamã e da avó (2)

Nó na garganta (com risos à mistura): "Não tardaria a ser meia-noite. é o momento em que o doente que foi obrigado a partir de viagem e teve de dormir num hotel desconhecido, despertado por uma crise, rejubila ao distinguir debaixo da porta uma tira de luz. Que alegria, já é de manhã! Daqui a pouco os criados estarão a pé. Poderá tocar a campainha, alguém virá socorrê-lo. A esperança de ser aliviado dá-lhe coragem para sofrer." (Do Lado de Swann, p. 10)

Aperto no coração: "Talvez a imobilidade das coisas à nossa volta lhes seja imposta pela nossa certeza de que são elas e não outras, pela imobilidade do nosso pensamento diante delas. Mas a verdade é que quando acordava assim, com o espírito a agitar-se para procurar saber onde estava sem o conseguir, tudo girava em redor de mim na escuridão, as coisas, as terras, os anos." (Do Lado de Swann, p. 12)

segunda-feira, agosto 08, 2005

Resumos úteis: Alien e Jaws em 30 segundos cada!
Para que serve a Internet? A resposta está aqui.
Caprichos: iogurtes de verdade (deliciosos).

domingo, agosto 07, 2005

Porque é que adoro Desperate Housewives (14)



Cena do décimo quarto episódio, Love is in the Air.
The sound of bomba: a grafonola do bomba foi de férias. Durante este mês teremos vídeos um bocadinho pesados e que, por isso mesmo, não poderão ficar no blogue. Veremos um de cada vez, quase todos os dias. Divirtam-se!
O menino da mamã e da avó (começo)

Não sei se foi Jorge Luis Borges que aconselhou o abandono imediato de um livro que nos desagradasse, ou se estarei já a ser influenciada pela descrição da mãe de Marcel, uma "leitora infiel", ou fiel apenas ao que a entusiasmava. Mas sei que Borges afirmou que, para continuarmos a leitura de um livro, era importante que nos causasse alguma reacção física de agrado. A descrição das sensações é meio caminho andado para a asneira, por isso não revelarei pormenores sobre o que estou a sentir com a leitura de Do Lado de Swann, o primeiro volume de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Pronto, senti um nó na garganta, um aperto no coração. Mas ainda não me deu um chilique, muito menos o badagaio.

Para começar, uma observação antipática: Marcel era uma criança muito feia.



Alguém tinha de dizer isto.
Ninho de cucos (19)

Quarenta graus na varanda e encontro o gato, que adquiriu o nome do habitat de infância, completamente esticado numa das cadeiras. Dorme, claro. Passadas umas horas, volto ao local e percebo que o bichano lá continua, desta vez deitado de barriga para cima a brincar com uma bolinha ali abandonada e que, naquele momento, lhe parece simpática. Um calor de morrer, de matar. É para o lado que o Varandas dorme e brinca melhor.

quarta-feira, agosto 03, 2005

Estado em que se encontra este blogue



Até logo.
Muitos parabéns! Ao Alberto, por dois anos de Homem a Dias! E excelentes todos os linques relacionados com Phil Hartman, do SNL. Thanks much!
Bomba de Ouro: "Perguntam-me com alguma insistência (na verdade, foram só duas pessoas) por que é que não tenho caixas de comentários no blogue. Hoje decidi responder. Não tenho caixas de comentários no blogue por três motivos", de JB, no Bandeira ao Vento.
You don't say...

Your Blogging Type is Pensive and Philosophical

You blog like no one else is reading... You tend to use your blog to explore ideas - often in long winded prose. Easy going and flexible, you tend to befriend other bloggers easily. But if they disagree with once too much, you'll pull them from your blogroll!

Blockbomba: Birth, Old Boy.

terça-feira, agosto 02, 2005

Estados em que se encontra este blogue







Grata ao leitor António Pereira.
Blockbomba: Sideways (um filme muito bonito).
O coração na manga: a expressão inglesa "to wear one's heart on one's sleeve", que podem ler no resultado do teste em baixo, é uma das minhas preferidas de sempre. Descobri-a há pouco tempo num filme com Rupert Everett - não me lembro qual; sempre o mesmo problema com os audiovisuais (love them and leave them) - e significa, simplesmente, mostrar aquilo que se sente. O coração fica bem à vista de todos quando é usado na manga. Sem espaço para equívocos. Pelo menos para quem o usa assim.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Healthy...

Your Brain is 46.67% Female and 53.33% Male

Your brain is a healthy mix of male and female. You are both sensitive and savvy. Rational and reasonable, you tend to keep level headed. But you also tend to wear your heart on your sleeve.

Weirdo...

You Are 70%Weird

Via Sam, apenas 10% mais normal.
Caprichos: gosto do novo vídeo da Shakira. Muito bom para começar a semana! Nuno, encontrei aqui uma versão diferente, com mais... como dizer... tinta.

Seguidores

Arquivo do blogue