blogue de carla hilário de almeida quevedo bombainteligente@gmail.com

sexta-feira, novembro 30, 2007

Coisas que melhoram algumas vidas (93)


Que belos livros! Muitos parabéns!
Cousin Nancy
by T.S. Eliot

Miss Nancy Ellicott Strode across the hills and broke them,
Rode across the hills and broke them -
The barren New England hills -
Riding to hounds
Over the cow-pasture.

Miss Nancy Ellicott smoked
And danced all the modern dances;
And her aunts were not quite sure how they felt about it,
But they knew that it was modern.

Upon the glazen shelves kept watch
Matthew and Waldo, guardians of the faith,
The army of unalterable law.
"After death who knows what happens"

Há vida além da crítica literária!

A mulher e a religião
de Vasco Pulido Valente, no Público de hoje

Ao que dizem, presidiu o dr. Mário Soares esta semana a um curioso colóquio sobre "A mulher nas religiões". Não que o assunto em si mereça a mais remota crítica. Toda a gente tem o direito de falar do que lhe apetecer. Mas, pelo jornais, parece que tanto o dr. Mário Soares como, por assim dizer, os "coloquiantes", penetrados pelo justo e meritório princípio da igualdade de género, criticaram duramente o papel da mulher no cristianismo e no judaísmo (no islamismo, pelo menos directamente, ninguém tocou). O dr. Mário Soares, por exemplo, citando a Bíblia em seu apoio (a notícia não especifica a passagem), lamentou que a mulher fosse considerada propriedade do homem. E a sra. dra. Manuela Augusta, do PS, declarou que, ao "discriminar a mulher", "um grande número de religiões pregou em vão, agiu de má-fé" e "desrespeitou o sagrado e o divino".

É sem dúvida lamentável que a gente que escreveu o Antigo Testamento entre o século X e o século II a.C. não conhecesse e privasse com o dra. Augusta e o dr. Mário Soares, para vantagem da humanidade e da correcção política. Sobretudo, como hoje se constata, a ausência da dra. Augusta (e do PS) foi trágica. Nem Jesus se conseguiu salvar da catástrofe, embora o dr. Soares, tentando apaziguar as coisas, admitisse que o Novo Testamento "adoçou um pouco a imagem da mulher" e a dra. Vilaça, socióloga, simpaticamente observasse que, no catolicismo, o "culto mariano e a importância" da figura da mãe compensavam "de certa forma" a notória perversidade de Roma. Estas consolações não comoveram a audiência.

Em desespero de causa, o teólogo Bento Domingues, deste jornal, resolveu garantir que, na tradição da sua Igreja, "o cristianismo é uma invenção de mulheres, seduzidas por um Cristo feminista". Por abjecta ignorância (e reverência), não me atrevo a discutir com frei Bento uma tese tão inquietante. Só sei que nem esta ideia radical abalou a dra. Augusta. A dra. Augusta "não fica descansada" lá porque a mulher "é enaltecida" em "textos religiosos". De maneira nenhuma. Como presidente do Departamento das Mulheres Socialistas, uma seita temível, não descansa enquanto não corrigir em pessoa, e em assembleia geral, os "textos religiosos" que por aí andam a pregar, com insídia, a supremacia do homem. Para terminar o colóquio numa nota alegre, o dr. Mário Soares confessou que se Deus de facto existir lhe dirá, como Mitterrand: "Afinal existes." Gostaria de prevenir o dr. Mário Soares que, se Deus de facto existir, Mitterrand tratou provavelmente com outra Entidade.
Brush up your Shakespeare / Start quoting him now / Brush up your Shakespeare / And the women you will wow - Cole Porter para Kiss Me Kate (adaptação de The Taming of the Shrew)


E agora com bonecos!

A propósito de um aforismo levemente misógino

The Rose Family
by Robert Frost

The rose is a rose,
And was always a rose.
But now the theory goes
That the apple's a rose,
And the pear is, and so's
The plum, I suppose.
The dear only knows
What will next prove a rose.
You, of course, are a rose -
But were always a rose.
Metabloggers do it better (71)

Eu hoje acordei assim...


Naomi Watts

... quase todos nós um dia nos transformamos em monstros. Ou porque a isso somos levados por uma questão de sobrevivência ou necessidade temporária ou pontual ou porque somos de facto uns monstros e só nos tornamos aquilo que somos. Não que essa mudança seja uma inevitabilidade mas não há nada mais complicado do que os seres humanos por isso deles (note-se aqui a distância que só a hubris permite) tudo se deve esperar. Seja por que razão for, é sempre mais agradável aos que assistem à transformação que o monstro mantenha algumas características do seu passado como pessoa aparentemente normal. Por isso gosto tanto de Jack-Jack de The Incredibles. É sempre um bebé amoroso mesmo quando levita ou se torna uma bola de fogo. Gugu-dadá...

quinta-feira, novembro 29, 2007

Última hora! O poeta argentino Juan Gelman galardoado com o prémio Cervantes!

Los Ilusos
de Juan Gelman

la esperanza fracasa muchas veces, el dolor jamás. por eso algunos creen que más vale dolor conocido que dolor por conocer. creen que la esperanza es ilusión. son los ilusos del dolor.
Cenas da vida conjugal

Eu hoje acordei assim...


Marilyn Monroe (muito bem acompanhada)

... aquelas pessoas ali ao fundo quando é que se vão embora?

quarta-feira, novembro 28, 2007

Hedda Gabler no Youtube



Esta é a primeira parte de sete. Aqui ficam as restantes:

- segunda parte;
- terceira parte;
- quarta parte;
- quinta parte;
- sexta parte;
- sétima parte.

terça-feira, novembro 27, 2007

Glenn Gould antes de dormir

Modo de vida: e quem diz duas ou três, diz vinte ou trinta ou...
Baleias e japoneses

Cinco barcos gigantes saíram do Japão para estudar as baleias. A pesquisa dirigida pelo Instituto de Investigação de Cetáceos obriga a que 1035 baleias sejam mortas em prol da ciência. Sabem que mais? Balelas! Todos os eufemismos e as alegadas boas intenções escondem – se é que alguma vez isto se pode esconder – a abertura oficial da caça às baleias. A desculpa é a de sempre: prática ancestral (o diabo que os carregue! até parece que toda a vida caçaram com barcos de cinco mil toneladas) e a moratória não faz sentido porque as baleias já se reproduziram (isso deve ser porque as baleias se reproduzem como coelhos). A comunidade internacional faz o costume: condena a iniciativa e cruza os braços. O que me faz confusão é que desta comunidade façam parte países que admiro por causa do seu civismo como a Dinamarca ou a Islândia e que defendem estes comedores de descendentes de Moby Dick. Admito, com alguma vergonha, que sou omnívora. Gostava muito de ser vegetariana mas não consigo. Mas não é por isso que ando por aí a comer bife de panda nem jardineira de antílope tibetano. Posto isto, declaro guerra ao Japão.

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 24-11-07.
Modo de vida: tirando duas ou três coisas que considero intoleráveis, inaceitáveis e inadmissíveis, por mim está tudo bem.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Eu hoje acordei assim...


Madonna

... não há leituras nem conhecimento que sejam capazes de aperfeiçoar ou melhorar as pessoas que têm mau carácter. Não vale a pena ter esperanças em gente que nasceu ressentida, que não sabe pensar, que se apoia em livros que não sabe ler e dos quais nada pode perceber. A aprendizagem (que nos permite perceber um pouco melhor como devemos viver) só é possível nos bons espíritos, que são poucos. Embora nada perceba de agricultura não me vou impedir de dar esta imagem: nada de jeito cresce numa terra má, certo? Não deixa de ser sempre uma desilusão, um desalento, perceber que pessoas que têm a obrigação (tenham lá paciência, mas têm) de ter comportamentos à altura do seu saber não passam de seres histéricos ou mesquinhos. Lamento ter acordado mal. De vez em quando - uma, duas vezes por ano - acontece.

domingo, novembro 25, 2007

Coisas que melhoram algumas vidas (92)


Bomba de Ouro

"Lista de coisas que eu, como uma garota legal, acho legal:

- Piratas
- Ninjas
- Zumbis
- Monstros
- Robôs
- Aliens
- Fantasmas
- Explosões
- Artes marciais
- Violência em geral
- decapitações, duelos, fraturas expostas, etc."

Blockbomba: Ocean's Thirteen (uma chatice). Shrek The Third (outra chatice). Blades of Glory (uma obra-prima, quase tão bom como Zoolander).
Noël Coward - Don't Let's Be Beastly To The Germans

Noël Coward - Nina

Eu hoje acordei assim...


Milla Jovovich

... não sei porque é que gosto tanto desta fotografia mas só pode ser verdade que gosto mesmo muito dela porque a tenho guardada há uma série de meses. Dá uma ideia de movimento, deve ser por isso. Eu gosto de movimento. Milla Jovovich parece estar prestes a fazer alguma coisa, como, por exemplo, pegar na Apologia de Sócrates e citar a sua passagem favorita, a do oráculo que responde à pergunta de Querefonte (falecido na época do julgamento de Sócrates - how convenient, a única testemunha que podia interessar ouvir) sobre se haveria alguém mais sábio do que Sócrates. A Pítia (que interpretava em transe a mensagem de Apolo) respondeu que não existia ninguém mais sábio. A resposta parece claríssima mas Sócrates entende que o oráculo é sempre oblíquo, nunca responde directamente às perguntas. É muito difícil comprovar isto como imaginam mas, se bem me lembro, o oráculo por exemplo no Rei Édipo é bastante claro. Teria de confirmar. Seja como for, a partir do final da página 23 até mais ou menos ao final da página 26 (da versão das Edições 70), Sócrates, para comprovar a sentença de Apolo (que sabe pois só os deuses sabem de facto), torna-a ambígua, dá-lhe completamente a volta, faz com que pareça obscura, e isto é simplesmente magnífico: a frase tem de ser o seu contrário para ser verdadeira, e conclui: "O mais sábio de vós, ó mortais, é aquele que como Sócrates, reconheceu que o seu saber é, na verdade, inteiramente desprovido de valor". A verificação das palavras da Pítia (que nem sequer as diz assim mas isto fica para outra altura) passa pela comprovação da sua obscuridade e por uma explicação oblíqua, o que faz muito sentido porque a verdade não está assim disponível nem o deus fala como nós. Ou isso, ou naquele dia Apolo abriu uma excepção.

sábado, novembro 24, 2007

Educação musical (22)


(Querida Rititi, é certo que estou no teu limite, quase, quase a ser recambiada para Santos beber copos - não, por favor, não! - mas do alto dos meus 19-20 anos diverti-me imenso a dançar I couldn't ask for another, no I couldn't ask for another...)
Eu hoje acordei assim...


Sharon Tate (fotografia indecentemente roubada de uma página-caviar destacada pelo Alexandre Soares Silva)

... nunca tive medo das pessoas. Medo de quê, afinal? Só os misantropos têm medo dos outros. Bem sei que a etimologia não permite que vejamos medo no que é ódio - aquele mis vem de misós que significa ódio - mas se pensarmos bem, o que é o ódio se não uma espécie de medo terrível por qualquer coisa completamente independente de nós e que não podemos controlar? Só por causa deste medo injustificado e descabido, o ódio nunca deve ser encarado com respeito. Devemos desrespeitar todos os que odeiam. Contar anedotas a respeito de misóginos impotentes, por exemplo, parece-me um bom começo. Mas é importante não confundir um misantropo com um totó. Às vezes parece que estamos perante um simples inapto, um ser inocente e inexperiente que mete os pés pelas mãos quando o que temos à frente é uma criatura completamente incapaz de amar o próximo, a família, os amigos, e mesmo quem nunca viu mais magro (por vezes é mais fácil amar o que nunca se viu; o facto de isto ser um bocadinho doentio é um mero pormenor). Tem de haver uma óptima desculpa para odiar alguém. Caso contrário, não passa de doença e medo, muito medo.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Educação musical (21)


(Via Rititi.)
Educação musical (20)


(Via Rititi.)
Educação musical (19)


(Via Rititi.)
Só mais uma

Sarah Stockbridge wearing Vivienne Westwood 'Harris Tweed crown', Harris Tweed Autumn/Winter 1987-88.
© Nick Knight 1987
Eu hoje acordei assim...


Linda Evangelista (Vivienne Westwood Watteau ball gown Spring/Summer 1996 Les Femmes ne Connaissent pas toute leur Coquetterie collection, silk taffeta, Victoria and Albert Museum, photograph by Niall McInerney)

... toda vestida e a ler no Impensável um belo apontamento sobre a talentosa e rebelde Vivienne Westwood. Todas as colecções são extraordinárias e não é por acaso que Gwen Stefani, inspirada por Fiddler On The Roof, canta "I'd buy everything / Clean out Vivienne Westwood / In my Galliano gown".

quinta-feira, novembro 22, 2007

Liza Minnelli canta Charles Aznavour



(Andei à procura de outras versões de Comme Ils Disent e descobri Lara Fabian a cantar o tema muito afinadinha mas incapaz de transmitir o aspecto patético do tema. Depois percebi que havia uma tal Lynda Lemay que simplesmente não faz a mais pequena ideia do que está a cantar. Já tinha perdido a esperança de encontrar uma homenagem à altura do sublime Charles Aznavour quando descobri esta versão. Uma salva de palmas para a grande Liza Minnelli!)
Juliette Gréco

France Gall

Eu hoje acordei assim...


Anna Karina (muito bem acompanhada em Pierrot le Fou)

... numa correria e a cantar regarde ce tout petit destin...

quarta-feira, novembro 21, 2007

Só mais uma cena...



... de Une femme est une femme. Até tem legendas em inglês e tudo para os desgraçados como eu que pouco sabem de francês. O diálogo é todo uma maravilha:

Angela: Pourquoi tu me regardes comme ça?
Alfred: Parce que je vous aime.
Angela: Ah, lala, allez, allez, ah!

E inclui uma canção de Charles Aznavour que tem de ser ouvida, apesar das legendas um bocado aldrabadas.
Eu hoje acordei assim...


Anna Karina (Une femme est une femme)

... entretanto saíram em dvd mais uns quarenta mil filmes de Jean-Luc Godard, coisa que me tem causado muita angústia. Quero ver tudo de uma vez em sessões contínuas sem me levantar, a não ser para mudar o dvd da máquina, mas a vida intromete-se sempre. Assim, vou vendo um filme por semana ou nem isso. Ontem foi a vez de Une femme est une femme. Já tinha visto umas cenas no YouTube, mas isto de ver o filme do príncipio ao fim é outro luxo! Anna Karina - linda, lindíssima, lindérrima! - como se fosse pouco, ainda era uma actriz com graça e talento. Une femme est une femme acaba por contradizer aquela máxima de Molly Bloom de que tanto faz um como outro. Não é bem assim.

terça-feira, novembro 20, 2007

Palermas vs. parvos

Haverá entre palermas e parvos diferenças subtis que fazem toda a diferença? Penso que algo importante os separa para sempre: o palerma tem bons princípios, coisa que falta ao parvo e que ajuda a caracterizá-lo como tal. Perante a incerteza, o palerma escolhe o caminho certo, embora na sua simplicidade raramente saiba porquê e como. Como é crédulo de vez em quando é enganado mas não atribui grande importância àqueles que lhe tentam passar a perna. O palerma é inteligente (e por isso profundamente bondoso) já o parvo nunca acerta porque a falta de inteligência lhe obscurece o espírito e paralisa a acção. Será por isso mais fácil que gostemos (refiro-me aos seres humanos de natureza pacífica) sempre mais de palermas do que de parvos. Os palermas são manifestamente amáveis por causa da sua bonomia, algo que falta ao parvo, sempre armado naquilo que por acaso até é: qualquer coisa estúpida que como tal não pode resultar por si em nada de bom. Acarinhemos os palermas, os totós, os distraídos e não gastemos muito tempo com os parvos, os cromos e os teimosos.

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 17-11-07.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Eu hoje acordei assim...


Rita Hayworth

... é evidente que hoje está a chover a potes, cães e gatos, e o frio é mais que muito. A conversa de ontem estava mesmo a pedir um teste nas vinte e quatro horas seguintes: "Ai gostas tanto de trovões como de frio como de sol radioso? Pois veremos, menina". E Zeus lá tratou de enviar uma chuvada como há muito não se via, e nuvens densas e cinzentas muito escuras. Fez bem, não me intimida e, sobretudo, não me faz mudar de ideias. Se observarem bem, nunca é possível ficar muito, muito escuro em Lisboa. Está um dia romântico hoje. E eu adoro dias românticos.

domingo, novembro 18, 2007

Eu hoje acordei assim...


Rita Hayworth

... estava precisamente a pensar nisso, como terá adivinhado o estimado Paulo Tunhas? Não adivinhou: sabe. E sabe por três razões: tem uma óptima intuição, é um leitor experiente do bomba inteligente e tem memória. Estas três condições são suficientes (mais que suficientes, aliás) para saber que sou sensível ao tema da beleza do Outono (e, a saber, do Inverno, da Primavera e do Verão). Este Outono em particular - veja-se o dia de hoje! - tem sido belíssimo. Mas amanhã se chover direi o mesmo. Se no dia seguinte trovejar e houver uma ventania a minha opinião não será diferente, porque não há estações do ano feias e nem Abril é um mês cruel.

sábado, novembro 17, 2007

Educação musical (18)

Educação musical (17)

Educação musical (16)

Educação musical (15)

Educação musical (14)


Macanudo por Liniers, no La Nación.

Tutte, no La Nación.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Provas irrefutáveis da felicidade de Sócrates (5)

"Mas o mais agradável de tudo seria passar o meu tempo, como aqui, a examinar e a interrogar todas estas personagens, para julgar qual delas é sábia e qual julga que o é, sem o ser. Quanto não pagaria, juízes, para examinar aquele que levou contra Tróia o grande exército, ou Ulisses, ou Sísifo, e tantos outros homens e mulheres que se poderia citar! Conversar com eles, gozar do seu convívio, examiná-los, seria de uma felicidade sem par."

Platão, Apologia de Sócrates, 41bc, tradução de Manuel de Oliveira Pulquério, Edições 70, Lisboa, 1997, pp. 50-51.
Provas irrefutáveis da felicidade de Sócrates (4)

"Convencido de que não faço mal a ninguém, tão-pouco quero fazer mal a mim próprio e não estou disposto a reconhecer contra mim que sou digno de castigo, indo ao ponto de me sentenciar a uma pena qualquer. Só se fosse por medo, mas de quê?"

Platão, Apologia de Sócrates, 37b, tradução de Manuel de Oliveira Pulquério, Edições 70, Lisboa, 1997, p. 44.
Provas irrefutáveis da felicidade de Sócrates (3)

"Na realidade, eu nunca fui mestre de ninguém. Mas sempre que uma pessoa, nova ou velha, mostrou desejo de me ouvir ou de me ver realizar as minhas acções, nunca me opus a isso. E não é o caso de conversar apenas com aqueles que pagam, recusando-me a conversar com os que não pagam."

Platão, Apologia de Sócrates, 33b, tradução de Manuel de Oliveira Pulquério, Edições 70, Lisboa, 1997, p. 39.
Provas irrefutáveis da felicidade de Sócrates (2)

"Efectivamente, temer a morte, Atenienses, não é mais que julgar ser sábio, sem o ser, porque é imaginar que se sabe o que não se sabe. É que ninguém sabe o que é a morte nem se, por acaso, ela será para o homem o maior dos bens. Mas temem-na como se soubessem com segurança que é o maior dos males. Não será esta ignorância mais censurável, julgar que se sabe o que se não sabe?"

Platão, Apologia de Sócrates, 29b, tradução de Manuel de Oliveira Pulquério, Edições 70, Lisboa, 1997, p. 34.
Provas irrefutáveis da felicidade de Sócrates (1)

"(...) gostaria de ver bem sucedida a minha defesa, mas sei que isto não é fácil e tenho perfeita consciência da situação. Que o resultado seja, porém, aquele que agradar à divindade! Pela minha parte cumpre-me obedecer à lei e realizar a minha defesa."

Platão, Apologia de Sócrates, 19, tradução de Manuel de Oliveira Pulquério, Edições 70, Lisboa, 1997, p. 21.
Eu hoje acordei assim...


Patricia Arquette

... no outro dia, num local inusitado, alguém perguntou se havia filósofos felizes. Respondi com toda a certeza do mundo e arredores que Sócrates só pode ter sido feliz. Claro que depois fiquei a remoer no assunto. Como parece que hoje é o Dia Internacional da Filosofia, aproveitemos para tirar esta questão a limpo. Já é hora! Talvez começando por ler isto.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Metabloggers do it better (70)

"When you're chewing on life's gristle, don't grumble, give a whistle"

"The Greeks are going mad!"

quarta-feira, novembro 14, 2007

Martha Wainwright canta Leonard Cohen

Blockbomba: Zodiac (é oficial: deixei de suportar este género de filmes). Breach (excelente). Fracture (sim, quero dizer, mais ou menos, enfim). Leonard Cohen - I'm Your Man (a prova de que as homenagens devem ser feitas em vida, adorei).
Modo de vida de sempre: "Alguém comete uma falta em relação a mim? É assunto seu." Marco Aurélio, Pensamentos para mim próprio.
Eu hoje acordei assim...


Halle Berry

... eu também tenho uma opinião a respeito das palavras do Rei Juan Carlos a Hugo Chávez. Esteve muitíssimo bem o Digníssimo Rei de Espanha! Bravo, no mueras nunca! Mandou calar e mandou muito bem. Claro que não surtiu efeito nenhum porque Chávez não se cala, mas foi refrescante de ouvir (até porque foi espontâneo e espontaneidade é coisa que já me parece estar em vias de extinção) e animou mais uma daquelas estopadas inúteis de cimeiras de não-sei-o-quê. No entanto, ao contrário do que afirmaram o maradona (adorei a utilização da expressão «observação inteligente», não conheço mais ninguém que tenha a perspicácia do maradona; quero dizer, conheço várias mas não digo) e o Macguffin, não creio que o desempenho de Zapatero no episódio «Por qué no te callas?» tenha sido assim tão medonho. O homem é civilizado, que diabo, é primeiro-ministro de Espanha! Defendeu Aznar, coisa que até lhe deve ter custado um bocado, e tentou explicar o óbvio a Hugo Chávez. Devia ter feito uma peixeirada, é isso? Teria posto esta cimeira ibero-coiso no topo da lista das cimeiras mais exciting de sempre, mas valer-lhe-ia de alguma coisa? E Aznar esteve no poder há quanto tempo? Já passaram uns anos mas Chávez tem atravessada lá qualquer coisa que pensa que Aznar lhe terá feito. Não há razão nenhuma para que pensemos que Hugo Chávez é muito diferente de qualquer criatura que se banha diariamente nas águas do ressentimento (senti agora uma inspiração poética, já passa)...

terça-feira, novembro 13, 2007

Elogio da doçura

Raramente ouço dizer de alguém que é doce e no entanto maior elogio não há. Uma forma de verificarmos a verdade desta afirmação é observarmos como são desagradáveis as características que se lhe opõem, como a aspereza no trato, a rudeza de maneiras, a timidez (insistimos em achar graça ao que não passa de um defeito de educação), o mau feitio (para o qual, francamente, não há pachorra). Uma pessoa doce é o melhor que pode haver porque é conciliadora sem precisar de ser injusta nem traidora, tudo porque é profundamente pacífica, solidamente pacífica. Ao contrário do que se pensa (é verdade que se pensa, não adianta negar) uma pessoa doce não paira, pelo contrário. A doçura permite-lhe compreender bem o sofrimento alheio, pois esta é acima de tudo um modo de relacionamento com os outros. Como tal, é um traço de carácter que deve ser incutido nas crianças e incentivado nos adultos. Muitas vezes pessoas doces passam erradamente por tolas, distraídas ou infelizes para todos aqueles incapazes de reconhecer certa luminosidade fugaz que nos une. Ao contrário da desconfiança, por exemplo, que não pode sustentar nenhum tipo de relação saudável, a doçura une as pessoas de uma forma permanente, muito mais do que a tristeza ou o ódio. O problema é mesmo haver cada vez menos doçura no planeta.

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 10-11-07.

domingo, novembro 11, 2007

Coisas que melhoram algumas vidas (91)


Modo de vida: "A black cat crossing your path signifies that the animal is going somewhere." Groucho Marx
Bomba de Ouro: "Fiz rapidamente as contas de cabeça ao que estava a sentir..." do maradona, claro.

sábado, novembro 10, 2007

Coisas que melhoram algumas vidas (90)


Educação musical (13)

Eu hoje acordei assim...


Hillary Swank

... sempre fui grande apreciadora da catarse. Que dia lindo!

sexta-feira, novembro 09, 2007

É bem verdade minha querida batukada: que o Rufinho Wainwright, como tão carinhosamente lhe chamas, não cantou Vibrate, but we will always have YouTube.



É também uma grande verdade que não cantou o sublime Go Or Go Ahead. Mas já se sabe como podemos resolver essa questão.



E justiça seja feita: cantou Art Teacher. Uma maravilha agora a dobrar!

quarta-feira, novembro 07, 2007

Eu hoje acordei assim...


Judy Garland (Get Happy)

... Rufus?
Gostar (muitíssimo) de homens©



Do I disappoint you?*
by Rufus Wainwright

Do I disappoint you, in just being human?
And not one of the elements, that you can light your cigar on?
Why does it always have to be fire?
Why does it always have to be brimstone?
Desire?

Cool this body down
Do I disappoint you, in just being lonely?
And not one of the elements that you can call your one and only?
Why does it always have to be water?
Why does it always have to be holy wine?
Destruction?
Of all mankind?

And do I disappoint you?
Do I disappoint you in just being like you?

Tired of being the reason the road has a shoulder,
And it could be argued, why they all returned to the the order
Why does it always have to be chaos?
Why does it always have to be wonderlust?
Sensational?
I'm gonna smash your bloody skull

'Cause baby, no, you can't see inside
No, baby, no, you can't see my soul

Do I disappoint you?
Do I disappoint you?

* já era a minha preferida.

terça-feira, novembro 06, 2007

Mais um efeito nocivo da revisão do Código Penal



2DJ's do C*****, live set, à solta no Frágil!

A partir da meia noite de 8 de Novembro (ok, 9, ó picuinhas). O melhor é não faltar, senão um deles pode ficar sozinho. É dançar! (os 2 djs do C****** são Nuno Miguel Guedes e Zé Diogo Quintela).

segunda-feira, novembro 05, 2007

YouTube para ilustrar o que está mais que ilustrado



(Oh, lindo, lindo! E logo na Bélgica, em 1973! Esse fado foi escrito aqui, Fátima. Sim, aqui mesmo onde estou, não é estranha a vida? Pronto, quase, quase aqui onde estou. Que bela escolha!)
Não foi bem assim

O Prémio Nobel de Medicina, James Watson, pediu desculpas pela interpretação errónea atribuída às suas recentes declarações polémicas. Watson explicou que não disse que a inteligência dos negros é menor do que a dos brancos. Lendo a frase original «a inteligência média dos negros não é a mesma do que a nossa» somos obrigados a dar-lhe razão, ainda mais quando é o mesmo Prémio Nobel que esclarece que «ainda não compreendemos a maneira como os diferentes ambientes seleccionaram os genes que determinam as nossas capacidades para fazer coisas diferentes». Seja como for, não se trata de superioridade nem de inferioridade mas apenas de compreender diferenças. O que me leva a perguntar que, se alguém dissesse que os japoneses têm uma inteligência diferente da dos brancos, alguém inferiria que essa pessoa estava a dizer os japoneses eram menos inteligentes do que os brancos? Aposto que haveria até uma certa pressa em repetir aquele lugar-comum do «pois, eles são muito bons a copiar mas a criar…». Claro que a breve referência aos «empregados negros» originou uma bela fogueira para o Prémio Nobel arder em sofrimento, e o facto de James Watson ter um historial de afirmações provocatórias contra os homossexuais, as mulheres e outros grupos diferentes mas iguais também não terá ajudado nada à festa.

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 3-11-07.
YouTubes para ilustrar a letra de Cole Porter



E agora com sapateado!



Bom dia! Aqui fica a letra completa de Cole Porter porque Anything Goes é mesmo uma das melhores coisas que nos pode acontecer.

Times have changed,
And we've often rewound the clock,
Since the Puritans got a shock,
When they landed on Plymouth Rock.
If today,
Any shock they should try to stem,
'Stead of landing on Plymouth Rock,
Plymouth Rock would land on them.

In olden days a glimpse of stocking
Was looked on as something shocking,
But now, God knows,
Anything goes.

Good authors too who once knew better words,
Now only use four letter words
Writing prose, anything goes.

The world has gone mad today
And good's bad today,
And black's white today,
And day's night today,
When most guys today
That women prize today
Are just silly gigolos
And though I'm not a great romancer
I know that I'm bound to answer
When you propose,
Anything goes

When grandmama whose age is eighty
In night clubs is getting matey with gigolo's,
Anything goes.

When mothers pack and leave poor father
Because they decide they'd rather be tennis pros,
Anything goes.

If driving fast cars you like,
If low bars you like,
If old hymns you like,
If bare limbs you like,
If Mae West you like
Or me undressed you like,
Why, nobody will oppose!

When every night,
The set that's smart
Is intruding in nudist parties in studios,
Anything goes.

The world has gone mad today
And good's bad today,
And black's white today,
And day's night today,
When most guys today
That women prize today
Are just silly gigolos
And though I'm not a great romancer
I know that I'm bound to answer
When you propose,
Anything goes

If saying your prayers you like,
If green pears you like
If old chairs you like,
If back stairs you like,
If love affairs you like
With young bears you like,
Why nobody will oppose!

And though I'm not a great romancer
And though I'm not a great romancer
I know that I'm bound to answer
When you propose,
Anything goes...
Anything goes!

domingo, novembro 04, 2007

Palavra de honra que acabam de dizer isto no filme que está a dar na TVI

- I used to have a memory like Proust. Like a filing cabinet up there. I would see something and remember it like that. Like, uh, license plates. I could see a plate and it was printed in my head. Now I need all the help I can get... remembering whose plate... goes with whose car. Like, uh, this one.
- It's mine.
- Ah, memories.

Tutte, no La Nación
Cenas da vida conjugal

- Foste muito abrupta.
- Impressão tua.
- Pronto, foste Jansenista.
- ...
- Foste A Causa Foi Modificada?
- Hahahahaha!
Eu hoje acordei assim...


Jane Birkin

... tenho esta imagem guardada há séculos, talvez desde a altura em que comecei a escrever sobre características marcadamente femininas, tendo em vista uma conclusão: aquilo que nos une, mulheres e homens, é a doçura. E é isso que vejo nesta fotografia: uma doçura luminosa que pode ser fugaz mas que é sempre conciliadora. E a designação em grego para a Grandeza de Alma de Aristóteles é mesmo megalospsuchos, não é uma maravilha? Afinal é a única virtude que interessa, a que tudo abrange, de que todas as outras dependem, porém a mais frágil. Será? Depois fiquei a pensar se já tinha feito a etimologia de prática mas não consigo descobrir nada nos arquivos. Nem de coisa, em grego prágma, e que descobri há pouco ter a ver com práksis. Ou seja, "coisa" e "acção" (prágma e praksis respectivamente) parecem ter a mesma origem e isto para mim é revolucionário, embora na verdade, se pensar um bocadinho, seja óbvio e faça todo o sentido. Sendo ambos originários do verbo prásso, talvez fosse interessante perceber de que forma as palavras surgiram a partir de diferentes tempos verbais, sendo práksis, por exemplo, quase com certeza um aoristo (passado) - soa-me um epraksa por aí, não interessa. Pronto, lá terei de visitar certa zona da biblioteca da Faculdade onde existe um dicionário bigalhão e pesadíssimo com montanhas de etimologias gregas.

sábado, novembro 03, 2007

Educação musical (12)



Um absoluto clássico para terminar esta série de hoje de educações musicais. Um vídeo com Madonna, gatinho preto e o que podem muito bem ser umas minas algures.
Educação musical (11)

Educação musical (10)



Para o maradona florido, uma Mariah pela verdura.
Educação musical (9)



(Nunca tinha visto este vídeo. Extraordinária vestimenta!)
Educação musical (8)

Educação musical (7)

Educação musical (6)

Educação musical (5)

sexta-feira, novembro 02, 2007

"It all starts with Socrates": uma conversa com a brilhante Martha Nussbaum.
Eu hoje acordei assim...


Milla Jovovich

... de todas as virtudes enumeradas por Aristóteles as que me têm interessado nos últimos tempos têm sido a Temperança e a Moderação. A verdade é que sempre as considerei um pouco exóticas, vagamente inatingíveis. Talvez porque a Coragem, a Justiça, a Generosidade e a Grandeza da Alma, por exemplo, não sejam assim tão difíceis de compreender... Ou isso, ou por causa de uma espécie de envelhecimento precoce que às vezes sinto.

quinta-feira, novembro 01, 2007

The Past is the Present
by Marianne Moore

If external action is effete
and rhyme is outmoded,
I shall revert to you,
Habakkuk, as when in a Bible class
the teacher was speaking of unrhymed verse.
He said - and I think I repeat his exact words -
"Hebrew poetry is prose
with a sort of heightened consciousness." Ecstasy affords
the occasion and expediency determines the form.
Eu hoje acordei assim...



... Ao contrário do que muitos juram a pés juntos, acredito – tenho muita, mesmo muita fé nisso – que a leitura melhora a vida de algumas pessoas. A chave desta crença (que é como quem diz «tese»), e a maneira de encontrei de me proteger das críticas ferozes que não deixo nunca de merecer, é aquele «algumas». Não, nem todas as pessoas que lêem. Só aquelas que têm bom carácter. Talvez esteja a brincar. Eu própria ainda não sei se chegou a hora de admitir que não estou nada. Ora, o que fazemos nós na blogosfera? Lemos precisamente, muitíssimo mais do que escrevemos. Assim sendo, proponho a seguinte reflexão: o blogue melhora a vida das pessoas? (Continua na Atlântico de Novembro.)

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