blogue de carla hilário de almeida quevedo bombainteligente@gmail.com

segunda-feira, dezembro 31, 2007

Metabloggers do it better (73)

Este ano morreram dois amigos meus. Por causa da proximidade e pelo muito que a morte deles me afectou fui incapaz de sequer referir o tema. Como se houvesse alguma dúvida, confirmo que o blogue não funciona para mim como nenhum tipo de terapia e, afinal, nem sequer como um diário. O meu blogue é um passatempo, um laboratório de experiências, uma coisa engraçada, um brinquedo, um meio de conversa, de partilha de gostos e, por vezes, de informação e opinião. Fica, no entanto, claro que sou incapaz de partilhar o sofrimento publicamente. Nunca me pareceu que fosse um defeito. Mas é possível que seja.
E o ano acaba assim: com a notícia da morte absurda do Olímpio Ferreira, paginador talentoso e uma pessoa doce que conheci há uns anos na Oficina do Livro. Um dia encontrámo-nos na inauguração de uma livraria. O Olímpio era tímido mas era também sempre muito amável, o que me sempre me fez suspeitar da sua timidez. Talvez por isso naquele dia me senti à vontade para me aproximar e lhe falar de como tinha gostado do livro do Barnabé. Lembro-me perfeitamente da expressão dele, surpreendido. Era muito boa onda o Olímpio. Que Deus o tenha.
Aos leitores do bomba inteligente, à blogosfera em geral e ao mundo em particular, desejo um bom ano novo

"We have much to hope for from the flowers", Sherlock Holmes em The Naval Treaty.
Só uma coisa

Esta altura do ano é pródiga em balanços e listas. Dezembro é também um mês propício a reflexões sobre o que fomos capazes de concretizar, o que tivemos de adiar, o que deixámos para trás, o que continuamos a desejar. Acaba um ano e começa o seguinte e essa mudança no calendário parece sempre trazer a reboque uma mistura de apreensão e de esperança. Aqueles que convivem mal com o passado têm a sensação de que à meia-noite e um minuto do dia de ano novo se estão a livrar de todos os seus problemas. Esta espécie de delírio festivo acaba uns minutos depois. Precisamente à mesma hora, os que lidam com os problemas e os aceitam como fazendo parte da vida, sabem que têm muito para resolver e para viver. Não sei se aqueles que percebem as suas embrulhadas são mais esperançosos do que os outros que as negam ou que confortavelmente deixam andar, mas aconselharia – se me permitem – a que o fossem. A lucidez é condição indispensável à saúde mental mas de maneira nenhuma obriga ao mau humor. Por isso o meu desejo de ano novo para os lúcidos optimistas é o seguinte: não se deixem vencer pelas circunstâncias.

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 29-12-07.

domingo, dezembro 30, 2007

Sobre o ano que está quase a acabar: gostaria apenas de dizer que não deixa saudades. Foi o ano em que morreram dois amigos, ambos de forma trágica e violenta, inesperadamente, demasiado cedo. Um ano tristíssimo que agora chega ao fim. Sod off, 2007, sinceramente.

sábado, dezembro 29, 2007

Basta de frio, está bem?



Projecto para o futuro

Jeanne Moreau (2)

Jeanne Moreau

Eu hoje acordei assim...


Sylvie Guillem

... ainda sobre um tema anterior, é curioso como a insolência é mal compreendida. Vivemos numa época de absoluto tédio, é o que é. E, pior, num tempo em que o bocejo é incentivado e considerado uma coisa até muito boazinha. Francamente!

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Projecto para o futuro

Mais uma prova da genialidade de Bob Fosse

Génios na terra há vários. Bob Fosse é um deles. Magnífica coreografia!

In the meantime: essa lista sai ou não sai?
I'm just a little girl living in my own big world: estimado Réprobo, estou certa de que as feministas gostam de mim. Afinal de contas, eu sou livre (no outro dia estava a pensar que sou uma das pessoas mais livres que conheço mas pode ser impressão minha). Faço aquilo de que gosto, digo o que penso e sou uma pessoa autónoma, que pensa pela sua própria cabeça. Bem sei que na maioria das vezes - como essa que apontou e bem - não concordam nem com as minhas escolhas, nem com o meu modo de vida, nem sequer com o que digo, mas não faz mal porque elas com certeza respeitam o facto de eu ter uma existência própria e de estar a fazer o meu próprio caminho. E isso é o que conta. Para as feministas inteligentes, naturalmente.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Eu hoje acordei assim...


Cyd Charisse

... a estrear o par de meias oferecido pelo Natal...

terça-feira, dezembro 25, 2007

Brushing up my Beckett - Play


A segunda parte pode ser vista aqui e o texto pode ser lido aqui. Mas há um problema com a frase final. Não está lá, pois não? Não ouvi. Que texto absolutamente espantoso! "Is it something I should do with my face, other than utter? Weep?"
Brushing my Beckett - Come And Go


Uma maravilha. O texto pode ser lido aqui.
Brushing up my Beckett - Not I


Há uns anos mencionei uma das minhas passagens favoritas deste texto espantoso que pode ser lido aqui. Infelizmente esta apresentação no YouTube acaba um pouco antes do final.
A Question
by Robert Frost

A voice said, Look me in the stars
And tell me truly, men of earth,
If all the soul-and-body scars
Were not too much to pay for birth.
Só uma pergunta nada estúpida

Mais uma coisa: haverá diferença entre estupidez e burrice? Ou ignorância? Julgo que sim mas pode ser um preconceito, pois associo a estupidez à maldade. E na história contada pelo Jansenista parece-me haver muita galhofa e talvez alguma ignorância, não estupidez.
Sobre perguntas estúpidas: não pressente bem, caro jmf. Não me lembro aliás de haver um ponto no meu comentário. Julgo apenas que cada vez há menos perguntas, não sei se por receio se por desistência se por isso que diz de todas as perguntas já estarem respondidas. Mas que deliciosa ilusão! Quanto a polémicas, não sei mesmo do que fala. Não há polémicas em Portugal. Quem nos dera! Oscilamos entre a apatia, o desinteresse absoluto pela vida e a troca de insultos. O jmf está cansado do que não existe neste país: o debate intelectual. Quanto a diferenças entre a vidinha e a Filosofia também não sei do que fala, dado que a Filosofia actua directamente na nossa vida ou vidinha a toda a hora. Não vejo distinções, aliás. E isso vai passar-lhe, claro. Só pode ser uma fase de menor curiosidade. Há que fazer umas boas dezenas de perguntas. Sem medo nenhum do que possam dizer sobre elas. Sejam elas quais forem.
Martha does Judy

Rufus does Judy

Eu hoje acordei assim...


Lana Turner

... a pensar que a maior parte das séries televisivas têm como destinatário o público feminino. Mas penso que uma boa excepção - além de The Sopranos, apesar das fortíssimas personagens femininas, ou de Deadwood - é Boston Legal. Parece mais uma série de advogados e histórias de tribunal mas na verdade é sobre a amizade masculina. Gosto muito, muito. Tem razão o Jansenista. E atenção ao fosso profundo que separa a insolência da vulgaridade! Não devem nunca ser confundidas, e só o são num meio que precisamente não entende a primeira nem a sabe reconhecer. Um bocadinho como a ironia, agora que penso nisso. Não é que a insolência seja tomada por vulgaridade, isso raramente acontece e só mesmo em gente que vive nas cavernas. Já o contrário é mais frequente: a vulgaridade que se toma por insolência. Mas para saber distinguir é preciso conhecer as pessoas e experimentar e ler e não viver no blogue.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Aos leitores do bomba inteligente, à blogosfera em geral e ao mundo em particular, desejo um muito feliz Natal

A insolência é feminina

De todas as características femininas que admiro, a insolência parece ser a que, neste país, menos adeptos reúne. Em França, uma mulher que não tenha a sua dose de destempero arrisca a que ninguém repare na sua existência. Rapariga argentina que não tenha o nariz empinado e a resposta na ponta da língua tem o destino garantido na mais completa obscuridade social. Portugal, pelo contrário, é um dos maiores produtores de moscas-mortas do mundo. Como explicar este curioso fenómeno? Os principais responsáveis por este estado lamentável de coisas são – como sempre – os membros do sexo masculino que tudo fazem para serem deixados em paz e sossego, mas não esqueçamos as próprias seduzidas que se deixam levar na ilusão de que são amadas por serem discretas. Minhas senhoras, a sobriedade é sem dúvida uma virtude mas raramente dá felicidade porque esmaga algo a que arriscaria considerar inato em todas as descendentes de Eva: a impertinência. Sempre que perceber que uma mulher está a ser insolente não se escandalize, e muito menos a interrompa. Sorria e pense que pelo menos aquela se tornou no que sempre foi.

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 22-12-07

domingo, dezembro 23, 2007

Mesmo não sabendo: (risos) mantenho o comentário. Nem essas perguntas serão estúpidas. Talvez chatas mas nunca estúpidas. Já as respostas... De qualquer forma, se lhe apetecer apresentar um exemplo de pergunta estúpida, terei muito gosto (pelo menos) em ler.

sábado, dezembro 22, 2007

Os japoneses não existem (2)

Os japoneses não existem

Por falar em japoneses



Obrigada, Joãozinho!
A autoridade é uma coisa muito bonita: a decisão do governo japonês terá sido tomada após a leitura de certo pequeno texto...
Há perguntas estúpidas? Nenhuma. Nem essa.
Blockbomba: Nightmares & Dreamscapes: From the Stories of Stephen King (uma decepção total, qual das histórias a mais arrastada e mal resolvida; diria que péssimo, a não alugar). Music and Lyrics (para todos os que não entendem como é que Elizabeth Hurley perdoou Hugh Grant; excelente filme).
Marcel Proust sobre "Eu hoje acordei assim..."

"Talvez a imobilidade das coisas à nossa volta lhes seja imposta pela nossa certeza de que são elas e não outras, pela imobilidade do nosso pensamento diante delas. Mas a verdade é que, quando acordava assim, com o espírito a agitar-se para procurar onde estava sem o conseguir, tudo girava em redor de mim na escuridão, as coisas, as terras, os anos."

Em Busca do Tempo Perdido, Do Lado de Swann, tradução de Pedro Tamen, Lisboa, Relógio d'Água, 2003, p. 12.

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Evidentemente quero: acabo de perceber que as cartas de Joseph Conrad estão editadas em nove volumes. Cada um custa só entre 85 e 91 libras.
Belíssima escolha, Juan!


Começou ontem um talk-show diferente na Antena Um. Chama-se Esplendor de Portugal e pode ser ouvido aqui. Todas as quintas-feiras, depois da 19h.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Nina Hagen sobre Zarah Leander

Dias de chuva (3)

Dias de chuva (2)

Dias de chuva

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Eu hoje acordei assim...


Grace Kelly

... ora perante uma apresentação tão pipi, proponho uma coisinha mais popular (que cantei todos os dias durante anos). Mas aproveito para deixar à consideração esta beleza. E não podia deixar de chamar a atenção para este conjunto de maravilhas da criação masculina (todos tão emocionais, que amores!) e já agora o nosso (lindo, lindo, bravo!).

terça-feira, dezembro 18, 2007

A melhor das minas é o YouTube


Glenn Gould e Yehudi Menuhin tocam a Sonata n.º 4 para violino, em Dó Menor, de J.S. Bach. Continua aqui, aqui e aqui.
À especial atenção de uma criança com gosto impecável

segunda-feira, dezembro 17, 2007

O serial killer que não fazia por mal

O Natal é o máximo, não é? Também acho. Do Canadá chega-nos a notícia de que o pior assassino em série da história daquele país acaba de ser condenado pela morte de seis mulheres. Robert Pickton, um agricultor com 58 anos de idade, foi também acusado de matar mais vinte mulheres. A defesa alegou que o coitadinho do trabalhador rural não sabia que aqueles corpos estavam ali, mas o júri concluiu que a criatura tinha morto, pois lá isso tinha, mas que a sua intenção não era bem essa. Condenado por homicídio involuntário, ficou assim provado em tribunal que este criador de porcos canadiano não tencionava matar as seis mulheres – e provavelmente outras vinte – muito menos de as enterrar na sua propriedade. O júri demorou dez dias a chegar a esta iluminada conclusão. O número seis – ou o número vinte e seis – de alguma maneira impedem-nos de acreditar na tese do homicídio involuntário. Não haverá alguma coisa errada na frase: «Não teve a intenção de, ao longo de uns anos, matar 26 pessoas»? Sempre me pareceu mais complicado provar que não houve intenção de assassinar. Mas pelos vistos não é bem assim. Afinal de contas qual é a diferença? Uma, seis, vinte…

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 15-12-07.

domingo, dezembro 16, 2007

Girl power no seu estado mais puro



Nesta apresentação de Madonna em 1983 está concentrado tudo aquilo em que a cantora se vai tornar. Observemos os braços no ar, a cabeça para trás, o controlo total do espaço e da coreografia só aparentemente muito descontraída. Está a dizer que não vai a lado nenhum, que não vai ser uma moda, que nada daquilo é temporário, que vai ficar até ao fim, que o mundo lhe pertence.
Modo de vida


Nathan Milstein toca Partita N.º 3, em Mi Maior, BWV 1006, de J. S. Bach.
Eu hoje acordei assim...




Anna Karina

... fontes próximas de Jean-Luc Godard - palavra de honra! - dizem-me que o realizador não está interessado. Mas as mesmas fontes impedem-me de falar, limitam a minha liberdade de expressão, não querem que eu conte uma história giríssima e comprometedora. As fontes são chatas, não percebem que a história é uma maravilha que tem de ser partilhada com o resto da humanidade - ou com a humanidade, nunca me posso esquecer de... - e que não pode ficar em circuito fechado. E que mal tem contar que Jean-Luc Godard... Pronto, não digo mais nada. Há uns dias comecei a ver Alphaville mas deu-me o sono. Sendo o nono filme do realizador, isso significa que já teria infernizado a vida da bela Anna Karina. Ah, Anna Karina, uma rapariga, por muito apaixonada que esteja, tem sempre de se proteger destes animais geniais.

sábado, dezembro 15, 2007

Modo de vida

Mischa Maisky toca o Prelúdio da Suite N.º 1 para Violoncelo, de J. S. Bach.
Metabloggers do it better (72)

(Auto-retrato parece-me muito bem, sobretudo porque os títulos em português só admitem a maiúscula na primeira palavra, ao contrário do que se passa em inglês. Não sigo a regra portuguesa na minha lista de linques, bem sei, mas talvez um dia mude tudo. Agora Invisual Grego às Avessas é que não! Lá teria o Pastoral Portuguesa de incluir o blogue na lista como Auto-Retrato...)

sexta-feira, dezembro 14, 2007

"First I'm going to have a little drinkie, and then I'm going to execute the whole ballet lot of you"

"How did we get from the one case of affairs to the other case of affairs"

Gostar (muitíssimo) de homens©


The Letter, Stephen Fry

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Coisas que melhoram algumas vidas (95)


Eu hoje acordei assim...


Sophia Loren

... nos dois últimos episódios de Boston Legal (estou a seguir no Fox Crime), apareceu uma personagem muito boa, cujo petit nom era "Hands" (traduzido para "Mãozinhas"). Vejo agora que o actor ganhou um Emmy pelo seu desempenho. O "Mãozinhas" era um weirdo que sabia tudo, tudo, tudo sobre leis. Muito inteligente e capaz, trabalhava que se fartava, mas não mexia as mãos que mantinha sempre coladas às calças. Num dos episódios, esta espécie de freak para os outros apercebeu-se de que teve graça. Repetiu que ia pôr no currículo que tem sentido de humor, pois é uma social skill que o poderia ajudar a ser sócio daquele escritório de advogados. A personagem acaba mal, e é uma pena. Na verdade, a Polícia tinha de intervir. O "Mãozinhas" era demasiado estranho para ser tão brilhante e, ainda por cima, tinha sentido de humor. Era demasiado complexo: tinha de ser psicótico e de ser levado dali para fora. Além de que o actor era convidado.

Adenda muitas horas depois: a personagem não vai desaparecer ainda. Falta o julgamento!

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Aviso noticioso: o Abrupto está a escolher os seus blogues de preferência. Como não pretendo de maneira nenhuma influenciar a sua decisão, fica deslincado enquanto reflecte. Quando apresentar a lista final, o blogue de José Pacheco Pereira voltará à minha lista de visitas diárias.
The Secret Life of the Manic Depressive - Stephen Fry



Esta é a primeira parte de catorze de um documentário que a RTP 2, por exemplo, podia transmitir. Seja como for, está tudo no YouTube: segunda parte; terceira parte; quarta parte; quinta parte; sexta parte, sétima; oitava; nona; décima; décima primeira, décima segunda, décima terceira e décima quarta. Absolutamente a ver, claro.
A partir desta maravilha cheguei a mais um diamante da dupla French and Saunders. Enjoy!

Eu hoje acordei assim...


Raquel Welch, The Muppet Show (muitíssimo bem acompanhada)

... a pensar que o mundo não se divide entre bons e maus, inteligentes e estúpidos, palermas e parvos, homens e ratinhos e nem sequer entre aqueles que têm prazos a cumprir e os que não fazem a mais pequena ideia do que isso significa, mas entre os que consideram este vídeo encantador e os que não ligam nenhuma a nada.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Gotán
de Juan Gelman

Esa mujer se parecía a la palabra nunca,
desde la nuca le subía un encanto particular,
una especie de olvido donde guardar los ojos,
esa mujer se me instalaba en el costado izquierdo.

Atención atención yo gritaba atención
pero ella invadía como el amor, como la noche,
las últimas señales que hice para el otoño
se acostaron tranquilas bajo el oleaje de sus manos.

Dentro de mí estallaron ruidos secos,
caían a pedazos la furia, la tristeza,
la señora llovía dulcemente
sobre mis huesos parados en la soledad.

Cuando se fue yo tiritaba como un condenado,
con un cuchillo brusco me maté
voy a pasar toda la muerte tendido con su nombre,
él moverá mi boca por la última vez.
Adenda: afinal há uma colectânea de poemas de Juan Gelman traduzidos para português, editada pelos Livros Quetzal em 1998. Depois de amanhã vou à Byblos ver se têm.
Juan Gelman



O Prémio Cervantes é a distinção máxima atribuída anualmente a um escritor de língua castelhana. Este ano, o Ministério da Cultura espanhol decidiu premiar o poeta argentino Juan Gelman. De origem judaica, filho de emigrantes ucranianos, Juan Gelman nasce em Buenos Aires a 3 de Maio de 1930. Interessado desde criança pela música e pela poesia, estuda os clássicos russos e lê Victor Hugo. Estudante de Química na faculdade, abandona o curso para se dedicar exclusivamente à poesia e ao jornalismo. Militante do Partido Comunista desde os quinze anos, Juan Gelman vive de perto a tragédia dos desaparecidos durante a ditadura militar, quando, em 1976, os seus filhos e a nora grávida de sete meses são sequestrados e posteriormente assassinados. Exilado do país, o poeta dedica-se ao seu ofício: escrever. Numa breve pesquisa concluí que nenhuma das suas obras está traduzida para português. Alguns poemas dispersos por antologias não são suficientes para nos apercebermos da beleza e importância do seu trabalho. Deixo aqui o primeiro verso do poema Gotán na esperança de que essa falta seja suprimida: «Esa mujer se parecía a la palabra nunca».

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 8-12-07.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

I'm a Woman - Cher and Raquel Welch

"It's cold in North Dakota, but when she sings it's Palm Springs" - Petula Clark & Peggy Lee

Memphis Blues, Sing 'em Low, St. Louis Blues - Dinah Shore & Ella Fitzgerald

Mack The Knife - Dinah Shore & Pearl Bailey

I Got Rhythm - Dinah Shore & Peggy Lee

domingo, dezembro 09, 2007

The Two Women
by G. K. Chesterton

Lo! very fair is she who knows the ways
Of joy: in pleasure’s mocking wisdom old,
The eyes that might be cold to flattery, kind;
The hair that might be grey with knowledge, gold.

But thou art more than these things, O my queen,
For thou art clad in ancient wars and tears.
And looking forth, framed in the crown of thorns,
I saw the youngest face in all the spheres.
Shakespeare Masterclass: An Actor Prepares

"We're talking about chickens, we're talking about eggs"

Hey Jude - Hugh Laurie

O bomba inteligente errou



Levada ao engano por um post do Filipe Nunes Vicente em que falava sobre os seus últimos anos na blogosfera, precipitei-me ao dar os parabéns ao Mar Salgado. Afinal é em Maio! Perdoai esta pobre cabeça. Quando chegar a altura festejo outra vez. This wasn't happy birthday, was it?
French and Saunders sobre Sophie Ellis-Bextor

Educação musical (23)

The Pessimist
by Benjamin Franklin King

Nothing to do but work,
Nothing to eat but food,
Nothing to wear but clothes
To keep one from going nude.

Nothing to breathe but air
Quick as a flash 't is gone;
Nowhere to fall but off,
Nowhere to stand but on.

Nothing to comb but hair,
Nowhere to sleep but in bed,
Nothing to weep but tears,
Nothing to bury but dead.

Nothing to sing but songs,
Ah, well, alas! alack!
Nowhere to go but out,
Nowhere to come but back.

Nothing to see but sights,
Nothing to quench but thirst,
Nothing to have but what we've got;
Thus thro' life we are cursed.

Nothing to strike but a gait;
Everything moves that goes.
Nothing at all but common sense
Can ever withstand these woes.
Além de haver insultos e insultos

Não esqueçamos que há vómitos e vómitos

Se tivesse tempo, escrevia dez mil caracteres sobre este vídeo. Como não tenho, não escrevo, paciência. Pode ser que no dia 25 de Dezembro...

Por falar em poemas: está um belíssimo de Adília Lopes n'O Regabofe. Mas não o vou roubar à ganância só para o pespegar aqui. Vou deixá-lo que fica muito bem.
Correio dos leitores: de uma leitora muito gentil recebi este poema de Emily Dickinson que agradeço, muito obrigada!

Nature rarer uses Yellow
Than another Hue.
Saves she all of that for Sunsets
Prodigal of Blue

Spending Scarlet,
like a WomanYellow she affords
Only scantly and selectly
Like a lover's Words.
Un film de Jean-Luc Godard



À bout de souffle foi até agora o filme de Godard (dos que vi, ainda poucos) de que mais gostei. Mais ainda do que de Bande à part. A cena que gostaria de deixar aqui é a da entrevista ao escritor, em que os jornalistas só fazem perguntas sobre o amor, as relações amorosas, os homens, as mulheres, as expectativas, as decepções, e em que Jean Seberg repete uma pergunta a que o escritor responde com o silêncio: "Qual é a sua maior ambição na vida?" Mas não está no YouTube, quel dommage.
Eu hoje acordei assim...


Jean Seberg

... numa conversa sobre astrologia - não totalmente informal, por acaso - noto uma expressão de desagrado perante as informações mínimas que dou a esse respeito: signo e ascendente. Nenhum dos outros participantes na conversa considera haver alguma coisa de anormal numa criatura Virgem com ascendente Carneiro. Mas a especialista no assunto treme, franze o sobrolho, noto que a revelação a perturba. Tento salvar-me e explico que um dia me ofereceram um mapa astrológico que indicava que a grande maioria dos planetas se encontrava em Escorpião, esforçando-me por limpar a minha imagem. Explico-lhe que não há nada a temer. Que sou uma espécie de santa autoritária mas que à excepção desse paradoxo aparente sou feita de sangue e ossos como a criatura sentada ao meu lado, por mero acaso um Caranguejo com ascendente Escorpião. Ela responde, muito séria, que os homens virginianos são capazes do maior dos distanciamentos, que não há nenhum signo pior. Que amam intensamente e que um dia desaparecem como se nada mais existisse. Salto da cadeira! Não, não, não! As virginianas não são assim. São carinhosas, dedicadas, umas santas, repeti. E o ascendente está sobrevalorizado! Por muito que se diga e que se queira, os homens e as mulheres são diferentes, e nos signos é a mesma coisa. Tanto fiz que a convenci. Tanto fiz que me convenci a mim própria.

sábado, dezembro 08, 2007

Caro João Pinto e Castro: ao contrário do que diz, eu não vi a luz. Até porque não há, neste caso, nenhuma luz a ver, o que facilita. Percebi exactamente o post do Tiago Mendes. E não se pense por um único instante que para isso seja obrigatório ser dotado de uma inteligência superior. Não houve naquelas palavras nada de obscuro nem na sua formulação nada de complicado. O post do doutorando é muito claro. Tanto que o que fica é a seguinte passagem em que se refere ao que, na sua opinião, são as atitudes do visado: "Leram bem: asquerosas. Nojentas, execráveis, mesmo de puxar o vómito." Peço-lhe que acrescente à sua lista mais esta questão pertinente levantada pelo Tiago Mendes. Sempre me pareceu que Oxford era um belo sítio. Mas lá está: Oxford não faz milagres.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Bomba de Diamante: "Já tinha a ideia que a esquerda se acha limpa de canalhas, não sabia era que lhes sobra tanto tempo e ideias para ajudar na faxina da casa ao lado. Não tenho nenhuma oposição ao projecto em geral (como haveria de ter?), e até talvez partilhe de alguns dos alvos em concreto. O que me parece ridículo é que se veja nas fórmulas utilizadas pelo Tiago Mendes um algorítmo válido para essa clarificação. Suponho que existem variadíssimos caminhos por onde a direita se pode definir como uma ideia decente de sociedade, mas duvido que atirar bolas de merda à cara dos nossos representantes na fatia da imbecilidade humana que a Criação nos destinou seja uma delas. Aliás, a avidez com que tanta esquerda bloguista (isto passa-se nos blogues, convém, de vez em quando, lembrar) se agarrou ao caso Tiago Mendes, alguma jurando até que só tinham a ganhar com uma direita limpinha e inocentizada, só dá para desconfiar (para além de implicar uma lata sem fim: não vamos aqui inumerar os canalhas que, por exemplo, no PCP, sempre foram honrados com os maiores dos respeitos). As desinfestações são muito bonitas no cristal líquido, mas, ao contrário do que fazem crer os actuais feiticeiros políticos, não esclarecem nem definem coisíssima nenhuma." maradona, naturalmente.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Argumento a favor da recuperação dos duelos

Eu hoje acordei assim...


Natalie Portman

... ontem estive a ver um bom bocado daquela adaptação do Guerra e Paz que está a ser transmitida pela RTP 1. Dizer que os actores são maus é bondade de qualquer pessoa que diga tal. Aquilo é pior que péssimo! Qual deles o mais canastrão, um desastre. Não é só em Portugal que há daquilo, um pensamento que, apesar de tudo, não me consola. Mas não deixei de ver, cheguei mesmo quase, quase até ao fim, mas acabei por desistir. Houve, no entanto, uma parte que me despertou a atenção. A certa altura há um desafio logo seguido de duelo. Contra todas as previsões, ganha o desafiado, que por sua vez é apresentado na série como uma espécie de boa pessoa num género totó. Gostei do duelo. Curto e frio, dois tiros disparados, boas fardas, estupendos sobretudos e gorros. Uma pena que se tenha perdido essa tradição. Era tudo mais breve e elegante. Uma bela maneira de defender a honra. Ah, mas escapa-me um pormenor importante: hoje em dia ninguém está interessado na honra. Isso é coisa antiga, ultrapassada, coberta de pó. Assim sendo, como poderia haver duelos?

quarta-feira, dezembro 05, 2007

The One You Love - Rufus Wainwright



The mind has so many pictures
Why can't I sleep with my eyes open
The mind has so many memories
Can you remember what it looks like when I cry
I'm trying, trying to tell you
All that I can in a sweet and velvet tongue
But no words ever could sell you
Sell you on me after all that I have done

I'm only the one you love
Am I only the one you love?
The Lady Gloom and her hornets circling round
Is now before us, the screaming's done without moving
One little move and for sure you will be stung

I'm singing "Oh, Jerusalem oh, Jerusalem
See what he's picked up in the park"
Let's fuck this awful art party
Want you to make love to me and only to me in the dark

I'm only the one you love
Am I only the one you love?

We've traded in our snap shots
We're going through the motions
Into the view, I'm leaving you
Down Conduit Avenue into the early morning
Into the early morning
The one I love
Are you only the one I love?
A questão em baixo: tristemente remetida para post scriptum, é da maior importância. Resta saber o que é que conta mais: gostar de gatinhos ou matar outros vilões, que, por sua vez, são maridos dedicados, por exemplo. Mas não é preciso ir tão longe. Nos extremos não percebemos bem a complexidade do problema. Não é preciso matar para ser uma péssima pessoa, a qual, por sua vez, sempre se mostrou a melhor das criaturas. Isto é muito complicado, ó Vida Breve! Post scriptum, francamente...
Bomba de Ouro: "P.S.: agora que as nossas avaliações morais parecem sujeitas ao escrutínio permanente dos bem-pensantes, talvez valha a pena acrescentar que o mundo se torna infinitamente mais complexo no dia em que compreendemos que um vilão, qualquer vilão, pode ser um excelente chefe de família." Luís M. Jorge, Vida Breve.
King Without A Crown - Matisyahu

Ask The Rabbi - Chutzpah

Chanukah's Da Bomb - Chutzpah

terça-feira, dezembro 04, 2007

The Hannukah Song - Adam Sandler

Omid Djalili (2)

Omid Djalili (1)

Eu hoje acordei assim...


Christina Ricci

... já era hora de aparecer um gatinho nos Sopranos. Foi no último episódio mas chegou muito a tempo. Paulie tem a reacção típica dos que temem a espécie: quer afogá-lo. O gato, completamente nas tintas para Paulie, deita-se ao seu lado no meio da rua como se nada fosse. Tony gosta do bichano. Bom homem este Tony Soprano. Belíssimo último episódio.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Brushing up my Shakespeare (3)

Polonius: My liege, and madam, to expostulate
What majesty should be, what duty is,
What day is day, night night, and time is time,
Were nothing but to waste night, day, and time;
Therefore, since brevity is the soul of wit,
And tediousness the limbs and outward flourishes,
I will be brief. Your noble son is mad.

Hamlet, Act II, Scene 2
Brushing up my Shakespeare (2)

2 Witch: Eye of newt, and toe of frog,
Wool of bat, and tongue of dog,
Adder's fork, and blind-worm's sting,
Lizard's leg, and howlet's wing,
For a charm of powerful trouble,
Like a hell-broth boil and bubble.

Macbeth, Act IV, Scene 1
Brushing up my Shakespeare

Olivia. Will it be ever thus? Ungracious wretch!
Fit for the mountains and the barbarous caves,
Where manners ne’er were preach’d. Out of my sight!

Twelfth Night, Act IV, Scene 1
Hugo Chávez derrotado!

Eu hoje acordei assim...


Naomi Watts fotografada por Ben Watts

... não sei bem o que pensar a respeito deste post sobre Naomi Watts, actriz talentosa, muito bonita, cheia de pinta e que faz parte da mobília do bomba inteligente. Não é que me pareça mal, não é nada disso, mas gostaria de questionar essa definição de coragem. Percebo o que o Pedro Mexia escreve e posso até concordar, mas estarei talvez habituada a outras definições de coragem. Seja como for, quanto a Piper Perabo (que deconhecia por completo), tem um estilo betinho agradável, mas o que a distingue de todas as outras é aquele belíssimo herpes que lhe rebenta na boca. Rapariga que se preze tem as suas fragilidades bem à vista, de facto.

domingo, dezembro 02, 2007

Cinco minutos e oito segundos com Astor Piazzolla

Amablemente - Edmundo Rivero

Anibal Troilo sobre Homero Manzi

Eu hoje acordei assim...


Naomi Watts

... ainda sobre a Apologia de Sócrates, certamente não partilhamos das mesmas ideias a respeito do texto (refiro-me àqueles que, como bons leitores, leram ou releram esse pequenino texto só para me acompanharem nestas breves reflexões). Pois se eu própria há 15 ou 16 anos fiquei - sei-o agora - com uma noção completamente diferente! Sócrates faz tudo por tudo para se defender, não se entrega à morte com despojamento (embora perceba e afirme que o seu destino pertence à divindade) e, sobretudo, não parece estar à espera de semelhante desfecho. Prefere morrer a que seja feita uma colecta entre os discípulos para que uma espécie de multa seja paga, mas não sem antes usar todos os meios de defesa ao seu dispor para se salvar. Tinha ficado com a ideia de que Sócrates se sacrificara, tem graça. Que na verdade se suicidara with a little help from his friends. Agora penso que foi superior, elevado, digno. Daqui a 15 anos volto a ler a ver o que acontece.

sábado, dezembro 01, 2007

Congratulations are in order!

Muitos parabéns ao blogues 31 da Armada, Mar Salgado e Rititi por ocasião dos respectivos aniversários. Que contem muitos e não dêem ouvidos às Spice Girls (Rititas, o tema é de 1998)! Apio verde a todos!
Gone With The Wind - French and Saunders

Coisas que melhoram algumas vidas (94)


"Let's face it: Coward was a genius." No The New York Times.
Eu hoje acordei assim...




... Como passaram os blogueadores lusitanos as horas, os dias, os meses deste ano veloz de dois mil e sete? A blogar, como não podia deixar de ser. Por mim conto o que já todos sabem: acordei assim na maior parte dos dias; assisti a mais vídeos no YouTube do que episódios de séries de televisão; li todos os poemas da Dorothy Parker e da Margaret Atwood e mais alguns; resumindo, partilhei inúmeras coisas de que gosto e escrevi muito pouco. Apanhei em flagrante delito comentadores anónimos em caixas de comentários de blogues alheios a reclamar que o bomba inteligente é um blogue sobrevalorizado porque não escrevo, não produzo, não faço nenhum. Adoro estes insultos incapazes de conter o elogio, muito obrigada. É verdade que pouco fiz (só por causa do muito que tive que fazer) mas acompanhei a produção blogosférica dos outros e é dela que vos quero falar... (Os blogues do ano continua na Atlântico de Dezembro)

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