blogue de carla hilário de almeida quevedo bombainteligente@gmail.com

domingo, setembro 30, 2007

Indispensáveis©

Modos de vida: teve uma educação irrepreensível; foi expulsa dos melhores colégios.
Eu hoje acordei assim...


Carmen Electra

... pois bem sei que esta fotografia ultrapassa um certo limite (ultrapassa?) nas inúmeras maneiras públicas que tenho de acordar e peço desculpas aos espectadores/leitores mais sensíveis, mas o problema é que descobri uma trilogia Carmen Electra/imaginário de equitação a que não sou capaz de resistir. Mais kitsch é impossivel. Observemos o fundo dourado, todos os pormenores de cor do cavalinho de madeira com expressão aflita, o laçarote no tornozelo e no pulso, a boca semi-aberta, enfim, é uma fotografia extraordinária. Além de que pode ser uma boa ilustração para a seguinte passagem de The Dying Animal, de Philip Roth: "It's not the sex that's corruption - it's the rest. Sex isn't just friction and shallow fun. Sex is also the revenge on death. Don't forget death. Don't ever forget it. Yes, sex is too limited in its power. I know very well how limited. But tell me, what power is greater?" Bom dia!

sábado, setembro 29, 2007

Coisas que melhoram algumas vidas (87)

Ninho de cucos (95)

Metabloggers do it better (64)

Os blogues autistas são de longe os meus preferidos.
No Second Troy
by W.B. Yeats

Why should I blame her that she filled my days
With misery, or that she would of late
Have taught to ignorant men most violent ways,
Or hurled the little streets upon the great.
Had they but courage equal to desire?
What could have made her peaceful with a mind
That nobleness made simple as a fire,
With beauty like a tightened bow, a kind
That is not natural in an age like this,
Being high and solitary and most stern?
Why, what could she have done, being what she is?
Was there another Troy for her to burn?
Bomba de Ouro: "Uma parte não despicienda da esquerda, tal como uma parte não despicienda da direita (embora, esta, menos vocal), vive numa frágil linha entre a detestação de Israel (baptizada “anti-sionismo”, ou, em gente menos aguerrida, sem nome reconhecível) e um anti-semitismo que conhece várias tonalidades. A detestação de Israel é a alavanca para a suspeita levantada sobre quem condena o anti-semitismo. E, nesse sentimento de suspeita, a linha divisória entre “anti-sionismo” e anti-semitismo esbate-se. Falando dos outros, revelam-se a si mesmos." Paulo Tunhas
Metabloggers do it better (63)
Eu hoje acordei assim...


Carmen Electra

... tenho estado a pensar nesta pergunta. A sério que tenho, é curioso. Eu diria Aquiles, que coisa tão estranha, passado este tempo todo. Há personagens que impressionam para a vida toda. Bem sei que é um homem mas nada disso deverá levar a que eu própria pense que sofra de uma espécie de nostálgico medo da castração (que é muito bonito). Já reflecti durante cinquenta minutos sobre a questão e concluí que não se trata disso. Aquiles tem duas características com que me identifico (e a palavra é mesmo identificar). Aquiles e Molly Bloom, é isso.

sexta-feira, setembro 28, 2007

Soy un Puma, soy un Puma...

Eu hoje acordei assim...


Natalie Portman

... estive agora pela fresca a ver as imagens de Pedro Santana Lopes a ser interrompido pela chegada de Mourinho. Esteve muito bem Pedro Santana Lopes. Não só tomou uma atitude como foi muito bem educado quando se recusou a continuar a entrevista. Não fez cenas de se levantar e sair, nem se pôs com indignações desnecessárias que tantas vezes estragam a melhor das decisões. (Para não ir mais longe, imaginem a mesma atitude a ser tomada por Carrilho.) Assim PSL pôde reunir consenso e tirar o máximo partido da situação. A SIC Notícias deu de bandeja uma oportunidade para que isso acontecesse. Talvez seja preciso lembrar que Pedro Santana Lopes foi primeiro-ministro de Portugal, que foi convidado pelo canal para falar sobre o PSD e que se o vão interromper, então seria bom que o fizessem por um bom motivo. Não sei se os pais da Madeleine (que ideia maravilhosa...)... A chegada de Mourinho não é um bom motivo para a maioria da blogosfera, por exemplo. Já é muita gente. E é gente que vê estas coisas. A SIC Notícias decidiu que era. Como canal privado de televisão tem toda a liberdade para o fazer. Mas a liberdade de tomar decisões não é suficiente e sobretudo não é exclusiva de nenhum canal (nem de ninguém). Pedro Santana Lopes também decidiu e muito bem. Julgo, no entanto, que o nosso erro está em pensarmos que os noticiários são programas melhores do que os outros. Não são. Os telejornais são programas de entretenimento. O pior é que são maus programas de entretenimento. Deve ser por isso que só vejo séries. E para a próxima viagem do Mourinho convidem o Jorge Coelho que com certeza fica.

quinta-feira, setembro 27, 2007

O medo da castração é muito bonito (2)


Salome, Lucien Lévy-Dhurmer, 1896
O medo da castração é muito bonito

"A boy aged three years and five months, who obviously disliked the idea of his father's returning from the front, woke up one morning in a disturbed and excited state. He kept on repeating: Why was Daddy carrying his head on a plate? Last night Daddy was carrying is head on a plate."

Sigmund Freud, The Interpretation of Dreams (Second Part) and On Dreams, The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud, vol. V, Vintage, 2001, p. 366.
Eu hoje acordei assim...


Emmanuelle Béart (em 8 Femmes)

... o dia amanheceu lindíssimo. Isto não é uma interpretação, pois não? E se tivesse amanhecido um dia cinzento e chuvoso? Diria o mesmo: que tinha amanhecido um dia lindíssimo. Talvez seja uma interpretação... Ou uma expressão de um desejo. Ou uma questão de estilo. Mas um charuto é por vezes apenas um charuto, um túnel tão-somente um túnel, embora uma criada fardada seja por vezes apenas uma bela rapariga com um vestido mais austero.

quarta-feira, setembro 26, 2007

Dos Modernos


As Criadas, Paula Rego, 1987
The Ruined Maid
by Thomas Hardy

"O 'Melia, my dear, this does everything crown!
Who could have supposed I should meet you in Town?
And whence such fair garments, such prosperi-ty?"
"O didn't you know I'd been ruined?" said she.

"You left us in tatters, without shoes or socks,
Tired of digging potatoes, and spudding up docks;
And now you've gay bracelets and bright feathers three!"
"Yes: that's how we dress when we're ruined," said she.

"At home in the barton you said 'thee' and 'thou,
'And 'thik oon,' and 'theäs oon,' and 't'other'; but now
Your talking quite fits 'ee for high compa-ny!"
"Some polish is gained with one's ruin," said she.

"Your hands were like paws then, your face blue and bleak
But now I'm bewitched by your delicate cheek,
And your little gloves fit as on any la-dy!"
"We never do work when we're ruined," said she.

"You used to call home-life a hag-ridden dream,
And you'd sigh, and you'd sock; but at present you seem
To know not of megrims or melancho-ly!"
"True. One's pretty lively when ruined," said she.

"I wish I had feathers, a fine sweeping gown,
And a delicate face, and could strut about Town!"
"My dear - a raw country girl, such as you be,
Cannot quite expect that. You ain't ruined," said she.

terça-feira, setembro 25, 2007

Eu hoje acordei assim...


Eva Herzigova

... até já!

segunda-feira, setembro 24, 2007

Agora com francesas!



Via Jansenista.
Bom dia, Isabel: nada disso é amiguismo; é amizade. Aproveito também eu para dar os muitos parabéns ao Quatro Caminhos pelo terceiro aniversário. E ao Impensável pelo quarto aniversário. Chego atrasada às festas de anos de ambos, as minhas desculpas. Que contem muitos mais! Viva! (Ana Cláudia, vem aí a última série dos Sopranos, que nervos...)
Indispensáveis©

(Não sou muito o género de pessoa que se apaixona por objectos, mas este é demasiado engraçado e irresistível.)
Vida desastrosa

Por vezes, as pessoas mais insuspeitas supreendem ao dizer frases como: «Ele é brilhante, mas a vida dele é um desastre». É a adversativa que introduz o elemento que me parece fundamental para percebermos o seu sentido: a expectativa. Parece haver um entendimento comum a muitos de que o brilhantismo ocasiona uma vida que não pode ser «um desastre», a qual, por sua vez será uma vida... feliz? Saudável? Rica? Bem sucedida? Ou seja, uma pessoa brilhante tem a oportunidade (ou a possibilidade) de utilizar o seu talento em benefício próprio, e para casar para sempre, procriar melhor, ganhar muito dinheiro Na frase o que temos afinal é uma expectativa velada de que aquele que é brilhante tenha tudo aquilo que muitos desejam: uma vida burguesa, superficial na maior parte dos casos, embora com a enorme vantagem de não ter problemas de maior. Ora, como conciliar o brilhantismo (a inteligência, o talento, como queiram) com uma vida centrada na resolução de problemas do quotidiano? Como podemos acreditar que alguém brilhante é mais capaz de os resolver? Que, se os resolver, estará a fazer jus à sua condição de pessoa brilhante? E, se não o fizer, isso significa que a sua vida é um desastre? Não, até porque não existem vidas desastrosas, apenas diferentes, umas vividas mais intensamente do que outras.

Publicado na Tabu, Cinco Sentidos, 22-09-07.

domingo, setembro 23, 2007

Peace
by W. B. Yeats

Ah, that Time could touch a form
That could show what Homer's age
Bred to be a hero's wage.
"Were not all her life but storm,
Would not painters paint a form
Of such noble lines," I said,
"Such a delicate high head,
All that sternness amid charm,
All that sweetness amid strength?"
Ah, but peace that comes at length,
Came when Time had touched her form.
Eu hoje acordei assim...


Anna Karina

... não, não: a fase Jean-Luc Godard ainda não passou, nem por sombras. Sofreu apenas uma brevíssima interrupção. Um leitor muito gentil enviou-me Le Mépris, mas não consigo ver porque o portátil pifou (MacBook branco ou Vaio blazing red, eis a questão). Será gripe informática? Entretanto, a minha alma anda completamente parva com as edições em DVD que estão a sair: Elogio do Amor, Le Mépris (acaba de sair), La Chinoise, O Acossado. Mas nada disto pode dissuadir os Caros Senhores da Cinemateca de organizar um ciclo Godard, tentanto trazer cá o realizador (note-se que a fasquia subiu ligeiramente). O quê, não sai de casa? Enlouqueceu? Está velho? Amuou? Não lhe apetece? Who does? Who hasn't? Who isn't? Who doesn't? Who does...

sábado, setembro 22, 2007

Coisas que melhoram algumas vidas (86)*



* sendo que algumas são inesperadas. Disturbing, indeed.
"Maybe I could meet you guys tomorrow for lunch"

Era um despertador

Eu hoje acordei assim...


Elizabeth Hurley

... chegar a Portugal e ficar doente é de esperar. Tenho um amigo que me diz que Portugal não teve nada a ver com a gripe e que o problema foi não ter tomado as vacinas antes de ir para a Holanda. Fiquei a pensar que teria muita razão. A quantidade de ratatouille que existe na cidade de Amesterdão é impressionante. Parece tudo muito lindo - e é - sem problemas nenhuns - e é bem verdade que não têm, à excepção da comunidade turca que não sai de casa e que vive de acordo com as suas próprias leis - muito asseado - não há sequer um papel no chão - super-silencioso - não se ouve uma mosca mesmo em plena hora de ponta no centro - mas para compensar, há ratos por todo o lado. Não que se vejam (a menos que queiramos aqui introduzir uma metáfora), mas aparecem na calada da noite. Lembro que uma fêmea pode ter à volta de 1500 crias ao longo da sua vida. Isto é preocupante! Mas pensando noutros bichos que vi em Amesterdão, lembro-me por exemplo do espantoso conjunto de crocodilos que existe no jardim zoológico. Uma maravilha. Eram uns quatro ou cinco, enormes, imóveis, pré-históricos, com aspecto embalsamado - se viesse um astrólogo forense de Madrid diria que escondem alguma coisa, os sacanas. E de onde virá a expressão lágrimas de crocodilo? De alguma banda desenhada, com certeza. Quando eu era miúda, adorava a história do Capitão Gancho sempre cheio de medo de um crocodilo que lhe tinha comido a mão e engolido o relógio. Mas o Capitão Gancho usava relógio de pulso? Tenho de investigar esta história. E de ler o Rat Man Case, do Freud. Não tenho medo de ratos que fique aqui registado...

sexta-feira, setembro 21, 2007

Muitos blogoparabéns!



Desta leitora fiel - ai, Pedro, as coisas que obrigas uma pessoa a dizer... - muitíssimo apreciadora de Big Train, votos de felicidades blogosféricas para o Estado Civil, nesta data em que cumpre dois anos de blogovida. Hip hip hurray!

Adenda: quanto a este post, 1) a boutade não é exclusiva da direita nem de nenhuma ideologia; 2) consideras uma boutade algo com que não concordas; e 3) esqueces precisamente a autoridade de quem - segundo tu dizes - a profere. Seja como for, VPV já ganhou há muito tempo o direito à boutade e a gostar de Clara Pinto Correia.
Querido maradona, estou com 39º de febre

quarta-feira, setembro 19, 2007

"Stop!"



Sobre Britney Spears, é preciso percebermos que estamos - alguns, eu - a assistir a uma pessoa muito jovem a enlouquecer em público. Julgo que, neste caso, a profunda falta de inteligência é causadora de sofrimento. Pode levar à infelicidade total, à loucura, ao suicídio, a nada de bom, portanto. Mas a ideia precisa de desenvolvimento e agora não posso. Hang in there, Britney!
"Cause dancing's what I love"



A questão é quase só essa: óptima bailarina!
"Action!"



O verso "I don't need nobody telling me just what I'm gonna do about my destiny" parece bastante claro. Talvez por realmente não ser necessário que alguém diga ao outro aquilo que ninguém tem a mínima hipótese de saber.
Eu hoje acordei assim...


Rosario Dawson

... nestes últimos dias vividos na cidade de Amesterdão, verifiquei de longe (dos canais, num pequeno barquinho) que houve muitas pessoas a defender a agressão de Scolari a um jogador sérvio. A atitude é obviamente condenável, não vejo nenhuma margem para dúvida. Espero que seja suspenso rapidamente e que sejam aplicados os castigos que são aplicados nestes casos. Mas era mesmo só o que nos faltava ter um treinador da selecção nacional a agredir jogadores. A insanidade é total. O maradona não tem um pingo de razão no seu post em que defende o indefensável. E a fotografia que apresenta do jogador francês (que não aprecio, gosto em geral muito mais dos baixinhos sem pescoço - 1,80m - que jogam na primeira linha) Sebastien Chabal é escandalosa (volta, Pipi, não há nada a perdoar!). Mas voltando a Scolari, a única agressão que poderia ter algum interesse seria a de um treinador a um jogador da sua própria equipa. Imaginemos Scolari a dar uma palmada no Nuno Gomes: "Porque você não feiz o qui eu djisse, hein?". Um treinador severo do tipo mestre-escola seria pelo menos original... Depois acordei a pensar no Red Light District. Tem muitos fãs, vão em bandos ugabuga a beber cerveja até cair no canal, algumas das meninas nas montras são voluptuosas, outras uns estafermos, mas tudo aquilo é deprimente. Não quero agora falar da legalização da prostituição (só porque agora tenho mesmo de ir ali), but let's just say I am not a fan at all. E nem era preciso ir ao Red Light para confirmar o que pensava sobre o assunto.

terça-feira, setembro 18, 2007

Dos Modernos


Almond blossom, Vincent van Gogh, 1890, oil paint on canvas, 92 x 74 cm, Van Gogh Museum, Amsterdam
Dos Antigos


Sappho and Alcaeus, Sir Lawrence Alma-Tadema, 1881, oil on canvas, 66 x 122 cm, private collection
Coisas que melhoram algumas vidas (86)



A grafonola está estragada outra vez...



... mas we will always have you YouTube desta vez com Serge Gainsbourg a cantar Sous le soleil exactement. Agora é só imaginar que é a Anna Karina que canta. Um bocadinho mais agudo, um bocadinho menos doce que Gainsbourg, um bocadinho mais infantil, um bocadinho mais gritado no refrão, um bom bocado melhor. É um tema dedicado, claro.
Eu hoje acordei assim...


Anna Karina (bem acompanhada)

... querida, vejo dois belos cabelos brancos.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Estado em que se encontra este blogue

Scarlett Johansson

Até logo!
Ode* a Quakan



Oh dedinhos pequenos, oh dedo maior,
oh calcanhar bem colocado
oh salto, oh fivelas, oh lacinho,
oh verdinho que te quero verdinho,
oh pernas descansadas, oh mesmo cansadas,
oh meias que não preciso delas,
oh andar duma arte consumada, oh planta do pé arqueada
em pose de bailarina, oh quinhentos euros!

* inspiradíssima em Filodemo.
Eu hoje acordei assim...


Ashley Judd

... a pensar em várias coisas: que é muito natural que o Verão acabe com uma apoteótica trovoada; que a apresentação da Sarah Silverman nos VMA foi brilhante, como é hábito; que há qualquer coisa com Britney Spears que não bate certo; que cada vez gosto mais de pessoas incorruptíveis; que o modelo de Manolo Blahnik que merece todos os encómios chama-se Quakan e é uma obra de arte absolutamente perfeita; e que se jogasse râguebi, usava o barretinho. Bem sei que é opcional, mas by the yes, by the no, o barretinho sempre protege.

terça-feira, setembro 11, 2007

Coisas que melhoram algumas vidas (85)


Autoridade parental

No estado do Novo México decorrem as gravações de um novo «reality-show» chamado «Kid Nation». Participam quarenta (!) crianças (!!), com idades compreendidas entre os oito e os quinze anos (!!!). O objectivo do programa será o de formar uma comunidade, por sua vez organizada numa pequena cidade, sem a ajuda dos adultos. O programa obviamente levanta uma série de problemas e dúvidas e é já motivo de polémica nos Estados Unidos. A CBS, a cadeia televisiva responsável pela produção do programa, parece estar a cumprir todas as normas legais exigidas por aquele estado norte-americano e conta com a aprovação dos pais, que assinaram contratos de vinte e duas páginas cada, e que encarregam os ditos pais da responsabilização por tudo e mais alguma coisa que possa acontecer desde acidentes, quedas várias, distúrbios emocionais, doenças e até birras. Admito a possibilidade de este programa estar a ser produzido na mais absoluta legalidade, o que não pressupõe que inclua uma absoluta moralidade (nem uma parte sequer). Saber qual é o limite da autoridade parental é, para mim, a questão mais importante. Os pais podem autorizar tudo? Se a resposta for sim, quais são os deveres dos filhos? Se a resposta for não, quem tem autoridade para determinar o tal limite?

Publicado na Tabu, 8-09-2007.
Não esquecemos

segunda-feira, setembro 10, 2007

Eu hoje acordei assim...


Anna Karina

... sonhei que estava num palácio em Veneza e que havia uma infiltração. De repente aparecia um homem que nunca vi e tínhamos o seguinte diálogo:
- Já viu?
- É uma infiltração muito feia.
- E uma infiltração em Veneza não é grave?
- Não, é normal. Isso passa.
- Mas como é que uma infiltração passa?
- Em Veneza passa. Não se preocupe. Envie o e-mail, menina, deixe-se de vergonhas.
- Só há uma pessoa que me trata por menina e não é um homem.
- Agora há duas pessoas.

domingo, setembro 09, 2007

Verdade, mentira, certeza, incerteza...
Aquele cego ali na estrada também conhece estas palavras.
Estou sentado num degrau alto e tenho as mãos apertadas
Sobre o mais alto dos joelhos cruzados.
Bem: verdade, mentira, certeza, incerteza o que são?
O cego pára na estrada,
Desliguei as mãos de cima do joelho.
Verdade, mentira, certeza, incerteza são as mesmas?
Qualquer cousa mudou numa parte da realidade - os meus joelhos e as minhas mãos.
Qual é a ciência que tem conhecimento para isto?
O cego continua o seu caminho e eu não faço mais gestos.
Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.
Ser real é isto.

Alberto Caeiro
Mutatis mutandis

Assim como não tenho maneira de saber o que não mudou na minha vida, também não tenho muitas hipóteses de saber o que não me aconteceu (com excepções óbvias, comuns a quase todos); a não ser que pense nessas coisas que não me aconteceram como sendo naturalmente opostas às que me aconteceram. Por exemplo, tive sarampo por oposição a não tive sarampo, tendo o primeiro facto acontecido (já na idade adulta, obrigando-me a ficar semanas de cama) e o segundo não. Quanto ao que mudou na minha vida, posso reconhecer alguns aspectos práticos e outros ditos menos práticos - ex. mudei de casa ou tornei-me menos intolerante - mas o que não mudou, isso, eu não posso mesmo saber. (Introduzi o elemento "acontecer", porque me parece importante perceber que para mudar, é necessário que aconteça alguma coisa. Nem que seja só na nossa cabeça e nunca partilhemos essa informação com ninguém.)

Admito que a corrente dos dez livros que não mudaram a vida não me interessou tanto quanto as reacções que provocou. Quando as elites apresentam listas de obras literárias que não mudaram as suas vidas, sem hesitar, sem nada questionar, é inevitável que pensemos que alguma coisa não está bem. Dando o ar da sua graça, incluindo nas ditas listas algumas das maiores obras da literatura mundial, prestaram um péssimo serviço, esquecendo no que consiste afinal o seu dia-a-dia. Eu não ia querer que um professor meu anunciasse que Proust não mudou a vida dele; nunca o respeitaria. Mas isso é comigo. E só mais uma coisa: enxovalhar os mortos é muito fácil. Pena que não tenham mencionado nenhuma obra de nenhum escritor português vivo. Pode ser que para a próxima corrente.
Podia agora contar uma história: sobre um livro que mudou a minha vida, não apenas a minha maneira de pensar sobre a literatura como o meu quotidiano. Este livro, que me foi oferecido em 1994 e me acompanhou até 2004, trouxe-me alegrias, desânimo, ansiedade, e, por fim, um certo orgulho. Não o escrevi, nada disso, mas dediquei-me a compreendê-lo, lendo outros livros que com ele de alguma forma se relacionavam, ainda que muitas vezes nem sequer muito obviamente. É certo que o li numa altura crucial, num estado de paixão, e isso teve o seu peso. Mas dizia, então, que podia agora contar uma história sobre o livro que mudou a minha vida. Já contei. O que não poderia fazer seria contar o que não mudou na minha vida durante esse mesmo tempo, por exemplo. Não tenho como verificar essa não mudança. Talvez porque não existe tal coisa como não mudar.

sábado, setembro 08, 2007

Entretanto: os imutáveis do início da conversa emudeceram. Fizeram bem. Afinal de contas, nada há a dizer se nada mudou.
Mais alguns contributos para a discussão do momento: do Luís Carmelo (não sei se o gosto é uma questão assim tão secundária); do Quid Rides? (grande livro); do Luís Naves; do Linha do Norte (aqui, aqui, aqui e aqui); da Miss Woody; do Exactor (não me escandalizo, apenas me surpreendo); da Nancy Brown (pois eu li o Ulysses, suponho que ao dizer isto seja desde já motivo de desconfiança sua); de O Bicho dos Livros; e do Tomás Vasques.
Cartas-bomba

Recebi duas mensagens que me parecem excelentes contributos para a discussão do momento, e que agradeço, muito obrigada.

"Desde que me conheço que manuseio livros. O meu pai tinha e tem (ainda) o vício de os comprar e a minha mãe relata que desde muito pequenina que via o meu entusiasmo a propósito dos livros. Tiveram certamente influência um padrinho que nunca me oferceu nada nos aniversários que não fossem livros, uma irmã mais velha que estudou linguas e literaturas portuguesas, e uma casa que era sempre pequena demais para tantos livros (o que muitas dores de cabeça dava a minha mãe). Logo, recordo da minha infância pouco mais do que muitas horas sentada no longo corredor da casa de meus pais (ainda não sabia ler nem escrever) a copiar para folhas de papel que roubava ao meu pai, as lombadas dos livros que lá viviam. E assim todos se espantaram porque com 4 anos escrevia... era mentira, apenas me limitava a reproduzir através do desenho os títulos dos livros, fazendo depois um brilharete junto dos adultos com "História de Portugal" escrito na perfeição! Ficaram marcados cheiros de papel, o cuidado com que mudava as páginas de llivros que nem me cabiam no colo, as ilustrações do Roque Gameiro numas Pupilas do Senhor Reitor que pesavam mais quase do que eu, etc., etc. etc. o amor pelos livros é assim, nenhum nos poderá passar indiferente, podemos sentir tantas coisas só ao pegar num livro... Resumindo: os livros para mim são tão importantes que até o cheiro do papel me faz bem... que livros ou não mudam a nossa vida é para mim uma questão estranhissíma na forma como é posta. Todos os livros que li mudaram a minha vida (uns mais, outros menos, uns de uma maneira, outros de outra... alguns mesmo porque os deixei a meio ou não fui capaz de os ler...). Todos os livros que não li (ainda) não mudaram a minha vida! That's it!" Susana T.

"Lembrei-me - a propósito de um dos muitos livros que quero ler e ainda não li, por falta de tempo, oportunidade, e devido a outras obrigações, enfim... - de um documentário bastante recente que vi na RTP2 e que apanhei quase no fim, infelizmente, em que o autor e apresentador (não sei quem é; acho que era inglês) comentava o efeito do livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, sobre o público da época. Pelo que ele contava, foi uma leitura das grandes massas. O público ter-se-á comovido e apaixonado pela história triste do jovem que se suicida por um amor não correspondido e parece que na altura houve muita gente que se suicidou. Terá sido a influência do livro também uma impulsionadora desses suicídios? (Terão quase todos os que se suicidaram lido esse livro? Não sei... Seria interessante saber.) Terão esse livro e a sua eventual moda movido, literalmente, a vida dessas pessoas? Achei curioso e foi inevitável lembrar-me disto." Anabela Barros Correia

sexta-feira, setembro 07, 2007

Gostar de homens©

Mais contributos para a discussão do momento

Da Fátima Rolo Duarte: "James Joyce é um dos bodes expiatórios, tal como o foi na altura em que apareceu e o liam e torciam o nariz. Como tantos outros, como Michaux aqui e ainda hoje aqui, não é eterna a raiva? Qual raiva, antes fosse, chama-se-lhe já estupidez, parolice, chamam-se-lhe nomes, disparam palavrões ou um silêncio de pesar. Joyce não chega a ser genial porque representa o fim da literatura, o máximo. A genialidade é feita de aproximações, de qualquer coisa imperfeita que fica por dizer e fazer, Joyce é Shakespeare doutra forma e ambos perfeitos. Não há labrego, pois, que não abra um livro de Joyce e não abra a boca de espanto e isto pela vida das palavras que se reorganizam e comem à mão de Joyce; não há alvar que não se comova, mesmo no pior dos sentidos. Detestando-o, por exemplo. É tudo possível, até escrever que a leitura de Joyce ou Proust não muda a vida de quem quer que seja. Claro que não. Quem tem fome quer lá saber de livros. Quem tem sede quer água."

Do Jansenista: "Tantas vezes me disseram, na juventude, que tinha talento literário, que me convenci de que um dia essa obra literária da minha autoria haveria de aparecer, quase como uma inevitabilidade. Depois de ler Proust percebi que não, que essa minha obra literária ficaria definitivamente por escrever, e com toda a justiça, e que eu seria muito mais feliz superando, através de palavras alheias – fazendo-as falar por mim –, essa ingénua pretensão juvenil. Isso, julgo, é «modificar a vida» no sentido mais poderoso que pode associar-se ao efeito de uma leitura."

Do Luís Mourão: "- (...) Moby dick não mudou a minha vida, aliás ficou a meio, verdade seja dita, mas sei exactamente porque é que isso aconteceu.
- Conta lá, sem ser pessoal... Ou mesmo que seja...
- A questão é que apanhei com Apocalipse now pelo meio, e no dia seguinte devorei o Conrad de O coração das trevas.
- Estou a ver, compreende-se.
- Moby dick foi a obra errada no momento errado. Mas percebo muito bem que possa mudar uma vida, e só não mudou a minha porque ela já se tinha mudado para o lugar para onde ela me ia mudar.
- Quer dizer, recomendas ainda?
- Sempre. E se os livros remetem todos uns para os outros, a minha Moby dick foi O coração das trevas/Apocalipse now."

Do Nuno Miguel Guedes: "(...) por experiência própria nenhum livro maior ou menor (ou outra expressão artística, incluindo formas tão perfeitas e imediatas como as canções) me mudou a vida. Apenas a tornou mais suportável pelo prazer que me deu - um prazer egoísta, solitário e não transmissível, como todos os seguidores de Harold Bloom hão-de entender. E de repente, não estou a ver ninguém a quem uma leitura tenha provocado um terramoto no quotidiano, exceptuando místicos e homens-bomba."
Cartas-bomba

Recebi mais uma mensagem de Abel Barros Baptista, que passo a publicar e que agradeço, muito obrigada.

«Reli agora a minha mensagem que gentilmente albergou no seu blogue. Parece-me que enferma do mesmo defeito da pendência que tem ocupado algumas pessoas bloguistas: não fazer distinções. É que uma coisa é debater se os livros podem ou não mudar a vida das pessoas (o Luís Mourão lembra bem o Quixote e a Madame Bovary, livros sobre o efeito dos livros nas pessoas). Outra coisa é discutir se alguém pode saber sem risco de engano que este ou aquele livro não lhe mudou a vida. E outra coisa ainda é a relevância de cada um declarar quais e quantos não lhe mudaram a vida. Os blogues têm isto de perverso, que é sugerirem que este último problema está resolvido por inerência: dir-se-ia que a própria existência do blogue legitima e torna relevante essa ou outra informação. A verdade é que, pelo mesmo motivo, o assunto não admite discussão. E tem toda a razão o Eduardo Pitta quando se defende assim: "não mudaram, ponto". Ele diz, ele deve saber, e nós podemos acreditar, ponto! Mas apenas acreditamos porque o assunto nos é, a todos e por definição, rigorosamente indiferente, ponto. Não vem dali nenhum mal ao mundo, nem aos livros mencionados, nem sequer ao mesmo Eduardo Pitta. Dissesse ele quais os dez automóveis que não lhe mudaram a vida, e seria o mesmo. A única maneira de tornar a conversa aceitável, digamos assim, seria propor a quem nos dissesse que certo livro não lhe mudou a vida: "Bom, vamos lá então saber que vida tem sido a sua…"»

quinta-feira, setembro 06, 2007

Modo de vida

Metabloggers do it better (63)
Afinal, em que é que ficamos? O Francisco, na resposta a Abel Barros Baptista, diz o seguinte: "As listas não são matéria para teoria da literatura mas para riso e pequena vaidade." Bem sei que a frase faz parte de uma resposta que não me é dirigida a mim, mas esta é uma conversa em público e não uma súmula de conversas privadas em que se poderia dizer uma coisa a um e outra a outro. Ora, supondo que é a última versão que conta, importa-se talvez de esclarecer se este post é "para riso" ou "para pequena vaidade"? E este? "Para riso" ou "para pequena vaidade"? E finalmente este? "Riso"? "Pequena vaidade"? Ah, pois é. É mais um dia fabuloso.
Cartas-bomba

Recebi uma mensagem de Abel Barros Baptista, que passo a publicar. Muito obrigada!

"Tenho andado a pensar na melhor resposta para esta pergunta: o que mudou na minha vida depois de saber que o Grande Sertão: Veredas não mudou nada na vida do Francisco J. Viegas? E não atino, porque a própria pergunta muda constantemente de forma. Por exemplo, esta, mais correcta: o que mudou na minha vida depois de o Francisco J. Viegas escrever que o Grande Sertão: Veredas não mudou nada na vida do mesmo Francisco J. Viegas? Ou ainda: o que mudou na minha vida depois de saber que o Francisco J. Viegas está convencido de que a leitura do Grande Sertão: Veredas não mudou nada na vida do mesmo Francisco J. Viegas? Repare nisto, Carla: o Grande Sertão: Veredas é um livro grande e difícil, não se lê do pé para a mão, como quem descasca uma banana ou escreve um post sobre o último filme do Almodovar. Não, pede tempo, atenção, paciência. Então, como pode o F.J.V. assegurar o meio mundo que o lê de que nada na vida dele mudou por ter lido tal livro? Como pode ele saber o que lhe teria acontecido numa das horas de recolhimento e concentração que dispensou ao opus de Guimarães Rosa, se estivesse, não a lê-lo, mas a fazer qualquer outra coisa? A verdade é esta, Carla, uma das vantagens da leitura é ser uma actividade muito protegida, muito resguardada, muito confortável, graças a Deus: por definição, a vida não muda nem permanece, fica em suspenso. Tudo o que possa acontecer é acidente, contingência a atribuir a outra coisa e não ao livro.

Por outro lado, as pessoas que elaboram essas listas presumem duas coisas estranhas e se calhar incompatíveis: que os livros podem e até devem mudar a vida de quem os lê, e que é bom que assim aconteça. Acho isto muito básico, para dizer o mínimo. A maior parte dos livros, para não dizer todos, são indiferentes à vida de quem os lê. São como a morte, passam, tocam e seguem sem olhar para trás: não é presunção chamá-los, como quem quer ganhar à custa deles importância, "chega aqui, ó livrinho, olha o que me fizeste…"? Que dizer então de quem gesticula, como um gaiato: "Nha nha nha, não me fizeste nada, nem me viste, perdeste, nha nha nha…" E depois, entre quem os lê, há os conservadores e os que, não sendo conservadores, querem preservar a vida de mudanças não planeadas. Esses dois tipos de leitores não têm porventura direito à existência? É isso culpa do Proust ou do livro dele? Um rapaz, órfão de pai e mãe, tem uma irmã gémea e por isso, conhecendo o argumento, evita tenazmente ler Os Maias… Não é saudável evitar dissabores, mudanças trágicas, etc.? A culpa não pode ser do Eça, é da tal vida, que nos obriga constantemente a tomar cuidado.

Os livros que mudam a vida das pessoas são apenas os que elas próprias escreveram, e os livros que não mudam a vida das pessoas são os que elas próprias não escreveram. Ou antes, mais precisamente: só podemos dizer que mudaram a nossa vida os livros que nós próprios escrevemos, e só podemos dizer que não mudaram a nossa vida os livros que não escrevemos. Como se vê, ficam neste segundo grupo muitos livros para cada um, e por isso reduzi-los a dez é passatempo de ociosos. Além disso, para se ver até que ponto a coisa é mesquinha, lembremos que a lista costumava ser "dez livros que mudaram o mundo" ou, quando menos, calhando o encargo da lista a sujeitos particulares, "dez livros para levar para uma ilha deserta". Em ambos os casos, sempre havia ao menos certa consciência de que cada um de nós nada vale na história da vida dum livro. Nem sequer na daqueles que nós próprios escrevemos."


Tute, no La Nación

quarta-feira, setembro 05, 2007

O Francisco escreve que não sabe o que significa a sua lista: avança, no entanto, ele próprio mais tarde no seu post com uma tentativa de definição ou explicação: "São acasos. E são escolhas." Pois a minha perplexidade encontra-se no facto de o Francisco, sendo quem é, ter achado que a pergunta era digna de resposta, e logo escolhendo precisamente. Devo dizer que a minha primeira reacção foi uma gargalhada. Eu, na verdade, o que achei mesmo - e isto é absolutamente sincero - era que o Francisco só podia estar a brincar. Vejo agora pelos seus posts sobre o assunto que não estava. E isso torna este dia mais um dia fabuloso.
Meu caro Manuel: de todos os autores que podia mencionar, tinha logo de escolher o Faulkner. Mais uma facada no meu pobre coração que moribundo persiste em bater... Se quiser perder o seu tempo a reflectir sobre uma questão que não tem maneira de ser verificada (na verdade, ansiava por essa resposta às minhas perguntas), pois longe de mim detê-lo nessa tão nobre tarefa. A resposta à sua pergunta não apresenta dificuldades de maior: significa exactamente a mesma coisa; ou seja, nada.

Gaturro, no La Nación

terça-feira, setembro 04, 2007

Bomba de Ouro

"Estive de férias, as primeiras férias que tive desde há dois anos e meio para cá. De tão contente pelo sucedido, estive capaz de, em nove dias úteis, fazer o seguinte: apanhar o avião até Nápoles e fixar-me em Sorrento. Estive ainda capaz de percorrer, neste país, cerca de 900 km, alugar um carro por não mais de 200 euros e gastar cerca de 130 euros em portagens e gasolina. Visitar Capri, Amalfi, a Sicília e até mesmo Roma, porque não. Não incidiria muito em Roma, focar-me-ia na Sicília, alto lá.

Contudo, fiquei-me por cá. E curti à mesma." Batukada
Entretanto: Luís Mourão aquece socraticamente no balneário. E Manuel Alberto Valente já se sente inseguro.
Mais um dia fabuloso! agora é o Rui Bebiano que apresenta a sua lista de dez livros que não mudaram a sua vida, mostrando-se também ele impermeável às obras de Proust e Joyce. A novidade é que inclui um livro religioso, o Corão. Se o Rui Bebiano fosse muçulmano, este seria um acto de coragem nos tempos que correm. Como suponho que não seja, abre um precedente provocatório...

segunda-feira, setembro 03, 2007

Isto hoje está a ser um dia fabuloso! Agora é o Francisco José Viegas que apresenta a sua lista. Ficamos a saber que pura e simplesmente não gosta de literatura. Ai, o meu pobre coração que não aguenta tanta decepção... Mas o que me fascina é a facilidade de resposta à pergunta. Como é que sabemos se muda ou não muda? E o que é que não muda?
O repto: compreendo perfeitamente que Moby Dick ou Guerra e Paz ou Ulisses não tenham mudado a vida de Eduardo Pitta. Mas O que diz Molero? O Dinis Machado? Estou desfeita com tanta insensibilidade...
Eu hoje acordei assim...



... De que se fala quando se fala de amiguismo na blogosfera? Fala-se sobretudo de qualquer coisa considerada pejorativa por muitos. Não sou excepção. Não é que considere o amiguismo escandaloso nem impróprio sequer. Julgo apenas que em última análise (depois das várias que se seguem) limita a liberdade de pensamento, bem como o espírito crítico, além de que torna o blogueador amiguista a criatura mais previsível da blogosfera e arredores. Mas resumindo ainda nessa última análise antes de todas as outras, o amiguismo será nefasto sempre que se basear na mentira deliberada. (Note-se que reconheço um aspecto do amiguismo que considero positivo se não mesmo necessário e benéfico.) Ora, como podemos reconhecer se as intenções daqueles que lincam são boas ou nem por isso (sendo estes «boas» e «nem por isso» sujeitos ao que neste contexto consideramos bom ou menos bom)? Na verdade, a pergunta resume-se ao seguinte: o que querem os blogueadores? (Amiguismo: uma tentativa de resposta continua na Atlântico de Setembro)

domingo, setembro 02, 2007

A vida é uma sucessão de desgostos: já lá dizia o poeta ou Freud, e com toda a razão do mundo. Primeiro o Ulysses, agora isto. Sim, "a criança dentro de si", pois claro... E "as intrusões de um mundo excessivamente adulto e racional", hum, hum, é isso é...
Eu hoje acordei assim...


Anna Karina

... só uma coisa: na Fnac também há Je Vous Salue, Marie, filme que tenciono ver mais logo mas que também gostaria de ver numa sala de cinema, no grande ecrã, algo que me será possibilitado pelos Caros Senhores da Cinemateca - conhecidos mundialmente pela sua generosidade com todos aqueles que fazem propostas sinceras e entusíásticas, e ainda por serem sempre extremamente queridos - quando organizarem um ciclo Godard. Mas, por acaso, até há mais coisas. No outro dia li a seguinte frase: "é expressamente proibido guardar rancor". Mas não posso falar publicamente sobre estas leituras. Não posso porque não sei bem como fazê-lo. E ontem esteve o melhor dia de praia do ano. Penso que é coisa digna de registo. Tal como os aniversários dos autores do Miss Pearls e do Combustões e da Sam. Parabéns aos Virgens! Fim de Agosto e quase todo o Setembro são nossos! Blogoparabéns atrasadíssimos ao Blogame Mucho (ando muito distraída) e ao A Origem das Espécies que não quer festas (mas que modernice individualista é essa de não assinalar o aniversário do blogue?). Que contem muitos anos de blogovida! No outro dia, descobri por mero acaso (andava à procura da Jane Goodall, salvo seja) os Google Videos e este com Martha Nussbaum, numa entrevista brilhante sobre a questão dos direitos dos animais (se bem que não partilhe de um certo fascínio pelo hinduísmo ou budismo, enfim). Depois pareceu-me que já tinha passado pelo Jansenista. By the way, hello there! Welcome back!

sábado, setembro 01, 2007

Modo de vida: muitas vezes faço o que quero; outras, faço o que posso.
Eu hoje acordei assim...


Anna Karina

... isto há coisas mesmo maravilhosamente estranhas. Então não é que há Bande À Part à venda na Fnac? Vi-o ontem e só posso recomendar. Que maravilha de aula de inglês, com uma professora que escreve no quadro "classique=moderne", bilhetinhos de sedução entre adultos, tensão amorosa com olhares cruzados, o nome Thomas Hardy, que interessa saber escrever correctamente segundo diz a mesma professora, Shakespeare e ditados, e um aluno que só apalpa, que delícia. E depois a cena com os dois homens - Arthur e Frantz - ao pé do riacho, a lerem as notícias escabrosas de mortes e suicídios por ciúmes e loucura, mesmo antes de fazerem o assalto mais tonto da história. Gostei também muito de um aparte do narrador logo no princípio: "Se o espectador acabou de chegar à sala, o resumo da história é o seguinte..." logo seguido de frases um tanto desgarradas umas das outras, como se fizessem parte de um telegrama. De certeza que já alguém disse deste filme que não é cinema mas literatura, e que essa pessoa terá sido julgada em praça pública como sendo a maior das pretensiosas. Isso às vezes acontece quando se acredita que as palavras são escritas com uma afectação qualquer e não são nada. Quando não se percebe que o outro está a dizer a verdade. Quando não se percebe que o cinema não é habitualmente literatura. Quando não se percebe que nos raros casos em que o é, isso tem de ser dito, escrito, debatido e celebrado. E a fase Godard ainda só agora começou...

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