blogue de carla hilário de almeida quevedo bombainteligente@gmail.com

quinta-feira, novembro 30, 2006

Metabloggers do it better (38)

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Frank Auerbach, Head of E.O.W. I, 1960
The sound of bomba: Dancing Cheek to Cheek, Frank Sinatra.
Metabloggers do it better (37)
Passear pela blogosfera é bom e faz crescer

- Mais cinco posts absolutamente extraordinários: um, dois, três, quatro e cinco. Viva!
- Agradeço, comovida, o prémio que o FNV me atribuiu. Chama-se o prémio "Tu queres é música". É que nem mais! Acertou em cheio! O pior é o filelodge, que se recusa a colaborar comigo. Se conhecerem um armazém mais competente, partilhem a informação com a vossa bomba favorita, please. Thanks!
- Cum catano! O Franco Atirador idealizou o blogue perfeito e o blogue pesadelo e inclui-me no primeiro, na secção fim-de-semana (tenho de perguntar se posso acumular funções) e no segundo na parte de economia. Quero fazer parte do segundo! Quero fazer previsões e depois mudar tudo porque há um ataque terrorista ou um tsunami. Economia deve ser muito giro...
- De repente, outra trip down memory lane com Donald Barthelme.
- Diz que são perto de 75 milhões de potenciais consumidores. Agora se o Papa rezar em Hagia Sophia está a insultar os muçulmanos. Haverá quem tenha paciência. Não é o meu caso. Ah, e Bomba de Ouro para este post, como é óbvio.
- Como é também óbvio, dear Nuno, detesto Extras.
- Não é por acaso que não concordo com o que diz o Pedro Lomba. Felizmente, além do acaso (ideia que acarinho e aceito) existem a culpa e a capacidade (e a incapacidade e a possibilidade e a impossibilidade) de decisão, de escolha e de acção, que ajudam a que a vida seja tão maravilhosamente complexa. Welcome back!
- E mais um sapatinho para terminar a sapatologia frenética dos últimos dias: o de cristal.
Metabloggers do it better (36)

Sou uma pessoa estruturalmente monoblogama.
Eu hoje acordei assim...

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... O blogue não é a manifestação do inconsciente porque quando o inconsciente se manifesta (coitado, também tem direito à vida), não é tão inconsciente como isso ou passa a ser... consciente. Não será, então, boa ideia interpretar posts à luz do tal icebergue do qual no blogue só se vê o pico. Quero dizer, até pode ser uma boa ideia, mas não corresponde a algo maior, melhor e (diacho) inatingível a que chamamos "verdade". Às vezes, um post é o icebergue inteiro, todo à vista, como um corpo nuzinho, e, quando isso acontece - ou quando percebemos que estamos perante uma "verdade" - até parece que custa a ler, ainda mais a interpretar e muitíssimo a referir. Torna-se difícil lidar com qualquer coisa que está tão presente e que parece entrar-nos pela casa dentro: ui, que naquele post vive uma pessoa que não convidei para vir cá a casa. Mas não é sobre nada disto que quero escrever: reflictamos sobre as coisas boas da blogosfera... (Concentremo-nos nas coisas boas, Atlântico de Dezembro)

quarta-feira, novembro 29, 2006

Eu hoje acordei assim...

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Ava Gardner e Frank Sinatra

... bochechinha com bochechinha.

terça-feira, novembro 28, 2006

Ninho de cucos (72)

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Kawanabe Kyosai, Cat and Rat Beneath a Crescent Moon. Muito bonita a exposição de gravuras japonesas modernas, na Fundação Calouste Gulbenkian.
Coisas que melhoram algumas vidas (55)

E às 50 palavras, fiz uma encomenda.
Eu hoje acordei assim...

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Madonna por Herb Ritts

... há tempos vi um programa sobre os neo-conservadores em que Irving Kristol dizia precisamente isto que encontrei aqui: "Ever since I can remember, I've been a neo-something: a neo-Marxist, a neo-Trotskyist, a neo-liberal, a neo-conservative; in religion a neo-orthodox even while I was a neo-Trotskyist and a neo-Marxist. I'm going to end up a neo- that's all, neo dash nothing." Gostei muito da ideia de ser simplesmente neo-qualquer-coisa. Quando li o texto do Francisco Mendes da Silva sobre a Lily Allen, pensei se aquilo que descrevia - e que entendo como sendo o caminho a seguir para umas mulheres e simplesmente um modo de vida para outras - poderia ser uma espécie de neo-feminismo. Não é. Pelo pouco que li sobre o assunto, o neo-feminismo parece-me um disparate, que se limita a perpetuar uma conversa de exclusão, de ódio e, consequentemente, de doentia dependência. Que pena, porque a designação com certeza agradaria a Irving Kristol. Faz falta um nome para a realidade que FMS tão bem descreve no último parágrafo do seu texto. Há-de aparecer*.

* Já apareceu! Oh... mas nem sequer um neo-excesso de ímpeto juvenil nem um neo-excesso de hormonas? Talvez não precisemos de mais neos, mas gosto deles porque parecem sugerir qualquer coisa positiva no presente que faltou fazer no passado. (Nada disso seria possível, divago. Depois dessas linhas, vou ler a Simone de Beauvoir.)

segunda-feira, novembro 27, 2006

Estado em que se encontra este blogue

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Sir William Coldstream, On The Map, 1937

Fim de missão

Ontem às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria

Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros

Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso

Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso

De profundis amamus, Mário Cesariny
The sound of bomba: Milonga triste, Hugo Díaz y su conjunto.

domingo, novembro 26, 2006

Estado em que se encontra este blogue

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David Bomberg, Bomb Store, 1942

sábado, novembro 25, 2006

Fim de missão

Às dores inventadas
Prefere as reais.
Doem muito menos
Ou então muito mais...

Dores, Alexandre O'Neill
Metabloggers do it better (35)

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Frank Auerbach, Head of E.O.W. IV, 1961.
The sound of bomba: Nadar, Black Company.
Dos Antigos: Suetónio conta que Calígula, apesar de aprender tudo com muita facilidade, não sabia nadar. Yo...
Modo de vida: quase sempre ex malo bonum.
Sapatofilia: uma obsessão quase exclusivamente feminina? (3)

- Em boa hora, o estimado Misantropo lembra as galochas, acessório útil nos últimos dias (juntamente com um pequenino barco a remos). Encontrei no Google Images este fantástico par Gucci (quereria iguais em branco, amarelo, cor-de-rosa, às bolinhas, às riscas):

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E o que dizer dos Sapatos de Cinderela, desenhados por Stuart Weitzman? Dois-gasp-milhões-gasp-de dólares? Por acaso, adquiri em tempos um petroleiro, que deixei a repousar em águas internacionais... Entretanto, descobri no armazém Google Images outros pares de sapatos interessantes e até uns botins magníficos. Atentemos nos bichinhos:

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Fendi mansos de pele branca

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Marc Jacobs de pele de caramelo

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D&G assertivos e muito doces de pele preta

- O Mário mostra-nos die Sache em si: um belíssimo par de botas.
- Por fim, a minha querida amiga Flor anexou vários comentários pertinentes por e-mail, como, por exemplo, este Jimmy Choo festivo que me parece um excelente contributo para a discussão:

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obrigada a todos!

sexta-feira, novembro 24, 2006

Fim de missão

À memória de Paul Éluard

Estudaste a bondade aprendeste a alegria
Iluminaste a noite com a estrela
E o desejo com a necessidade

Comunicativo bom inteligente
Soubeste sofrer sem destruir a vida
Sem chamar pela morte

Soubeste vencer o íntimo lazer
As absurdas manias que a solidão instala
No coração virado na cabeça perdida

Soubeste mostrar o mais secreto amor
Numa alegria feroz perfeita pública
Capaz de provocar o ódio e a ternura

Em todas as frentes que por ti passavam
Contra-atacaste repelindo o mal
Com pesadas perdas para o inimigo

E na miséria que subia aos rostos
Puseste a nu a resistência a esperança
E um futuro sorriso

Enquanto velhas feridas se fechavam
Tua poesia abriu-se e hoje é comum
E transparente como os olhos das crianças

Hoje é o pão o sangue e o direito à esperança
À esperança que é «um boi a lavrar um campo»
E que é «um facho a lavrar o olhar»

Andaste triste mas não foste a tristeza
Sofreste muito mas não foste a dor
Amaste imenso e eras o amor

Cantaste a beleza proferiste a verdade
Encontraste não uma mas a razão de ser
Compreendeste a palavra felicidade

E numa extrema juventude e sob o peso
Precioso da simplicidade
Tudo disseste

Disseste o que devias dizer.

Uma lição de poesia, uma lição de moral, Alexandre O'Neill
Metabloggers do it better (34)

Tenho recebido algumas mensagens a propósito da rubrica Fim de missão, a que dei início numa noite de escavação mineira. Não vou a lado nenhum, obrigada pela preocupação e pelas reprimendas, não quis assustar ninguém, eu até acordei assim ou assado nos dias seguintes e repeti o título porque lhe achei graça. Fim de missão porque na televisão também há o fim da emissão e porque para mim um blogue é isso mesmo: uma espécie de programa de televisão. Há programas de culto, intermináveis telenovelas, serviços informativos, verdadeiros talk-shows, concursos, séries de ficção portuguesa e até estrangeira. O Fim de missão é o último post do dia e é também, por causa do seu conteúdo - um poema não da minha autoria (tenho uns muito giros guardados num cofre-forte no fundo do mar) -, uma rubrica inspirada no Early Morning Blogs, mas ao contrário. Após ter começado com poemas em inglês, decidi mudar e colocar nom blogue poemas de autores portugueses de que gosto muito. Finalmente, o problema: só gosto de um poeta português. Chama-se Alexandre O'Neill. É verdade que também gosto muito da Adília Lopes e que aproveitarei a oportunidade por mim criada para reler Pessoa e Camões e para ler o que desconheço. Mas, por enquanto, sou fiel a O'Neill.
Gostar de homens©

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Sapatomania: uma obsessão quase exclusivamente feminina? (2)

- Dizia, então, e fê-lo muitíssimo bem! Ah, Imelda, deusa dos três mil pares... Julgo que "sapatona" será o termo em calão brasileiro para mulher homossexual. Uma maratona de sapatos? E cito: "Que o Belo Sexo tem uma inclinação natural para a sapatomania é indiscutível. Revolvendo os sotãos da minha memória, uns vinte e tal anos atrás, de cada vez que eu elogiava a blusa, ou a saia, ou o casaco de alguma Rapariga das minhas relações, um modesto sorriso da ordem correspondia. Mas quando o piropo era dirigido ao calçado era ver a expresão iluminar-se, o sorriso rasgado de orelha a orelha e uma inequívoca sinalética de que a jornada ia correr bem." Palavra de Misantropo, que no post scriptum recomenda a leitura de The Sex Life of the Foot and Shoe, de William A. Rossi. Óptimo comentário literal ao ponto 4) deste post. Se bem que há aquele tema cantado por Brigitte Bardot, Je manque d'adjectifs, que ilustra na perfeição essa mudança repentina e aparentemente irracional, do entusiasmo ao esquecimento, sem que haja nenhuma relação com sapatos.
- Filipe Nunes Vicente elimina a minha dúvida: "se for obsessão compras sapatos, se for mania és um sapato." Nesse caso, talvez devessemos falar de sapatofilia, mais do que de sapatomania. Mas concordo que falta qualquer coisa nos dois pontos que referes. Arrisco: 1) uma mulher com um belo par de sapatos não desvia a atenção de nada, pelo contrário, uma vez que o tipo de sapato utilizado pode mudar completamente o corpo feminino. O sapato é o ínício com consequências que podem ser tão benéficas como desastrosas. Um par de sapatos mal escolhido destrói a silhueta e a silhueta é que importa. 2) Mas com o ponto anterior não nos precipitemos a concluir que um novo par de sapatos dê uma ilusão de maior beleza à mulher. Percebo, mas não é bem isso. Há qualquer coisa no acto de coleccionar pares sapatos, que é, no meu entender, bastante infantil. É como ter uma série de Barbies (ou, no meu tempo, Tuchas), com as respectivas roupas, a casinha das bonecas, com muitas parecidas, às vezes todas iguais. Ou seja, anseia-se por repetir aquilo de que mais se gosta.
- Outro aspecto do imaginário infantil relacionado com sapatos foi muito bem lembrado pela Ana.
- Teresa e Marta mencionam as suas preferências, algumas das quais partilho, nomeadamente o modelo com atilhos na perna, invariavelmente incómodo e absolutamente irresistível.
- Querida Sam, tens toda a razão do mundo: "sapato" assim sozinho é pouco, fica coxo (passo o trocadilho), parece que estamos a falar de um assunto de menor importância! A questão "usar o tamanho errado" é da maior gravidade. A menos que se justifique plenamente, como no caso de "fazer um recado à Baixa". E, não, não há explicação. Mas desde quando tudo tem de ter explicação?
- Por e-mail, o leitor Jorge conclui: "Pantufas ao poder!"

quinta-feira, novembro 23, 2006

Sneak preview da festa de amanhã



A festa de inauguração do blogue 31 da Armada é já amanhã, 24 de Novembro, no Stones, a partir das 23h30!
The sound of bomba: Sabor a Mi, Eydie Gormé y Trio Los Panchos.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Sapatomania: uma obsessão quase exclusivamente feminina?

Antes de mais, as minhas desculpas por não ter cumprido a promessa de brevidade no comentário. A vida nas minas é complicada, não evito sobressaltos, não me liberto das emoções, não me distancio de assuntos mundanos (como aliás bem se vê por este mesmo em questão e por outros, senhores, por tantos outros) e não muitas outras coisas que, por vezes (só por vezes), são sim. Esse post é magnífico, Sir Jansenista, porque todas essas coisas têm tão bom aspecto, mas nenhuma delas leva à felicidade, pois não? Como se fosse pouco, entre escavações, li a vida de Calígula (As Vidas dos Doze Césares, Livro Quarto), de Suetónio, e passei o resto do dia a vomitar. Mas vamos ao calçado!

- Começo por perguntar o seguinte ao Filipe Nunes Vicente: mania e obsessão são coisas diferentes, certo?
- Estimado Mário, acho graça à fitinha no tornozelo e mesmo a alguma tatuagem no pé. De anéis nos dedos nem se fala: adoro. Mas, enfim, percebo que depende. Na verdade, depende sempre.
- E Deus criou o pé: um conto ilustrado absolutamente a ler!
- Um anúncio comovedor; sim, um óptimo tópico para desconversar, peço-lhe que entenda que não o podia deixar à solta a falar de ataraxias e apathias e coisas dessas; grande capítulo, nem Aquino na Summa dele, e isto é muito giro; hahahahaha! O caro Misantropo vai ter de se pronunciar sobre o assunto.
- E fê-lo muitíssimo bem! (Quero desenvolver esta exclamação e fazer mais comentários, mas agora tenho de fazer uma pausa e volto... o mais depressa possível. Parece que descobri aqui uma coisa na mina... Ai, será ouro ou uma carica? Até já ou... até amanhã!)
Breve interrupção na sapatologia*

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Surripiado ao Jansenista.

* brevíssima, prometo.

terça-feira, novembro 21, 2006

Eu hoje acordei assim...

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Scarlett Johansson

... continuando (e terminando, apesar da interminabilidade do tema) com a questão "sapatomania: uma obsessão quase exclusivamente - passo o oxímoro - feminina", gostaria de indicar os seguintes pontos para reflexão para o resto da vida:

1) pode ser indiferente ter os sapatos que mais desejamos - basta que existam ou basta que imaginemos a existência de um certo tipo de sapato, com variantes de cores e tecido;
2) o entusiasmo que sentimos (falo das sapatomaníacas) por causa de um par de sapatos, que é completamente irracional para os outros (os sapatodesligados), não se assemelha a nenhum tipo de entusiasmo conhecido e não se trata - em si - de um entusiasmo erótico, embora as consequências na maior parte dos casos o sejam;
2a) pois tudo dependerá do tipo de sapato que provoca esse entusiasmo com consequências eróticas. No meu caso, por exemplo...
3) no caso de o ponto 1) não se verificar e for imperativo comprar aquele par de sapatos, é frequente observar a insistência no mesmo modelo, variando apenas nas cores (todas, um de cada) e no tipo de tecido (todos ou quase todos). Por exemplo, uma mulher que adore sabrinas, poderá ter uma colecção de sabrinas pratedas brilhantes, com manchas a imitar a pele de tigre, às bolinhas, às riscas, lisas e outros;
4) o modelo mais amado, que se usa repetida e diariamente, torna-se de um dia para o outro o mais detestado (mais feminino é difícil);
5) além dos sapatos (sandálias, sabrinas, sapatilhas, botas, botins), há mulheres que gostam de fazer tatuagens nos pés e outras que gostam de usar anéis nos dedos (toe rings) e ainda pulseirinhas finas à volta do tornozelo. Mas este ponto já nos desvia da questão (essencial) da sapatofilia para a podofilia, a qual não me interessa explorar, uma vez que é coisa mais masculina. (Caríssimo Mário, entendo perfeitamente o entusiasmo dos homens por mulheres "excelentemente calçadas", como diz, mas again essa é uma questão masculina - tendo em vista o sexo oposto.)

No meio disto tudo, lembrei-me da minha infância. Há algo estranhamente infantil nesta espécie de obsessão... Caríssimos Mário, Jansenista, blogueadoras e leitores, pois façam o favor de dizer de vossa justiça.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Fim de missão

Hans Magnus Enzensberger
na Casa Pessoa
mostrou-se
muito pessimista
em relação
ao mundo
mas muito contente
consigo mesmo

Hans Magnus Enzensberger, Adília Lopes
The sound of bomba: What a Difference a Day Makes, Randy Crawford.
Eu hoje acordei assim...

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Christina Ricci

... e depois, há esta estranha obsessão por sapatos, partilhada por muitas mulheres; aliás, de tal forma partilhada, que me leva a crer que estamos perante um fenómeno (moderno) exclusivamente feminino. Volto ainda hoje mas mais tarde.

Dez horas e vinte minutos depois: ah, eu já devia saber que escrever logo de manhãzinha um advérbio de modo tão definitivo só podia provocar mau-estar! Depois dos magníficos protestos dos estimados Mário e Jansenista decidi tirar o resto do dia (e da noite) de folga para repensar a minha tese respeitabilíssima acerca da exclusividade desta filia por parte da equipa feminina. Vamos ver como descalço este lindo sapato encarnado às bolinhas brancas...

domingo, novembro 19, 2006

Fim de missão

As bombas matam porque sofrem duma espécie de doença incurável
que as faz ganhar saúde quando as largam no ar
uma vez expostas à lei da gravidade
e por ela arrastadas para o mundo humano
as bombas precisam de explodir tal como uma criança precisa de urinar
até fazerem um lugar onde fiquem
que se não mova que seja
como um direito a isso
ao pé do deus adulto que lhes deu comida

Urgente, Mário Cesariny
Hip hip hurray!

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Metabloggers do it better (33)

Diz o Humberto Brito, no preferidíssimo Lacónia: "Alguém poderá ter reparado na minha cobarde e obcecada prática de alterar textos já publicados, liberdade a que me entrego por saber que não tenho mais de trinta leitores ao todo, e que 70% vieram por engano, apesar de um incompreensível mas bem-vindo e reconfortante clube de fãs em Bucelas, localidade a que fui uma única vez, mas não por engano, levar a minha avó a uma recreação musical, no ginásio dos bombeiros. Um bem haja, então, para Bucelas. E outro para a zona de Sheffield. Em qualquer caso, prometo cortar nas revisões. E obrigado a todos por esta semana de atenção." Nada de cortar nas revisões! O blogue serve precisamente para rever, editar, melhorar, corrigir. Quando o texto é publicado em papel, já não há nada a fazer. Resta-nos aceitar que aquilo que escrevemos tem uma existência própria, irremediavelmente independente de qualquer intervenção a posteriori. Por vezes, ficamos a olhar, impotentes, e a repetir, com a lágrima ao canto do olho: "Olha, pronto, agora já está." No blogue, há um sofrimento a menos. Correct away, Humberto!
Eu hoje acordei assim...

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Madonna, por Steven Meisel, para Sex.

... quanto às questões de preocupação sobretudo feminina, tais como Ela-Quer-Tudo-O-Que-Vê, Querido-Paizinho e Eu-Não-Te-Pertenço-E-Tu-Não-Me-Pertences, George Michael já as mencionou e desenvolveu e muito bem, obrigada.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Fim de missão

Acaba mal o teu verso,
mas fá-lo com um desígnio:
é um mal que não é mal,
é lutar contra o bonito.

Vai-me a essas rimas que
tão bem desfecham e que
são o pão de ló dos tolos
e torce-lhes o pescoço,

tal como o outro pedia
se fizesse à eloquência,
e se houver um vossa excelência
que grite: - Não é poesia!,

diz-lhe que não, que não é,
que é topada, lixa três,
serração, vidro moído,
papel que se rasga ou pe

-dra que rola na pedra...
Mas também da rima «em cheio»
poderás tirar partido,
que a regra é não haver regra,

a não ser a de cada um,
com sua rima, seu ritmo,
não fazer bom e bonito,
mas fazer bom e expressivo...

Bom e expressivo, Alexandre O'Neill
Eu hoje acordei assim...

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Patricia Arquette

... quando comecei a escrever sobre características (quase) exclusivamente femininas e que distinguem homens e mulheres - sempre homenageando essas diferenças e celebrando-as - tinha duas ou três ideias, mas agora percebo que já vou no quinto post, sem grande possibilidade de fim à vista. Se bem que tenho uma conclusão (aliás, a conclusão é o que dá algum sentido a isto tudo, nomeadamente às nossas gloriosas diferenças). Para hoje temos esta fotografia da Patricia Arquette e qualquer coisa que associo de imediato às mulheres: o espanto. Hoje em dia, não há espaço para ficar em suspenso, para pairar, distrair-se de si própria, sair de si mesma, ficar com um ar assarapantado, algo tonto, desconcentrado. Como se não houvesse tempo para parar, mesmo em movimento. Os momentos de suspensão nunca são bem interpretados pelos outros: ou é porque revelam desinteresse (o que, de certa forma, é verdade, embora não seja consciente), ou é porque se confundem instantes de distracção com estupidez (nada mais errado) ou é porque "uma mulher naquele estado só pode ser um bocado tonta" (o que é interpretado como tontice, pode ser várias coisas: desde timidez ao tal sentido das prioridades - pode, de repente, ser absolutamente vital... desligar, suspender, interromper). Tudo isto para dizer que adoro esta fotografia.

quinta-feira, novembro 16, 2006

The sound of bomba: cover de Crazy, dos Gnarls Barkley, por Nelly Furtado (unplugged).
Eu hoje acordei assim...

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Charlize Theron

... a pensar naquela que será uma das marcas mais femininas visíveis a olho nu: cabelos aos caracóis, não demasiado compridos. Parece que estão fora de moda ou que não são muito bem vistos, com certeza por causa da górgona Medusa, cuja cabeça tão encaracolada, tão encaracolada, desviava a atenção (quero dizer, mais ou menos, visto que os caracóis eram serpentes, algo que parece impossível ignorar) do verdadeiro problema: a Medusa, com o olhar, transformava qualquer criatura em pedra (hm, nice). A graça dos caracóis está no movimento, no desalinho, na impossibilidade de ordem, muito mais engraçado e sexy do que o previsível cabelo liso, prático, por isso mais na moda, mas menos encantador. Ou seja, cf. Alannah Myles.
Fim de missão

Sí. Llueve...
el cielo gime montones desteñidos
sombras mojadas recogen sus trozos
cavidades barrosas tremendas
mezquinas gotas de agua sulfurada
si bien no sé cómo recojo las masas
de ver si me agita la pálida lumbre
tremendo espesor de perros y gatos
las gotas siguen

Agua de lumbre, Alejandra Pizarnik

quarta-feira, novembro 15, 2006

Passear pela blogosfera é bom e faz crescer

- Começo por assinalar quatro posts absolutamente extraordinários: um, dois, três e quatro. Viva!
- Depois gostaria de fazer a mesma pergunta a quatro blogues: então? Então? Então? Então?
- Simão dos Reis Agostinho passou-me a seguinte batata quente, que aceito, e assim anuncio as minhas cinco manias principais:

1) sofro claramente de uma blogomania em geral e de uma bombomania em particular;
2) sofro de hiphopomania;
3) sou uma papoutsomaníaca declarada (ou, por via popular, uma sapatomaníaca);
4) julgo que não será surpresa para ninguém se afirmar que sou felinomaníaca e bibliomaníaca;
5) por fim, sofro de uma piromania-compulsiva, que se manifesta em pleno Inverno, altura em que chove, por vezes copiosamente, como aconteceu hoje. Ou seja, trata-se de uma mania que nunca fui capaz de concretizar.

Passo a batata ainda quentinha ao Mário, ao Groucho, à batukada, ao Nuno e ao Rogério Casanova. Se já responderam, pois respondam outra vez. Há sempre uma mania nova à espera de ser revelada.
- De repente, temos um subtil Separados à nascença.
- Estimado Jansenista, não é possível que core ao ver o puppy do Koons! Há ali uma zoofilia que me comove. Eu percebo... ainda por cima tenho um cãozinho igual (uma reprodução do que está no Guggenheim), cuja imagem (sou muito azelha a tirar fotos) passo a mostrar.

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- Ah, Luna... sem dúvida será por feitio (ou por educação) que faço essas coisas que diz que eu faço, mas há um factor que não deve ser despreciado: uma crónica falta de tempo. Simplesmente, não tenho tempo para certas coisas, como bombardeamentos sumários ou tapetes de bombas. Na verdade, a falta de tempo (que implica a ausência de interesse, de curiosidade e de gosto por essas tais "polémicas") é salvífica. Para todos.
- Por fim, celebro a nomeação do bomba inteligente, por participantes do blogue Geração Rasca, para melhor blogue feminino, no concurso para os Melhores Blogues de 2006. Anda uma pessoa a manter um blogue político há quase quatro anos... Enfim, mas não será um bocado cedo para essas coisas? A propósito, só mais uma pergunta:

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Coisas que melhoram algumas vidas (54)

"Como é que chegamos até aqui? Sabendo. E como é que sabemos? Aprendendo." Profe de Hebraico.
A selecção de Portugal joga com a do Cazaquistão: hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
hahahahaha... ai.
Eu hoje acordei assim...

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Ilona Staller (aka Cicciolina)

... mais uma característica deliciosamente feminina é o exagero. O exagero, o excesso, levar qualquer pormenor ao seu limite, ultrapassá-lo sempre de uma maneira graciosa, tornar absurda uma situação mais ou menos corrente, fazer o culto do ridículo, puxando, puxando de tal forma até conseguir a mais perfeita das liberdades, acedendo de maneira priveligiada à verdade. Sempre que vejo o vídeo da Beyoncé para o tema Deja Vu, penso no que acabei de escrever. Observe-se a super-produção do vídeo: a conjugação irresistível da alta-costura no meio da relva, da água e do pó; corridas, movimentos alongados e quase espreguiçados; a pequena dança encantadora à volta de Jay-Z (que masculinamente parece fazer de conta que a miúda de azul não está ali); o tutu verde e o transe na terra poeirenta; os braços sempre esticados e para cima; o vestido encarnado esvoaçante; em suma, um aparente descontrolo, muito atento ao mais ínfimo pormenor. Mas que não se pense que é artificial, nada disso: há ali uma grande verdade, seja ela qual for.

terça-feira, novembro 14, 2006

Dos Modernos

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Jeff Koons, Bourgeois Bust - Jeff and Ilona, 1991.
The sound of bomba: Sexual Revolution, Macy Gray.
Eu hoje acordei assim...

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Lucy Liu

... continuando a explorar as maravilhosas diferenças entre os sexos, volto agora à obra-prima de Quentin Tarantino, Kill Bill Vol. 1, mais especificamente a uma das minhas cenas e falas preferidas, protagonizadas por O-Ren Ishii, half chinese, half japanesi. A característica tipicamente feminina (clin d'oeil ao Jansenista) desta vez a apontar, pode ser resumida na expressão bem portuguesa: "cortar o mal pela raíz", e que se encontra nos antípodas da perpetuação ou no alongamento das questões, atitudes mais próprias do sexo oposto (generalizando, claro). No caso da líder dos Crazy 88's, a expressão adquire um significado quase, quase, quase literal. Ah, e a frase, a deliciosa frase, que só pode ser dita por uma mulher (embora não por todas e também por alguns homens): "and I promise you right here and now that no subject will ever be taboo, except of course the one that was just under discussion."

segunda-feira, novembro 13, 2006

Está armado um 31...

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Eu hoje acordei assim...

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Angelina Jolie

... preparada para celebrar o primeiro aniversário do blogue O Franco Atirador. Muitos parabéns ao Tigre da Malásia, Pirata das Caraíbas ou Luís M. Jorge, e que conte muitos, muitos mais!

Adenda: o template está óptimo!
Fim de missão

As from the house your mother sees
You playing round the garden trees,
So you may see, if you will look
Through the windows of this book,
Another child, far, far away,
And in another garden, play.
But do not think you can at all,
By knocking on the window, call
That child to hear you. He intent
Is all on his play-business bent.
He does not hear, he will not look,
Nor yet be lured out of this book.
For, long ago, the truth to say,
He has grown up and gone away,
And it is but a child of air
That lingers in the garden there.

To Any Reader, Robert Louis Stevenson

domingo, novembro 12, 2006

Blockbomba: The Squid and the Whale (há muito tempo que não via um filme tão bom sobre o tema "existem famílias mais disfuncionais que outras"). Hard Candy (os actores são péssimos, os diálogos fracos, mas gostei do filme. Uma história de vingança é sempre uma coisa agradável).
Dos Antigos

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Eleanor Antin, The Triumph of Pan (after Poussin), "Roman Allegories", 2004, San Diego Fine Arts Museum, California.
Exposição grafológica

"A inclinação de sua letra mostra que você tende a ser uma pessoa extrovertida, sociável e afetuosa. A ligação de sua letra revela organização, raciocínio lógico e razoável capacidade de adaptação. A direção de sua letra indica controle, constância e organização, especialmente nas tarefas cotidianas. A pressão que usa ao escrever sinaliza estabilidade e equilíbrio. As áreas valorizadas na sua escrita destacam vigor físico e sexual que se refletem na grande habilidade de expressão corporal. A forma de sua letra demonstra conservadorismo, formalidade e uma certa frieza em seus relacionamentos sociais. Tende a esconder sentimentos." O teste está aqui.

Via A Senhora Sócrates.
Cenas da vida conjugal

- Amor, não vejo o teu livro.
- Estará na secção de Filosofia?
Eu hoje acordei assim...

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Uma Thurman

... há imensos homens no mundo civilizado e neste século de avanços tecnológicos e extraordinários que não percebem absolutamente nada de mulheres. Por vezes, chego a pensar que se fossem sentados a uma secretária e obrigados a passar por um exame simples de escolha múltipla, não conseguiriam sequer responder a todas as perguntas no tempo estabelecido. Não deixam de ter o seu encanto, com certeza. Assim como as mulheres que não percebem nada de homens, também bastantes, embora em número inferior, por uma razão bastante óbvia e que está relacionada com qualquer coisa que se pode resumir entre aspas e que é: "nós somos mais". Sim, claro, as mulheres são todas diferentes e os homens também, pois as pessoas são todas diferentes entre si e isto é tudo complicadíssimo. Depois de bocejar perante esta frase tão óbvia, proponho que generalizemos. Os segundos cinco minutos do filme Kill Bill Vol. 1 (refiro-me à luta entre Beatrix Kiddo e Vernita Green), uma ode de Quentin Tarantino ao que significa ser mulher (ui, não acredito que escrevi isto!), revelam três aspectos femininos importantes: paciência, concentração e um sentido das prioridades que se confunde, por vezes, com uma certa amoralidade. Nada mais errado. Não se trata de ser amoral: há coisas que são simplesmente mais importantes... O fim de Vernita Green acontece nos terceiros cinco minutos do filme. Mais uma vez, observam-se os três pontos em cima mencionados.

sábado, novembro 11, 2006

Modo de vida

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Ambrogio Lorenzetti, pormenor da Allegoria del Buono Governo, 1338-40, Palazzo Pubblico, Siena.
Ninho de cucos (71)

A tosquia é um momento traumatizante na vida pacata do muito peludo Varandas. Além de se remeter ao silêncio absoluto durante mais de uma semana, o gato habitualmente vinga-se daquilo que interpreta como sendo um acto de maldade - e, como tal, de traição - imposto por aqueles que o amam, fazendo um chichi em sítio indevido. Desta vez, abusou. Ainda assim, não sou capaz de o castigar, até porque a sua ausência total de memória me leva a aceitar que seria tarefa inútil. O bicho não pode aprender, pois não tem essa capacidade. E depois até sou pessoa para respeitar certo desejo de vingança e ainda mais a sua concretização, embora não haja nada de que se vingar, nem exista tão-pouco essa consciência. Mas como pode o bichano saber? Naquele momento de ira, ao ver uma poça que devia estar a ser calmamente absorvida pela areia na caixa, mas que se encontra bem líquida e à vista, olho para os seus olhos amarelos. Não passam dez segundos até sentir compaixão, a pôr-me nas suas patinhas delicadas e a compreender que não podia ser de outra maneira.
Por acas(t)o, não concordo precisamente porque é muito fácil praticar bons actos: "Sócrates - A bondade é simples, só que é muito difícil." Idem ibidem, p. 141.
Ou a imoralidade: "Antágoras - Aconteça o que acontecer, sou um homem feliz. Talvez seja isso a religião." Idem ibidem, p. 115.
Eu sabia que isto estava escrito em qualquer sítio (48)

"Platão: A verdade não são apenas factos, é uma maneira de ser. É descobrir o que é real e reagir adequadamente... como quando vemos realmente as outras pessoas e sabemos que existem. (...) Temos de modificar-nos, de modificar o que queremos, o que desejamos, o que amamos, e isso é difícil. Mas mesmo só por tentarmos amar o que é bom os nossos desejos podem tornar-se melhores, podem mudar de orientação, e é a isso que chamo liberdade. É isso que é tornar-se melhor moralmente, e é possível e é essa a razão por que é possível. A verdadeira liberdade é não ser escravo de desejos egoístas. É quando se tem... sabem... um sentimento de realidade..."

Iris Murdoch, Acasto - dois diálogos platónicos, "Acima dos deuses: um diálogo acerca da religião", tradução de Maria Leonor Telles, Lisboa, Edições Cotovia, 1990, p. 120.
Coisas que melhoram algumas vidas (53)

"Vocês vão adorar esta gramática: está cheia de erros e os erros são giros." Profe de Hebraico.
The sound of bomba: Ich hab' eine tiefe Sehnsucht, Zarah Leander.
Eu hoje acordei assim...

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Angelina Jolie

... ora, como passar da hiper-festividade à super-timidez em muito menos de dez lições...

sexta-feira, novembro 10, 2006

Ninho de cucos (70)

O gato Varandas, devido a um achaque felino, não pôde assistir ao lançamento, mas já leu o livro do pai e adorou.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Habemus librum!

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Muitos parabéns, Amor!

quarta-feira, novembro 08, 2006

Unus dies deest

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"O meu pai morreu há já seis anos. Lembro-me de não ter acreditado, quando me telefonaram de Buenos Aires. Lembro-me de apanhar o avião como quem parte para uma viagem de negócios. Lembro-me de apanhar uma valente bebedeira com dois ou três Mogadans que tomara na esperança inocente de dormir. Lembro-me do francês sentado ao meu lado que me falou da sua mulher brasileira - o avião fazia escala no Rio - e que para fazer conversa me perguntou se eu ia à Argentina em visita, em trabalho ou fazer o quê, e de lhe responder com uma calma assustadora: pas de tout, pas de tout, c'est a cause de mon pére qui vient de mourrir. Voulez vous un whisky? Espécie de cretino. Não ele, claro: eu e todos aqueles que não somos capazes de sentir com dignidade a nossa dor. Odeio o pranto como odeio as gargalhadas histéricas de alegria. Qualquer sentimento manifestado sem pudor soa-me a falso por mais sincero que possa ser. Expressar exactamente o que se sente, sem mais nem menos, se não é sabedoria, é pelo menos maturidade. Dito ou escrito assim parece óbvio, mas é tão difícil sermos o que sentimos mesmo quando sinceramente pensamos que o somos."

Carlos Quevedo, Já não me lembrava - os delírios da Kapa e outros textos, Lisboa, Oficina do Livro, 2006, p. 211.
The sound of bomba: Que me quiten lo bailado, Julio Sosa.

terça-feira, novembro 07, 2006

Duo dies desunt

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"Nunc est bibendum, nunc pede libero
pulsanda tellus, nunc Saliaribus

Nunca estejas bêbado, nunca peças livros
tem pulso em ti, nunca saias do autocarro

Horácio

O miseras hominus mentes, o pectora coeca!
Mentes, ó homem miserável, ó peito careca!
Qualibus in tenebris vitoe quantisque periclis degitur
hoc oevi quodcumque est
Qual autocarro a tenebrosa velocidade quantos perigos durante
o tour - mas ok, cada um é como é

Lucrécio

Hic primum vidit sine sensu vivere amantes
Os primos acham que não faz sentido vivermos como amantes
et levibus curis magna perire bona
e o autocarro ligeiro corre mais ainda para ir a Bona
Idem non frustra ventosas addidit alas
Assim não gastamos as ventosas das Adidas, aliás

Propércio"

Carlos Quevedo, Já não me lembrava - os delírios da Kapa e outros textos, Lisboa, Oficina do Livro, 2006, pp. 148-149.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Tres dies desunt

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"Entre os deuses que os homens criaram à sua imagem e semelhança, alguns são mais humanos do que outros, mas todos têm as mesmas paixões e fantasias que nós, os mortais. Desde um deus caprichoso, libidinoso e egoísta como Zeus, até ao deus vingativo e ciumento que é Jeová. Mas Jesus é um caso raro: filho de Deus, ele é a mais moderna e mais bem sucedida de todas as divindades do mundo. Poucas doutrinas se podem gabar, como o cristianismo, de ter tido não só tanto sucesso como também tanta capacidade para produzir factos marcantes na história da humanidade. Ele há perseguições, ele há cismas, ele há guerras, ele há massacres, ele há legitimação de governos, etc. Gostaria, com inocência se possível, de fazer uma abordagem não comprometida e com certeza descabida daquele que nasceu há 1995 anos - isto segundo Mateus 2, I e Lucas 2, I-7."

Carlos Quevedo, Já não me lembrava - os delírios da Kapa e outros textos, Lisboa, Oficina do Livro, 2006, p. 61.
The sound of bomba: Silbando, Osvaldo Montes.
Eu hoje acordei assim...

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Uma Thurman

... sobre o Diz que é uma espécie de magazine só tenho duas coisas a dizer: Olho Vivo - 0; Cinco Sentidos - 4 (um por cada Gato). O programa de ontem foi brilhante!

domingo, novembro 05, 2006

Bom em todas as línguas

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I confess

I love that
which caresses
me. I believe

Love has his
share in the
Sun's brilliance
and virtue

Sappho, translated by Mary Barnard, University of California Press, Berkeley, 1986.
Uns sobre outros: Boccaccio sobre Safo.
Eu hoje acordei assim...

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Drew Barrymore

... não há que temer os ventos porque até podem ser favoráveis.

sábado, novembro 04, 2006

Fim de missão

redeem the surrogate goodbyes
the sheet astream in your hand
who have no more for the land
and the glass unmisted above your eyes

Da Tagte Es, Samuel Beckett
Gostar de homens©

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Max Raabe (um site fantástico)
The sound of bomba: Mambo nr. 5, Das Palast Orchester mit seinem sänger Max Raabe (absolutamente dedicado ao Misantropo).
Passear pela blogosfera é bom e faz crescer

- Tem razão. Poderia ser uma excepção de vida (um caso tão excepcional quanto mortífero para Aquiles). Mudei o título.
- Groucho surge das cinzas blogosféricas com um post superior acerca do anonimato. Rebem-vindo!
Fim de missão

Goldbrown upon the sated flood
The rockvine clusters lift and sway;
Vast wings above the lambent waters brood
Of sullen day.

A waste of waters ruthlessly
Sways and uplifts its weedy mane
Where brooding day stares down upon the sea
In dull disdain.

Uplift and sway, O golden vine,
Your clustered fruits to love's full flood,
Lambent and vast and ruthless as is thine
Incertitude!

Flood, James Joyce

sexta-feira, novembro 03, 2006

Dos Antigos

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Passear pela blogosfera é bom e faz crescer

- Parem as máquinas! Lobo Antunes, em entrevista à Pública e citado no Da Literatura: "Se tivesse que escolher um escritor só, a seguir a mim, escolhia o Quevedo." Esqueçamos o "a seguir a mim" e concentremo-nos no mais importante.
- Luís Carmelo escreveu sobre as mulheres na blogosfera e começa por mencionar Jocasta. Por vezes penso em Jocasta e concluo que há duas lições que podemos aprender com essa personagem: 1) casar com homens bastante mais novos é um risco e 2) naquela altura, não devia haver nada semelhante a um Arquivo de Identificação, por isso repetiam que eram filhos deste e daquele. Seria uma maneira de confirmar. Com Édipo claramente não resultou.
- E mesmo assim, se há escritor que não suporto é esse. É aquela sensação de que não foi nem vai a lado nenhum. Um chato, um chato... Também abomino The Office, mas adoro o Alexandre Soares Silva. Aceite este linque como compensação.
- Francisco José Viegas não gosta muito de blogues anónimos. Isto hoje está tudo contra mim!
- É então que um excelente post da lolita salva o dia.
- Expressões e palavras a abandonar e... a abater!
- Rogério Casanova, fazendo um exercício de negação relativamente à música neste blogue, incluiu o bomba inteligente na sua lista de linques original, abundante em anagramas. O Gene Tintim-Babel é lindo!
- E Berra-Aleph também é lindo!
- Muito querido Henrique Raposo, no dia em que "admirador" e "invejoso" forem sinónimos espero já estar bem morta e enterrada. Um toque de dramatismo de vez em quando não faz mal a ninguém.
Eu hoje acordei assim...

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Uma Thurman

... a pensar no que Jorge Luis Borges disse ao seu amigo Adolfo Bioy Casares sobre James Joyce. Qualquer coisa como: "Joyce, sim... é uma promessa. Uma promessa para todos os jovens que o lerem." Doce, doce arrogância...
Fim de missão

Thou still unravish'd bride of quietness,
Thou foster-child of silence and slow time,
Sylvan historian, who canst thou express
A flowery tale more sweetly than our rhyme:
What leaf-fring'd legend haunt about thy shape
Of deities or mortals, or of both,
In Tempe or the dales of Arcady?
What men or gods are these? What maidens loth?
What mad pursuit? What struggle to escape?
What pipes and timbrels? What wild ecstasy?

Heard melodies are sweet, but those unheard
Are sweeter: therefore, ye soft pipes, play on;
Not to the sensual ear, but, more endear'd,
Pipe to the spirit ditties of no tone:
Fair youth, beneath the trees, thou canst not leave
Thy song, nor ever can those trees be bare;
Bold lover, never, never canst thou kiss,
Though winning near the goal - yet, do not grieve;
She cannot fade, though thou hast not thy bliss,
For ever wilt thou love, and she be fair!

Ah, happy, happy boughs! that cannot shed
Your leaves, nor ever bid the spring adieu;
And, happy melodist, unwearied,
For ever piping songs for ever new;
More happy love! more happy, happy love!
For ever warm and still to be enjoy'd,
For ever panting, and for ever young;
All breathing human passion far above,
That leaves a heart high-sorrowful and cloy'd,
A burning forehead, and a parching tongue.

Who are these coming to the sacrifice?
To what green altar, O mysterious priest,
Lead'st thou that heifer lowing at the skies,
And all her silken flanks with garlands drest?
What little town by river or sea shore,
Or mountain-built with peaceful citadel,
Is emptied of this folk, this pious morn?
And, little town, thy streets for evermore
Will silent be; and not a soul to tell
Why thou art desolate, can e'er return.

O Attic shape! Fair attitude! with brede
Of marble men and maidens overwrought,
With forest branches and the trodden weed;
Thou, silent form, dost tease us out of thought
As doth eternity: Cold Pastoral!
When old age shall this generation waste,
Thou shalt remain, in midst of other woe
Than ours, a friend to man, to whom thou say'st,
"Beauty is truth, truth beauty," - that is all
Ye know on earth, and all ye need to know.

Ode on a Grecian Urn, John Keats

quinta-feira, novembro 02, 2006

The sound of bomba: Rinderwahn, Das Palast Orchester mit seinem sänger Max Raabe (para ti, Nuno, sobretudo por causa do Rule Britannia que de repente se intromete).
Ninho de cucos (69)

O Varandas dorme neste preciso momento numa posição clássica, mas sempre elegante, e ao ouvir o seu nome, vira a cabeça na direcção do som, sem abrir os olhos.
Uns sobre outros: "The Greeks - dirty and impoverished descendants of a bunch of la-de-da fruit salads who invented democracy and then forgot how to use it while walking around dressed up like girls." P. J. O'Rourke

quarta-feira, novembro 01, 2006

Ninho de cucos (68)

Seria possível fazer um livro com mais mil páginas só com fotografias do Varandas a dormir nas mais variadas posições e sempre, sempre confortável, nos sítios mais insuspeitos: no chão, com um rodapé a fazer de almofada; debaixo de uma cadeira qualquer; e até de barriga para cima, exibicionista, na varanda.
Blockbomba: Mrs. Henderson Presents (só pelo genérico já estava a gostar do filme e depois confirmou-se: bonito).
The sound of bomba: The Pink Panther Theme, Henry Mancini.
Eu hoje acordei assim...

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Lara Flynn-Boyle

... o estado das coisas é o seguinte: resolvi tudo o que tinha a resolver e voltei para as minas, de onde actualizarei o blogue no mínimo nos próximos seis meses (a exploração mineira não tem fim). Mas não faltarei ao Magnífico Baile hosted by Misantropo! Vou de Pantera Cor-de Rosa.

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