(Neste caso, acho que é mesmo só a minha.)
blogue de carla hilário de almeida quevedo bombainteligente@gmail.com
terça-feira, maio 30, 2006
Bomba de Ouro: "Nada de complicar: os blogues somos nós mesmos." Luís Carmelo, no excelente Miniscente.
Adenda: Luís, vi essa parte do episódio e encontrei-a aqui. Magnífico hino contra os espartilhadores collants!
Porque é que adoro Desperate Housewives (31)
"It's not always that easy to distinguish the good guys from the bad guys. Sinners can surprise you. And the same is true for saints. Why do we try to define people as simply good or simply evil? Because no one wants to admit that compassion and cruelty can live side by side in one heart. And that anyone is capable of anything."
Final do nono episódio da segunda série, That's Good, That's Bad.
segunda-feira, maio 29, 2006
Tututu tunununu pressure: Vasco, já a seguir, Milli Vanilli, C&C Music Factory, Paula Abdul e aqueles miúdos, que pareciam gémeos ou só irmãos, cujo nome agora me escapa. Ou talvez mais Rammstein, não sei.
domingo, maio 28, 2006
Enganada por mim própria: conta o estimadíssimo Impensado que tenho uma imagem errada de Céleste Albaret. Em vez de dedicada e doce era mentirosa e sovina! Pelo menos, no que diz respeito a lenços de assoar. Mas o episódio é ainda assim delicioso, bem como esta passagem. Uma maravilha.
Etimologia hebdomadária
A palavra para hoje é experimentar. Aqui está uma das minhas palavras favoritas, que utilizo quase indiscriminadamente. Talvez por gostar da sonoridade e depois porque não é demasiado curta, nem demasiado longa; é em si própria muito variada (oclusivas, fricativas) e é um verbo (é verdade que prefiro a acção ao juízo, por exemplo). Tem muitas qualidades logo à partida e depois os significados que (quase, quase) todos conhecemos: tentar, ensaiar, provar. Só coisas que me agradam. A palavra é de origem latina: experior. Comecemos pelo pequenino ex. Neste caso - de prefixo - "designa a ideia de saída, de tirar para fora, de levar". Mas não se deixem enganar: o xis aparece porque, no caso de experior, temos um pê depois do e. Porque o prefixo é mesmo apenas e só o e, não ex. O e toma várias formas consoante a letra que tem a seguir - ec ou ef, por exemplo, se a letra seguinte for f - mas não deixa de ser um simples e. Como prefixo, entenda-se. E depois aquele perior, que, segundo diz o dicionário, "caiu em desuso". Ora precisamente quando terá sido essa queda? No século I a.C., por exemplo? Significa que o particípio peritus terá sido, na sua época, moderno, o que não deixa de ser engraçado (embora ninguém se ria com isto). Peritus, a, um é um adjectivo (já aprecio menos por causa do juízo, mas reconheço a sua indispensabilidade), como qualquer particípio que se preze, e significa conhecedor, versado, perito (estava-se mesmo a ver e a ouvir), hábil. Juntemos então ex a perior e temos qualquer coisa como: conhecer ou sentir por sair ou virar para fora. Se acham que isto é estranho, assim escrito, experimentem ler em voz alta... Não será a única forma de conhecimento à nossa disposição, mas, por vezes, é preciso passar por ela.
sexta-feira, maio 26, 2006
Blockbomba: Pride and Prejudice (nunca Jane Austen me pareceu tão interessante). Must Love Dogs (adoro comédias românticas, não há nada a fazer. E mais um poema lindo:
Brown Penny
I whispered, 'I am too young,'
And then, 'I am old enough';
Wherefore I threw a penny
To find out if I might love.
'Go and love, go and love, young man,
If the lady be young and fair.'
Ah, penny, brown penny, brown penny,
I am looped in the loops of her hair.
O love is the crooked thing,
There is nobody wise enough
To find out all that is in it,
For he would be thinking of love
Till the stars had run away
And the shadows eaten the moon.
Ah, penny, brown penny, brown penny,
One cannot begin it too soon.
William Butler Yeats)
Brown Penny
I whispered, 'I am too young,'
And then, 'I am old enough';
Wherefore I threw a penny
To find out if I might love.
'Go and love, go and love, young man,
If the lady be young and fair.'
Ah, penny, brown penny, brown penny,
I am looped in the loops of her hair.
O love is the crooked thing,
There is nobody wise enough
To find out all that is in it,
For he would be thinking of love
Till the stars had run away
And the shadows eaten the moon.
Ah, penny, brown penny, brown penny,
One cannot begin it too soon.
William Butler Yeats)
Eu hoje acordei assim...
Nastassja Kinski
... a pensar que, por vezes, as coisas que nos dizem podem mudar as nossas vidas. Mas depende muito de muitas coisas, não é? De quem nos diz essas palavras, como, em que momento, se estamos atentos, se estamos para ali virados. Era tudo muito complicado até ao dia em que a jovem Elizabeth Anscombe criticou o terceiro capítulo da obra Miracles de C. S. Lewis. Anscombe, convertida ao Catolicismo, atacou o argumento filosófico de C. S. Lewis e este sentiu-se particularmente humilhado pelo sucedido (Anscombe teria muita razão). Eis o que diz George Sayer, biógrafo e amigo de Lewis: "He told me that he had been proved wrong, and that his argument for the existence of God had been demolished. The debate had been a humiliating experience, but perhaps it was ultimately good for him. In the past, he had been too proud of his logical ability. Now he was humbled. 'I can never write another book of that sort', he said to me of Miracles. And he never did. He also never wrote another theological book. Reflections on the Psalms is really devotional and literary; Letters to Malcolm is also a devotional book, a series of reflections on prayer, without contentious arguments." (Daqui) Depois do debate com Anscombe, Lewis dedicou-se às Crónicas de Nárnia.
Nastassja Kinski
... a pensar que, por vezes, as coisas que nos dizem podem mudar as nossas vidas. Mas depende muito de muitas coisas, não é? De quem nos diz essas palavras, como, em que momento, se estamos atentos, se estamos para ali virados. Era tudo muito complicado até ao dia em que a jovem Elizabeth Anscombe criticou o terceiro capítulo da obra Miracles de C. S. Lewis. Anscombe, convertida ao Catolicismo, atacou o argumento filosófico de C. S. Lewis e este sentiu-se particularmente humilhado pelo sucedido (Anscombe teria muita razão). Eis o que diz George Sayer, biógrafo e amigo de Lewis: "He told me that he had been proved wrong, and that his argument for the existence of God had been demolished. The debate had been a humiliating experience, but perhaps it was ultimately good for him. In the past, he had been too proud of his logical ability. Now he was humbled. 'I can never write another book of that sort', he said to me of Miracles. And he never did. He also never wrote another theological book. Reflections on the Psalms is really devotional and literary; Letters to Malcolm is also a devotional book, a series of reflections on prayer, without contentious arguments." (Daqui) Depois do debate com Anscombe, Lewis dedicou-se às Crónicas de Nárnia.
quinta-feira, maio 25, 2006
Eu hoje acordei assim...
Angelina Jolie
Angelina Jolie
... parece que uma das razões do sucesso (ou êxito, para os picuínhas da língua) do Código Da Vinci é o facto de ter capítulos curtos. Bom, há que comunicar com urgência que Machado de Assis, pelo menos nos livros que conheço, Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, escreveu em capítulos curtíssimos. Mas, se é assim, porque é que estou há tanto tempo a ler o Brás Cubas? Aquilo dá-me para chorar. Ainda mais do que o Dom Casmurro, de que gostei tanto. Não gosto especialmente de chorar, mas aquela inevitabilidade das lágrimas a caírem pela cara abaixo a ler os capítulos curtíssimos... O choro discreto acompanha muito bem aquela leitura. Mas o que eu queria dizer era que Séneca fez mal em escrever umas cartas tão longas. Tivessem sido mais curtas e o mundo agora seria melhor. Também Kant não tinha nada de se estender em coisas longuíssimas e complexas. A Critíca da Faculdade do Juízo lia-se muito bem se fosse bem divididinha em capítulos pequeninos. Como explicar o insucesso (ou o fracasso) de Wittgenstein? Aquilo é curtinho, até parecem frases soltas, fáceis de entender, fragmentos e tal. Já Elizabeth Anscombe, a discípula, é uma complicada e toda muito longa e difícil e complexa e cerebral... Tivesse dividido aquilo um bocado e editado. Ontem, no Jornal 2:, Alberta Marques Fernandes, na sequência de uma reportagem sobre Mário Cláudio (valha-me Deus...) despediu-se assim: "Mário Cáudio... Mário Cáuldio..." e sorriu porque não conseguia dizer o nome do homem. Coisas que acontecem. Mas logo depois, o resto da frase: "... um nome incontornável da literatura..."
quarta-feira, maio 24, 2006
Dos Antigos: há inúmeras histórias de exposição na Antiguidade (e até recentes, por estranho que pareça). O tema é fascinante para quem se interesse por estas coisas (entre nove e 11 pessoas). Neste caso, expor significa deixar uma criança na floresta ou abandoná-la no meio do rio e fazer o teste: se sobreviver muito bem, se for comida viva, azar ou melhor, porque no fundo (ou mesmo à superfície), o objectivo era mesmo esse. É verdade que todas as histórias de exposição (o sentido da palavra é muito importante) são, em princípio, de sucesso. Pensemos que até Zeus foi exposto. E sobreviveu com uma perna às costas.
Porque é que adoro Desperate Housewives (30)
"George is stocking the shelves. Bree approaches.
Bree: I'm sorry to drop by unannounced, but I just had this disturbing visit from an old friend of yours. A Leila Mitzman.
Cena do oitavo episódio da segunda série, The Sun Won't Set.
"George is stocking the shelves. Bree approaches.
Bree: I'm sorry to drop by unannounced, but I just had this disturbing visit from an old friend of yours. A Leila Mitzman.
George: She, uh, shouldn't have contacted you.
Bree: Well, she did, and she said some pretty horrible things about you.
George: You should know that she's a renowned liar.
Bree: That's what I thought, at first, but then having had time to think about it, I can't understand why she'd go to so much trouble. I mean, what would her motive be?
George: She's obsessed with me. She still wants me. Wasn't it obvious?
Bree: No."
Cena do oitavo episódio da segunda série, The Sun Won't Set.
terça-feira, maio 23, 2006
Depois de amanhã
No dia 25 de Maio comemora-se o Dia Nacional da Argentina. Na Fnac Chiado assinala-se a efeméride com a apresentação do ciclo Borges, Tangos e outras Milongas, durante o qual será feita uma homenagem ao escritor argentino Jorge Luís Borges. Esta homenagem contará com a presença do embaixador da Argentina em Lisboa, Jorge Faurie, de António Mega Ferreira, do jornalista Carlos Quevedo e Carlos Veiga Ferreira, editor de Borges em Portugal. Às 19h.
No dia 25 de Maio comemora-se o Dia Nacional da Argentina. Na Fnac Chiado assinala-se a efeméride com a apresentação do ciclo Borges, Tangos e outras Milongas, durante o qual será feita uma homenagem ao escritor argentino Jorge Luís Borges. Esta homenagem contará com a presença do embaixador da Argentina em Lisboa, Jorge Faurie, de António Mega Ferreira, do jornalista Carlos Quevedo e Carlos Veiga Ferreira, editor de Borges em Portugal. Às 19h.
Hoje
Dia 23 de Maio, às 18h30, final do ciclo de debates sobre futebol na Casa Fernando Pessoa, dedicado à questão do patriotismo («Que selecção vamos apoiar? Todos somos portugueses no futebol?»). Com João Querido Manha, Jorge "maradona" Madeira, Miguel Guedes, Pedro Mexia e Rui Tavares.
Malta, 'bora aproveitar!
Eduardo Prado Coelho escreveu o seguinte há dias, no Público: "Como já tenho dito numerosas vezes, não vejo blogues. Às vezes, pessoas mais solícitas enviam-me endereços por e-mail. Têm o destino marcado: o lixo imediato." Ora tivesse eu tempo e o bomba inteligente teria uma série diária exclusivamente dedicada a EPC, cujos textos considero verdadeiras minas de ouro para quem gosta de desenvolver o espírito crítico, hermenêutico e dar as suas boas alfinetadas in the process. Infelizmente, perdi o tempo. Talvez tenha morrido. O tempo. Não o encontro, não sei onde o deixei. Talvez tenha sido no Brasil. Com a Milene - coitadiiiiiiiiiiiinha! - que foi encontrada a chorar (note-se que as lágrimas lhe cobriram o belo corpo). Aposto que recitava o poema de Elizabeth Bishop (eis a tradutora afinal). Até parece que a ouço entre um tchiqui, tchiqui, tchi sambista: "mesmo perder você", lá, lai iá, lá iá, lá iá...
Eu hoje acordei assim...
Drew Barrymore
Drew Barrymore
... adorei o debate de ontem. Sorry, JMF, mas parece-me que o prognóstico se confirmou em toda a linha (é assim que se diz, não é? e onde está um bom site de apostas quando precisamos dele?), embora Ricardo Costa tenha começado menos bem; tenha demorado a aquecer, digamos. Carrilho passou o tempo todo a insultar os seus oponentes. Mas o pormenor mais engraçado aconteceu quando Carrilho chamou Ricardo Pais a Ricardo Costa. Terá sentido no seu opositor uma afinidade geográfica? Bom, não pode haver mais debates com Carrilho (quero dizer, poder, pode, mas não me parece aconselhável). Mesmo a paciência dos intervenientes tem limites. (Adenda entre parêntesis: tinha preparada uma piada muito gira sobre as agências de comunicação. Talvez a venda. É isso: vou ver se a vendo.)
segunda-feira, maio 22, 2006
Prognósticos antes do jogo: Pacheco Pereira-Costa - 8, Rangel-Carrilho - 0. E se fosse um jogo de ténis - 6-0, 6-0, 6-0. E se fosse patinagem artística?
sexta-feira, maio 19, 2006
Ballade at Thirty-Five
This, no song of an ingénue,
This, no ballad of innocence;
This, the rhyme of a lady who
Followed ever her natural bents.
This, a solo of sapience,
This, a chantey of sophistry,
This, the sum of experiments -
I loved them until they loved me.
Decked in garments of sable hue,
Daubed with ashes of myriad Lents,
Wearing shower bouquets of rue,
Walk I ever in penitence.
Oft I roam, as my heart repents,
Through God's acre of memory,
Marking stones, in my reverence,
"I loved them until they loved me."
Pictures pass me in long review -
Marching columns of dead events.
I was tender, and, often, true;
Ever a prey to coincidence.
Always knew I the consequence;
Always saw what the end would be.
We're as Nature has made us - hence
I loved them until they loved me.
Dorothy Parker, The Portable, p. 105.
This, no song of an ingénue,
This, no ballad of innocence;
This, the rhyme of a lady who
Followed ever her natural bents.
This, a solo of sapience,
This, a chantey of sophistry,
This, the sum of experiments -
I loved them until they loved me.
Decked in garments of sable hue,
Daubed with ashes of myriad Lents,
Wearing shower bouquets of rue,
Walk I ever in penitence.
Oft I roam, as my heart repents,
Through God's acre of memory,
Marking stones, in my reverence,
"I loved them until they loved me."
Pictures pass me in long review -
Marching columns of dead events.
I was tender, and, often, true;
Ever a prey to coincidence.
Always knew I the consequence;
Always saw what the end would be.
We're as Nature has made us - hence
I loved them until they loved me.
Dorothy Parker, The Portable, p. 105.
quinta-feira, maio 18, 2006
Estimado Jansenista: Céleste podia ser uma megera, mas quando comparada com Fanny era uma lady. Só um breve esclarecimento, trata-se de um livro com depoimentos de Fanny, a empregada de Borges, redigidos por um jornalista e escritor, Alejandro Vaccaro. Na verdade, as palavras de Fanny funcionariam muito bem como uma entrevista a Manuel Luís Goucha e mesmo assim... Céleste foi objectivamente importante nos últimos anos de Proust e excedeu muito as simples funções de criada, tendo sido dama de companhia, secretária. O testemunho de Céleste é mais interessante, sem dúvida. Tenho pena de não ter visto o documentário a que se refere. (Lembro-me de ler pormenores, como por exemplo, Proust, grande asmástico, não se assoava a lenços novos - na minha opinião de médica que não sou - por causa daquelas fibras soltas nos algodões, que provocam uma alergia terrível, e Céleste lavava-os várias vezes até ficarem muito fininhos, precisamente sem aqueles fios soltos que tanto mal podiam causar.)
Três vezes parabéns: aos blogues Almocreve das Petas e No Quinto dos Impérios pelos respectivos terceiros aniversários, e ao Bicho Carpinteiro, que cumpriu um ano na blogosfera. A todos os meus muitos parabéns, muitas felicidades e muitos anos de vida.
Cenas da vida conjugal
[adaptado]
- Sumo de laranja natural?
- Tudo bem!
- Torradas com doce de morango?
- Nada contra!
- Café com leite?
- Sim, senhor!
- Mas é com o meu Varandas que eu quero estar fachabor!
[adaptado]
- Sumo de laranja natural?
- Tudo bem!
- Torradas com doce de morango?
- Nada contra!
- Café com leite?
- Sim, senhor!
- Mas é com o meu Varandas que eu quero estar fachabor!
Eu hoje acordei assim...
Drew Barrymore
Drew Barrymore
... a sério que acho (só hoje e durante as primeiríssimas horas do dia) que se devia legalizar a marijuana. Pronto, nunca fui a favor, mas parece que é inevitável (e isso é meio caminho andado para começar a aceitar as coisas). Mas também me parece que devíamos (a Europa, entenda-se) legalizar a cocaína. Embora não seja consumidora nem de uma coisa nem de outra (eu nem sequer fumo, WR; isto é só no blogue), aborrece-me que os cartéis da Colômbia sejam tão absolutamente trilionários. Hoje acordei muito chateada com os cartéis da Colômbia. Por serem tão estupidamente ricos.
quarta-feira, maio 17, 2006
terça-feira, maio 16, 2006
Isto dá post
Eduardo Prado Coelho hoje made my horrible day. A sério. Bendito seja EPC por ter escrito mais uma crónica absolutamente hilariante de sempre. Três horas depois da leitura do texto ainda me estou a lembrar do encontro das seguintes palavras na mesma frase: "cão Espinoza", "dona do quiosque", "brioche prometido". O título é A arte de perder e trata precisamente dessa coisa tão triste e inevitável nas nossas miseráveis existências que é perder alguma coisa ou alguém. No caso de EPC, as perdas são várias. A perdas tantas, o cronista enumera: "Perdi amigos, muitos. O Zé Ribeiro da fonte, a Margarida Vieira Mendes, o Al Berto aparecem por vezes nos meus sonos". Nada a dizer, perdeu amigos, que infelizmente faleceram. Mas também infelizmente o cronista continua: "Perdi mulheres, muitas, algumas no Brasil, outras em Portugal." Vamos lá a ver: estaremos no mesmo nível metafórico? Aquelas "mulheres, muitas, algumas no Brasil, outras em Portugal" morreram? Ou simplesmente não sabe onde as deixou? Quererá o cronista dizer com isto que não perdeu nenhuma mulher fora do Brasil ou de Portugal? Porque sabe onde as deixou ou porque nunca as encontrou ou porque, metaforicamente, nenhuma morreu ainda? Enfim, se pudesse perder o (meu) tempo, passaria dias nisto. Por último, cita o poema de Elizabeth Bishop que dá o título à crónica, que podem ler aqui no original, numa tradução que tem um cheirinho tropical: "mesmo perder você". Como não há referência ao tradutor, deduzo que EPC tenha traduzido os versos naquela vez em que perdeu algumas das muitas daquelas perdidas. Do outro lado do Atlântico.
Porque é que adoro Desperate Housewives (29)
Cena do sétimo capítulo da segunda série, Color and Light.
"Bree: It was just awful. George had a ring. His mother and her friend were there with champagne. If I had said no, it would have devasted him.
Dr. Goldfine: So you agreed to marry him just to be polite?
Bree: Well, obviously there's a down side to having good manners."
Cena do sétimo capítulo da segunda série, Color and Light.
segunda-feira, maio 15, 2006
Ninho de cucos (56)
Gatos azuis (vulgo Chartreux) em desencontro pacífico.
Gato maçado (Varandas style) ou melancólico ou sexy.
Cortesia de Anabela Barros Correia.
Gatos azuis (vulgo Chartreux) em desencontro pacífico.
Gato maçado (Varandas style) ou melancólico ou sexy.
Cortesia de Anabela Barros Correia.
domingo, maio 14, 2006
Duas almas caridosas: a Sam e o JB passariam o lenço ao diabo. Sam, como muito bem apontaste, a culpa surge porque houve uma dúvida antes de sair de casa: ponho ou não ponho os lenços na carteira? Adorava poder identificar o momento preciso em que o problema é criado; saber qual o ponto de origem dos problemas. Mas isso é impossível, embora seja uma preocupação muito antiga. Também não serve para nada, porque, afinal, não podemos resolvê-los a posteriori, retroactivamente. O JB prefere escrever "diabo" com dê minúsculo. Tudo bem, nada contra. Escrevo com maiúscula porque está a substituir um nome, como Mefistófeles, Belzebu ou João Kléber.
Relendo aquele post ali em baixo, devo dizer que aquilo me parece um bocado incompetente. Até porque não é totalmente verdadeiro: trago sempre lenços comigo. Já que estou em maré de dizer a verdade, here goes: eu daria o lenço ao Diabo, certificar-me-ia de que estava bem assoado e limpinho, sorria com doçura e depois ia buscar o tractor que tinha deixado estacionado no parque (uma pequena nota surrealista), metia a primeira a toda a velocidade, passava-lhe por cima e fazia marcha atrás, passando o Diabo a ferro. Uma mistura entre a primeira e a terceira hipóteses, portanto. Não dá para pactuar se não for com uma intenção profunda e clara de acabar com a raça do bicho.
Eu hoje acordei assim: o AFF acertou em cheio, quero dizer quase, quase, practicamente. Neste blogue há mais imagens de meninas dentro de água, ou perto da água, ou com a água ao fundo, ou com água algures (nem que seja no pensamento) do que em todas as edições juntas da Sports Illustrated. É capaz de querer dizer alguma coisa.
sábado, maio 13, 2006
Eu hoje acordei assim...
Drew Barrymore
... ora várias coisas: continuo a fumar, mas só no blogue, o que me dá algumas garantias de saúde. Ninguém fica doente por fumar no blogue, pois não? De repente, lembrei-me de uma notícia em que se dizia que o AVC era a doença que mais matava em Portugal. Juntamente com a febre e a tosse, com certeza. Também não é propriamente o tabaco que mata, mas as doenças criadas por causa de. Bom, não sou médica, mas também avancei logo o meu diagnóstico quando vi a entrevista de Manuel Maria Carrilho a Judite de Sousa: ui, delírio paranóico! Mas uns dias mais tarde percebi que estava enganada. MMC não está assim; é assim, o que faz toda a diferença. E como é assim, não há leitura de Platão, Aristóteles, Kant ou Wittgenstein que lhe valha. O que quero dizer é apenas isto: estamos perante um caso notório de falta de inteligência (e, sim, de narcisísmo galopante; é provável que a vaidade afecte a inteligência, sim). E isso custa-nos a admitir, porque, afinal de contas, estamos a falar de um Professor Catedrático. Daqui gostava de dizer uma coisa a Marcelo Rebelo de Sousa: o livro que aconselhou no domingo passado não presta para nada. Em O Senhor Borges, a empregada Epifanía Uveda de Robledo (Fanny) passa mais de metade do livro a falar mal da senhora, Maria Kodama. Aquilo não tem um pingo de interesse. Enfim, Fanny não é Céleste. Já sobre a excelente biografia de Borges de Edwin Williamson, um académico escreveu um longuíssimo artigo, cujo linque aqui deixo para que o maradona o leia. Voltando ao Senhor Borges, poupem o vosso dinheiro. E por falar em dinheiro: vamos imaginar que tenho um banco e que estou muito chateada porque há uma coisa chamada Afinsa que me anda a roubar clientes. Sou miúda para ligar para uns quantos amigos que também têm bancos e dizer-lhes: "Ouçam lá, não acham que está na altura de esta brincadeira acabar?" E pronto. Pronto nada, também tenho pensado muito no Saddam. Talvez tenha sido má ideia tirá-lo de lá. Assim, mal o Irão se atrevesse a pôr a cabeça de fora, pimba, tínhamos o Saddam... Ah, as manias da liberdade e da democracia.
Drew Barrymore
... ora várias coisas: continuo a fumar, mas só no blogue, o que me dá algumas garantias de saúde. Ninguém fica doente por fumar no blogue, pois não? De repente, lembrei-me de uma notícia em que se dizia que o AVC era a doença que mais matava em Portugal. Juntamente com a febre e a tosse, com certeza. Também não é propriamente o tabaco que mata, mas as doenças criadas por causa de. Bom, não sou médica, mas também avancei logo o meu diagnóstico quando vi a entrevista de Manuel Maria Carrilho a Judite de Sousa: ui, delírio paranóico! Mas uns dias mais tarde percebi que estava enganada. MMC não está assim; é assim, o que faz toda a diferença. E como é assim, não há leitura de Platão, Aristóteles, Kant ou Wittgenstein que lhe valha. O que quero dizer é apenas isto: estamos perante um caso notório de falta de inteligência (e, sim, de narcisísmo galopante; é provável que a vaidade afecte a inteligência, sim). E isso custa-nos a admitir, porque, afinal de contas, estamos a falar de um Professor Catedrático. Daqui gostava de dizer uma coisa a Marcelo Rebelo de Sousa: o livro que aconselhou no domingo passado não presta para nada. Em O Senhor Borges, a empregada Epifanía Uveda de Robledo (Fanny) passa mais de metade do livro a falar mal da senhora, Maria Kodama. Aquilo não tem um pingo de interesse. Enfim, Fanny não é Céleste. Já sobre a excelente biografia de Borges de Edwin Williamson, um académico escreveu um longuíssimo artigo, cujo linque aqui deixo para que o maradona o leia. Voltando ao Senhor Borges, poupem o vosso dinheiro. E por falar em dinheiro: vamos imaginar que tenho um banco e que estou muito chateada porque há uma coisa chamada Afinsa que me anda a roubar clientes. Sou miúda para ligar para uns quantos amigos que também têm bancos e dizer-lhes: "Ouçam lá, não acham que está na altura de esta brincadeira acabar?" E pronto. Pronto nada, também tenho pensado muito no Saddam. Talvez tenha sido má ideia tirá-lo de lá. Assim, mal o Irão se atrevesse a pôr a cabeça de fora, pimba, tínhamos o Saddam... Ah, as manias da liberdade e da democracia.
Adenda: entretanto, lembrei-me de mais umas coisas. Ontem, vi as imagens de Evangelina Carrozo, rainha do Carnaval de Gualeguaychú, cidade de uma província argentina, a passar em biquini, à frente dos líderes da América Latina e da Europa, com um cartaz na mão a manifestar-se contra a construção de fábricas de papel no Uruguai, numa cidadezinha muito próxima de Gualeguaychú. A coisa foi insólita, porque a rapariga é muito gira e tem um rabo particularmente atractivo. Não há nada de mal nisso, parece-me. Ora focaram as carinhas dos líderes e vimos um sorriso em quase todos: Kirschner, exagerado, estava um bocadinho a babar-se, o presidente do Uruguai exultou com a presença elegante de Evangelina e exclamou um enigmático "é maravilhoso!" e até o fleumático Tony Blair sorriu com simpatia. De repente, a câmara foca o nosso primeiro-ministro José Sócrates, numa coisa a que devem chamar "pose de Estado", que segundo percebo consiste em ignorar tudo o que passa à sua volta. Qualquer coisa do género: "Não me posso rir porque depois dizem que me ri e mais não-sei-quê. Vou fingir que não se passou nada". Houve ali qualquer coisa de negação: "Rapariga gira em biquini? Em Viena? Com este frio? Nã..." Isto é um bocado português, não é? Outras coisas: o Inimigo Público de ontem teve duas páginas brilhantes sobre Freitas do Amaral. Até as reli hoje! Finalmente (juro que não digo mais nada), excelente o texto de VPV no Público: "(...) sempre achei inútil e desagradável escrever sobre [Carrilho]." Não, a sério, agora é que é: EPC fala sobre o livro de Carrilho e termina o seu texto cheio de pérolas com esta outra: "Mas há certos momentos em que Manuel Maria Carrilho fala de outra coisa - e essa coisa é que é linda" e toca de citar a maior xaropada de todos os tempos. Essa coisa é que é linda! Como diz o maradona: "Mas onde é que estamos, onde é que estamos, onde é que estamos?"
sexta-feira, maio 12, 2006
quinta-feira, maio 11, 2006
Uns sobre outros: "Humor to me, Heaven help me, takes in many things. There must be courage, there must be no awe. There must be criticism, for humor, to my mind is encapsulated in criticism. There must be a disciplined eye and a wild mind. There must be a magnificent disregard for the reader, for if he cannot follow you, there is nothing you can do about it. There must be some lagniappe in the fact that the humorist has read something before 1918. There must be, in short, S. J. Perelman." Dorothy Parker, The New York Times Book Review, incluído em The Portable.
Ninho de cucos (55)*
Nastassja Kinski
... Varandas, já que estás tão diferente, podiamos fazer um bookporn, como o do Lord ASS. A ideia chegou pelo teu estimado primo. Achas bem?
... Varandas, já que estás tão diferente, podiamos fazer um bookporn, como o do Lord ASS. A ideia chegou pelo teu estimado primo. Achas bem?
* ou Eu hoje acordei assim...
quarta-feira, maio 10, 2006
Song Of One Of The Girls
Here in my heart I am Helen;
Here in my heart I am Helen;
I'm Aspasia and Hero, at least.
I'm Judith, and Jael, and Madame de Staël;
I'm Salome, moon of the East.
Here in my soul I am Sappho;
Lady Hamilton am I, as well.
In me Recamier vies with Kitty O'Shea,
With Dido, and Eve, and poor Nell.
I'm of the glamorous ladies
At whose beckoning history shook.
But you are a man, and see only my pan,
So I stay at home with a book.
Do ponto de vista de quem tem o lenço
O Tiago escreveu um excelente post de uma frase com título: "Solidariedade - Até o Diabo quando espirra precisa de quem lhe passe um lenço". Ora isto faz-me pensar naquele tema antigo do que é ser uma boa pessoa. Já cheguei a várias conclusões, mas esta frase pode muito bem ser o ponto de partida para uma brevíssima e esquemática exposição do que penso sobre o assunto. Imaginemos que ao lado do Diabo a espirrar, estamos nós com um lencinho limpinho e bem dobrado. Isto é um teste: damos o lenço ou não? Consideremos três hipóteses:
1) o Diabo, que reconhecemos como tal, espirra e nós, educadamente, damos o lenço;
2) o Diabo, que reconhecemos como tal, espirra e nós, educadamente, fazemos de conta que nada aconteceu, levantamo-nos e deixamo-lo no meio da sua aflição;
3) o Diabo, que reconhecemos como tal, espirra e nós aproveitamo-nos da situação para gozar com ele, à medida que o ranho lhe escorre pelo nariz abaixo.
Na primeira hipótese encontraríamos uma muito boa pessoa, que, perante o mal, não só não se consegue vingar, como ajuda quem o pratica (o Diabo, como sabem, tem muitas formas). Na segunda hipótese encontraríamos uma boa pessoa, que, no entanto, tem dificuldade em perdoar e que perante o ranho do representante do mal, não consegue fazer o bem (passar a porcaria do lenço), mas também não se vinga propriamente. Na terceira hipótese temos o rancoroso, aquele que se aproveita de qualquer situação para se vingar do Diabo como pode. Ainda bem que nunca trago lenços no bolso. Um problema a menos.
Teste matinal
"Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye / Amore , amour, meine liebe, love of my life / Se o nosso amor findar / Só me ouvirás cantar / Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye / Amore, amour, meine liebe, love of my life..."
"Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye / Amore , amour, meine liebe, love of my life / Se o nosso amor findar / Só me ouvirás cantar / Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye / Amore, amour, meine liebe, love of my life..."
"Você é Grande Grande Amor: preenche todos os requisitos para ser o chamado cidadão do mundo. Adora viajar e imagina o dia em que pega na sua mala de cartão e parte à conquista do mundo. É alguém vivido, sempre a olhar para a frente e que gosta do imprevisto."
Via Cidadã Pacata e Respeitável.
Via Cidadã Pacata e Respeitável.
Eu hoje acordei assim...
Cameron Diaz
Cameron Diaz
... desta vez a pensar em Cameron Diaz, pois é. Por causa do filme In Her Shoes, de que gostei imenso. Acho graça a Cameron Diaz. Há ali qualquer coisa de meio-tonto, de desengonçado, de goofy, de - porque não dizê-lo? - totó, que me parece encantador. Além de ser uma excelente actriz, é diferente de todas as outras, muito iguais entre si, com os mesmos penteados, a mesma postura, o mesmo olhar. Todas muito enfadonhas ao lado de CD. Mas não volto a comparar, mesmo no vazio. Prometo.
terça-feira, maio 09, 2006
Porque é que adoro Desperate Housewives (28)
Cena do sexto episódio da segunda série, I Wish I Could Forget You.
"Dr. Goldfine: So, the hives occurred right after you kissed George.
Bree: Yes, it was the strangest thing. And so inconvenient. To be honest, I think we were about to make love for the first time.
Dr. Goldfine: Bree, have you considered the idea that your subconscious mind was trying to sabotage your evening with George?
Bree: "Actually, I have not considered that because that's idiotic!"
Cena do sexto episódio da segunda série, I Wish I Could Forget You.
Eu hoje acordei assim...
Madonna por Steven Klein. Cortesia de António Pereira.
... com uma ligeira indisposição, mas apenas para efeitos ficcionais. Talvez tenha sido por ter ontem passado os olhos por Six Feet Under. Percebi que continua uma alegria, uma autêntica festa. Six Feet Under, aliás, é só rir, rir, rir... Olá, Luís! Bom dia, Ana Cláudia e BilidaQuid (desistir, de vez em quando, é preciso) e Luís (ah, suspiros por Átia, embora uns quantos mais por Tito Pulo...)! Mas vejam aqui as movimentações da HBO. Boas notícias, não vos parece?
Madonna por Steven Klein. Cortesia de António Pereira.
... com uma ligeira indisposição, mas apenas para efeitos ficcionais. Talvez tenha sido por ter ontem passado os olhos por Six Feet Under. Percebi que continua uma alegria, uma autêntica festa. Six Feet Under, aliás, é só rir, rir, rir... Olá, Luís! Bom dia, Ana Cláudia e BilidaQuid (desistir, de vez em quando, é preciso) e Luís (ah, suspiros por Átia, embora uns quantos mais por Tito Pulo...)! Mas vejam aqui as movimentações da HBO. Boas notícias, não vos parece?
segunda-feira, maio 08, 2006
Bomba de Ouro: "Não há mal nenhum em Lisboa que uma subida de 100 metros no nível das águas do Tejo não possa resolver." O Jansenista, directamente de Port-Royal.
Adenda: no caminho para casa, comecei a pensar em lithium. Não, calma. Por causa da etimologia, daquele líthos grego. Líthos e lithium... A droga é utilizada no tratamento de maníacos-depressivos ou doentes bipolares. Uma vez que o objectivo é estabilizar o comportamento, evitando altos e baixos, será que afecta a memória? Ao mesmo tempo que atordoa, tratará os desvios, apagando o que se passa na cabeça? Não sei. Também não cheguei a dizer que errare humanum est não tem aquele significado que tantos lhe dão. Aquele errare é o tal vangabundear, vaguear e não falhar, até porque a falha não era uma coisa assim tão irracional, como hoje também não é. Mas não, não me apetece falar da hamartía, está bem? Fica para outra altura.
Eu sabia que isto estava escrito em qualquer sítio (41)
«O livro tem de ter estilo. Mas o leitor também tem de ter estilo.»
«Eu, para ler um livro, tenho de ter estilo?»
«Estilo, personalidade, voz própria, idiossincrasia, temperamento, pinta, podes chamar-lhe o que quiseres que vai tudo dar ao mesmo.»
Rui Zink, O Anibaleitor, Lisboa, Editorial Teorema e Fnac, 2006, p. 60.
Apio Verde! À tripulação do Mar Salgado, que anda a navegar em águas blogosféricas há três anos e ao Bandeira ao Vento, bebé lindo de um aninho, muitos parabéns!
Eu hoje acordei assim...
Claire Danes
... a pensar em Claire Danes, por causa de Shopgirl, que vi recentemente. Gostei muito do filme e sobretudo da personagem feminina, Mirabelle. Mas depois, quando ouvi Claire Danes a falar sobre o filme (nos extras) e sobre a sua personagem, apercebi-me de que alguma coisa estava errada. Danes não percebeu patavina do papel que representou - aliás, com muita competência e enorme talento, o que só contribuiu para o meu desapontamento. Talvez esperasse que os actores talentosos percebessem aquilo que estão a fazer. Mas se percebessem, estariam a representar? Nem todos os cantores de ópera sabem italiano e alemão e, no entanto, cantam e representam, sem na verdade perceberem nada. Mirabelle, uma personagem que vive o seu caso de amor de uma maneira intensa e ao mesmo tempo com dignidade, imaginada por Steve Martin, é uma rapariga com muita pinta. Steve Martin é um homem que gosta de mulheres.
Claire Danes
... a pensar em Claire Danes, por causa de Shopgirl, que vi recentemente. Gostei muito do filme e sobretudo da personagem feminina, Mirabelle. Mas depois, quando ouvi Claire Danes a falar sobre o filme (nos extras) e sobre a sua personagem, apercebi-me de que alguma coisa estava errada. Danes não percebeu patavina do papel que representou - aliás, com muita competência e enorme talento, o que só contribuiu para o meu desapontamento. Talvez esperasse que os actores talentosos percebessem aquilo que estão a fazer. Mas se percebessem, estariam a representar? Nem todos os cantores de ópera sabem italiano e alemão e, no entanto, cantam e representam, sem na verdade perceberem nada. Mirabelle, uma personagem que vive o seu caso de amor de uma maneira intensa e ao mesmo tempo com dignidade, imaginada por Steve Martin, é uma rapariga com muita pinta. Steve Martin é um homem que gosta de mulheres.
domingo, maio 07, 2006
Etimologia hebdomadária
A palavra para hoje é errar. Mal olhamos para o verbo, pensamos em erro, engano, falta e só depois - alguns talvez nunca - em vaguear, andar por aí sem destino, à aventura. Pois errare, do latim, começa por ter o segundo significado e só depois, e em sentido figurado, o primeiro; ou seja, o desvio no caminho, a ausência de objectivos (ou, novamente em sentido figurado, a distracção) conduzem à ilusão. Cá está um tema que me interessa há anos: o desvio (ou o engano) como parte integrante ou como consequência da desconcentração. Não sei bem o que chega primeiro, muitas vezes nem sequer como reconhecer o engano. Não será sempre qualquer coisa que fazemos a posteriori, mas por vezes é (talvez erradamente, no entanto). Mas isto é tudo muito complicado (tinha de ir dar uma ganda bolta) e ultrapassa em muito a etimologia. Em vez disso, prefiro pensar em láthos: erro, em grego moderno. Em grego antigo, a palavra muda um bocadinho: é líthos. Assim à primeira vista não parece muito diferente, mas é. Líthos de lithomai, ou mais infinitivamente de uma espécie de Indicativo, de lantháno, que significa escapar, no sentido de não ser visto, de passar por desconhecido, desapercebido. Mas aquele líthomai (uma voz média ou passiva - só problemas e complicações, sinceramente), do qual temos o substantivo líthos, significa esquecer; mesmo esquecer propositadamente, passar por cima, digamos. E, na mesma palavra, passámos do esquecimento ao engano. É incrível como um vocábulo pode conter quase todos os conceitos ou significados que me são menos suportáveis.
A palavra para hoje é errar. Mal olhamos para o verbo, pensamos em erro, engano, falta e só depois - alguns talvez nunca - em vaguear, andar por aí sem destino, à aventura. Pois errare, do latim, começa por ter o segundo significado e só depois, e em sentido figurado, o primeiro; ou seja, o desvio no caminho, a ausência de objectivos (ou, novamente em sentido figurado, a distracção) conduzem à ilusão. Cá está um tema que me interessa há anos: o desvio (ou o engano) como parte integrante ou como consequência da desconcentração. Não sei bem o que chega primeiro, muitas vezes nem sequer como reconhecer o engano. Não será sempre qualquer coisa que fazemos a posteriori, mas por vezes é (talvez erradamente, no entanto). Mas isto é tudo muito complicado (tinha de ir dar uma ganda bolta) e ultrapassa em muito a etimologia. Em vez disso, prefiro pensar em láthos: erro, em grego moderno. Em grego antigo, a palavra muda um bocadinho: é líthos. Assim à primeira vista não parece muito diferente, mas é. Líthos de lithomai, ou mais infinitivamente de uma espécie de Indicativo, de lantháno, que significa escapar, no sentido de não ser visto, de passar por desconhecido, desapercebido. Mas aquele líthomai (uma voz média ou passiva - só problemas e complicações, sinceramente), do qual temos o substantivo líthos, significa esquecer; mesmo esquecer propositadamente, passar por cima, digamos. E, na mesma palavra, passámos do esquecimento ao engano. É incrível como um vocábulo pode conter quase todos os conceitos ou significados que me são menos suportáveis.
Ninho de cucos (52)
O ponto preto, uma espécie de sombrazinha muito ténue, na parede branca, nada mais é do que um ordinário mosquito. O Varandas, sentado em cima da cama, quase bate com o nariz no pobre insecto. Há uma espécie de doçura naqueles grandes olhos amarelos, mesmo no momento anterior a qualquer coisa que imagino corresponder ao fim da vida do sombreado na parede. Passam alguns minutos. O gato contempla a presa (talvez seja demasiado pequena, chego a pensar) e o insecto nada. A proximidade é grande e, de repente, o gato estica-se e zap: dá-lhe uma sapatada lacónica e elegante. O momento é breve, mas o bicho demora uns segundos a voltar à posição inicial. Não percebo se o insecto terá sobrevivido. Não me parece, mas era demasiado pequeno para cadáver. Posso, contudo, garantir que durante uns breves instantes houve ali amor, carinho, intensidade, ternura.
O ponto preto, uma espécie de sombrazinha muito ténue, na parede branca, nada mais é do que um ordinário mosquito. O Varandas, sentado em cima da cama, quase bate com o nariz no pobre insecto. Há uma espécie de doçura naqueles grandes olhos amarelos, mesmo no momento anterior a qualquer coisa que imagino corresponder ao fim da vida do sombreado na parede. Passam alguns minutos. O gato contempla a presa (talvez seja demasiado pequena, chego a pensar) e o insecto nada. A proximidade é grande e, de repente, o gato estica-se e zap: dá-lhe uma sapatada lacónica e elegante. O momento é breve, mas o bicho demora uns segundos a voltar à posição inicial. Não percebo se o insecto terá sobrevivido. Não me parece, mas era demasiado pequeno para cadáver. Posso, contudo, garantir que durante uns breves instantes houve ali amor, carinho, intensidade, ternura.
Blockbomba: Howl's Moving Castle (um filme espantoso). Ellie Parker (excelente Naomi Watts, mas uma neura de filme). In her Shoes (não deve ser fácil ser irmã de Cameron Diaz... Um filme delicioso, inteligente, comovedor, muito bem escrito e interpretado. O que mais se pode querer? Dois poemas extraordinários, sim: um de e. e. cummings,
i carry your heart with me (i carry it in my heart)
i am never without it (anywhere i go you go, my dear;
and whatever is done by only me is your doing, my darling)
i fear no fate (for you are my fate, my sweet)
i want no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you
here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;
which grows higher than soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart
i carry your heart (i carry it in my heart)
e outro, One Art, de Elizabeth Bishop:
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.)
sábado, maio 06, 2006
Eu hoje acordei assim...
Eva Longoria
... Abrupto?
- "Ligou para o Abrupto. De momento, não posso atender. Se for a Bomba Inteligente e quiser deixar um tango, prima 1."
- Já? Então e o resto do diálogo?
- "Se não for a Bomba Inteligente e quiser deixar um Retrato do Trabalho em Nova Sibirsky, prima 2."
- Errr...
- "Se quiser deixar um poema para o Early Morning Blogs, prima 3."
Eva Longoria
... Abrupto?
- "Ligou para o Abrupto. De momento, não posso atender. Se for a Bomba Inteligente e quiser deixar um tango, prima 1."
- Já? Então e o resto do diálogo?
- "Se não for a Bomba Inteligente e quiser deixar um Retrato do Trabalho em Nova Sibirsky, prima 2."
- Errr...
- "Se quiser deixar um poema para o Early Morning Blogs, prima 3."
- Por acaso, tenho aqui uns poemas muito jeitosos da minha autoria...
- "Se quiser deixar Coisas Simples ou Complicadas, Ar Puro ou Objectos em Vias de Extinção, prima 4."
- Ai, objectos em via de extinção é que não!
- "Se quiser falar com a telefonista, prima 5."
- Ora 5... (ouve-se um piii, logo seguido de uma voz já conhecida) Pilar, bom dia!
- Charlotte! Quer falar para o Abrupto, não é? Por causa do terceiro aniversário?
- Claro! Quero deixar os muitos parabéns e um tango, um grande tangaço, que é um bocadinho uma continuação do Amablemente. Chama-se Araca Corazón e é cantado pelo grande Julio Sosa. Tem é de ligar as colunas.
- Charlotte, prima 1...
sexta-feira, maio 05, 2006
Eu sabia que isto estava escrito em qualquer sítio (40)
"Hoje sei que nunca se deve menosprezar a relação entre o que vai na nossa cabeça e o que vai no nosso corpo, até porque a nossa cabeça nasce bem presa ao corpo; nós é que depois, por estupidez ou incúria, a vamos desatarraxando."
Rui Zink, O Anibaleitor, Lisboa, Editorial Teorema e Fnac, 2006, p. 10.
Bomba de Ouro: "Com os desconhecidos incomodam-me enviesamentos grosseiros na leitura. Se um desconhecido comenta que devo ser uma pessoa muito solitária, obviamente não gosto, acho que não tem razão, mas francamente também não me apetece responder-lhe." Isabel Tilly, em entrevista ao Posto de Escuta.
Ninho de cucos (51)
Quatro da manhã, Lisboa. Ao longe, um choro-miado profundo e alto: "Rauuuu minhaaauuuu rau rauuuu". Acordo e vejo o gato Varandas muito desperto. Não me parece nada triste. A rodeá-lo os corpos inanimados de três traças, que se tinham aventurado no território felino. Estaria o predador a chorar pela caça ali depositada às suas felpudas patas? "O que foi, Varandas?" ouso perguntar na escuridão da sala. O gato corre em direcção à varanda e parado a olhar muito para mim, mia: "Não vês que a porta está fechada e lá fora está o Royal Canin Urinary?" Claro, Varandas. Como é óbvio.
quarta-feira, maio 03, 2006
Blockbomba: Shopgirl (muito bom filme). Elizabethtown (excelente, mais que excelente: um dos melhores filmes que alguma vez vi).
terça-feira, maio 02, 2006
Estado em que se encontra este blogue
"Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma idéia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te."
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Livros Cotovia, Lisboa, 2005, p. 22.
Metabloggers do it better (19)
Por vezes apetece sovar o leitor. Sempre excepcionalmente, claro. Deitá-lo de barriga para baixo sobre as pernas e à moda antiga trás, trás, trás, dar umas secas e valentes palmadas naquele rabo, porque leu mal, não percebeu nada e - o pior de tudo, meu Deus! - pediu esclarecimentos ao autor. Não satisfeito com a sua própria ignorância (algo que inevitavelmente ignora), atreveu-se a pedir explicações a quem escreve, a quem pensa sobre as coisas, a quem leva a vida com a cabeça em água, por causa das inúmeras ideias que surgem não se sabe bem de onde muito menos porquê e que se desenvolvem umas mais à solta que outras. Trás, trás, trás, outra vez por andar sempre a chatear o autor, que faz, que faz o que pode, que faz mais ainda; que ensina, dá mimo, é paciente, que se esforça, que compreende, faz a papa toda, que ama sem pedir nada em troca, pelo contrário, sinceramente. E mais umas, trás, trás, trás, ao bom leitor, sim, também. Por exigir cumplicidade, excelência a toda a hora; essa papa bem feita e saborosa e mimo, mais mimo e - a distinta lata! - amizade. Trás, trás, trás, porque nunca deixa o pobre do autor em paz e sossego, que só quer escrever e largar o texto, abandoná-lo porque já não o pode ver, não está nem aí, e se vê chamado ao quadro: "Porque é que escreveu isto?" ou "O que é que quer dizer com aquilo?" ou "Aquilo que escrevia há 20 anos era muito melhor!" O leitor não trabalha e é preguiçoso, quer o autor como dama de companhia, como amiguinho, como explicador, ora bolas para isto! Ler é difícil, requer tempo e treino, não é para todos, mas deixem lá o desgraçado do autor em paz, que às tantas nem sequer é chamado para os textos que escreveu. Por último, trás, trás, trás, muito bem sovados seriam os autores que explicam, respondem e esclarecem. Haja pachorra para tanta ânsia de ser bem entendido. Como se fosse possível.
Six Feet Under Notes: queridos Ana Cláudia, Luís Carmelo e Luís, é oficial - não aguento ver a quinta temporada de Six Feet Under. Como se não houvesse angústia suficiente, Billy deixou de tomar os comprimidos. Passarei apenas a ler os vossos posts.
Porque é que adoro Desperate Housewives (27)
"Bree, Gabrielle, Susan, and Edie are playing cards in the dining room.
Bree: Well, I have some good news. The police are finally releasing Rex's body.
Bree gets up and goes into the kitchen. Susan looks at Edie.
Edie: I'm busy. Sorry.
Susan (whispering): Edie!
Edie (whispering): She's going to read a poem."
Cena do quinto episódio da segunda série, They Asked Me Why I Believe In You.
"Bree, Gabrielle, Susan, and Edie are playing cards in the dining room.
Bree: Well, I have some good news. The police are finally releasing Rex's body.
Gabrielle: About time.
Susan: You must be so relieved.
Bree: You know, mostly I'm annoyed that the whole thing happened in the first place. I mean how in the world can anyone accuse me of murder?
Edie: Well, you are wound pretty tight. What? The super mom is always the first to snap. They've done studies.
Bree: Anyway, I was hoping that you were all free Friday morning because that's when I'll be hosting the re-burial.
Gabrielle: The what?
Bree: Look, I know it's an imposition, but Danielle is away on a class trip and Andrew is back at Camp Hennessey for a little refresher course. Well it's just gonna be a very brief and, and dignified ceremony and I was hoping that you could say a few words and, um, I'm gonna read a poem.
Gabrielle: We would love to come.
Susan: Absolutely.
Bree gets up and goes into the kitchen. Susan looks at Edie.
Edie: I'm busy. Sorry.
Susan (whispering): Edie!
Edie (whispering): She's going to read a poem."
Cena do quinto episódio da segunda série, They Asked Me Why I Believe In You.
segunda-feira, maio 01, 2006
Ninho de cucos (50)
Por causa de uma infecção urinária normal, sem nenhum tipo de complicação, o gato Varandas teve de mudar de comida. Habituado ao McDonald's Friskies e ao Kentucky Fried Whiskas, com interrupções de Iam's Light (quando se aproxima da obesidade), o gato curiosamente não estranhou o Royal Canin Urinary, com propriedades diuréticas e que o obriga a beber litros e litros de água por dia. Dir-se-ia que adora aquela comida. E que está feliz. Dorme menos, corre mais e já o apanhei a dar umas boas sapatadas num moscardo enorme - ah, predador! - cheio de ânimo e muito desperto. Nada como ter as vias urinárias desimpedidas.
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