
Eu, Charlotte Maria Quevedo, aceito honrada o convite que me foi dirigido. Esteja certa, Papoila Maria Baptista, de que cumprirei as funções de Conselheira Pré-Natal com determinação e brio durante os meses que se seguem. Qualquer desvio à norma papoliana será severamente castigado com jejuns, noitadas e t-shirts do Mickey. Sob o mandamento "dormir bem e comer melhor é bom para tudo e mesmo para a procriação" acordarei doravante, sempre com o sentido nessa pessoa que agora habita no corpo da Menina. A Papoila tem uma pessoa dentro dela, é verdade. A Papoila pode dizer que tem uma pessoa dentro dela, porque tem mesmo. E se essa pessoa tem fome, a Papoila dá; se a pessoa quer dormir, a Papoila dá. Outra das grandes vantagens da gravidez será a possibilidade de falar na primeira pessoa do plural sem parecer ridículo. A Papoila pode usar frases como: "Nós queremos almoçar no balcão do Gambrinus a partir de hoje, todos os dias", "nós queremos dormir 18 horas seguidinhas e não queremos ouvir nem um pio" e assim por diante. O plural majestático faz finalmente sentido! São essas as tão faladas maravilhas da gravidez. E assim será a labuta da Minha Menina nestes nove meses em que a acompanharei, sempre de olho numa maior lamechada proibitiva (culpa das hormonas doidas, doidas), preparada para lhe atirar com as Críticas kantianas à cabeça ao menor deslize, ao mais ligeiro esboço de pirosada.
Uma palavra para a fiel depositária da catana giratória: usa-me essa merda que tenho os bracinhos cheios de arteriosclerose.
P.S.: a t-shirt segue pelo correio.