Eros - Nível V
Judiaria
Agora você vai ouvir aquilo que merece
As coisas ficam muito boas quando a gente esquece
Mas acontece que eu não esqueci a sua covardia, a sua ingratidão
A judiaria que você um dia fez pro coitadinho do meu coração
Estas palavras que eu estou lhe falando
Têm uma verdade pura, nua e crua
Eu estou lhe mostrando a porta da rua
Pra que você saia sem eu lhe bater
Já chega um tempo que eu fiquei sozinha
Que eu fiquei sofrendo, que eu fiquei chorando
Agora quando eu estou melhorando
Você me aparece pra me aborrecer
de Lupicínio Rodrigues.
blogue de carla hilário de almeida quevedo bombainteligente@gmail.com
segunda-feira, agosto 30, 2004
I'm a sucker for weddings: a Vírgula Margarida e o Zé Mário de Esquerda casaram. O amor é lindo e o resto é uma conversa tão de chacha que até mete impressão. Muitas felicidades! Viva os noivos!
El'apópse stou Thomá...
(fotografia de: Stuart Franklin / GETTY IMAGES)
Ontem, assisti com grande emoção à cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos. Entre Alexiou e Dalaras, os Gregos cantaram, dançaram e celebraram o seu país. Desde os lenços brancos agitados pelas jovens raparigas aos badalos pesadíssimos pendurados nas cinturas dos homens, esteve alí representada um pouco da tradição grega. Muito bonito. Bravo, Elláda!
(fotografia de: Stuart Franklin / GETTY IMAGES)
Ontem, assisti com grande emoção à cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos. Entre Alexiou e Dalaras, os Gregos cantaram, dançaram e celebraram o seu país. Desde os lenços brancos agitados pelas jovens raparigas aos badalos pesadíssimos pendurados nas cinturas dos homens, esteve alí representada um pouco da tradição grega. Muito bonito. Bravo, Elláda!
domingo, agosto 29, 2004
A perfeição existe (16)
(fotografia de: Stuart Franklin / GETTY IMAGES)
A russa Irina Tchachina (na foto) ganhou a medalha de prata na competição individual de ginástica rítmica por aparelhos. Na prova de fita, um pequeno erro fez com que a medalha de ouro fosse para a sua compatriota Alina Kabaeva, medalha de bronze nos JO de Sidney. Tchachina fez beicinho. Kabaeva riu à gargalhada. Foram ambas magníficas.
(fotografia de: Clive Mason / GETTY IMAGES)
E a última medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 2004 vai para o italiano Stefano Baldini, vencedor da maratona!
Adenda: o Luís chama a minha atenção para o vencedor da medalha de bronze, o brasileiro Vanderlei de Lima, que foi abalroado por um manifestante e que mesmo assim continuou a correr, terminando a prova em terceiro lugar (quando o incidente aconteceu, Vanderlei de Lima estava em primeiro na corrida). Muito bem!
(fotografia de: Stuart Franklin / GETTY IMAGES)
A russa Irina Tchachina (na foto) ganhou a medalha de prata na competição individual de ginástica rítmica por aparelhos. Na prova de fita, um pequeno erro fez com que a medalha de ouro fosse para a sua compatriota Alina Kabaeva, medalha de bronze nos JO de Sidney. Tchachina fez beicinho. Kabaeva riu à gargalhada. Foram ambas magníficas.
(fotografia de: Clive Mason / GETTY IMAGES)
E a última medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 2004 vai para o italiano Stefano Baldini, vencedor da maratona!
Adenda: o Luís chama a minha atenção para o vencedor da medalha de bronze, o brasileiro Vanderlei de Lima, que foi abalroado por um manifestante e que mesmo assim continuou a correr, terminando a prova em terceiro lugar (quando o incidente aconteceu, Vanderlei de Lima estava em primeiro na corrida). Muito bem!
Sobre os níveis de Eros: vou no nível IV do curso de Eros e agora... agora não sei o que fazer porque cheguei a um ponto de difícil exemplificação. Para essa divisão, baseei-me nos versos do tango de Homero Expósito, Naranjo en Flor: "Primero hay que saber sufrir, después amar, después partir y al fin andar sin pensamiento..." Decidi - só porque sim - que a cada parte do percurso caberia dois níveis. Encontro-me agora no final de "amar", pronta para "partir". Mas não sei. Embora perceba perfeitamente o verso "y al fin andar sin pensamiento". Poderei saltar de nível?
sábado, agosto 28, 2004
sexta-feira, agosto 27, 2004
Bomba de Ouro: "A fúria anti-despenalização das vacas frígidas que por aí mugem, enoja-me. Note-se: o que me agonia não é que sejam anti-despenalização (posição que respeito, se defendida com tino e bom-senso), mas sim que o gritem histérica e raivosamente, com aleivosia e baixeza, e com aquele maniqueísmo próprio de quem se acha do lado dos "bons", cuja missão divina é lutar contra os "maus", os outros, os assassinos de criancinhas", de Vieira do Mar, Controversa Maresia.
quinta-feira, agosto 26, 2004
A perfeição existe (13)
(fotografia de: Mike Hewitt / GETTY IMAGES)
Embora estejamos ainda em fases de qualificação, fica a fotografia de um dos meus desportos favoritos (e que pratiquei durante muitos anos): a ginástica rítmica. Por equipas ou individual, a beleza e a graça destas ginastas nada têm a ver com aquilo a que assistimos até agora. Aqui temos a equipa chinesa porque não consegui encontrar uma imagem da equipa russa, a favorita à vitória e que apresentou um exercício de bola e arco com a banda sonora do Kill Bill vol. 1, todas vestidinhas de amarelo. Lindo, lindo.
Uma nota para a participação do nosso Obikwelu: o homem é o maior e é português! A conversa da "cidadania de segunda" é tão pobre, tão má, que nem quero pensar em semelhante coisa. Francis Obikwelu é português. Estranhamente não escolheu ser americano. Pronto. Eu agradeço-lhe e, com certeza, não sou a única. E o quinto lugar na final dos 200m é brilhante. Bravo!
(fotografia de: Mike Hewitt / GETTY IMAGES)
Embora estejamos ainda em fases de qualificação, fica a fotografia de um dos meus desportos favoritos (e que pratiquei durante muitos anos): a ginástica rítmica. Por equipas ou individual, a beleza e a graça destas ginastas nada têm a ver com aquilo a que assistimos até agora. Aqui temos a equipa chinesa porque não consegui encontrar uma imagem da equipa russa, a favorita à vitória e que apresentou um exercício de bola e arco com a banda sonora do Kill Bill vol. 1, todas vestidinhas de amarelo. Lindo, lindo.
Uma nota para a participação do nosso Obikwelu: o homem é o maior e é português! A conversa da "cidadania de segunda" é tão pobre, tão má, que nem quero pensar em semelhante coisa. Francis Obikwelu é português. Estranhamente não escolheu ser americano. Pronto. Eu agradeço-lhe e, com certeza, não sou a única. E o quinto lugar na final dos 200m é brilhante. Bravo!
quarta-feira, agosto 25, 2004
A perfeição existe (12)
(fotografia de: GETTY IMAGES)
O rapaz que vêem na foto, cheio de estilo, chama-se Allen Johnson e era um dos favoritos à vitória na corrida de 110m barreiras. Na primeira volta de qualificação, tropeçou nas barreiras, finalmente caindo de forma aparatosa na última. Ficou deitado no chão como se fosse um míúdo a rir-se para a câmara. Quando lhe perguntaram o que tinha acontecido, respondeu que estas coisas só aconteciam aos melhores, e que ele continuava a ser o melhor do mundo. Como tenho um fraco por este tipo de pessoas, fica o registo.
O leitor Jorge Bento pede-me que não esqueça o magnífico nadador Michael Phelps que sai destes JO com seis medalhas de ouro, quase igualando o total de sete medalhas ganho pelo histórico Mark Spitz. Excelente em todas as provas.
(fotografia de: GETTY IMAGES)
O rapaz que vêem na foto, cheio de estilo, chama-se Allen Johnson e era um dos favoritos à vitória na corrida de 110m barreiras. Na primeira volta de qualificação, tropeçou nas barreiras, finalmente caindo de forma aparatosa na última. Ficou deitado no chão como se fosse um míúdo a rir-se para a câmara. Quando lhe perguntaram o que tinha acontecido, respondeu que estas coisas só aconteciam aos melhores, e que ele continuava a ser o melhor do mundo. Como tenho um fraco por este tipo de pessoas, fica o registo.
O leitor Jorge Bento pede-me que não esqueça o magnífico nadador Michael Phelps que sai destes JO com seis medalhas de ouro, quase igualando o total de sete medalhas ganho pelo histórico Mark Spitz. Excelente em todas as provas.
terça-feira, agosto 24, 2004
A perfeição existe (11)
(fotografia de: Adam Pretty / GETTY IMAGES)
O nosso Rui Silva (na foto atrás com o número 9) deixou-nos ficar muito bem nos 1500 metros. Assim como o vêem, atrás de toda a gente, nada diria que desatasse a correr na última volta mais depressa do que uma bala, acabando a prova no terceiro lugar. Bravo, Rui!
(fotografia de: Adam Pretty / GETTY IMAGES)
O nosso Rui Silva (na foto atrás com o número 9) deixou-nos ficar muito bem nos 1500 metros. Assim como o vêem, atrás de toda a gente, nada diria que desatasse a correr na última volta mais depressa do que uma bala, acabando a prova no terceiro lugar. Bravo, Rui!
Blogue apagado: alguém se apoderou do Desesperada Esperança. Depois de ver o seu blogue apagado (provavelmente por grande azelhice do blogger, achava eu), eis que agora alguém se apodera do endereço do Bruno. Naturalmente, o linque já não se encontra na minha lista. O que se passou com o blogue do Bruno é uma tristeza e uma vergonha. Peço à pessoa que teve tão infeliz ideia que se redima.
segunda-feira, agosto 23, 2004
Mau perder
A leitora Ana enviou-me a seguinte notícia: "Gymnast Khorkina Says 'Judges Robbed Me'". Svetlana Khorkina, vencedora da medalha de prata no concurso de ginástica individual é uma prima donna como qualquer ginasta que se preze. A ginástica de alta competição (e mesmo a de simples exibição) presta-se à formação deste tipo de carácter: espírito aguerrido de competição, grande vaidade, exibicionismo galopante e... mau perder. Se repararem nas caras dos ginastas quando os adversários falham ou têm êxito, perceberão que ali há gente bem cabra. Ontem, Khorkina falhou de forma absurda a final por aparelhos em paralelas assimétricas. Coitadinha bem feita.
A leitora Ana enviou-me a seguinte notícia: "Gymnast Khorkina Says 'Judges Robbed Me'". Svetlana Khorkina, vencedora da medalha de prata no concurso de ginástica individual é uma prima donna como qualquer ginasta que se preze. A ginástica de alta competição (e mesmo a de simples exibição) presta-se à formação deste tipo de carácter: espírito aguerrido de competição, grande vaidade, exibicionismo galopante e... mau perder. Se repararem nas caras dos ginastas quando os adversários falham ou têm êxito, perceberão que ali há gente bem cabra. Ontem, Khorkina falhou de forma absurda a final por aparelhos em paralelas assimétricas. Coitadinha bem feita.
domingo, agosto 22, 2004
A perfeição existe (9)
Espantoso nas fases de qualificação, Francis Obikwelu ganhou a medalha de prata na final dos 100m e é um fortíssimo candidato à vitória nos 200m.
Adenda: leio no lápis de minas que, segundo o Yahoo!, Obikwelu é francês. Totós...
Espantoso nas fases de qualificação, Francis Obikwelu ganhou a medalha de prata na final dos 100m e é um fortíssimo candidato à vitória nos 200m.
Adenda: leio no lápis de minas que, segundo o Yahoo!, Obikwelu é francês. Totós...
sábado, agosto 21, 2004
A perfeição existe (8)
Após três vitórias consecutivas nos JO na categoria de halterofilismo, 85 kgs, Pyrros Dimas, da Grécia, terminou a sua exibição com a medalha de bronze. A cerimónia de entrega de medalhas demorou mais cerca de 15 minutos do que o previsto por causa da reacção comovedora do público ao aplaudir efusivamente o seu atleta, agora em final de carreira.
Após três vitórias consecutivas nos JO na categoria de halterofilismo, 85 kgs, Pyrros Dimas, da Grécia, terminou a sua exibição com a medalha de bronze. A cerimónia de entrega de medalhas demorou mais cerca de 15 minutos do que o previsto por causa da reacção comovedora do público ao aplaudir efusivamente o seu atleta, agora em final de carreira.
Eros - Nível IV
Oh pé, oh perna, oh coxas, pelas quais com razão me perco,
oh nádegas, oh púbis, oh ancas, oh ombros, oh seios,
oh colo delicado, oh braços, oh olhos que me enlouquecem,
oh andar duma arte consumada, oh beijos incomparáveis
da língua, oh gritinhos que me entontecem!
Filodemo, Antologia Palatina, epigr. 132. Tradução de Albano Martins.
Oh pé, oh perna, oh coxas, pelas quais com razão me perco,
oh nádegas, oh púbis, oh ancas, oh ombros, oh seios,
oh colo delicado, oh braços, oh olhos que me enlouquecem,
oh andar duma arte consumada, oh beijos incomparáveis
da língua, oh gritinhos que me entontecem!
Filodemo, Antologia Palatina, epigr. 132. Tradução de Albano Martins.
sexta-feira, agosto 20, 2004
A perfeição existe (7)
Kenenisa Bekele (à frente na foto), da Etiopia, venceu a corrida dos 10 000 metros com um sprint final de deixar qualquer um boquiaberto, incluindo os seus colegas de equipa Sileshi Sihine, que ficou em segundo lugar, e o histórico Haile Gebrelassie, relegado para um esforçado quinto lugar. Depois de cerca de 25 minutos de competição, Bekele fez a última volta em 53.02 segundos. Até me levantei do sofá!
Kenenisa Bekele (à frente na foto), da Etiopia, venceu a corrida dos 10 000 metros com um sprint final de deixar qualquer um boquiaberto, incluindo os seus colegas de equipa Sileshi Sihine, que ficou em segundo lugar, e o histórico Haile Gebrelassie, relegado para um esforçado quinto lugar. Depois de cerca de 25 minutos de competição, Bekele fez a última volta em 53.02 segundos. Até me levantei do sofá!
quinta-feira, agosto 19, 2004
A perfeição existe (6)
A norte-americana Carly Patterson venceu o concurso individual de ginástica dos JO, deixando para trás Svetlana Khorkina (na foto), a veterana russa. Queen Khorkina (que dá ares de Uma Thurman) festejou a sua medalha de prata como se tivesse ganho a de ouro. E com todo o direito, porque é uma ginasta brilhante.
A norte-americana Carly Patterson venceu o concurso individual de ginástica dos JO, deixando para trás Svetlana Khorkina (na foto), a veterana russa. Queen Khorkina (que dá ares de Uma Thurman) festejou a sua medalha de prata como se tivesse ganho a de ouro. E com todo o direito, porque é uma ginasta brilhante.
quarta-feira, agosto 18, 2004
Bomba de Ouro: "um post, lá por ser publicado não quer dizer que seja público...", de Diogo Belford Henriques, em NQdI.
Já agora (actualizado)
alguém me explica porque é que o vólei de praia é uma modalidade olímpica?
Reacções: o Jorge Palinhos, que aproveito para saudar na sua nova vida na blogosfera, lembra mais uma modalidade olímpica obscura, que consiste em alisar o chão o mais rapidamente possível: o curling. Não se percebe. É que não se percebe.
Ao João parece óbvio que os corpos de biquini das jogadoras de vólei de praia sejam a explicação acertada para a existência dessa modalidade. João, mulher sem cintura não tem, nem terá nunca formosura. Haverá quem fique iludido por rabiosques firmes. Percebo. Mas temos de exigir mais da vida.
O meu querido amigo João Pedro alerta-me, por e-mail, que além de as jogadoras não terem cintura, não têm também (e como se fosse pouco) tornozelos. E assim o vólei de praia passa à categoria de freak show.
O Filipe escreve-me e avança com a seguinte explicação: "É modalidade olimpica porque é giro, está na moda, gera dinheiro e patrocínios." Lá está: o vil metal! Mas quero ver contas, números, relatórios que provem que aquilo (o vólei de praia) é um bom negócio. Talvez.
O António, também por e-mail, diz o seguinte: "Bom... se a água, a relva, os diferentes pavimentos (e.g., tartan) fazem parte dos jogos, porque não meter também a areia? Assim se questionou o COI e então meteram o vólei de praia. Há quem fale em pressões de concessionários de praias, da indústria de extracção de areias. Não sei. Sei que a probidade do COI tanto o abriga das pressões interesseiras como dos desejos acovilhados no inconsciente de cada membro. Prevaleceu uma espécie de racionalidade ecológica, na escolha desta modalidade olímpica." Com que então "racionalidade ecológica"? Nada como uma explicação gira para animar neste dia chuvoso.
O Daniel defende que temos de ser tolerantes com todas as modalidades, mesmo com aquelas que nos parecem coitadinhas: "Eu próprio abomino, por exemplo, o halterofilismo. Acho a ginástica uma seca total. Contudo, devo, dentro do espírito olímpico, negar os meus gostos, respeitar os atletas, ver e tentar compreender a competição... É a minha humilde contribuição para a glorificação de quem trabalhou para, por momentos, estar no pedestal, para receber a coroa de louros (já viu que bela ideia, nestes jogos, tiveram?)" Tem razão. Mas não haverá ninguém que diga "ó Stolichnaya, porque é que não tentas o pentatlo, em vez de estares aí a mexer os dedos atrás das costas?" E a ideia da coroa de louros (ramos de oliveira como recebiam os atletas antigos) é muito bonita.
O Zedtee não tem pachorra para o vólei de praia. My feelings exactly. O bom mesmo é que já acabou. Iupi!
alguém me explica porque é que o vólei de praia é uma modalidade olímpica?
Reacções: o Jorge Palinhos, que aproveito para saudar na sua nova vida na blogosfera, lembra mais uma modalidade olímpica obscura, que consiste em alisar o chão o mais rapidamente possível: o curling. Não se percebe. É que não se percebe.
Ao João parece óbvio que os corpos de biquini das jogadoras de vólei de praia sejam a explicação acertada para a existência dessa modalidade. João, mulher sem cintura não tem, nem terá nunca formosura. Haverá quem fique iludido por rabiosques firmes. Percebo. Mas temos de exigir mais da vida.
O meu querido amigo João Pedro alerta-me, por e-mail, que além de as jogadoras não terem cintura, não têm também (e como se fosse pouco) tornozelos. E assim o vólei de praia passa à categoria de freak show.
O Filipe escreve-me e avança com a seguinte explicação: "É modalidade olimpica porque é giro, está na moda, gera dinheiro e patrocínios." Lá está: o vil metal! Mas quero ver contas, números, relatórios que provem que aquilo (o vólei de praia) é um bom negócio. Talvez.
O António, também por e-mail, diz o seguinte: "Bom... se a água, a relva, os diferentes pavimentos (e.g., tartan) fazem parte dos jogos, porque não meter também a areia? Assim se questionou o COI e então meteram o vólei de praia. Há quem fale em pressões de concessionários de praias, da indústria de extracção de areias. Não sei. Sei que a probidade do COI tanto o abriga das pressões interesseiras como dos desejos acovilhados no inconsciente de cada membro. Prevaleceu uma espécie de racionalidade ecológica, na escolha desta modalidade olímpica." Com que então "racionalidade ecológica"? Nada como uma explicação gira para animar neste dia chuvoso.
O Daniel defende que temos de ser tolerantes com todas as modalidades, mesmo com aquelas que nos parecem coitadinhas: "Eu próprio abomino, por exemplo, o halterofilismo. Acho a ginástica uma seca total. Contudo, devo, dentro do espírito olímpico, negar os meus gostos, respeitar os atletas, ver e tentar compreender a competição... É a minha humilde contribuição para a glorificação de quem trabalhou para, por momentos, estar no pedestal, para receber a coroa de louros (já viu que bela ideia, nestes jogos, tiveram?)" Tem razão. Mas não haverá ninguém que diga "ó Stolichnaya, porque é que não tentas o pentatlo, em vez de estares aí a mexer os dedos atrás das costas?" E a ideia da coroa de louros (ramos de oliveira como recebiam os atletas antigos) é muito bonita.
O Zedtee não tem pachorra para o vólei de praia. My feelings exactly. O bom mesmo é que já acabou. Iupi!
terça-feira, agosto 17, 2004
segunda-feira, agosto 16, 2004
A perfeição existe (3)
A equipa masculina japonesa de ginástica tirou a medalha de ouro aos americanos com três exibições na barra fixa de "muito difícil execução", segundo ouvi dizer o comentador. Eu vi e, meu Deus, como concordo! É o destaque deste terceiro dia, olarila!
Mas não é o único: a dupla masculina chinesa, Bo Peng e Kenan Wang, falhou horrivelmente o salto que lhe daria acesso à vitória na modalidade de mergulho sincronizado em prancha de três metros. Não sei se Peng se Wang teve aquilo a que o comentador chamou "uma falha no processo mental, que acontece neste tipo de desporto e que é incontrolável, por mais que se treine". Ou seja, perdeu o sentido de orientação no ar. Desisti de ver o resto da final depois da queda desamparada na água (até fiquei mal disposta). Sei que não é um exemplo de perfeição, mas passa a ser: de expectativa de perfeição.
A equipa masculina japonesa de ginástica tirou a medalha de ouro aos americanos com três exibições na barra fixa de "muito difícil execução", segundo ouvi dizer o comentador. Eu vi e, meu Deus, como concordo! É o destaque deste terceiro dia, olarila!
Mas não é o único: a dupla masculina chinesa, Bo Peng e Kenan Wang, falhou horrivelmente o salto que lhe daria acesso à vitória na modalidade de mergulho sincronizado em prancha de três metros. Não sei se Peng se Wang teve aquilo a que o comentador chamou "uma falha no processo mental, que acontece neste tipo de desporto e que é incontrolável, por mais que se treine". Ou seja, perdeu o sentido de orientação no ar. Desisti de ver o resto da final depois da queda desamparada na água (até fiquei mal disposta). Sei que não é um exemplo de perfeição, mas passa a ser: de expectativa de perfeição.
domingo, agosto 15, 2004
sábado, agosto 14, 2004
A perfeição existe (1)
A dupla chinesa Wu Minxia e Guo Jingjing ganhou a medalha de ouro na modalidade de mergulho sincronizado, e é o meu destaque do primeiro dia dos JO.
A dupla chinesa Wu Minxia e Guo Jingjing ganhou a medalha de ouro na modalidade de mergulho sincronizado, e é o meu destaque do primeiro dia dos JO.
Ando a treinar a escrita sincronizada...
A dupla chinesa Wu Minxia e Guo Jingjing ganhou a medalha de ouro na modalidade de mergulho sincronizado, e é o meu destaque do primeiro dia dos JO.
A dupla chinesa Wu Minxia e Guo Jingjing ganhou a medalha de ouro na modalidade de mergulho sincronizado, e é o meu destaque do primeiro dia dos JO.
Ando a treinar a escrita sincronizada...
sexta-feira, agosto 13, 2004
quarta-feira, agosto 11, 2004
Eros - Nível III
É preciso muito amor
É preciso muito amor
para suportar essa mulher.
Tudo que ela vê
numa vitrini
ela quer.
Tudo que ela quer
tehno que dá sem reclamar.
Porque se não, ela chora
e diz que vai embora, oh
diz que vai embora.
Pra satisfazer essa mulher
Eu faço das tripas coração.
Pra ela sempre digo sim.
Pra ela nunca digo não.
Porque se não, ela chora
e diz que vai embora, oh
diz que vai embora.
Samba de Noca da Portela. Em boa hora, a minha querida amiga e madrinha Maria João lembrou esta letra fantástica (olha como está escrito "vitrini"!). Beijos!
É preciso muito amor
É preciso muito amor
para suportar essa mulher.
Tudo que ela vê
numa vitrini
ela quer.
Tudo que ela quer
tehno que dá sem reclamar.
Porque se não, ela chora
e diz que vai embora, oh
diz que vai embora.
Pra satisfazer essa mulher
Eu faço das tripas coração.
Pra ela sempre digo sim.
Pra ela nunca digo não.
Porque se não, ela chora
e diz que vai embora, oh
diz que vai embora.
Samba de Noca da Portela. Em boa hora, a minha querida amiga e madrinha Maria João lembrou esta letra fantástica (olha como está escrito "vitrini"!). Beijos!
Se a vida é chata nem a velhice escapa
Cícero, em 44 a.C., com 62 anos de idade, idade respeitável no mundo antigo (os meus sinceros agradecimentos ao Rui Oliveira por me ter corrigido) escreveu, Cato Maior De Senectute, uma conversa com Catão-o-Velho sobre as vantagens (segundo Cícero) da velhice. Parece-me normal e prova de sabedoria que se defenda a velhice quando se tem 62 anos em 44 a.C. e se é filósofo e sábio. O que estranho é a proliferação de gente jovem que, em vez de andar a saltar à corda e a jogar à apanhada, se preocupa seriamente com o envelhecimento; que quer ser velha, ou pior: que não percebe que ser velho com vinte ou trinta anos é patético, a menos que se seja muito bom (aliás, a quem é bom, tudo se perdoa. Lembro-me, por exemplo, de Kavafis que escreveu, com quarenta anos, poemas belíssimos sobre este tema).
Dizia Cícero: "Nunca concordei com esse antigo provérbio tão celebrado que aconselha: 'envelhece antes do tempo se desejas permanecer eternamente velho'. A falar a verdade, sempre preferi tornar-me velho no momento certo a ter de envelhecer antecipadamente." (10.32) Pois. Cada coisa a seu tempo. As boas vidas resultam em boas velhices (3.9), o que me leva a pensar que o problema não é envelhecermos, mas o que somos, e claro, como vivemos (a velhice não é igual para todos).
E porque tudo é efémero, como disse Mimnermo, que achava que era melhor morrer depressa porque a velhice só trazia maleitas, ruína e tristeza (Hélade, p. 112): "pouco dura o fruto da juventude - o tempo de o sol derramar a sua luz sobre a terra", ou mesmo como cantou Carlos Gardel em Volver: "sentir, que es un soplo la vida, que veinte años no es nada, que febril la mirada errante en las sombras te busca y te nombra", é bom que aproveitemos muito bem a juventude (será este o início do hedonismo?). Viver bem para bem envelhecer parece-me uma sábia e óptima receita. Obrigada, Marco Túlio Cícero.
Cícero, em 44 a.C., com 62 anos de idade, idade respeitável no mundo antigo (os meus sinceros agradecimentos ao Rui Oliveira por me ter corrigido) escreveu, Cato Maior De Senectute, uma conversa com Catão-o-Velho sobre as vantagens (segundo Cícero) da velhice. Parece-me normal e prova de sabedoria que se defenda a velhice quando se tem 62 anos em 44 a.C. e se é filósofo e sábio. O que estranho é a proliferação de gente jovem que, em vez de andar a saltar à corda e a jogar à apanhada, se preocupa seriamente com o envelhecimento; que quer ser velha, ou pior: que não percebe que ser velho com vinte ou trinta anos é patético, a menos que se seja muito bom (aliás, a quem é bom, tudo se perdoa. Lembro-me, por exemplo, de Kavafis que escreveu, com quarenta anos, poemas belíssimos sobre este tema).
Dizia Cícero: "Nunca concordei com esse antigo provérbio tão celebrado que aconselha: 'envelhece antes do tempo se desejas permanecer eternamente velho'. A falar a verdade, sempre preferi tornar-me velho no momento certo a ter de envelhecer antecipadamente." (10.32) Pois. Cada coisa a seu tempo. As boas vidas resultam em boas velhices (3.9), o que me leva a pensar que o problema não é envelhecermos, mas o que somos, e claro, como vivemos (a velhice não é igual para todos).
E porque tudo é efémero, como disse Mimnermo, que achava que era melhor morrer depressa porque a velhice só trazia maleitas, ruína e tristeza (Hélade, p. 112): "pouco dura o fruto da juventude - o tempo de o sol derramar a sua luz sobre a terra", ou mesmo como cantou Carlos Gardel em Volver: "sentir, que es un soplo la vida, que veinte años no es nada, que febril la mirada errante en las sombras te busca y te nombra", é bom que aproveitemos muito bem a juventude (será este o início do hedonismo?). Viver bem para bem envelhecer parece-me uma sábia e óptima receita. Obrigada, Marco Túlio Cícero.
terça-feira, agosto 10, 2004
segunda-feira, agosto 09, 2004
Eros - Nível II
Nervos de Aço*
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Nos braços de um outro qualquer
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nem um pedaço do seu pode ser
Há pessoas de nervos de aço
Sem sangue nas veias e sem coração
Mas não sei se passando o que eu passo
Talvez não lhes venha qualquer reação
Eu não sei se o que trago no peito
É ciúme, despeito, amizade ou horror
Eu só sei é que quando a vejo
Me dá um desejo de morte ou de dor
*de Lupicínio Rodrigues. E se isto não é um tango, vou ali e já venho.
Nervos de Aço*
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Nos braços de um outro qualquer
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nem um pedaço do seu pode ser
Há pessoas de nervos de aço
Sem sangue nas veias e sem coração
Mas não sei se passando o que eu passo
Talvez não lhes venha qualquer reação
Eu não sei se o que trago no peito
É ciúme, despeito, amizade ou horror
Eu só sei é que quando a vejo
Me dá um desejo de morte ou de dor
*de Lupicínio Rodrigues. E se isto não é um tango, vou ali e já venho.
Eros - Nível I
Loucura*
E aí, comecei a cometer loucuras
Era um verdadeiro inferno, uma tortura
O que eu sofria por aquele amor
Milhões de diabinhos martelando
Meu pobre coração / Que agonizando
Já não podia mais de tanta dor
E aí, comecei a cantar verso triste
O mesmo verso que até hoje existe
Na boca triste / De algum sofredor
Como é que existe alguém
Que ainda tem coragem
De dizer que os meus versos
Não contém a mensagem
São palavras frias sem nenhum valor
Oh Deus será que o senhor não está vendo isto
Então por que o Senhor mandou o Cristo
Aqui na terra / Semear o amor
Se quando existe alguém que ama de verdade
Serve de riso para a humanidade
É um covarde, um fraco / Um sonhador
Se é que hoje está tudo tão diferente
Porque não deixa eu mostrar a essa gente
Que ainda existe o verdadeiro amor
Faça ela voltar de novo ao meu lado
Eu me sujeito a ser sacrificado
Salve este mundo com a minha dor
*de Lupicínio Rodrigues.
Loucura*
E aí, comecei a cometer loucuras
Era um verdadeiro inferno, uma tortura
O que eu sofria por aquele amor
Milhões de diabinhos martelando
Meu pobre coração / Que agonizando
Já não podia mais de tanta dor
E aí, comecei a cantar verso triste
O mesmo verso que até hoje existe
Na boca triste / De algum sofredor
Como é que existe alguém
Que ainda tem coragem
De dizer que os meus versos
Não contém a mensagem
São palavras frias sem nenhum valor
Oh Deus será que o senhor não está vendo isto
Então por que o Senhor mandou o Cristo
Aqui na terra / Semear o amor
Se quando existe alguém que ama de verdade
Serve de riso para a humanidade
É um covarde, um fraco / Um sonhador
Se é que hoje está tudo tão diferente
Porque não deixa eu mostrar a essa gente
Que ainda existe o verdadeiro amor
Faça ela voltar de novo ao meu lado
Eu me sujeito a ser sacrificado
Salve este mundo com a minha dor
*de Lupicínio Rodrigues.
domingo, agosto 08, 2004
Bravo! Sigo com interesse, nos blogues Aviz e O céu sobre Lisboa, a discussão sobre o estado da língua portuguesa e o seu empobrecimento, e com alegria vejo as palavras "blogue" e "linque" escritas no blogue do Pedro Ornelas.
Adenda: o Impensável diz que eu acho que se deve escrever "linque". Calma. Nada disso. Julgo que é divertido escrever "linque", mas não o faria noutro contexto que não o do meu blogue ou de e-mails com amigos muito embrenhados na blogosfera. Fora deste espaço, utilizo link, embora por vezes arrisque a escrever o aportuguesado blogue e não blog.
Adenda: o Impensável diz que eu acho que se deve escrever "linque". Calma. Nada disso. Julgo que é divertido escrever "linque", mas não o faria noutro contexto que não o do meu blogue ou de e-mails com amigos muito embrenhados na blogosfera. Fora deste espaço, utilizo link, embora por vezes arrisque a escrever o aportuguesado blogue e não blog.
Passagem do tempo, destino ou dor-de-cotovelo*?
Esses moços, pobres moços
Ah! se soubessem o que eu sei
Não amavam, não passavam, aquilo que eu já passei
Por meus olhos, por meus sonhos
Por meu sangue, tudo enfim
É que eu peço a esses moços que acreditem em mim
Se eles julgam que a um lindo futuro
Só o amor nesta vida conduz
Saibam que deixam o céu por ser escuro
E vão ao inferno, a procura de luz
Eu também tive, nos meus belos dias
Esta mania que muito me custou
Pois só as mágoas que eu trago hoje em dia
E estas rugas que o amor me deixou
*Criador do termo e da letra, o extraordinário Lupicínio Rodrigues. Mais sobre o autor aqui e aqui.
Esses moços, pobres moços
Ah! se soubessem o que eu sei
Não amavam, não passavam, aquilo que eu já passei
Por meus olhos, por meus sonhos
Por meu sangue, tudo enfim
É que eu peço a esses moços que acreditem em mim
Se eles julgam que a um lindo futuro
Só o amor nesta vida conduz
Saibam que deixam o céu por ser escuro
E vão ao inferno, a procura de luz
Eu também tive, nos meus belos dias
Esta mania que muito me custou
Pois só as mágoas que eu trago hoje em dia
E estas rugas que o amor me deixou
*Criador do termo e da letra, o extraordinário Lupicínio Rodrigues. Mais sobre o autor aqui e aqui.
sábado, agosto 07, 2004
sexta-feira, agosto 06, 2004
quinta-feira, agosto 05, 2004
Curso básico e intensivo sobre Eros
Marilyn Monroe,1953
O tema do eros foi tratado na literatura antiga com inúmeras referências desde os epigramas reunidos na Antologia Palatina a O Banquete e Fedro, de Platão. A maneira como o eros é interpretado por diferentes autores - como força dinamizadora ou personificado em criança alada - faz-nos acreditar que se tratava de um deus difícil de caracterizar, dúbio, algo traiçoeiro, pouco coerente, mas apesar de tudo, motivo de desculpa dos actos de loucura cometidos por quem por ele era tocado.
Eros, o deus do amor, é fundamental para a manutenção do cosmo, para uma coesão na ordem das coisas. Habitualmente representado na forma de uma criança alada, Eros toma a atitude infantil que lhe parece própria, apesar de sob a capa de aparente fragilidade e inocência se adivinhar um deus poderoso e capaz de desferir golpes cruéis consoante os seus caprichos.
Embora não surja personificado em Homero, Eros aparece tanto na Ilíada como na Odisseia com o significado de um desejo físico muito forte e violento que une Páris e Helena (Il. III, 442) e que abala os pretendentes de Penélope, enfraquecendo-lhes os joelhos e enfeitiçando-os (Od. XVIII, 212-213). Hesíodo, na Teogonia, terá desenvolvido esta concepção do deus que perturba os membros e baralha a mente, considerando-o o deus mais belo e um dos mais antigos, juntamente com Geia e Tártaro, capaz de unir contrastes e opostos.
A paternidade de Eros é também contada a Sócrates por Diotima de Mantineia, em O Banquete, e a sua origem divina relegada para segundo plano (203b-c). Embora Eros seja filho das divindades Engenho e Pobreza, e tenha sido concebido no dia do nascimento de Afrodite - que sempre acompanha -, não é considerado um deus, alterando assim a sua imagem tradicional, apresentada no diálogo por Ágaton. Ainda segundo Diotima, Eros é um ser genial, um mediador entre o humano e o divino (202e), o que contribui para a recuperação da ideia de eros como uma força unificadora e conciliadora de opostos. O Eros descrito por Diotima tem o poder de transportar a alma para o Belo (ou para o Bem) e funciona como uma espécie de intermediário entre os homens e os deuses.
A partir daqui, passamos para o segundo nível. Ou chumbamos.
Adenda: o Nuno lembra o cantor pimba Eros Ramazotti. E poderia Eros R. ter sido outra coisa?
Marilyn Monroe,1953
O tema do eros foi tratado na literatura antiga com inúmeras referências desde os epigramas reunidos na Antologia Palatina a O Banquete e Fedro, de Platão. A maneira como o eros é interpretado por diferentes autores - como força dinamizadora ou personificado em criança alada - faz-nos acreditar que se tratava de um deus difícil de caracterizar, dúbio, algo traiçoeiro, pouco coerente, mas apesar de tudo, motivo de desculpa dos actos de loucura cometidos por quem por ele era tocado.
Eros, o deus do amor, é fundamental para a manutenção do cosmo, para uma coesão na ordem das coisas. Habitualmente representado na forma de uma criança alada, Eros toma a atitude infantil que lhe parece própria, apesar de sob a capa de aparente fragilidade e inocência se adivinhar um deus poderoso e capaz de desferir golpes cruéis consoante os seus caprichos.
Embora não surja personificado em Homero, Eros aparece tanto na Ilíada como na Odisseia com o significado de um desejo físico muito forte e violento que une Páris e Helena (Il. III, 442) e que abala os pretendentes de Penélope, enfraquecendo-lhes os joelhos e enfeitiçando-os (Od. XVIII, 212-213). Hesíodo, na Teogonia, terá desenvolvido esta concepção do deus que perturba os membros e baralha a mente, considerando-o o deus mais belo e um dos mais antigos, juntamente com Geia e Tártaro, capaz de unir contrastes e opostos.
A paternidade de Eros é também contada a Sócrates por Diotima de Mantineia, em O Banquete, e a sua origem divina relegada para segundo plano (203b-c). Embora Eros seja filho das divindades Engenho e Pobreza, e tenha sido concebido no dia do nascimento de Afrodite - que sempre acompanha -, não é considerado um deus, alterando assim a sua imagem tradicional, apresentada no diálogo por Ágaton. Ainda segundo Diotima, Eros é um ser genial, um mediador entre o humano e o divino (202e), o que contribui para a recuperação da ideia de eros como uma força unificadora e conciliadora de opostos. O Eros descrito por Diotima tem o poder de transportar a alma para o Belo (ou para o Bem) e funciona como uma espécie de intermediário entre os homens e os deuses.
A partir daqui, passamos para o segundo nível. Ou chumbamos.
Adenda: o Nuno lembra o cantor pimba Eros Ramazotti. E poderia Eros R. ter sido outra coisa?
terça-feira, agosto 03, 2004
Ninho de cucos (3)
Francis Bacon, Oedipus and the Sphinx after Ingres, 1983
Sempre que leio o enigma da Esfinge
há no mundo um ser com dois, quatro, três pés
e que tem sempre a mesma voz. Ele é o único, de quantos
se arrastam na terra, sobem no ar e mergulham
no abismo, cuja postura muda
penso que de nada valeu a Édipo ter respondido acertadamente.
Francis Bacon, Oedipus and the Sphinx after Ingres, 1983
Sempre que leio o enigma da Esfinge
há no mundo um ser com dois, quatro, três pés
e que tem sempre a mesma voz. Ele é o único, de quantos
se arrastam na terra, sobem no ar e mergulham
no abismo, cuja postura muda
penso que de nada valeu a Édipo ter respondido acertadamente.
segunda-feira, agosto 02, 2004
Said sobre Kavafis: Edward Said escreveu que Kavafis nunca publicou nenhum poema em vida (e em morte então...). É falso. Kavafis publicou muitos dos seus poemas e, em 1904, persuadido pelos amigos, publicou um livro com apenas catorze poemas. Não enviou nenhum exemplar aos críticos. Embora preferisse mostrar os poemas aos amigos, deixou que fossem publicados em revistas como Nea Zoe e Ta Grammata. Segundo o seu primeiro biógrafo, Timos Malanos, Kavafis tinha uma espécie de terror patológico da opinião do público. Ou isso, ou sabia que os seus poemas só seriam compreendidos por muito poucos. We will never know.
Ler no escuro: sabia que pode ler no quarto até às tantas da noite sem ser o chato que tem sempre a luz acesa? Ah, pois pode.
domingo, agosto 01, 2004
Sobre a manipulação
A grande filhadaputice é amar, dar tudo, cama, comida, roupa lavada, carinho, elogios e mimos e depois, um dia, dizer que não. Sem grande sentido. Desviar o olhar, deixar de ligar e desaparecer. Se o outro tiver alguma dignidade e auto-estima, sobrevive; se não, fica mal. Muito mal. E o problema, no meio disto tudo, está sempre no outro. Embora não pareça.
A grande filhadaputice é amar, dar tudo, cama, comida, roupa lavada, carinho, elogios e mimos e depois, um dia, dizer que não. Sem grande sentido. Desviar o olhar, deixar de ligar e desaparecer. Se o outro tiver alguma dignidade e auto-estima, sobrevive; se não, fica mal. Muito mal. E o problema, no meio disto tudo, está sempre no outro. Embora não pareça.
Subscrever:
Mensagens (Atom)