blogue de carla hilário de almeida quevedo bombainteligente@gmail.com
quarta-feira, março 31, 2004
Temos uma sessão de chapada blogosférica a decorrer entre a Papoila e a Maria Limonada. Tem sido uma discussão acesa, animada e bruta, como convém. Podem pensar que do que gosto mesmo é de ver o circo a pegar fogo. E pensam bem. Sobretudo agora que me sinto uma espécie de anciã de bengalinha, cansada de me meter em zaragatas e bulhas de cão e gato, já sem forças para sussurrar sequer o meu tão amado ge-ta-li-fe, mas orgulhosa das amigas jovens de sangue na guelra e pêlo na venta (espera! pêlos é que não). O que esperava a Maria Limonada ao meter-se com a Papoila? Ai, ai… estas gaiatas… De uma inconsciência, esta miudagem… Pronto, lá teve de levar a mordidela do mês. E eu que até sou uma bota-de-elástico nestas coisas da adopção de crianças por casais homossexuais. Coisas.
terça-feira, março 30, 2004
Leio o texto em baixo e reconheço-lhe uma série de buracos - de crateras! -, além de ter bocejado aí umas dez vezes de seguida num curtíssimo espaço de tempo. Mas calma! Nada de excitações. A neurose é coisa séria mas complicada de resolver. E as varinhas mágicas deste mundo em que baú estarão metidas? Aquela coisa do abracadabra e está tudo perfeito é que era... diabos. Olhem, como diz a triciclofeliz, a dos olhos pulcros, merdinha para isto.
segunda-feira, março 29, 2004
Sobre a leitura, a escrita e a neurose
Nota inicial: este texto refere-se à leitura e à escrita de textos de análise ou de opinião.
As pessoas não sabem ler. Mesmo as que o sabem, não o sabem de facto e mesmo as que lêem muito bem e que não só percebem o que lêem como, ainda por cima, desenvolvem o que acabaram de ler, também, um dia, hão-de ler mal. Não há volta a dar-lhe. Estamos todos metidos neste panelão de mal-entendidos. Essa incapacidade na leitura ou ausência de talento ou falta de concentração atinge o seu auge na blogosfera. E quem não sabe ler, muito dificilmente saberá escrever e a confusão instala-se. Lemos mal algo que por sua vez está mal escrito e que não oferece nenhuma outra hipótese excepto a de ser mal lido. E não saímos daqui.
A meu ver, há um problema principal que contribui para uma leitura errada e uma escrita pior: a neurose. E a neurose consiste em (resumindo) deslocar os problemas. Exemplo de neurose na escrita é o insulto deslocado que muito se lê pela blogosfera fora: o blogueador ataca x ou y porque não pode atacar o patrão, ou o funcionário, ou o marido, ou a mulher ou o carteiro, seja quem for que de facto deseja insultar, mas que não o faz por confundir os sujeitos. Quando os blogueadores insultados não respondem, lá voltam os escritores neuróticos à carga. E é assim que o silêncio dos insultados funciona como um espaço de libertação para os ferozes insultadores. “Ah, o gajo está calado, ‘bora bater mais porque ele não responde.” Ora no dia em que o blogueador insultado se cansa do papel que não pediu a ninguém – o de psiquiatra, que ouve, ouve e nada diz – e responde à letra, o insultador, de corajoso escriba anónimo passa a ratazana de esgoto e desaparece. A neurose passa a medo e fica tudo bem. O equilíbrio é restabelecido.
Outro problema é o da neurose na leitura. Aliás, o problema começa aqui. E o que é isto de ler “outra coisa”? É uma chatice. Lê-se “outra coisa” por muitas razões, mas sobretudo porque a coisa que importa resolver não foi resolvida e, de repente, há uma possibilidade de a ver resolvida ali. Quando lê “outra coisa”, responde a essa “outra coisa” e a bola de neve vai rolando e aumentando.
Por isso, não há nada a perder. Eu sei que serei inevitavelmente mal interpretada por alguém. Há-de haver sempre alguém que lerá tudo ao contrário, por estar o próprio “todo ao contrário”. A responsabilidade não é tanto a de quem escreve, mas a de quem (e como) lê. E para ler bem é preciso ter a cabeça bem arejada e sim: é preciso ser saudável. Mesmo assim não há garantias de uma boa leitura, mas pelo menos há uma maior probabilidade de compreensão do que está escrito. Felizmente, há no mundo pessoas saudáveis e bons leitores. E uns são muitas, muitas vezes, os outros.
E não, não vou agora falar do preconceito. Fica para a próxima.
Nota inicial: este texto refere-se à leitura e à escrita de textos de análise ou de opinião.
As pessoas não sabem ler. Mesmo as que o sabem, não o sabem de facto e mesmo as que lêem muito bem e que não só percebem o que lêem como, ainda por cima, desenvolvem o que acabaram de ler, também, um dia, hão-de ler mal. Não há volta a dar-lhe. Estamos todos metidos neste panelão de mal-entendidos. Essa incapacidade na leitura ou ausência de talento ou falta de concentração atinge o seu auge na blogosfera. E quem não sabe ler, muito dificilmente saberá escrever e a confusão instala-se. Lemos mal algo que por sua vez está mal escrito e que não oferece nenhuma outra hipótese excepto a de ser mal lido. E não saímos daqui.
A meu ver, há um problema principal que contribui para uma leitura errada e uma escrita pior: a neurose. E a neurose consiste em (resumindo) deslocar os problemas. Exemplo de neurose na escrita é o insulto deslocado que muito se lê pela blogosfera fora: o blogueador ataca x ou y porque não pode atacar o patrão, ou o funcionário, ou o marido, ou a mulher ou o carteiro, seja quem for que de facto deseja insultar, mas que não o faz por confundir os sujeitos. Quando os blogueadores insultados não respondem, lá voltam os escritores neuróticos à carga. E é assim que o silêncio dos insultados funciona como um espaço de libertação para os ferozes insultadores. “Ah, o gajo está calado, ‘bora bater mais porque ele não responde.” Ora no dia em que o blogueador insultado se cansa do papel que não pediu a ninguém – o de psiquiatra, que ouve, ouve e nada diz – e responde à letra, o insultador, de corajoso escriba anónimo passa a ratazana de esgoto e desaparece. A neurose passa a medo e fica tudo bem. O equilíbrio é restabelecido.
Outro problema é o da neurose na leitura. Aliás, o problema começa aqui. E o que é isto de ler “outra coisa”? É uma chatice. Lê-se “outra coisa” por muitas razões, mas sobretudo porque a coisa que importa resolver não foi resolvida e, de repente, há uma possibilidade de a ver resolvida ali. Quando lê “outra coisa”, responde a essa “outra coisa” e a bola de neve vai rolando e aumentando.
Por isso, não há nada a perder. Eu sei que serei inevitavelmente mal interpretada por alguém. Há-de haver sempre alguém que lerá tudo ao contrário, por estar o próprio “todo ao contrário”. A responsabilidade não é tanto a de quem escreve, mas a de quem (e como) lê. E para ler bem é preciso ter a cabeça bem arejada e sim: é preciso ser saudável. Mesmo assim não há garantias de uma boa leitura, mas pelo menos há uma maior probabilidade de compreensão do que está escrito. Felizmente, há no mundo pessoas saudáveis e bons leitores. E uns são muitas, muitas vezes, os outros.
E não, não vou agora falar do preconceito. Fica para a próxima.
domingo, março 28, 2004
Etimologia hebdomadária
A palavra para hoje é ciclotimia. Ora kúklos está-se mesmo a ver que significa círculo. Já traduzir thymós é uma tarefa mais difícil. Thymós será o ânimo, os humores, as paixões. A ciclotimia é um desvio de personalidade ou uma doença que se caracteriza pela instabilidade marcada de humores: de manhã, eufórico e à noite deprimido. Sim, somos todos um nadinha neuróticos, mas não, não somos todos ciclotímicos.
A palavra para hoje é ciclotimia. Ora kúklos está-se mesmo a ver que significa círculo. Já traduzir thymós é uma tarefa mais difícil. Thymós será o ânimo, os humores, as paixões. A ciclotimia é um desvio de personalidade ou uma doença que se caracteriza pela instabilidade marcada de humores: de manhã, eufórico e à noite deprimido. Sim, somos todos um nadinha neuróticos, mas não, não somos todos ciclotímicos.
Os últimos dias de Immanuel Kant, de Thomas de Quincey, (muito bem) traduzido por José Miguel Silva e editado pela Relógio d'Água, é um livro cuja leitura aconselho. O génio filosófico de Kant é muitas vezes difícil de entender, mas nada que não se consiga com trabalho, entusiasmo e dedicação. Nesta minibiografia de Kant, conta-se como a nobreza de atitude coincidia (ou seria uma consequência ou talvez uma causa) com o que escrevia. Fica um excerto longo do texto para aguçar a curiosidade de ler.
"Não havia nenhum amigo que não considerasse dia de prazer festivo o dia em que almoçava em casa de Kant. Sem que se desse ares de mestre, Kant era-o de facto e em sumo grau. A tertúlia era toda ela sazonada pela sua exuberante inteligência, que incidia com naturalidade e sem afectação sobre todos os tópicos à medida que os caprichos da conversação os iam sugerindo, e o tempo fluía com rapidez da uma às quatro, cinco da tarde, ou mais até, de forma agradável e frutuosa. Kant não admitia calmarias, que era o termo que empregava para nomear as pausas momentâneas na conversa, quando a vivacidade se reduz. De um modo ou de outro, arranjava sempre maneira de reacender o seu interesse; e nisso era servido pelo tacto com que sabia sondar os interesses particulares de cada convidado ou a natureza dos seus estudos; e acerca desses temas, fossem quais fossem, sabia sempre falar com conhecimento de causa e com fascínio de um observador original. Os acontecimentos locais de Königsberg só conquistavam espaço à sua mesa quando assumiam real importância. E, o que pode parecer ainda mais singular, Kant raramente, ou mesmo nunca, dirigia a conversa para alguns dos ramos da filosofia que fundara. De facto, estava completamente isento dessa falha, que afecta tantos savants e literati, de não tolerar a presença de pessoas cujos estudos lhes pudessem ter barrado qualquer simpatia pelas suas próprias investigações. O seu estilo de conversação era comum ao mais alto grau, sem vestígios de escolástica; tanto assim que qualquer estranho que conhecesse os seus livros, mas não o homem, dificilmente poderia acreditar que fosse este afável e ameno conviva o autor da profunda Filosofia Transcendental." (pp.15.16)
"Não havia nenhum amigo que não considerasse dia de prazer festivo o dia em que almoçava em casa de Kant. Sem que se desse ares de mestre, Kant era-o de facto e em sumo grau. A tertúlia era toda ela sazonada pela sua exuberante inteligência, que incidia com naturalidade e sem afectação sobre todos os tópicos à medida que os caprichos da conversação os iam sugerindo, e o tempo fluía com rapidez da uma às quatro, cinco da tarde, ou mais até, de forma agradável e frutuosa. Kant não admitia calmarias, que era o termo que empregava para nomear as pausas momentâneas na conversa, quando a vivacidade se reduz. De um modo ou de outro, arranjava sempre maneira de reacender o seu interesse; e nisso era servido pelo tacto com que sabia sondar os interesses particulares de cada convidado ou a natureza dos seus estudos; e acerca desses temas, fossem quais fossem, sabia sempre falar com conhecimento de causa e com fascínio de um observador original. Os acontecimentos locais de Königsberg só conquistavam espaço à sua mesa quando assumiam real importância. E, o que pode parecer ainda mais singular, Kant raramente, ou mesmo nunca, dirigia a conversa para alguns dos ramos da filosofia que fundara. De facto, estava completamente isento dessa falha, que afecta tantos savants e literati, de não tolerar a presença de pessoas cujos estudos lhes pudessem ter barrado qualquer simpatia pelas suas próprias investigações. O seu estilo de conversação era comum ao mais alto grau, sem vestígios de escolástica; tanto assim que qualquer estranho que conhecesse os seus livros, mas não o homem, dificilmente poderia acreditar que fosse este afável e ameno conviva o autor da profunda Filosofia Transcendental." (pp.15.16)
sábado, março 27, 2004
Moda (3)
Gosto muito, muito:
- da exuberância deste homem;
- de tudo e mais alguma coisa desta dupla.
Gosto muito, muito:
- da exuberância deste homem;
- de tudo e mais alguma coisa desta dupla.
sexta-feira, março 26, 2004
Sei que como nomeada para os Blóscares (cof, cof) não é correcto que fale sobre o blogue A Origem do Amor, o criador, organizador, fotógrafo, maquilhador, responsável pelo catering e arrumador de limusinas do evento. Mas tenho mesmo de fazer este destaque: vejam lá esta categoria de trailer. Uma ganda pintarola, é o que é.
O Miniscente publicou dez mandamentos indispensáveis sobre o tema "nuinha ou não, eis a questão". Para saber de cor e salteado.
quinta-feira, março 25, 2004
No Cruzes, no Contra, no Terras, no Desesperada, no Avatares, no Cibertúlia e no Amor falam da possibilidade de Scarlett Johansson se despir à frente das câmaras. Pois cá estou eu de dedo no ar a querer participar na discussão mais interessante que corre na blogosfera: nuinha ou não, eis a questão. O camionista em mim diz sim, descascada é que é. O intelectual em mim pensa que sim, mas diz que não por causa do mistério e do feitiço e do diabo a quatro ou a sete. A miúda espevitada em mim diz: "show me what you got, girl!" A invejosa que não sou diria: "é bom que se dispa é, que é para verem a barriga que a miúda tem." A esquizofrenia nunca deu bons resultados. Vou perguntar ao meu Marido o que acha. A opinião do Dicionário parece-me imprescindível. Depois escrevemos uma carta à Scarlett com as conclusões, boa?
O pior é que agora me lembrei de um episódio do Seinfeld, em que este tinha uma namorada que passava o dia nua. Estava sempre nua, em todas as partes da casa, o dia todo. Nesse caso, até o camionista em mim teria de impor limites.
O pior é que agora me lembrei de um episódio do Seinfeld, em que este tinha uma namorada que passava o dia nua. Estava sempre nua, em todas as partes da casa, o dia todo. Nesse caso, até o camionista em mim teria de impor limites.
Conversas deliciosas
Deximenes: Who are our great literary heroes? Crooks to a man. Achilles, the biggest egoist ever. Odysseus, a swindler and a liar. The whole cast of the stupid pointless Trojan war are one lot of ruthless thugs against another lot.
Acastos: Hector.
Deximenes: Proves my point, a nonentity. Who doesn't side with Achilles?
Acastos: I don't.
Callistos: My dear, Achilles is a Greek!
Deximenes: Agamemnon, a power-crazy general, Clytemnestra, a murderer, Antigone, a selfish opinionated trouble-maker. And some of the greatest crooks of all are the gods. No wonder no one believes in them any more.
Acastos: I belive in the gods.
Callistos: So does Socrates.
Iris Murdoch, Existentialists and Mystics, Writings on Philosophy and Literature, "Art and Eros", Chatto & Windus, London, 1997.
Deximenes: Who are our great literary heroes? Crooks to a man. Achilles, the biggest egoist ever. Odysseus, a swindler and a liar. The whole cast of the stupid pointless Trojan war are one lot of ruthless thugs against another lot.
Acastos: Hector.
Deximenes: Proves my point, a nonentity. Who doesn't side with Achilles?
Acastos: I don't.
Callistos: My dear, Achilles is a Greek!
Deximenes: Agamemnon, a power-crazy general, Clytemnestra, a murderer, Antigone, a selfish opinionated trouble-maker. And some of the greatest crooks of all are the gods. No wonder no one believes in them any more.
Acastos: I belive in the gods.
Callistos: So does Socrates.
Iris Murdoch, Existentialists and Mystics, Writings on Philosophy and Literature, "Art and Eros", Chatto & Windus, London, 1997.
terça-feira, março 23, 2004
segunda-feira, março 22, 2004
domingo, março 21, 2004
Moda (2)
Gosto muito, muito:
1- das sandálias isabel deste homem;
2- da linha de sandálias Cruise desta mulher.
Gosto muito, muito:
1- das sandálias isabel deste homem;
2- da linha de sandálias Cruise desta mulher.
Etimologia hebdomadária
A palavra para hoje é decidir. Vocábulo formado pelos latinos de + caedo, decidir tem o sentido original de separar (de) cortando (caedo). A decisão é um corte na linha - atrevo-me a dizer - do destino. Com essa interrupção, julgamos que podemos fazer da nossa vida aquilo que queremos. Sempre na ilusão de que a decisão nos pertence, claro.
A palavra para hoje é decidir. Vocábulo formado pelos latinos de + caedo, decidir tem o sentido original de separar (de) cortando (caedo). A decisão é um corte na linha - atrevo-me a dizer - do destino. Com essa interrupção, julgamos que podemos fazer da nossa vida aquilo que queremos. Sempre na ilusão de que a decisão nos pertence, claro.
sexta-feira, março 19, 2004
Ainda vou a tempo de dar outra ganda beijoca ao Cruzes Canhoto, que hoje faz também um anito de blogosfera. E aproveitaram o dia para mudar de casa. Parabéns!
O Meu Pai
Como posso dizer que o meu Pai é especial, sem ofender nenhum dos pais especiais para tantas pessoas? Talvez fazendo um simples exercício de distanciamento. Se o meu Pai não fosse meu Pai, gostava à mesma de o conhecer, de falar com ele, de ser amiga dele, de ter almoços longos com ele, de saber o que se passa na cabeça dele. Porque o meu Pai é um homem muito inteligente e bondoso. E isso confunde, por não ser frequente. No entanto, é muito amado, porque quem o conhece reconhece-lhe essa combinação invulgar, além de muitas outras características que por pudor omitirei. Se o meu Pai fosse pai de outra pessoa, gostaria dele à mesma. Não gosto dele apenas por ser meu Pai.
Dizem que sou parecida com ele: na atitude, no sorriso, até na maneira desajeitada de andar. Mas sei que os filhos são sempre piores que os pais. Aceito essa certeza porque o lote que me coube em sorte foi muito bom e sou grata por isso.
Felizes dias, querido Pai.
Como posso dizer que o meu Pai é especial, sem ofender nenhum dos pais especiais para tantas pessoas? Talvez fazendo um simples exercício de distanciamento. Se o meu Pai não fosse meu Pai, gostava à mesma de o conhecer, de falar com ele, de ser amiga dele, de ter almoços longos com ele, de saber o que se passa na cabeça dele. Porque o meu Pai é um homem muito inteligente e bondoso. E isso confunde, por não ser frequente. No entanto, é muito amado, porque quem o conhece reconhece-lhe essa combinação invulgar, além de muitas outras características que por pudor omitirei. Se o meu Pai fosse pai de outra pessoa, gostaria dele à mesma. Não gosto dele apenas por ser meu Pai.
Dizem que sou parecida com ele: na atitude, no sorriso, até na maneira desajeitada de andar. Mas sei que os filhos são sempre piores que os pais. Aceito essa certeza porque o lote que me coube em sorte foi muito bom e sou grata por isso.
Felizes dias, querido Pai.
Otoverme do dia: yeah, yeah yeah, yeah yeah, yeaah, yeah, yeah yeah, yeah yeah, yeaah, Usher (clicar em video).
O Contra a Corrente faz um ano hoje. Uma ganda beijoca para o Macguffin porque hoje é um dia duas vezes especial: parabéns ao pai e ao blogueador!
quinta-feira, março 18, 2004
Do blogue Malícia de Mulher, recebi um linque para um site sobre a Grécia Antiga, que é uma verdadeira delícia. Para miúdos e graúdos.
quarta-feira, março 17, 2004
Pois é, Diogo... Zeus decidiu, há seis anos, que ao ouvir de um barbudo as palavras "Solteira? Casada? Viúva?" me riria. A partir desse momento já não havia mais nada a fazer, a não ser casar.
Minha querida, nada de medos a comentar comentários de professores! Comentar é sempre um sinal de reconhecimento da existência e da importância do que e de quem se comenta, algo fundamental na passagem do conhecimento e imprescindível ao exercício do espírito crítico. Por isso, no fear!
Agamémnon tinha de morrer (uma espécie de Romeo Must Die mas com gregos fortalhudos), claro, embora fosse bem protegidinho por Zeus. Nem Zeus tem a capacidade de atribuir a imortalidade aos humanos, nem àqueles de quem gosta muito. O amor de Zeus também não é suficiente para dar aos heróis uma vida propriamente fácil. Zeus ordena a Agamémnon que sacrifique Ifigénia. Não há dilema nenhum. Aí está o erro que fez com que hoje em dia, secretamente, estejamos do lado de Clitemnestra e achemos que he had it coming, que é como quem diz, estava a pedi-las. Pois. Mas não estava. O texto em grego é claro. A tradução lança a dúvida sobre se Agamémnon podia ter escolhido ficar em Aulis porque o preço para sair era demasiado alto. Não há dúvida nenhuma. Há uma ordem que não pode deixar de ser cumprida. Não é por ofensa, nem por ameaças que Agamémnon sacrifica a própria filha. É porque assim está determinado. Agamémnon demora-se na decisão (que não é uma decisão dele) e isso para nós, leitores ávidos de descobrir nas entrelinhas coisas que não estão no texto, já tem um significado: pois, está a demorar porque não sabe o que é que há-de fazer à vida. Não. Demora porque, embora não tenha consciência de si, não é uma marioneta nas mãos de Zeus. Demora por causa da dor da decisão que lhe foi imposta.
Para nós, criaturas despegadas dos deuses e crentes nos conselhos que a literatura light (desculpem, mas depois das tragédias, para mim tudo é light) nos dá, nada disto faz sentido. O quê? Há um gajo barbudo que lança trovões quando se aborrece comigo? Que determina o meu destino em conjunto com outras divindades esquisitas e, com certeza, foleiras? Era só o que faltava! Pfff... Zeus... olhaolha... deve ser deve... e assim por diante. Mas para Agamémnon não existe "comigo" nem "meu". É outra coisa e não é nada excêntrica. Os excêntricos aqui somos nós e cada vez mais.
Agamémnon tinha de morrer (uma espécie de Romeo Must Die mas com gregos fortalhudos), claro, embora fosse bem protegidinho por Zeus. Nem Zeus tem a capacidade de atribuir a imortalidade aos humanos, nem àqueles de quem gosta muito. O amor de Zeus também não é suficiente para dar aos heróis uma vida propriamente fácil. Zeus ordena a Agamémnon que sacrifique Ifigénia. Não há dilema nenhum. Aí está o erro que fez com que hoje em dia, secretamente, estejamos do lado de Clitemnestra e achemos que he had it coming, que é como quem diz, estava a pedi-las. Pois. Mas não estava. O texto em grego é claro. A tradução lança a dúvida sobre se Agamémnon podia ter escolhido ficar em Aulis porque o preço para sair era demasiado alto. Não há dúvida nenhuma. Há uma ordem que não pode deixar de ser cumprida. Não é por ofensa, nem por ameaças que Agamémnon sacrifica a própria filha. É porque assim está determinado. Agamémnon demora-se na decisão (que não é uma decisão dele) e isso para nós, leitores ávidos de descobrir nas entrelinhas coisas que não estão no texto, já tem um significado: pois, está a demorar porque não sabe o que é que há-de fazer à vida. Não. Demora porque, embora não tenha consciência de si, não é uma marioneta nas mãos de Zeus. Demora por causa da dor da decisão que lhe foi imposta.
Para nós, criaturas despegadas dos deuses e crentes nos conselhos que a literatura light (desculpem, mas depois das tragédias, para mim tudo é light) nos dá, nada disto faz sentido. O quê? Há um gajo barbudo que lança trovões quando se aborrece comigo? Que determina o meu destino em conjunto com outras divindades esquisitas e, com certeza, foleiras? Era só o que faltava! Pfff... Zeus... olhaolha... deve ser deve... e assim por diante. Mas para Agamémnon não existe "comigo" nem "meu". É outra coisa e não é nada excêntrica. Os excêntricos aqui somos nós e cada vez mais.
terça-feira, março 16, 2004
A tentativa de "domesticar a tragédia" (a expressão é do meu Professor) é compreensível, mas ridícula. Responsabilizar Agamémnon pelo sacrificio de Ifigénia (que lhe foi imposto pelos deuses; Agamémnon nada decide) ou atribuir a Antígona um carácter cristão é anular a essência da tragédia. Na tragédia não há vontade. Mas nem por isso nos nossos dias deixa de haver tragédia.
O risco de nunca se vir a descobrir se, de facto, existiu nos atentados de Madrid um bombista-suicida é grande. Assim sendo, e supondo que o tal homem-bomba existiu e que nunca o saberemos, estaremos perante um caso de amor à camisola sem precedentes. Porque não era preciso (mochilas com bombas accionadas a toques de telemóveis) e porque ninguém o saberá (o homem-bomba não procura fama, mas a certeza de que existiu é fundamental para continuar o terror). Além de assassino é palerma. Um caso extraordinário de mega-redundância.
segunda-feira, março 15, 2004
Por causa da lembrança da morte de César, na Poeira de 15 de Março, no Abrupto.
Os Idos de Março
Teme as grandezas, ó minh'alma.
E se não és capaz de triunfar das tuas
ambições, dá-te a elas hesitantemente
e com cautela. E quanto mais avances,
mais cuidadosa e atenta deves ser.
E quando ao máximo chegares, enfim César,
tendo assumido a imagem de um grande homem célebre,
sê cautelosa então quando saíres à rua,
conspícua autoridade e a sua corte,
se por acaso salta dentre a multidão um Artemidoro
que a ti se chega com uma mensagem,
e que ofegante diz "lê quanto antes, é
grave matéria que te diz respeito" -
- não deixes de parar. Não deixes de adiar
seja o que for. Não deixes de afastar
quantos te aclamam, te saúdam (terás sempre
tempo de os receber mais tarde). Até o Senado
pode esperar por ti. Lê imediatamente
os graves avisos desse Artemidoro.
Konstandinos Kavafis, 1911, tradução de Jorge de Sena.
Os Idos de Março
Teme as grandezas, ó minh'alma.
E se não és capaz de triunfar das tuas
ambições, dá-te a elas hesitantemente
e com cautela. E quanto mais avances,
mais cuidadosa e atenta deves ser.
E quando ao máximo chegares, enfim César,
tendo assumido a imagem de um grande homem célebre,
sê cautelosa então quando saíres à rua,
conspícua autoridade e a sua corte,
se por acaso salta dentre a multidão um Artemidoro
que a ti se chega com uma mensagem,
e que ofegante diz "lê quanto antes, é
grave matéria que te diz respeito" -
- não deixes de parar. Não deixes de adiar
seja o que for. Não deixes de afastar
quantos te aclamam, te saúdam (terás sempre
tempo de os receber mais tarde). Até o Senado
pode esperar por ti. Lê imediatamente
os graves avisos desse Artemidoro.
Konstandinos Kavafis, 1911, tradução de Jorge de Sena.
domingo, março 14, 2004
Perdoar é esquecer e não perdoar pode também sê-lo
Ouço muito boa gente dizer que perdoa mas não esquece. Ora se perdoa, mas não esquece, não perdoa, o que é compreensível porque perdoar é difícil e aprende-se (ou não) à medida que os anos vão passando. Por princípio, não perdoo e arrumo essas espinhas da vida numa gavetita que tenho especial para esses casos extremos e continuo a minha vida. O mais estranho é que não perdoo e, de certa forma, esqueço. Deduzo que seja uma maneira de sobreviver tão legítima como qualquer outra. Habituei-me até a considerar saudável esta minha atitude. Estou a falar de casos raros, embora decisivos, na minha vida. Por vezes, é impossível perdoar uma traição. Mas depois da cisão, esquecer é imprescindível para a minha saúde mental. Não perdoar é uma maneira de resolver o problema que se sabe não ter solução. Depois de não perdoar, é fundamental esquecer para consolidar essa decisão e para voltar ao meu caminho. Não é fácil, mas é possível.
Ouço muito boa gente dizer que perdoa mas não esquece. Ora se perdoa, mas não esquece, não perdoa, o que é compreensível porque perdoar é difícil e aprende-se (ou não) à medida que os anos vão passando. Por princípio, não perdoo e arrumo essas espinhas da vida numa gavetita que tenho especial para esses casos extremos e continuo a minha vida. O mais estranho é que não perdoo e, de certa forma, esqueço. Deduzo que seja uma maneira de sobreviver tão legítima como qualquer outra. Habituei-me até a considerar saudável esta minha atitude. Estou a falar de casos raros, embora decisivos, na minha vida. Por vezes, é impossível perdoar uma traição. Mas depois da cisão, esquecer é imprescindível para a minha saúde mental. Não perdoar é uma maneira de resolver o problema que se sabe não ter solução. Depois de não perdoar, é fundamental esquecer para consolidar essa decisão e para voltar ao meu caminho. Não é fácil, mas é possível.
Etimologia hebdomadária
A palavra para hoje é cosmética. Cosmética vem de kósmos, cujo significado em grego antigo pode ser ordem, para Heródoto, por exemplo, bom comportamento ou decência, para Ésquilo, ou ainda ornamento, para Hesíodo. A ordem associada à beleza parece-me um conceito muito grego, basta pensarmos na palavra beleza, omorfiá, que significa "o que tem a mesma forma", dando assim uma ideia de harmonia e simetria evidentes nas esculturas gregas. E uma menina bem comportada também pode ser uma menina bem maquilhada. Ou não.
A palavra para hoje é cosmética. Cosmética vem de kósmos, cujo significado em grego antigo pode ser ordem, para Heródoto, por exemplo, bom comportamento ou decência, para Ésquilo, ou ainda ornamento, para Hesíodo. A ordem associada à beleza parece-me um conceito muito grego, basta pensarmos na palavra beleza, omorfiá, que significa "o que tem a mesma forma", dando assim uma ideia de harmonia e simetria evidentes nas esculturas gregas. E uma menina bem comportada também pode ser uma menina bem maquilhada. Ou não.
A piada do dia chegou cedo e foi contada pelo Nuno Rogeiro na SIC Notícias.
Jornalista: Acha que pode haver uma reacção anti-islâmica em Espanha na sequência dos atentados?
Nuno Rogeiro: Não se pode dizer que todos os grupos terroristas sejam islâmicos. Há grupos que adoptam como desculpa o islamismo para cometerem actos terroristas. O correcto seria chamar-lhes Grupos Alegadamente Islâmicos, mas isso não funcionaria porque a sigla seria G.A.I.
O jornalista continuou imperturbável, Nuno Rogeiro fez um sorriso de troça e cá em casa até o gato Varandas riu à gargalhada.
Jornalista: Acha que pode haver uma reacção anti-islâmica em Espanha na sequência dos atentados?
Nuno Rogeiro: Não se pode dizer que todos os grupos terroristas sejam islâmicos. Há grupos que adoptam como desculpa o islamismo para cometerem actos terroristas. O correcto seria chamar-lhes Grupos Alegadamente Islâmicos, mas isso não funcionaria porque a sigla seria G.A.I.
O jornalista continuou imperturbável, Nuno Rogeiro fez um sorriso de troça e cá em casa até o gato Varandas riu à gargalhada.
sábado, março 13, 2004
Conheci o latinista ilustre, que muito amável escreve que me podia ter tratado por Helena que o resultado seria o mesmo. Um grande querido, é o que é, porque Helena comoveu o mundo helénico, arredores e futuros com a sua beleza. Para mim, a imagem que ficou foi a de uma mulher sofrida, angustiada e culpada. Mas boa. Sofredora, mas muito boa.
O latinista ilustre saiu das termas (ver lista ao lado) e voltou à blogosfera. Pollá filiá - que é como quem diz oscula multa - de reboas-vindas!
O latinista ilustre saiu das termas (ver lista ao lado) e voltou à blogosfera. Pollá filiá - que é como quem diz oscula multa - de reboas-vindas!
Depois de ver o Terminator 3, concluo que o papel desempenhado por Kristanna Locken, o da máquina mortífera TX, é um bom exemplo de como arrecadar uma boa mesada. A rapariga diz quatro frases em todo o filme: "I like your car". "I like your gun", "Where is John Connor? e finalmente o duvidoso "Katharine Brewster?" Catorze palavras e capacidade indiscutível para usar um fato de pele encarnado coladíssimo, em troca de um milhão de dólares ou mesmo 500 mil é igual a value for money. Não acham, caríssimos gestores?
sexta-feira, março 12, 2004
quinta-feira, março 11, 2004
E agora um dos tangos favoritos do meu Marido.
Qué me importa tu pasado, de Manuel Sucher e Roberto Giménez
(cliquem na grafonola)
Desde hace tiempo te noto triste,
ronda el silencio, llora el amor.
Como un reproche por lo que fuiste
grabado a fuego en tu corazón.
Ya muchas veces bajás la frente
cuando en mis brazos te refugias,
como temiendo que de repente,
tu pobre dicha no encuentres más.
Qué me importa tu pasado,
no llorés, mi buena amiga.
No es un crimen ser golpeado
ni es delito haber rodado
en las vueltas de la vida.
Qué me importa tu pasado,
si yo que nunca guapeé,
si te ofende algún cobarde,
te lo juro por mi madre,
me juego donde me ve.
No tengas miedo, soy de una pieza,
no me interesa lo que dirán.
Que nos importan las cosas viejas,
las viejas sombras que ya no están.
Tus ojos miran y están perdidos,
estás cansada de tanto andar.
Pero a mi lado siempre habrá un nido
y un pecho amigo donde llorar.
Qué me importa tu pasado, de Manuel Sucher e Roberto Giménez
(cliquem na grafonola)
Desde hace tiempo te noto triste,
ronda el silencio, llora el amor.
Como un reproche por lo que fuiste
grabado a fuego en tu corazón.
Ya muchas veces bajás la frente
cuando en mis brazos te refugias,
como temiendo que de repente,
tu pobre dicha no encuentres más.
Qué me importa tu pasado,
no llorés, mi buena amiga.
No es un crimen ser golpeado
ni es delito haber rodado
en las vueltas de la vida.
Qué me importa tu pasado,
si yo que nunca guapeé,
si te ofende algún cobarde,
te lo juro por mi madre,
me juego donde me ve.
No tengas miedo, soy de una pieza,
no me interesa lo que dirán.
Que nos importan las cosas viejas,
las viejas sombras que ya no están.
Tus ojos miran y están perdidos,
estás cansada de tanto andar.
Pero a mi lado siempre habrá un nido
y un pecho amigo donde llorar.
Tempo para um tanguinho
O Vasco Graça Moura traduziu o Amablemente (publicado no Abrupto). Lindo! Pois aqui vai mais um tango para hoje. Curda significa bebedeira.
La última curda, de Aníbal Troilo e Cátulo Castillo
(clicar na grafonola para ouvir)
Lastima, bandoneón,
mi corazon
tu ronca maldición maleva...
Tu lágrima de ron
me lleva
hasta el hondo bajo fondo
donde el barro se subleva.
¡Ya sé, no me digás! ¡Tenés razón!
La vida es una herida absurda,
y es todo tan fugaz
que es una curda, ¡nada más!
mi confesión.
Contame tu condena,
decime tu fracaso,
¿no ves la pena
que me ha herido?
Y hablame simplemente
de aquel amor ausente
tras un retazo del olvido.
¡Ya sé que te lastimo!
¡Ya se que te hago daño
llorando mi sermón de vino!
Pero es el viejo amor
que tiembla, bandoneón,
y busca en el licor que aturde,
la curda que al final
termine la función
corriéndole un telón al corazón.
Un poco de recuerdo y sinsabor
gotea tu rezongo lerdo.
Marea tu licor y arrea
la tropilla de la zurda
al volcar la última curda.
Cerrame el ventanal
que quema el sol
su lento caracol de sueño,
¿no ves que vengo de un país
que está de olvido, siempre gris,
tras el alcohol?...
O Vasco Graça Moura traduziu o Amablemente (publicado no Abrupto). Lindo! Pois aqui vai mais um tango para hoje. Curda significa bebedeira.
La última curda, de Aníbal Troilo e Cátulo Castillo
(clicar na grafonola para ouvir)
Lastima, bandoneón,
mi corazon
tu ronca maldición maleva...
Tu lágrima de ron
me lleva
hasta el hondo bajo fondo
donde el barro se subleva.
¡Ya sé, no me digás! ¡Tenés razón!
La vida es una herida absurda,
y es todo tan fugaz
que es una curda, ¡nada más!
mi confesión.
Contame tu condena,
decime tu fracaso,
¿no ves la pena
que me ha herido?
Y hablame simplemente
de aquel amor ausente
tras un retazo del olvido.
¡Ya sé que te lastimo!
¡Ya se que te hago daño
llorando mi sermón de vino!
Pero es el viejo amor
que tiembla, bandoneón,
y busca en el licor que aturde,
la curda que al final
termine la función
corriéndole un telón al corazón.
Un poco de recuerdo y sinsabor
gotea tu rezongo lerdo.
Marea tu licor y arrea
la tropilla de la zurda
al volcar la última curda.
Cerrame el ventanal
que quema el sol
su lento caracol de sueño,
¿no ves que vengo de un país
que está de olvido, siempre gris,
tras el alcohol?...
quarta-feira, março 10, 2004
terça-feira, março 09, 2004
O José Pacheco Pereira gostou do Amablemente. Recupero agora Naranjo en flor, de Virgilio e Homero Expósito, um tango sofrido e doce.
Naranjo en flor, de Virgilio e Homero Expósito
(cliquem na grafonola)
Era más blanda que el agua,
que el agua blanda,
era más fresca que el río,
naranjo en flor.
Y en esa calle de estío,
calle perdida,
dejó un pedazo de vida
y se marchó...
Primero hay que saber sufrir,
después amar, después partir
y al fin andar sin pensamiento...
Perfume de naranjo en flor,
promesas vanas de un amor
que se escaparon con el viento.
Después... ¿qué importa el después?
Toda mi vida es el ayer
que me detiene en el pasado,
eterna y vieja juventud
que me ha dejado acobardado
como un pájaro sin luz.
¿Qué le habrán hecho mis manos?
¿Qué le habrán hecho
para dejarme en el pecho
tanto dolor?
Dolor de vieja arboleda,
canción de esquina
con un pedazo de vida,
naranjo en flor.
Naranjo en flor, de Virgilio e Homero Expósito
(cliquem na grafonola)
Era más blanda que el agua,
que el agua blanda,
era más fresca que el río,
naranjo en flor.
Y en esa calle de estío,
calle perdida,
dejó un pedazo de vida
y se marchó...
Primero hay que saber sufrir,
después amar, después partir
y al fin andar sin pensamiento...
Perfume de naranjo en flor,
promesas vanas de un amor
que se escaparon con el viento.
Después... ¿qué importa el después?
Toda mi vida es el ayer
que me detiene en el pasado,
eterna y vieja juventud
que me ha dejado acobardado
como un pájaro sin luz.
¿Qué le habrán hecho mis manos?
¿Qué le habrán hecho
para dejarme en el pecho
tanto dolor?
Dolor de vieja arboleda,
canción de esquina
con un pedazo de vida,
naranjo en flor.
É um bocadinho tarde e o dia foi passado com gregos. Ao blogar, leio no Abrupto um texto acerca das sensibilidades Antigas (tenho seguido as notas com interesse e, infelizmente, sem tempo para as comentar), desta vez sobre o relativismo e a ideia de que, para os Antigos, não havia a noção de efémero.
O homem Antigo sabia perfeitamente (digo eu na minha presunção de omnisciência) que o efémero estava presente em tudo. O herói da Ilíada sabe que a vontade dos deuses é a que dita o seu destino. Sabe que de um momento para o outro as coisas mudam. E é por causa dessa efemeridade que as palavras são tão importantes. Hoje em dia, não temos a noção dessa efemeridade. Sobretudo, não acreditamos que a vida seja efémera. Mas os Antigos não eram avaros de palavras por lhes darem muito valor. Isso acontecia (se é que acontecia) porque as palavras eram, de facto, poucas. Mas estou de acordo que palavras como "nunca", "jamais", "ninguém e "sempre" devem ser muito poupadinhas para não se gastarem e, acima de tudo, para não nos gastarmos a nós mesmos.
Para terminar, um dos meus poemas favoritos de um moderno Antigo chamado Konstandino Kavafis.
Candles
The days of our future stand before us
like a row of little lighted candles -
golden, warm, and lively little candles.
The days gone by remain behind us,
a mournful line of burnt-out candles;
the nearest ones are still smoking,
cold candles, melted and bent.
I do not want to look at them; their form saddens me,
and it saddens me to recall their first light.
I look ahead at my lighted candles.
I do not want to turn back, lest I see and shudder -
how quickly the somber line lengthens,
how quickly the burnt-out candles multiply.
Tradução de Rae Dalven.
O homem Antigo sabia perfeitamente (digo eu na minha presunção de omnisciência) que o efémero estava presente em tudo. O herói da Ilíada sabe que a vontade dos deuses é a que dita o seu destino. Sabe que de um momento para o outro as coisas mudam. E é por causa dessa efemeridade que as palavras são tão importantes. Hoje em dia, não temos a noção dessa efemeridade. Sobretudo, não acreditamos que a vida seja efémera. Mas os Antigos não eram avaros de palavras por lhes darem muito valor. Isso acontecia (se é que acontecia) porque as palavras eram, de facto, poucas. Mas estou de acordo que palavras como "nunca", "jamais", "ninguém e "sempre" devem ser muito poupadinhas para não se gastarem e, acima de tudo, para não nos gastarmos a nós mesmos.
Para terminar, um dos meus poemas favoritos de um moderno Antigo chamado Konstandino Kavafis.
Candles
The days of our future stand before us
like a row of little lighted candles -
golden, warm, and lively little candles.
The days gone by remain behind us,
a mournful line of burnt-out candles;
the nearest ones are still smoking,
cold candles, melted and bent.
I do not want to look at them; their form saddens me,
and it saddens me to recall their first light.
I look ahead at my lighted candles.
I do not want to turn back, lest I see and shudder -
how quickly the somber line lengthens,
how quickly the burnt-out candles multiply.
Tradução de Rae Dalven.
segunda-feira, março 08, 2004
Mano a mano, de Carlos Gardel, José Razzano e Celedonio Flores
(toca a clicar na grafonola!)
Rechiflado en mi tristeza, te evoco y veo que has sido
en mi pobre vida paria sólo una buena mujer.
Tu presencia de bacana puso calor en mi nido,
fuiste buena, consecuente, y yo sé que me has querido
como no quisiste a nadie, como no podrás querer.
Se dio el juego de remanye cuando vos, pobre percanta,
gambeteabas la pobreza en la casa de pensión.
Hoy sos toda una bacana, la vida te ríe y canta,
Ios morlacos del otario los jugás a la marchanta
como juega el gato maula con el mísero ratón.
Hoy tenés el mate lleno de infelices ilusiones,
te engrupieron los otarios, las amigas y el gavión;
la milonga, entre magnates, con sus locas tentaciones,
donde triunfan y claudican milongueras pretensiones,
se te ha entrado muy adentro en tu pobre corazón.
Nada debo agradecerte, mano a mano hemos quedado;
no me importa lo que has hecho, lo que hacés ni lo que harás...
Los favores recibidos creo habértelos pagado
y, si alguna deuda chica sin querer se me ha olvidado,
en la cuenta del otario que tenés se la cargás.
Mientras tanto, que tus triunfos, pobres triunfos pasajeros,
sean una larga fila de riquezas y placer;
que el bacán que te acamala tenga pesos duraderos,
que te abrás de las paradas con cafishos milongueros
y que digan los muchachos: Es una buena mujer.
Y mañana, cuando seas descolado mueble viejo
y no tengas esperanzas en tu pobre corazón,
si precisás una ayuda, si te hace falta un consejo,
acordate de este amigo que ha de jugarse el pellejo
pa'ayudarte en lo que pueda cuando llegue la ocasión.
(toca a clicar na grafonola!)
Rechiflado en mi tristeza, te evoco y veo que has sido
en mi pobre vida paria sólo una buena mujer.
Tu presencia de bacana puso calor en mi nido,
fuiste buena, consecuente, y yo sé que me has querido
como no quisiste a nadie, como no podrás querer.
Se dio el juego de remanye cuando vos, pobre percanta,
gambeteabas la pobreza en la casa de pensión.
Hoy sos toda una bacana, la vida te ríe y canta,
Ios morlacos del otario los jugás a la marchanta
como juega el gato maula con el mísero ratón.
Hoy tenés el mate lleno de infelices ilusiones,
te engrupieron los otarios, las amigas y el gavión;
la milonga, entre magnates, con sus locas tentaciones,
donde triunfan y claudican milongueras pretensiones,
se te ha entrado muy adentro en tu pobre corazón.
Nada debo agradecerte, mano a mano hemos quedado;
no me importa lo que has hecho, lo que hacés ni lo que harás...
Los favores recibidos creo habértelos pagado
y, si alguna deuda chica sin querer se me ha olvidado,
en la cuenta del otario que tenés se la cargás.
Mientras tanto, que tus triunfos, pobres triunfos pasajeros,
sean una larga fila de riquezas y placer;
que el bacán que te acamala tenga pesos duraderos,
que te abrás de las paradas con cafishos milongueros
y que digan los muchachos: Es una buena mujer.
Y mañana, cuando seas descolado mueble viejo
y no tengas esperanzas en tu pobre corazón,
si precisás una ayuda, si te hace falta un consejo,
acordate de este amigo que ha de jugarse el pellejo
pa'ayudarte en lo que pueda cuando llegue la ocasión.
Começo o dia bloguístico por anunciar a saída das termas (ver lista ao lado) da minha querida Ana e do seu excepcional Modus Vivendi. Beijos grandes de reboas-vindas!
domingo, março 07, 2004
Amablemente, de Edmundo Rivero e Iván Diez
(cliquem na grafonola para poderem ouvir)
La encontró en el bulín y en otros brazos...
Sin embargo, canchero y sin cabrearse,
le dijo al gavilán: "Puede rajarse;
el hombre no es culpable en estos casos."
Y al encontarse solo con la mina,
pidió las zapatillas y ya listo,
le dijo cual si nada hubiera visto:
"Cebame un par de mates, Catalina."
La mina, jaboneada, le hizo caso
y el varón, saboreándose un buen faso,
la siguió chamuyando de pavadas...
Y luego, besuqueándole la frente,
con gran tranquilidad, amablemente,
le fajó treinta y cuatro puñaladas.
(cliquem na grafonola para poderem ouvir)
La encontró en el bulín y en otros brazos...
Sin embargo, canchero y sin cabrearse,
le dijo al gavilán: "Puede rajarse;
el hombre no es culpable en estos casos."
Y al encontarse solo con la mina,
pidió las zapatillas y ya listo,
le dijo cual si nada hubiera visto:
"Cebame un par de mates, Catalina."
La mina, jaboneada, le hizo caso
y el varón, saboreándose un buen faso,
la siguió chamuyando de pavadas...
Y luego, besuqueándole la frente,
con gran tranquilidad, amablemente,
le fajó treinta y cuatro puñaladas.
A melhor versão de Cambalache é a de Julio Sosa. Façam o favor de clicar na grafonola com o respectivo nome do tango.
Etimologia hebdomadária
A palavra para hoje é eutanásia. Que é como quem diz morte boa, ou ainda, uma morte como deve ser. Euthanasía é um vocábulo constituído por eu, que significa bom, correcto, certo e thánatos, que significa morte. Esse pequenino eu (que se lê ev) é um vocábulo à partida luminoso para as palavrinhas. Neste caso, passamos de morte para morte boa (se nos ficássemos pela etimologia, não haveria problemas no mundo). No caso da palavra grega para felicidade, eutixía, passamos da mera sorte, tixi, para a boa sorte. Mas o dito eu pode ainda servir para formar palavras sinistras como a eugenia, em que vemos a simples origem, génos, tornada numa boa (nobre, correcta, certa) origem. Mas cuidado com os falsos eu! Por exemplo, a palavra eureka parece ser qualquer coisa boa. Mas não, embora habitualmente seja proferida na sequência de um bom acontecimento, de uma descoberta. Eureka - em grego, evrika - significa simplesmente encontrei. O e indica o pretérito perfeito do verbo encontrar, vrisko. É bom à mesma, mas não tão bom como se pensa.
A palavra para hoje é eutanásia. Que é como quem diz morte boa, ou ainda, uma morte como deve ser. Euthanasía é um vocábulo constituído por eu, que significa bom, correcto, certo e thánatos, que significa morte. Esse pequenino eu (que se lê ev) é um vocábulo à partida luminoso para as palavrinhas. Neste caso, passamos de morte para morte boa (se nos ficássemos pela etimologia, não haveria problemas no mundo). No caso da palavra grega para felicidade, eutixía, passamos da mera sorte, tixi, para a boa sorte. Mas o dito eu pode ainda servir para formar palavras sinistras como a eugenia, em que vemos a simples origem, génos, tornada numa boa (nobre, correcta, certa) origem. Mas cuidado com os falsos eu! Por exemplo, a palavra eureka parece ser qualquer coisa boa. Mas não, embora habitualmente seja proferida na sequência de um bom acontecimento, de uma descoberta. Eureka - em grego, evrika - significa simplesmente encontrei. O e indica o pretérito perfeito do verbo encontrar, vrisko. É bom à mesma, mas não tão bom como se pensa.
quinta-feira, março 04, 2004
Cambalache, de Enrique Santos Discépolo
(cliquem na grafonola para poderem ouvir)
Que el mundo fue y será una porquería
ya lo sé...
(¡En el quinientos seis
y en el dos mil también!).
Que siempre ha habido chorros,
maquiavelos y estafaos,
contentos y amargaos,
valores y dublé...
Pero que el siglo veinte
es un despliegue
de maldá insolente,
ya no hay quien lo niegue.
Vivimos revolcaos
en un merengue
y en un mismo lodo
todos manoseaos...
¡Hoy resulta que es lo mismo
ser derecho que traidor!...
¡Ignorante, sabio o chorro,
generoso o estafador!
¡Todo es igual!
¡Nada es mejor!
¡Lo mismo un burro
que un gran profesor!
No hay aplazaos
ni escalafón,
los inmorales
nos han igualao.
Si uno vive en la impostura
y otro roba en su ambición,
¡da lo mismo que sea cura,
colchonero, rey de bastos,
caradura o polizón!...
¡Qué falta de respeto, qué atropello
a la razón!
¡Cualquiera es un señor!
¡Cualquiera es un ladrón!
Mezclao con Stavisky va Don Bosco
y "La Mignón",
Don Chicho y Napoleón,
Carnera y San Martín...
Igual que en la vidriera irrespetuosa
de los cambalaches
se ha mezclao la vida,
y herida por un sable sin remaches
ves llorar la Biblia
contra un calefón...
¡Siglo veinte, cambalache
problemático y febril!...
El que no llora no mama
y el que no afana es un gil!
¡Dale nomás!
¡Dale que va!
¡Que allá en el horno
nos vamo a encontrar!
¡No pienses más,
sentate a un lao,
que a nadie importa
si naciste honrao!
Es lo mismo el que labura
noche y día como un buey,
que el que vive de los otros,
que el que mata, que el que cura
o está fuera de la ley...
(cliquem na grafonola para poderem ouvir)
Que el mundo fue y será una porquería
ya lo sé...
(¡En el quinientos seis
y en el dos mil también!).
Que siempre ha habido chorros,
maquiavelos y estafaos,
contentos y amargaos,
valores y dublé...
Pero que el siglo veinte
es un despliegue
de maldá insolente,
ya no hay quien lo niegue.
Vivimos revolcaos
en un merengue
y en un mismo lodo
todos manoseaos...
¡Hoy resulta que es lo mismo
ser derecho que traidor!...
¡Ignorante, sabio o chorro,
generoso o estafador!
¡Todo es igual!
¡Nada es mejor!
¡Lo mismo un burro
que un gran profesor!
No hay aplazaos
ni escalafón,
los inmorales
nos han igualao.
Si uno vive en la impostura
y otro roba en su ambición,
¡da lo mismo que sea cura,
colchonero, rey de bastos,
caradura o polizón!...
¡Qué falta de respeto, qué atropello
a la razón!
¡Cualquiera es un señor!
¡Cualquiera es un ladrón!
Mezclao con Stavisky va Don Bosco
y "La Mignón",
Don Chicho y Napoleón,
Carnera y San Martín...
Igual que en la vidriera irrespetuosa
de los cambalaches
se ha mezclao la vida,
y herida por un sable sin remaches
ves llorar la Biblia
contra un calefón...
¡Siglo veinte, cambalache
problemático y febril!...
El que no llora no mama
y el que no afana es un gil!
¡Dale nomás!
¡Dale que va!
¡Que allá en el horno
nos vamo a encontrar!
¡No pienses más,
sentate a un lao,
que a nadie importa
si naciste honrao!
Es lo mismo el que labura
noche y día como un buey,
que el que vive de los otros,
que el que mata, que el que cura
o está fuera de la ley...
Há muito tempo que não me diziam uma frase tão boa: "Carla, não és a Madre Teresa nem o Coimbra de Matos."
Sobre a pena de morte (5)
O João Leitão enviou-me a seguinte mensagem a propósito da pena de morte: "Os nossos conflitos morais podem sempre existir, por isso é que somos seres individuais e como tal os nossos conceitos evoluem ao sabor da nossa experiência de vida e do impoderável do momento. Mas quem tem que decidir, por isso tem as leis, são os órgãos de superestrutura do Estado. E esse não pode viver de entusiasmos ou estados de alma do momento. É isso que faz a força do respeito pela liberdade e justiça em que se deve inserir a democracia."
Também sobre este tema, o Controversa Maresia publica um texto cuja leitura recomendo.
O João Leitão enviou-me a seguinte mensagem a propósito da pena de morte: "Os nossos conflitos morais podem sempre existir, por isso é que somos seres individuais e como tal os nossos conceitos evoluem ao sabor da nossa experiência de vida e do impoderável do momento. Mas quem tem que decidir, por isso tem as leis, são os órgãos de superestrutura do Estado. E esse não pode viver de entusiasmos ou estados de alma do momento. É isso que faz a força do respeito pela liberdade e justiça em que se deve inserir a democracia."
Também sobre este tema, o Controversa Maresia publica um texto cuja leitura recomendo.
Sobre a pena de morte (4)
Não tenho grandes certezas em relação a este tema da pena de morte e penso que isso está bastante claro nos posts que escrevi. Não pretendo convencer ninguém, o que não implica que possa ser facilmente convencida.
Quanto à discussão há contributos por toda a blogosfera: a Catarina não sabe o que faria se fosse com o filho dela (ou melhor, sabe). Pois... mais um problema moral. Temos sempre a tendência para achar que os filhos dos outros não são um problema nosso. Mas a verdade é que somos todos filhos de alguém. O Nuno acha que a vida numa cela pequena e escura é um castigo pior do que a morte. Se é assim, porque é que isso não me consola? O Afonso defende a reabilitação mesmo destas pessoas, o que me faz pensar que temos um problema em admitir a impossibilidade de recuperação (este é um dos temas que mais me interessa, mesmo não aplicado a este assunto). A Paula defende a tortura perpétua (hm... tornar Dutroux numa espécie de Sísifo não era má ideia, por acaso). O Gonçalo não acredita que a pena de morte seja solução (e o consolo, senhores?). Parece-me que a minha posição no que diz respeito à responsabilidade do Estado não está muito longe da do Miguel. Finalmente, o Senhor Carne propõe uma reza que vou imprimir e pôr ali na mesinha da sala, bem a jeito, para sempre que veja a cara medonha daquele filhoda... ai, ai... como era a reza?
Não tenho grandes certezas em relação a este tema da pena de morte e penso que isso está bastante claro nos posts que escrevi. Não pretendo convencer ninguém, o que não implica que possa ser facilmente convencida.
Quanto à discussão há contributos por toda a blogosfera: a Catarina não sabe o que faria se fosse com o filho dela (ou melhor, sabe). Pois... mais um problema moral. Temos sempre a tendência para achar que os filhos dos outros não são um problema nosso. Mas a verdade é que somos todos filhos de alguém. O Nuno acha que a vida numa cela pequena e escura é um castigo pior do que a morte. Se é assim, porque é que isso não me consola? O Afonso defende a reabilitação mesmo destas pessoas, o que me faz pensar que temos um problema em admitir a impossibilidade de recuperação (este é um dos temas que mais me interessa, mesmo não aplicado a este assunto). A Paula defende a tortura perpétua (hm... tornar Dutroux numa espécie de Sísifo não era má ideia, por acaso). O Gonçalo não acredita que a pena de morte seja solução (e o consolo, senhores?). Parece-me que a minha posição no que diz respeito à responsabilidade do Estado não está muito longe da do Miguel. Finalmente, o Senhor Carne propõe uma reza que vou imprimir e pôr ali na mesinha da sala, bem a jeito, para sempre que veja a cara medonha daquele filhoda... ai, ai... como era a reza?
quarta-feira, março 03, 2004
Sobre a pena de morte (2)
A verdade é que perante a imagem do Marc Dutroux, o único desejo que tenho é que o homem seja condenado à morte. E isto porquê? Porque o crime que cometeu é hediondo. Porque violou e matou crianças. E aqui está o meu problema. Matar crianças é diferente de matar adultos? Matar seis é diferente de matar um? E é nesta altura que os meus valores morais vão por água abaixo.
A verdade é que perante a imagem do Marc Dutroux, o único desejo que tenho é que o homem seja condenado à morte. E isto porquê? Porque o crime que cometeu é hediondo. Porque violou e matou crianças. E aqui está o meu problema. Matar crianças é diferente de matar adultos? Matar seis é diferente de matar um? E é nesta altura que os meus valores morais vão por água abaixo.
Sobre a pena de morte (1)
Sobre a pena de morte já li algumas reacções interessantes. A Maria Limonada diz que não se pode (mas tem um bocadinho de pena). A Papoila é da mesma opinião. O Tulius Detritus acha que é a discussão está viciada à partida e não está disposto a levar-me a sério (e faz ele muito bem, porque também não o levo a sério… achavam que eu ia dizer que também não me levo a sério? Essa piada está gasta). O Caso Arrumado faz uma apresentação jurídica do tema (coisa que desde já agradeço, bem como à Papoila). O 7000 Nomes diz que nunca, jamais, em tempo algum, a Soinico diz sempre e a Ana Albergaria grita “fritem esses filhos da mãe!” do outro lado da bancada.
Começo por dizer que, num aspecto, sou muito parecida com a Ana: não tenho espírito de conversão. Como a Ana, não pretendo convencer ninguém de nada nem justificar-me sequer. Percebo a Ana Albergaria, mas há um pormenor que tanto o Caso Arrumado como a Papoila indicam que me parece fundamental: a possibilidade de erro. No blogue políticos, esses filhos da mãe, está um post que exemplifica isso mesmo. Condenar à morte um inocente é condenar à morte um inocente a mais e isso parece-me já suficiente para me acalmar. No entanto, se admitirmos por hipótese que existe um sistema judicial perfeito, então a pena de morte é aceitável, porque sabemos com certeza que os condenados à morte são culpados. Bom, mas isso não existe, claro. O exemplo contrário serve apenas para mostrar que não é esse o meu maior problema. O meu grande problema aqui é o poder de vida ou de morte do Estado sobre os indivíduos, sejam eles quais forem. Esse poder não é aceitável.
Quanto à pena de morte ser um elemento dissuasor, como refere o Caso Arrumado, também não me parece que o seja. Porque há gente que não tem nada a perder e para quem a vida faz muito pouco sentido. Mas para confirmarmos esta suspeita teria de verificar dados estatísticos a este respeito.
A Papoila levanta ainda uma questão interessante: a da reabilitação. Há uns dias vi na 2: um documentário sobre as diferenças entre psicóticos e psicopatas. Ora a diferença fundamental parece ser esta: os psicóticos não têm memória activa, ou seja, não têm um contacto imediato com a realidade; os psicopatas reagem a todas as situações da mesma maneira. Testes feitos a psicopatas comprovam que estes reagem às palavras cadeira, violação, flor, espancamento da mesma maneira. Não há nenhuma actividade cerebral quando surgem as palavras “violação” e “espancamento” no ecrã. É igual ao litro. Esta gente não tem recuperação possível e mesmo se tivesse (já estou como a Papoila) queria lá saber. Há imensa gente no mundo a precisar de ser recuperada. Os casos perdidos são isso mesmo: perdidos. No mesmo programa, numa entrevista ao psicopata de serviço, o homem dizia que já tinha morto três pessoas e que não prometia nada se o deixassem sair em liberdade condicional (parece que estranhamente, no caso dele, havia essa possibilidade). Sim, e essa criatura respira. Dá-me vómitos, mas matá-lo não é solução. Pode ser um consolo, mas não resolve o problema. E, pensando melhor, porque é que damos tão pouco valor ao consolo? Nos tempos que correm, a gratidão e a consolação parecem ser valores de segunda classe.
Enfim, não sou a favor da pena de morte, porque o Estado não pode ter esse papel de assassino, ainda por cima com a possibilidade de erro sempre presente. Mas tenho pena que a vida não seja mais fácil.
Sobre a pena de morte já li algumas reacções interessantes. A Maria Limonada diz que não se pode (mas tem um bocadinho de pena). A Papoila é da mesma opinião. O Tulius Detritus acha que é a discussão está viciada à partida e não está disposto a levar-me a sério (e faz ele muito bem, porque também não o levo a sério… achavam que eu ia dizer que também não me levo a sério? Essa piada está gasta). O Caso Arrumado faz uma apresentação jurídica do tema (coisa que desde já agradeço, bem como à Papoila). O 7000 Nomes diz que nunca, jamais, em tempo algum, a Soinico diz sempre e a Ana Albergaria grita “fritem esses filhos da mãe!” do outro lado da bancada.
Começo por dizer que, num aspecto, sou muito parecida com a Ana: não tenho espírito de conversão. Como a Ana, não pretendo convencer ninguém de nada nem justificar-me sequer. Percebo a Ana Albergaria, mas há um pormenor que tanto o Caso Arrumado como a Papoila indicam que me parece fundamental: a possibilidade de erro. No blogue políticos, esses filhos da mãe, está um post que exemplifica isso mesmo. Condenar à morte um inocente é condenar à morte um inocente a mais e isso parece-me já suficiente para me acalmar. No entanto, se admitirmos por hipótese que existe um sistema judicial perfeito, então a pena de morte é aceitável, porque sabemos com certeza que os condenados à morte são culpados. Bom, mas isso não existe, claro. O exemplo contrário serve apenas para mostrar que não é esse o meu maior problema. O meu grande problema aqui é o poder de vida ou de morte do Estado sobre os indivíduos, sejam eles quais forem. Esse poder não é aceitável.
Quanto à pena de morte ser um elemento dissuasor, como refere o Caso Arrumado, também não me parece que o seja. Porque há gente que não tem nada a perder e para quem a vida faz muito pouco sentido. Mas para confirmarmos esta suspeita teria de verificar dados estatísticos a este respeito.
A Papoila levanta ainda uma questão interessante: a da reabilitação. Há uns dias vi na 2: um documentário sobre as diferenças entre psicóticos e psicopatas. Ora a diferença fundamental parece ser esta: os psicóticos não têm memória activa, ou seja, não têm um contacto imediato com a realidade; os psicopatas reagem a todas as situações da mesma maneira. Testes feitos a psicopatas comprovam que estes reagem às palavras cadeira, violação, flor, espancamento da mesma maneira. Não há nenhuma actividade cerebral quando surgem as palavras “violação” e “espancamento” no ecrã. É igual ao litro. Esta gente não tem recuperação possível e mesmo se tivesse (já estou como a Papoila) queria lá saber. Há imensa gente no mundo a precisar de ser recuperada. Os casos perdidos são isso mesmo: perdidos. No mesmo programa, numa entrevista ao psicopata de serviço, o homem dizia que já tinha morto três pessoas e que não prometia nada se o deixassem sair em liberdade condicional (parece que estranhamente, no caso dele, havia essa possibilidade). Sim, e essa criatura respira. Dá-me vómitos, mas matá-lo não é solução. Pode ser um consolo, mas não resolve o problema. E, pensando melhor, porque é que damos tão pouco valor ao consolo? Nos tempos que correm, a gratidão e a consolação parecem ser valores de segunda classe.
Enfim, não sou a favor da pena de morte, porque o Estado não pode ter esse papel de assassino, ainda por cima com a possibilidade de erro sempre presente. Mas tenho pena que a vida não seja mais fácil.
Começo o dia por dar as boas-vindas a mais um blogue muito bem escrito, interessante e sincero. Beijos à Controversa Maresia!
terça-feira, março 02, 2004
Essa criatura estranhíssima chamada Avelino Ferreira Torres disse que tinha o direito à indignação. Fixe. Já não me lembro quem inventou esse conceito que tem dado imenso jeito, mas gostava de saber. Ora o direito à indignação é uma espécie de guarda-chuva debaixo do qual tudo cabe. Senão vejamos: o Avelino invade o campo, parte cadeiras, diz que o estádio é dele, pago por ele e que por isso pode fazer o que quiser, chama nomes ao árbitro, quer bater-lhe etc. Enfim. Tudo bem porque o direito à indignação parece que o permite. Não tenho nada contra esse tal direito novo para fazer figuras tristes (como provavelmente estou a fazer no post em baixo). É um direito tão válido e útil como o direito à interpretação ou o direito ao gosto. O problema é que a liberdade de expressão é uma coisa e pontapear cadeiras é outra. À primeira reage-se com a crítica, à segunda reage-se com o castigo adequado. Como são duas coisas diferentes não podem ter o mesmo nome. Coitadinho do direito à indignação.
Desabafo: não sou a favor da pena de morte. O Estado não pode ser responsável pela morte de um cidadão, mesmo que este seja um criminoso hediondo. Bom, em princípio, esta teoria é muito civilizada e tal. Mas o que fazer de Marc Dutroux, por exemplo? A prisão parece-me pouco para casos destes. Aliás, a prisão começa a parecer-me muito pouco para casos de assassínio premeditado (e sim, sei que não é assim tão fácil e que há erros etc.). É que não há direito.
Adenda: a Ana pediu-me para explicar o aaargh! que fiz ao vestido da Renée e o comentário ao vestido da Curtis. Respondi-lhe num comentário que agora preferia discutir a pena de morte. E gostava muito de saber o que a Ana tem a dizer sobre este assunto, bem como os restantes blogueadores-blogueadores e blogueadores-juristas também.
Adenda: a Ana pediu-me para explicar o aaargh! que fiz ao vestido da Renée e o comentário ao vestido da Curtis. Respondi-lhe num comentário que agora preferia discutir a pena de morte. E gostava muito de saber o que a Ana tem a dizer sobre este assunto, bem como os restantes blogueadores-blogueadores e blogueadores-juristas também.
Só mais uns comentários frívolos sobre os Óscares (porque agora só para o ano):
1. quero o mesmo que a Julie Andrews anda a tomar (ou o número do cirurgião plástico, para usar daqui a uns anos);
2. quero o mesmo que a Liv Tyler anda a tomar, mas isso é para agora para ficar calminha e mansinha que nem um cordeirinho;
3. finalmente, o Benicio del Toro - desde Marlon Brando (ou Deus na Terra) que não se via homem tão carismástico no ecrã. Benicio del Toro interrompeu esse ciclo. Pelos vistos, del Toro decidiu seguir os passos de Brando: está destruído e inchado.
1. quero o mesmo que a Julie Andrews anda a tomar (ou o número do cirurgião plástico, para usar daqui a uns anos);
2. quero o mesmo que a Liv Tyler anda a tomar, mas isso é para agora para ficar calminha e mansinha que nem um cordeirinho;
3. finalmente, o Benicio del Toro - desde Marlon Brando (ou Deus na Terra) que não se via homem tão carismástico no ecrã. Benicio del Toro interrompeu esse ciclo. Pelos vistos, del Toro decidiu seguir os passos de Brando: está destruído e inchado.
segunda-feira, março 01, 2004
O Melhor dos Óscares (actualizado)
O melhor dos Óscares é a quantidade de vestidos fabulosos que se vêem. Isso e a introdução do anfitrião, que este ano foi Billy Crystal. Embora prefira o Steve Martin, tenho de admitir que a introdução com a curta The Return of the Host foi muito divertida. Ficam então os brevíssimos comentários às fatiotas de algumas senhoras que por ali passaram. Começo já por dizer que a rainha da festa é sempre a Julia Roberts e que o resto é conversa.
Catherine Zeta-Jones: bom vestido encarnado.
Angelina Jolie: hihá!
Renée Zellweger: aaargh!
Scarlett Johanson: vestido verde horroroso. Vestir mal uma mulher bonita devia ser considerado crime.
Sandra Bullock: vestido tipo bolo de noiva horroroso.
Julia Roberts: vestido bege de cair para o lado.
Oprah Winfrey: ai, que mau.
Diane Lane: vestido lindíssimo.
Juliane Moore: chocho.
Jamie Lee Curtis: bom vestido azul.
Charlize Theron: vestido prateado fabuloso.
Uma Thurman: vestido confuso mas interessante.
Susan Sarandon: sexy cow.
Sofia Copolla: desastre total.
Adenda: a triciclofeliz também fez os seus comentários. Toca a ler!
O melhor dos Óscares é a quantidade de vestidos fabulosos que se vêem. Isso e a introdução do anfitrião, que este ano foi Billy Crystal. Embora prefira o Steve Martin, tenho de admitir que a introdução com a curta The Return of the Host foi muito divertida. Ficam então os brevíssimos comentários às fatiotas de algumas senhoras que por ali passaram. Começo já por dizer que a rainha da festa é sempre a Julia Roberts e que o resto é conversa.
Catherine Zeta-Jones: bom vestido encarnado.
Angelina Jolie: hihá!
Renée Zellweger: aaargh!
Scarlett Johanson: vestido verde horroroso. Vestir mal uma mulher bonita devia ser considerado crime.
Sandra Bullock: vestido tipo bolo de noiva horroroso.
Julia Roberts: vestido bege de cair para o lado.
Oprah Winfrey: ai, que mau.
Diane Lane: vestido lindíssimo.
Juliane Moore: chocho.
Jamie Lee Curtis: bom vestido azul.
Charlize Theron: vestido prateado fabuloso.
Uma Thurman: vestido confuso mas interessante.
Susan Sarandon: sexy cow.
Sofia Copolla: desastre total.
Adenda: a triciclofeliz também fez os seus comentários. Toca a ler!
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