blogue de carla hilário de almeida quevedo bombainteligente@gmail.com
terça-feira, setembro 30, 2003
A propósito do post em baixo lembro que a palavra xenofobia é grega (xenos = estranho ou estrangeiro + fovia = medo). Mas há mais palavras com xenos (lê-se ksenos), como por exemplo hotel... em grego, pois claro, que se diz xenodoxeío. Ou seja, o recipiente (doxeío) dos estrangeiros. Os gregos também inventaram a palavra xenofilia (amor ao estrangeiro) e xenokratia (poder estrangeiro) e também xenolatria (adoração de tudo o que é estrangeiro). Mas foi só para disfarçar.
A Modern Greek Studies Association é, provavelmente, uma das mais apaixonadas comunidades virtuais. É constituída por pessoas que se interessam por estas coisas do grego, sobretudo professores universitários. Gente civilizada, pareceria à partida. Há três anos que faço parte da lista, participando pouco e observando muito. Em três anos já muitos participantes foram expulsos do fórum por insultos gratuitos, racismo, antisemitismo e mimos do género. Mas o orgulho de ser grego nota-se em todas as participações.
Para Artemis Leontis, professora universitária e pessoa de grande prestígio na comunidade, o obituário de Elia Kazan no jornal The New York Times não está completo. Deixo-vos um excerto do obituário que não foi publicado, por falta de espaço, e o comentário de Leontis, que revela este orgulho de ser grego, que é tão diferente do orgulho de se ser outra coisa qualquer.
"Elia Kazanjoglous was born on Sept. 7, 1909, in Constantinople. He was one of four sons of George Kazanjoglous and the former Athena Sismanoglou, Anatolian Greeks living under harsh Turkish rule in the Ottoman Empire. His father emigrated to New York became a rug merchant and sent for his family shortly before World War I. Mr. Kazan attributed much to his Anatolian origins, particularly what he called in his autobiography his desire to ingratiate and his capacity to dissemble - 'the Anatolian smile' he so disliked in his father, 'the smile that covers resentment'."
E Leontis comenta: "But my thoughts about Kazan go elsewhere this evening. The New York Times remembers him as one of the greatest film directors of all times, a
Greek-American who managed to 'define the American experience for more than a generation.' 'To many critics, he was the best director of American actors in stage and screen history.' Does it get any better than this? Yet he was also a quintessential case of the Greek-American artist. Creative, passionate, angry, uncomfortable with him self and his peers, successful, complicated, stubborn, dead wrong in some important judgments and unwilling to repent. Keen to explore his roots yet cut off from the convention bound immigrant community, which repaid him the compliment by systematically ignoring him. I barely knew of his existence as a teenager - no one I knew among my parent's American born Greek friends ever spoke of the great contribution of this Greek American to American cinema. Of course I'd seen some of his movies in theatres that played American classics, but only later discovered there was a Greek story connected to the man when I saw 'America America.' In Greece, however, I found that he had a passionate following.
Nothing in his immigrant Greek upbringing prepared him for life in the arts: he had to cross the wide divide between the immigrant merchant community and the artistic community on his own, and, once he had crossed it, fended for himself. He never reached out, never sought a helping hand - and probably few were offered from his own immigrant group. Yet he was able to find a rich reserve of stories and drama when he probed deep into his 'Anatolian Greek' past as well as his uncomfortable hyphenated American present as an immigrant outsider." Não interessa o que era; o que interessa é que era grego. Um clássico.
Para Artemis Leontis, professora universitária e pessoa de grande prestígio na comunidade, o obituário de Elia Kazan no jornal The New York Times não está completo. Deixo-vos um excerto do obituário que não foi publicado, por falta de espaço, e o comentário de Leontis, que revela este orgulho de ser grego, que é tão diferente do orgulho de se ser outra coisa qualquer.
"Elia Kazanjoglous was born on Sept. 7, 1909, in Constantinople. He was one of four sons of George Kazanjoglous and the former Athena Sismanoglou, Anatolian Greeks living under harsh Turkish rule in the Ottoman Empire. His father emigrated to New York became a rug merchant and sent for his family shortly before World War I. Mr. Kazan attributed much to his Anatolian origins, particularly what he called in his autobiography his desire to ingratiate and his capacity to dissemble - 'the Anatolian smile' he so disliked in his father, 'the smile that covers resentment'."
E Leontis comenta: "But my thoughts about Kazan go elsewhere this evening. The New York Times remembers him as one of the greatest film directors of all times, a
Greek-American who managed to 'define the American experience for more than a generation.' 'To many critics, he was the best director of American actors in stage and screen history.' Does it get any better than this? Yet he was also a quintessential case of the Greek-American artist. Creative, passionate, angry, uncomfortable with him self and his peers, successful, complicated, stubborn, dead wrong in some important judgments and unwilling to repent. Keen to explore his roots yet cut off from the convention bound immigrant community, which repaid him the compliment by systematically ignoring him. I barely knew of his existence as a teenager - no one I knew among my parent's American born Greek friends ever spoke of the great contribution of this Greek American to American cinema. Of course I'd seen some of his movies in theatres that played American classics, but only later discovered there was a Greek story connected to the man when I saw 'America America.' In Greece, however, I found that he had a passionate following.
Nothing in his immigrant Greek upbringing prepared him for life in the arts: he had to cross the wide divide between the immigrant merchant community and the artistic community on his own, and, once he had crossed it, fended for himself. He never reached out, never sought a helping hand - and probably few were offered from his own immigrant group. Yet he was able to find a rich reserve of stories and drama when he probed deep into his 'Anatolian Greek' past as well as his uncomfortable hyphenated American present as an immigrant outsider." Não interessa o que era; o que interessa é que era grego. Um clássico.
A Vírgula pergunta-me qual é o étimo de marido. É o latino maritus, mais precisamente o adjectivo latino mas, maris, que significa viril, e que reconhecemos em palavras como masculino. Marido quererá então simplesmente dizer homem? Pois parece que sim. Em grego, a palavra para marido é andras (homem) e para mulher, yunaika (mulher). A diferença está no possessivo utilizado a acompanhar as palavras: o andras mou (o meu homem / marido) ou i yunaika mou (a minha mulher). A diferença está no que importa definir, não nos nomes.
segunda-feira, setembro 29, 2003
Do Posso Ouvir Um Disco recebi dois links para dois artigos de opinião interessantes sobre o motivo do encerramento das salas de chat. São este e este.
domingo, setembro 28, 2003
Embora com atraso, gostaria de comentar dois aparentes pormenores nas notícias do escândalo do helicóptero 15 e de a Microsoft fechar as salas de chat por incentivarem a criminalidade.
Na primeira notícia, a palavra escândalo é o problema. Não podemos ter o escândalo da pedofilia e logo depois o escândalo do helicóptero. Temo o que se seguirá. Patético.
O problema na notícia do encerramento das salas de chat (via A Esquina do Rio) é a razão apresentada não ser inteiramente verdadeira. A Microsoft é uma grande empresa, não é a Polícia. As salas de chat tinham de ser fechadas sobretudo porque não davam lucro. A partir de agora o serviço passa a ser pago (o que também obrigará a que as pessoas, de certa forma, se identifiquem, pelo uso do cartão de crédito, por exemplo) e haverá maior investimento no sistema de messenger.
Na primeira notícia, a palavra escândalo é o problema. Não podemos ter o escândalo da pedofilia e logo depois o escândalo do helicóptero. Temo o que se seguirá. Patético.
O problema na notícia do encerramento das salas de chat (via A Esquina do Rio) é a razão apresentada não ser inteiramente verdadeira. A Microsoft é uma grande empresa, não é a Polícia. As salas de chat tinham de ser fechadas sobretudo porque não davam lucro. A partir de agora o serviço passa a ser pago (o que também obrigará a que as pessoas, de certa forma, se identifiquem, pelo uso do cartão de crédito, por exemplo) e haverá maior investimento no sistema de messenger.
sábado, setembro 27, 2003
A mosca entra muito tonta no quartinho. Depois de centenas de voltas dadas no ar, pousa no fio da aparelhagem. Aí permanece imóvel. Parece dormir. O gato Varandas, por instinto ou por mero aborrecimento dá o ar da sua graça e dirige-se ao fio, como se tivesse ouvido qualquer som suspeito. Pára em frente ao fio e olha para a mosca, que se confirma estar a dormir. A observação do gato é várias vezes interrompida por umas tentativas de aproximação do próprio bichano àquele ponto preto: corpo esticado, corpo sentado, corpo esticado... A mosca nada. Dorme como um anjinho e o perigo (ou nem tanto) mesmo ali ao lado. O jogo do levanta e senta acaba por estafar o predador persa. De sentado passa finalmente a deitado e adormece.
Em Da Certeza, de Ludwig Wittgenstein, leio: "A certeza é por assim dizer um tom de voz em que alguém declara como são as coisas, mas não se infere desse tom que tem razão." Reconheço a influência selvagem desta frase do Ludwig na mulher de Basil Fawlty, Sybil Fawlty, a falar ao telefone e a arranjar as unhas ao mesmo tempo: "Oh, I know... Oh, I know..."
Satisfaction, do DJ italiano Benny Benassi, é um dos temas de dança mais bem recebidos pela crítica especializada. Os amantes do movimento e do bricolage, façam o favor de clicar em video.
Durante estes quase seis meses de existência do bomba inteligente, tenho trabalhado na minha tese de Mestrado. O blogue tem-me ajudado a concentrar e por vezes a descobrir pormenores que antes não via nos poemas de Kavafis. Se calhar, é por estarem escarrapachados no ecrã (uma variante de estarem colados na parede).
No outro dia, tive esta conversa com uma querida amiga:
- Olha e a tese?
- Estou a escrevê-la.
- Sobre que é?
- Errr... as influências clássicas nos poemas de Konstandinos Kavafis.
- Desculpa ter perguntado. É algo que só interessa à Academia?
- Não, só mesmo ao meu orientador.
Tenho lido que, na blogosfera, há mais pessoas com o mesmo gosto pelo poeta grego, como a Ana, a Claire, o Jorge, o maradona e agora o Pedro. Como me interessa mais a questão da influência (mas isso é segredo) do que a verificação da mesma nos poemas, fico agradavelmente surpreendida sempre que percebo que os que não conheciam o poeta se deixam agora, de certa forma, influenciar por ele.
No outro dia, tive esta conversa com uma querida amiga:
- Olha e a tese?
- Estou a escrevê-la.
- Sobre que é?
- Errr... as influências clássicas nos poemas de Konstandinos Kavafis.
- Desculpa ter perguntado. É algo que só interessa à Academia?
- Não, só mesmo ao meu orientador.
Tenho lido que, na blogosfera, há mais pessoas com o mesmo gosto pelo poeta grego, como a Ana, a Claire, o Jorge, o maradona e agora o Pedro. Como me interessa mais a questão da influência (mas isso é segredo) do que a verificação da mesma nos poemas, fico agradavelmente surpreendida sempre que percebo que os que não conheciam o poeta se deixam agora, de certa forma, influenciar por ele.
O Pedro Lomba volta à blogosfera e começa por citar Kavafis! Dedico este regresso a mim própria, pode ser? Rebem-vindo!
sexta-feira, setembro 26, 2003
Ontem, antes da festa de lançamento d' O Inimigo Público (já a correr comprar o jornal!), o meu marido e eu jantámos num restaurante na Praça das Flores. Estávamos nós sentados na paz do Senhor, quando fomos impiedosamente interrompidos pela entrada de um grupo de 20 pessoas. O pesadelo chamava-se "jantar de empresa", com uma americana gordalhufa, de cara lavada a liderar as tropas. Os homens passaram o tempo todo a acariciar as gravatas e as mulheres (qual delas a mais desagradável de tão feia) a tentar perceber o que estavam a comer (duh!). Tentei então explicar ao meu marido: "Olha, The Office. Achas graça? Ha ha ha... Só me apetece desatar a chorar!"
Às vezes dizem-me: "Olha, sabes que a não sei quantas ou o coiso e tal não gostam de ti?" Fico sempre um nadinha triste, embora na maior parte das vezes que ouço isto não conheça a pessoa que não gosta de mim. Mas a vida é mesmo assim. Há quem goste e há quem não goste. Embora por experiência tenha aprendido que os que não gostam não valem a pena.
É-me difícil não suportar alguém. As pessoas são só isso mesmo: pessoas. E não têm nada de especial. What's there not to like? Por isso, por princípio, gosto sempre. Passado algum tempo, a coisa pode descambar. Mas tal só acontecerá se houver uma grande aproximação entre mim e essa pessoa, coisa que também muito raramente acontece. O que é verdade é que as pessoas gostam tanto de nós como nós gostamos delas.
É-me difícil não suportar alguém. As pessoas são só isso mesmo: pessoas. E não têm nada de especial. What's there not to like? Por isso, por princípio, gosto sempre. Passado algum tempo, a coisa pode descambar. Mas tal só acontecerá se houver uma grande aproximação entre mim e essa pessoa, coisa que também muito raramente acontece. O que é verdade é que as pessoas gostam tanto de nós como nós gostamos delas.
quinta-feira, setembro 25, 2003
Tenho seguido com interesse os posts do Zé Diogo sobre a passada; ou seja, sobre o ritmo que damos ao nosso andar diário nos passeios de qualquer cidade. Felizmente, nunca passei pela triste situação de, de repente, estar a andar ao mesmo tempo do que o anónimo ao lado. Isto porque ando de facto muito devagar. Sou o pesadelo de qualquer pessoa que se queira simplesmente deslocar de um lado para o outro. A coisa comigo não é fácil. Há pessoas na rua, há cães ('tá bem visto, Zé Diogo) e há lojas. É muita coisa para alguém, como eu, que sai pouco de casa. O passeio (que o é sempre) tem de ser bem saboreado. Mesmo a ida à repartição de Finanças pode ser feita numa passada agradável, até com algumas paragens pelo meio. Sou, por tudo isto, companhia ideal para exposições. Não me chamem é para ir de casa até ao café. E chegar à hora marcada.
Quero agradecer ao maradona a gentileza de fazer o peditório para os DVDs dos Monty Python (a colecção toda, obrigada; podem deixar no porteiro). É uma falha imperdoável! Para compensar (ou para ainda me enterrar mais), quero dizer que as séries Harry Enfield and Chums, Big Train, Coupling e Goodness Gracious Me (obrigada, Bruno!) estão entre as minhas favoritas de sempre.
quarta-feira, setembro 24, 2003
terça-feira, setembro 23, 2003
O Nuno está triste porque não suporto a série The Office e aconselha-me a dar-lhe uma nova oportunidade. Hm... Um dia revejo os episódios e vejo se o meu gosto mudou. E porque é que não gostamos de umas coisas e depois, passado um tempo, passamos a gostar? O que é que muda? Ai, Nuno, tanta pergunta!
Ainda sobre as séries de humor britânicas leio as preferências do Contra a Corrente (que são muito semelhantes às minhas, salvo a da Keeping Up Appearances, uma série que me parece datada); do Desesperada Esperança (que não gosta do Absolutely Fabulous. Percebo perfeitamente porquê. A ideia de duas loucas imorais, alcoólicas, drogadas e excêntricas apavora qualquer pessoa que goste do Yes, Minister. Série de também gosto, mind you); do Serra Mãe e do Mata Mouros. Os autores destes últimos dois blogues falam sobre a série The Royle Family (um trocadilho com The Royal Family) e o que dizem vai ao encontro do que penso.
Há uns tempos largos, discutiu-se no Pastilhas qual seria a melhor palavra para descrever a parte da cara entre o lábio superior e o nariz. Falo daquele corredor estreito que liga as duas bochechitas. O autor da pertinente pergunta (e da sublime resposta) foi o Carne. Após meses de invenções e de zaragatas chegou-se a uma conclusão. A palavra nascia, de seu nome carlotina. Ficou a marinar durante uns tempos (como o autor gosta de dizer) e agora aqui está ela: fresca e radiosa, pronta para ser usada e abusada, mal escrita e pior empregue, com u com e final, como qualquer outra palavra que se preze. Malaca Casteleiro, força com essa entrada na revisão do dicionário da Academia! (Falo nisto agora porque utilizei a palavra livre das aspas que prendem as palavritas inventadas, quando quis descrever o Basil Fawlty a marchar na sala "com o dedo na carlotina a fazer de bigode", e porque o Carne me apanhou.)
O Daniel enviou-me um e-mail, em que manifesta algumas preocupações relativamente aos meus gostos em séries de humor britânicas. Tentarei responder às três perguntas que me faz.
1- Na lista de séries de humor favoritas, não aparece o Monty Python's Flying Circus. Isso foi de propósito?
Não foi de propósito. A questão é que nunca vi... Dos Monty Python só vi o filme Monty Python and The Holy Grail e gostei muito, mas não tanto como as séries que mencionei (e sim, imagino que sem os Monty Python, as coisas teriam sido diferentes).
2- Uma questão da maior importância tem-me ocupado os pensamentos nos últimos dias: qual é a melhor série do Blackadder? Acho que o Blackadder Goes Forth vence, seja só por causa do último episódio. Depois: II, I e III.
Para mim, a ordem seria esta: III, IV, II, I. A primeira é a mais fraca. Parece mesmo que andam à procura do registo certo. A minha preferida é a terceira série, com Hugh Laurie como um Príncipe Regente completamente idiota.
3- Finalmente, quanto à The Royle Family não entendo bem como podes dizer que é "incompreensivel", acho que a ideia até é bastante clara: mostrar o suposto dia-a-dia duma família working class na Inglaterra, fornecendo assim um espelho a essa mesma classe. Comentário social e essas tretas todas. De qualquer forma, o que eu acho mais interessante na série são as reacções que as pessoas têm a ela: a minha mãe, por exemplo, criou logo uma relação de "amizade" com a família depois de uns episódios, vê a série como quem vai visitar um amigo.
Quando disse que The Royle Family era incompreensível referia-me ao humor da série. Não percebo o humor. Ou melhor, não consigo pensar em The Royle Family como uma série de humor. Tem pouco ritmo, muitas paragens etc.
1- Na lista de séries de humor favoritas, não aparece o Monty Python's Flying Circus. Isso foi de propósito?
Não foi de propósito. A questão é que nunca vi... Dos Monty Python só vi o filme Monty Python and The Holy Grail e gostei muito, mas não tanto como as séries que mencionei (e sim, imagino que sem os Monty Python, as coisas teriam sido diferentes).
2- Uma questão da maior importância tem-me ocupado os pensamentos nos últimos dias: qual é a melhor série do Blackadder? Acho que o Blackadder Goes Forth vence, seja só por causa do último episódio. Depois: II, I e III.
Para mim, a ordem seria esta: III, IV, II, I. A primeira é a mais fraca. Parece mesmo que andam à procura do registo certo. A minha preferida é a terceira série, com Hugh Laurie como um Príncipe Regente completamente idiota.
3- Finalmente, quanto à The Royle Family não entendo bem como podes dizer que é "incompreensivel", acho que a ideia até é bastante clara: mostrar o suposto dia-a-dia duma família working class na Inglaterra, fornecendo assim um espelho a essa mesma classe. Comentário social e essas tretas todas. De qualquer forma, o que eu acho mais interessante na série são as reacções que as pessoas têm a ela: a minha mãe, por exemplo, criou logo uma relação de "amizade" com a família depois de uns episódios, vê a série como quem vai visitar um amigo.
Quando disse que The Royle Family era incompreensível referia-me ao humor da série. Não percebo o humor. Ou melhor, não consigo pensar em The Royle Family como uma série de humor. Tem pouco ritmo, muitas paragens etc.
Um dos blogues que visito diariamente é o Ponto e Vírgula. Porque gosto do tom, da excelência na escrita, do carinho com que a Vírgula trata as palavras, da rapidez de raciocínio do Ponto.
O Ponto e Vírgula passou recentemente por uma crise de identidade (perfeitamente justificada nestas coisas da escrita) e perguntou-se o que raio anda aqui a fazer. A pergunta é da virginiana Vírgula, que assim desarma a maioria do blogueadores. Afinal de contas, para quê? Percebo muitíssimo bem que se ceda à tentação de racionalizar esta nossa actividade (eu própria não faço outra coisa em relação a tantas outras coisas). Entre as muitas respostas que me vêm à cabeça, escolho uma: porque sim. Espero que seja suficiente para que o Ponto e a Vírgula fiquem na blogosfera durante muito e muito tempo.
O Ponto e Vírgula passou recentemente por uma crise de identidade (perfeitamente justificada nestas coisas da escrita) e perguntou-se o que raio anda aqui a fazer. A pergunta é da virginiana Vírgula, que assim desarma a maioria do blogueadores. Afinal de contas, para quê? Percebo muitíssimo bem que se ceda à tentação de racionalizar esta nossa actividade (eu própria não faço outra coisa em relação a tantas outras coisas). Entre as muitas respostas que me vêm à cabeça, escolho uma: porque sim. Espero que seja suficiente para que o Ponto e a Vírgula fiquem na blogosfera durante muito e muito tempo.
segunda-feira, setembro 22, 2003
O episódio The Germans, da série britânica Fawlty Towers, é o exemplo daquilo a que acho verdadeiramente graça. No episódio, John Cleese, como o proprietário insuportável de hotel Basil Fawlty, recebe hóspedes alemães e faz tudo por tudo para só falar na guerra, apesar de acabar todas as frases com o clássico "don't mention the war!" O ritmo é excelente e o final apoteótico, com Basil a marchar na sala de jantar e no hall, sempre com o dedo na carlotina a fazer de bigode.
A representação é espalhafatosa e exbicionista (um bocadinho apalhaçada) e o humor subtil e sofisticado. Uma combinação que torna este episódio perfeito.
A representação é espalhafatosa e exbicionista (um bocadinho apalhaçada) e o humor subtil e sofisticado. Uma combinação que torna este episódio perfeito.
Ainda sobre o humor, o leitor Bruno sugere The League of Gentlemen. A terceira série (a do saco de plástico que liga todos os episódios) tem momentos hilariantes, como por exemplo, o episódio em que chega um guru à vila e dá um curso de auto-asfixia erótica. O curso termina com a morte de todos os participantes do curso, porque a máquina ("medusa", se não me engano) a que estão todos ligados e que lhes permite ter prazer, avaria. Mas esta é outra série de humor que me diz pouco, porque não tenho grande interesse por filmes nem por séries de terror.
domingo, setembro 21, 2003
Ontem comprei as séries 3 e 4 em DVD do Blackadder. O episódio em que Blackadder perde o manuscrito do Dicionário da Língua Inglesa, de Samuel Johnson, e que depois o rescreve numa noite é de génio. Blackadder é a minha série de humor favorita. Logo a seguir vem Fawlty Towers. Depois a série Fast Show e depois Absolutely Fabulous. E o que é que estes meus gostos dizem de mim?
As séries The Office e The Royle Family aborrecem-me de morte. A primeira irrita-me e faz com que saia da sala e vá fazer outra coisa e segunda é simplesmente incompreensível. Também estes meus des-gostos dirão com certeza algo de mim.
Aristóteles, na Poética, terá escrito sobre a comédia. Infelizmente, esse texto não chegou até nós (se se lembrarem do romance O Nome da Rosa, de Umberto Eco, perceberão como isso aconteceu...), mas na primeira parte do texto, referente à tragédia, podemos ler o seguinte: "As for comedy, it is (as has been observed) an imitation of men worse than the average; worse, however, not as regards any and every sort of fault, but only as regards one particular kind, the ridiculous, which is a species of the ugly. The ridiculous may be defined as a mistake or deformity not productive of pain or harm to others; the mask, for instance, that excites laughter, is something ugly and distorted without causing pain." (1449 32-37) (The Complete Works of Aristotle, ed. Jonathan Barnes, Princeton University Press.) Prometia.
As séries The Office e The Royle Family aborrecem-me de morte. A primeira irrita-me e faz com que saia da sala e vá fazer outra coisa e segunda é simplesmente incompreensível. Também estes meus des-gostos dirão com certeza algo de mim.
Aristóteles, na Poética, terá escrito sobre a comédia. Infelizmente, esse texto não chegou até nós (se se lembrarem do romance O Nome da Rosa, de Umberto Eco, perceberão como isso aconteceu...), mas na primeira parte do texto, referente à tragédia, podemos ler o seguinte: "As for comedy, it is (as has been observed) an imitation of men worse than the average; worse, however, not as regards any and every sort of fault, but only as regards one particular kind, the ridiculous, which is a species of the ugly. The ridiculous may be defined as a mistake or deformity not productive of pain or harm to others; the mask, for instance, that excites laughter, is something ugly and distorted without causing pain." (1449 32-37) (The Complete Works of Aristotle, ed. Jonathan Barnes, Princeton University Press.) Prometia.
sábado, setembro 20, 2003
Desabafos de uma blogueadora
- Tenho saudades dos escritos do Pedro Lomba (já chega de férias!);
- cada vez me divirto mais a ler o Procuro Marido;
- o Aviz devia ser proibido de ir de férias;
- o Modus Vivendi não pode fechar as portas.
Agora um desabafo um bocadinho mais longo sobre o blogue da Ana Roque. Há um motivo pelo qual a Ana não pode deixar de escrever: a Ana gosta de escrever. Ora deixarmos de fazer aquilo de que gostamos é uma violência. E, como tal, não tem sentido. Volta.
- Tenho saudades dos escritos do Pedro Lomba (já chega de férias!);
- cada vez me divirto mais a ler o Procuro Marido;
- o Aviz devia ser proibido de ir de férias;
- o Modus Vivendi não pode fechar as portas.
Agora um desabafo um bocadinho mais longo sobre o blogue da Ana Roque. Há um motivo pelo qual a Ana não pode deixar de escrever: a Ana gosta de escrever. Ora deixarmos de fazer aquilo de que gostamos é uma violência. E, como tal, não tem sentido. Volta.
sexta-feira, setembro 19, 2003
Quero agradecer aos pastilhadores, blogueadores e leitores do bomba as mensagens de feliz aniversário. Tornaram o dia ainda mais entusiasmante.
Lamentável a atitude do Abrupto, que se fez de novas e ignorou essa data merecedora de festejos em massa. É sempre a mesma coisa. Ainda para mais, o ainda não extinto MRPP (obrigada, Fumaças!) foi fundado no dia 18 de Setembro de 1970.
Mas ainda há esperança de salvar o dia 18: o Nuno Mota Pinto completou ontem 33 anos, o que nos torna almas gémeas e nativos do signo chinês cão (atenção a estas informações preciosas). Parabéns! E assim estão encerrados os festejos e iniciada a fase de ressaca.
Lamentável a atitude do Abrupto, que se fez de novas e ignorou essa data merecedora de festejos em massa. É sempre a mesma coisa. Ainda para mais, o ainda não extinto MRPP (obrigada, Fumaças!) foi fundado no dia 18 de Setembro de 1970.
Mas ainda há esperança de salvar o dia 18: o Nuno Mota Pinto completou ontem 33 anos, o que nos torna almas gémeas e nativos do signo chinês cão (atenção a estas informações preciosas). Parabéns! E assim estão encerrados os festejos e iniciada a fase de ressaca.
quinta-feira, setembro 18, 2003
Recebi um e-mail do banco a dar-me os parabéns e com os votos de um dia feliz, aproveitaram e traçaram o meu perfil astrológico. Depois destas revelações, ninguém que leia esta página (e que não tenha mais nadinha para fazer, claro) poderá dizer que não me conhece.
6.º signo do zodíaco - 23 de Agosto a 22 de Setembro
Elemento: terra, mutável.
Planeta: Mercúrio.
Parte do corpo: intestinos, pâncreas.
Estação: fim do Verão.
Perfume: gardénia.
Pedra: safira e topázio.
Dia: quarta-feira.
Número: 5.
Metal: prata.
Cor: azul.
Personalidade: receptivo, lógico, atencioso, observador, prático, alegre, organizado.
Missão: analisar e aperfeiçoar a actuação do Homem.
Dom: pureza de pensamento.
Virgem, associado a Mercúrio, busca teorias que possam ser postas em prática e é o signo mais realista de todo o zodíaco. Perfeccionista, trabalha os pormenores, sendo avesso a qualquer sinal de desordem ou de desorganização. A vida profissional está em primeiro lugar, tendo por vezes uma certa tendência a esquecer-se do lado lúdico da vida. Algo intolerante, tem de aprender a aceitar ideias e pessoas diferentes. Aprecia a riqueza material e o conforto. A saúde é um factor de constante preocupação.
Bem me parecia que a minha missão na Terra era a de "analisar e aperfeiçoar a actuação do Homem". Sempre o soube. Embora "pureza de pensamento" me pareça fraco.
6.º signo do zodíaco - 23 de Agosto a 22 de Setembro
Elemento: terra, mutável.
Planeta: Mercúrio.
Parte do corpo: intestinos, pâncreas.
Estação: fim do Verão.
Perfume: gardénia.
Pedra: safira e topázio.
Dia: quarta-feira.
Número: 5.
Metal: prata.
Cor: azul.
Personalidade: receptivo, lógico, atencioso, observador, prático, alegre, organizado.
Missão: analisar e aperfeiçoar a actuação do Homem.
Dom: pureza de pensamento.
Virgem, associado a Mercúrio, busca teorias que possam ser postas em prática e é o signo mais realista de todo o zodíaco. Perfeccionista, trabalha os pormenores, sendo avesso a qualquer sinal de desordem ou de desorganização. A vida profissional está em primeiro lugar, tendo por vezes uma certa tendência a esquecer-se do lado lúdico da vida. Algo intolerante, tem de aprender a aceitar ideias e pessoas diferentes. Aprecia a riqueza material e o conforto. A saúde é um factor de constante preocupação.
Bem me parecia que a minha missão na Terra era a de "analisar e aperfeiçoar a actuação do Homem". Sempre o soube. Embora "pureza de pensamento" me pareça fraco.
quarta-feira, setembro 17, 2003
Na sequência do post sobre a Av. de Roma, recebi três mensagens com recordações dessa zona de Lisboa. A primeira chega do Posso Ouvir Um Disco, que tenta explicar-me quem é o homem dos Kleenex: "O homem da Av. de Roma há anos que deambula por ali e tens de comprar os lenços por mais que não queiras, não precises e só o queiras ajudar. Este tipo se vendesse a Cais obrigava-te a levá-la mesmo que não a quisesses. Faz-me confusão porque há anos que anda por ali arrastando as suas tralhas e uma mala velha num carrinho. É um rapaz novo e anda sempre limpo. Às sete da manhã lá anda ele a correr de paragem em paragem a ver se vende uns lenços. Vê-lo todos os dias lembra-me de como a minha vida é boa e como a vida de tantos é tão má." E eu que continuo sem perceber qual é o raio do homem? Será que se move no submundo da Av. de Roma?
A segunda mensagem chega-me da Sara Pereira: "O que me fez escrever hoje, foi o post sobre a Av. de Roma. Também já o tinha lido no Desejo Casar. Como também cresci lá, uma pessoa "sente-se"com estas coisas. Por vezes, vamos na rua (ainda vivo por ali), e imaginamo-nos pela mão da mãe, com sete anos a ir para a escola. Ou pela mão da avó. No meu caso, escola 24 no Bairro de São Miguel. A começar às 13h e a acabar às 18h, ou coisa parecida. Ora, no caminho que todos os dias percorria com a minha mãe, invariavelmente, levava-me a passar pelo Luanda e a comer um pastel de nata ou pela suprema onde devorava um bolinho de coco. Se fosse com a minha avó, já passava pelo Vá-vá (acho que era pela altura da minha mania pelas bolas-de-berlim). Mas sempre houve uma coisa em comum no regresso, qualquer que fosse o caminho ou a companhia: o Frutalmeidas." A Sara andou na mesma escola que o meu irmão. E eu nasci na clínica de São Miguel. Está tudo relacionado.
Recebi ainda esta mensagem do meu querido ex-colega de liceu, Jaime, que me encontrou passados muitos anos por causa do bomba. O Jaime era o meu amigo que ia lanchar lá a casa quando saíamos das aulas. E líamos livros em conjunto. Mas isso era numa época em que ter 15 anos significava ser ainda uma criança: "O Tique-Taque não foi também uma croissanterie antes de ser Stefanel? E a Nanni Strada? (onde brincávamos aos casais crescidos: "Torrãozinho, cê me compra um vestidinho da Nanni, compra?" "Claro, meu bem.") E aquela agência de bilhetes, muito pequenina, mesmo em frente à Pastelaria Roma? E a secção de revistas na cave da Livraria Bertrand? (passei lá horas e horas a ver revistas italianas de Fórmula 1) E o Clube Roma? E as casas de jogos? (muitas moedinhas lá foram gastas...) E os snookers, que agora são parte do Centro Roma?" Pois é.
A segunda mensagem chega-me da Sara Pereira: "O que me fez escrever hoje, foi o post sobre a Av. de Roma. Também já o tinha lido no Desejo Casar. Como também cresci lá, uma pessoa "sente-se"com estas coisas. Por vezes, vamos na rua (ainda vivo por ali), e imaginamo-nos pela mão da mãe, com sete anos a ir para a escola. Ou pela mão da avó. No meu caso, escola 24 no Bairro de São Miguel. A começar às 13h e a acabar às 18h, ou coisa parecida. Ora, no caminho que todos os dias percorria com a minha mãe, invariavelmente, levava-me a passar pelo Luanda e a comer um pastel de nata ou pela suprema onde devorava um bolinho de coco. Se fosse com a minha avó, já passava pelo Vá-vá (acho que era pela altura da minha mania pelas bolas-de-berlim). Mas sempre houve uma coisa em comum no regresso, qualquer que fosse o caminho ou a companhia: o Frutalmeidas." A Sara andou na mesma escola que o meu irmão. E eu nasci na clínica de São Miguel. Está tudo relacionado.
Recebi ainda esta mensagem do meu querido ex-colega de liceu, Jaime, que me encontrou passados muitos anos por causa do bomba. O Jaime era o meu amigo que ia lanchar lá a casa quando saíamos das aulas. E líamos livros em conjunto. Mas isso era numa época em que ter 15 anos significava ser ainda uma criança: "O Tique-Taque não foi também uma croissanterie antes de ser Stefanel? E a Nanni Strada? (onde brincávamos aos casais crescidos: "Torrãozinho, cê me compra um vestidinho da Nanni, compra?" "Claro, meu bem.") E aquela agência de bilhetes, muito pequenina, mesmo em frente à Pastelaria Roma? E a secção de revistas na cave da Livraria Bertrand? (passei lá horas e horas a ver revistas italianas de Fórmula 1) E o Clube Roma? E as casas de jogos? (muitas moedinhas lá foram gastas...) E os snookers, que agora são parte do Centro Roma?" Pois é.
terça-feira, setembro 16, 2003
O que gostava de ver era um Ídolos para potenciais escritores. Isso é que era. "Ouve lá, tu não sabes escrever." "Tiveste aulas de escrita? Olha, pede ao teu professor que te devolva o dinheiro porque não te ensinou nada." "Escreves bem em brasileiro, mas do que gostava era de te ver escrever em português." "Tens pinta de escritor, tens boa letra, mas não escreves nada." Um programa de sonho...
Sinto-me uma Miss Universo, venezuelana, alta, bem coroada e de ceptro em punho, obrigada a entregar antes de tempo as riquezas que ganhei por manifestar o desejo de paz no mundo. O Homem a Dias, esse membro do júri implacável, lá por em vez de me deslocar ao Ground Zero ter ficado na Quinta Avenida a fazer compras, resolveu retirar-me o título. E para cúmulo da humilhação, escolheu uma porto-riquenha pequenina e gorducha que promete salvar as empresas através de sistemas que não são pequenos. Como competir com uma ideia destas?
Na minha ronda de blogues matinal leio o segundo post da Clara Macedo Cabral sobre a Avenida em que cresci: a Av. de Roma. Que bonitos textos, Clara. E o King que era Vox e que depois foi a discoteca Voxmania? E a pastelaria Tique-Taque, mesmo ao lado do túnel, que depois foi Stefanel e que agora é uma loja de vestidos de noiva? E a loja da Ana Salazar que era a Maçã? Também me lembro da Barata pequenina, sempre cheia. Mas não me lembro desse senhor dos Kleenex. Vou ver se lhe compro uns pacotes de lenços no dia dos meus anos...
segunda-feira, setembro 15, 2003
A caminho do dentista, aconteceu-me uma coisa que nunca me tinha acontecido na vida: fiquei fechada no elevador. Como acho que nunca é nada comigo, fiquei sentada à espera que me viessem buscar. O tempo foi passando e comecei a ficar com o cabelo molhado de tanto calor que ali estava. Decidi que talvez não fosse má ideia usar o telefone do elevador e carregar num botão que dizia alarme. Nada. Sentei-me outra vez. Como aquilo já se estava a tornar uma sauna, resolvi dar umas pancadas (de menina) na porta e perguntei "está aí alguém?" um bocadinho a medo e um bocadinho sem medo. Do outro lado, ouvi: "Ah! Está aqui! Vamos já buscá-la!" Sentei-me. E depois de muitas voltas no elevador, que de parado passou a subir e a descer feito louco, fui parar ao rés-do-chão. Dois seguranças esperavam-me com um sorriso simpático. E assim passei meia hora da minha existência.
No dentista
- Indique-me o dente que lhe dói.
- É este...
- Este? (bate com um instrumento estranho prateado mesmo no dente doente)
- AAAAIIII! Esse mesmo...
- Hm... vamos ter de fazer uma epicectomia.
- Nós quem?
- Eu a si.
- Ah... e vai cortar-me a ponta de quê?
- Errr... da raiz do dente que está solta.
- Agora?
- Não! Daqui a uma semana. Tem de tomar umas coisas.
- E dão sono?
- Sim.
- Óptimo!
- Indique-me o dente que lhe dói.
- É este...
- Este? (bate com um instrumento estranho prateado mesmo no dente doente)
- AAAAIIII! Esse mesmo...
- Hm... vamos ter de fazer uma epicectomia.
- Nós quem?
- Eu a si.
- Ah... e vai cortar-me a ponta de quê?
- Errr... da raiz do dente que está solta.
- Agora?
- Não! Daqui a uma semana. Tem de tomar umas coisas.
- E dão sono?
- Sim.
- Óptimo!
Acorda uma pessoa cheia de dores de dentes e depara-se com a transcrição de um e-mail de ódio no Dicionário do Diabo. Pedro, não há direito! Pois claro que podes fazer o que te dá na real gana no teu blogue (aliás, não precisas de avisar ninguém de nada), mas publicar um texto horroroso daqueles para quê? Para suscitar terror e piedade? Para percebermos que há pessoas que destilam ódio e inveja e que odeiam o mundo? Mas isso não se sabe já? A pergunta, Pedro, é por que razão perdes o teu tempo precioso a dedicar-te a esses miseráveis? De repente, o mal que está no e-mail que te enviaram - e que é de lamentar - passou para ti próprio porque o publicaste. Não poluas o dicionário com essas coisas. Esta tua leitora agradece.
Ando há uns dias para aqui com uma pergunta a cirandar na cabeça: direi mais sins ou mais nãos? Tudo por causa de um poema de Konstandinos Kavafis, cuja tradução é da autoria de Joaquim Manuel Magalhães e de Nikos Pratsinis.
Che fece... il gran rifiuto
A algumas pessoas um dia cai
em que o grande Sim ou o grande Não sobrevém
dizer. Logo surge ao de cima a que tem
pronto dentro de si o Sim e ao dizê-lo vai
além da sua honra e do que está convencida.
A que negou não se arrepende. De novo interrogada
voltaria a dizer não. Mas tem-na derrotada
aquele não – o correcto – toda a sua vida.
(Embora não seja fundamental à compreensão do poema, explico que o título é tirado do Inferno de Dante, III, 60 e que significa “aquele que fez... a grande recusa”. Kavafis omitiu deliberadamente (julgo) as palavras que se seguiam “per viltà” – por cobardia.)
Concluo que sou uma pessoa do sim. Do “sim, és um atrasado mental”, do “sim, gosto de sopa de agrião”, do “sim, vai passear” e do “sim, amo-te”. E não o serão todas as mulheres?
A este propósito, afasto-me do poema de Kavafis e peço desculpas ao Leitura Partilhada, porque tenho de falar do último capítulo do Ulysses. No capítulo dedicado a Molly Bloom podem contar-se 83 yes. A adaptação goetheana de “Ich bin der Geist der stets verneint” (“Eu sou o espírito que sempre nega”) é clara na frase “Ich bin der Fleisch der stets bejaht” (“Eu sou a carne que sempre afirma”), escrita por Joyce numa carta ao amigo Frank Bugden, em que se refere a este capítulo.
A palavra yes no pensamento de Molly está sobretudo associada a características femininas. Mesmo nas recordações de infância mantém-se essa feminilidade: “Yes, I had the big doll with all the funny clothes, dressing her up and undressing (...)”. O yes é ainda a afirmação da vaidade feminina: “Would I like to be that bath of a nymph with my hair down? Yes, only she’s younger (...)”. O yes de Molly é o yes feminino, o yes de “(...) and I thought well, as well him as another”, talvez a frase mais representativa do universo feminino revelado por Molly Bloom.
Vladimir Nabokov, em Lectures on Literature, termina a sua reflexão sobre o último capítulo do Ulysses com uma interpretação algo misógina do yes final de Molly: “Yes: Bloom will get his breakfast in bed.” Esta interpretação é estranha porque não se enquadra no seguimento do discurso de Molly. Se assim fosse, uma interpretação mais “literal” poderia ser: “Yes, I will marry you, because as well you as another”, uma vez que Molly, quando profere o último yes está a recordar o pedido de casamento de Bloom e os tempos de felicidade passados em conjunto.
A frase de Nabokov pode querer remeter-nos para o início do capítulo em que Molly fala do pequeno-almoço de Bloom, insinuando que Joyce teria levado esta técnica circular ao extremo mais tarde no Finnegans Wake. A interpretação de Nabokov pode então ser uma metáfora para uma possível reconciliação do casal Bloom, uma vez que Molly não tinha o hábito de levar o pequeno-almoço ao marido. “Yes, things will change if you want to.”
James Joyce percebeu, seja qual for a interpretação das suas palavras. E a compreensão do poema de Kavafis pode levar a uma sempre agradável saída da caverna. Fico contente por saber que a literatura ainda me comove.
Che fece... il gran rifiuto
A algumas pessoas um dia cai
em que o grande Sim ou o grande Não sobrevém
dizer. Logo surge ao de cima a que tem
pronto dentro de si o Sim e ao dizê-lo vai
além da sua honra e do que está convencida.
A que negou não se arrepende. De novo interrogada
voltaria a dizer não. Mas tem-na derrotada
aquele não – o correcto – toda a sua vida.
(Embora não seja fundamental à compreensão do poema, explico que o título é tirado do Inferno de Dante, III, 60 e que significa “aquele que fez... a grande recusa”. Kavafis omitiu deliberadamente (julgo) as palavras que se seguiam “per viltà” – por cobardia.)
Concluo que sou uma pessoa do sim. Do “sim, és um atrasado mental”, do “sim, gosto de sopa de agrião”, do “sim, vai passear” e do “sim, amo-te”. E não o serão todas as mulheres?
A este propósito, afasto-me do poema de Kavafis e peço desculpas ao Leitura Partilhada, porque tenho de falar do último capítulo do Ulysses. No capítulo dedicado a Molly Bloom podem contar-se 83 yes. A adaptação goetheana de “Ich bin der Geist der stets verneint” (“Eu sou o espírito que sempre nega”) é clara na frase “Ich bin der Fleisch der stets bejaht” (“Eu sou a carne que sempre afirma”), escrita por Joyce numa carta ao amigo Frank Bugden, em que se refere a este capítulo.
A palavra yes no pensamento de Molly está sobretudo associada a características femininas. Mesmo nas recordações de infância mantém-se essa feminilidade: “Yes, I had the big doll with all the funny clothes, dressing her up and undressing (...)”. O yes é ainda a afirmação da vaidade feminina: “Would I like to be that bath of a nymph with my hair down? Yes, only she’s younger (...)”. O yes de Molly é o yes feminino, o yes de “(...) and I thought well, as well him as another”, talvez a frase mais representativa do universo feminino revelado por Molly Bloom.
Vladimir Nabokov, em Lectures on Literature, termina a sua reflexão sobre o último capítulo do Ulysses com uma interpretação algo misógina do yes final de Molly: “Yes: Bloom will get his breakfast in bed.” Esta interpretação é estranha porque não se enquadra no seguimento do discurso de Molly. Se assim fosse, uma interpretação mais “literal” poderia ser: “Yes, I will marry you, because as well you as another”, uma vez que Molly, quando profere o último yes está a recordar o pedido de casamento de Bloom e os tempos de felicidade passados em conjunto.
A frase de Nabokov pode querer remeter-nos para o início do capítulo em que Molly fala do pequeno-almoço de Bloom, insinuando que Joyce teria levado esta técnica circular ao extremo mais tarde no Finnegans Wake. A interpretação de Nabokov pode então ser uma metáfora para uma possível reconciliação do casal Bloom, uma vez que Molly não tinha o hábito de levar o pequeno-almoço ao marido. “Yes, things will change if you want to.”
James Joyce percebeu, seja qual for a interpretação das suas palavras. E a compreensão do poema de Kavafis pode levar a uma sempre agradável saída da caverna. Fico contente por saber que a literatura ainda me comove.
sábado, setembro 13, 2003
Harry Enfield deve ser, como todos os que fazem da sua profissão o humor, um homem muito frio. Lembro-me também da frieza de John Cleese numa entrevista (brilhante) incluída nos extras do DVD da série Fawlty Towers (já para a Fnac - do Chiado! - a correr para comprar o DVD!). Toda esta lengalenga para dizer que lhes perdoo e até agradeço.
De volta a Harry Enfield, recomendo a série Celeb que podemos ver aos sábados (hoje!), na RTP2, por volta da meia-noite. É daquele humor que faz cócegas na barriga de tão bom que é.
De volta a Harry Enfield, recomendo a série Celeb que podemos ver aos sábados (hoje!), na RTP2, por volta da meia-noite. É daquele humor que faz cócegas na barriga de tão bom que é.
Leio no post Considerações autorizadas, no Retórica e Persuasão : "Ponha-se, por isso, em causa o que é afirmado, mas nunca o direito de o afirmar. Nem directa, nem indirectamente." Claro. É por isso mesmo que acredito que o conceito da blogosfera é simplesmente inatacável. Quem o ataca, está a atacar a liberdade de expressão.
No outro dia, em conversa com um conhecido, ouvia que o blogue mentiroso dizia coisas horríveis e que era preciso parar com aquilo. Respondi que não lia o blogue porque não me interessa o modo como é ali explorado o tema e porque estava mal escrito, atabalhoado. É o preço da liberdade e pago-o com muito gosto. A blogosfera continua a ser um "sítio" maravilhoso para se estar. Se quero ler, leio; se quiser comentar, comento; se quiser ignorar, ignoro. Se não, não. E depois logo se vê.
No outro dia, em conversa com um conhecido, ouvia que o blogue mentiroso dizia coisas horríveis e que era preciso parar com aquilo. Respondi que não lia o blogue porque não me interessa o modo como é ali explorado o tema e porque estava mal escrito, atabalhoado. É o preço da liberdade e pago-o com muito gosto. A blogosfera continua a ser um "sítio" maravilhoso para se estar. Se quero ler, leio; se quiser comentar, comento; se quiser ignorar, ignoro. Se não, não. E depois logo se vê.
sexta-feira, setembro 12, 2003
Iupi! O Ricardo de Araújo Pereira voltou! Agora, além de gato fedorento (blogueador e televisivo) temos pai babado. Um grande beijinho para os papás e para a bebé Rita.
quarta-feira, setembro 10, 2003
Finalmente! Tantos anos a ver o Jornal da Noite, na SIC, e hoje o Rodrigo Guedes de Carvalho fez uma abertura muito boa à notícia do Jesus da Sibéria: "Habitualmente, as pessoas que se passeiam pela rua de túnica e cabelos compridos e se auto-intitulam Jesus estão fechadas nos hospitais psiquiátricos. Parece que, na Sibéria, não." Gostei muito.
Tenho várias amigas virginianas. Além das muitas afinidades que temos, também eu faço anos (the horror!) neste mês de Setembro. A Margarida, a Macarena, a Becas, a Hilda, a Nina, a Ana Carolina e a Diana têm muitas qualidades, que não poderei aqui enumerar por pudor, porque ao falar delas, estou inevitavelmente a falar um bocadinho de mim mesma. Hoje, fazem anos a Ana Carolina e a Diana. Parabéns a ambas! Deixo-vos um texto muito divertido escrito pela minha querida amiga Diana Esteves Cardoso e traduzido por esta vossa criada fardada, publicado há uns dois anos na revista Preguiça.
As listas
Sem querer pensar nos assuntos que realmente me preocupam – se o actual governo da minha cara Inglaterra ficará no poder por mais quatro anos, com um vice-primeiro-ministro ex-comissário de bordo e ignorante da sua própria língua, ou se o clima em Portugal sofreu alterações com consequências permanentes – compilei uma lista de homens repugnantes, embora bem sucedidos, por ordem de habilidade de provocarem pele-de-galinha em qualquer mulher:
1. Yasser Arafat;
2. Salman Rushdie;
3. Elton John;
4. Andrew Lloyd Weber;
5. Robin Cook;
6. Mike Tyson;
7. Ian Paisley;
8. Donald Trump;
9. Danny de Vito;
10. Alfred Hitchcock.
E agora, apresento-vos os nomes de seis homens extraordinariamente carismáticos (dois dos quais já falecidos):
1. Walter Matthau (+);
2. Franco Nogueira (+);
3. Elie Weisel;
4. Peter Ustinov;
5. Anthony Hopkins;
6. Jonathan Miller.
Duvido que muitas mulheres considerem good-looking algum dos mencionados na segunda lista, uma vez que o consenso vai para Kevin Costner, George Clooney, Harrison Ford etc. Afinal, as mulheres consideram um bónus quando um homem interessante é abençoado com uma boa aparência. Estas dedicam muito menos importância aos atributos físicos do que os homens, sendo outros valores de maior prioridade. Querem apenas ser cortejadas, coisa nada difícil que requer apenas algum trabalho e know-how – e que vale a pena.
Então o que faz - ou fez - com que estes seis homens sejam tão irresistíveis para o sexo oposto? O charme é uma qualidade extremamente difícil de analisar, mas a espirituosidade e a inteligência não – ambos são afrodisíacos poderosos. É aqui que está o segredo.
Por muito que adorasse o Walter Matthau, tenho de reconhecer que, embora fosse alto, era extremamente “feio” – e no entanto? Quantos homens podem afirmar que o primeiro efeito que provocam nas mulheres seja a vontade de estas os abraçarem?
Gostaria de acabar com o seguinte mito: as mulheres não dão nenhuma importância ao cabelo dos homens; é um tema que simplesmente não lhes interessa. Alguma vez ouviram uma mulher dizer que tinha acabado de conhecer um homem muito interessante com um cabelo lindo? Preocupam-se mais em saber em que estado estão os dentes ou as unhas dele. Ou se é atencioso às necessidades dela sem ser cansativo, se é determinado, e também carinhoso etc.
Talvez seja uma surpresa para os homens descobrirem que as mulheres consideram medonho um rabo-de-cavalo comprido com início na nuca de um careca, e que tal coisa apenas atrai a atenção para a careca propriamente dita, algo que nunca esteve em questão. Do mesmo modo que uma porção de cabelo comprido e fraco, penteado para o lado por cima de uma careca, numa tentativa absurda de criar alguma ilusão, seja ridículo (Alberto João Jardim).
Pessoalmente, quando vejo um homem com este tipo de “penteado” não consigo deixar de o imaginar deitado na cama a dormir com os cabelos espalhados na almofada, ou pior, caídos sobre a cara da parceira nos momentos mais íntimos. E quanto a estas imagens, nem todos “os cavalos do rei e nem todos os soldados do rei” farão com que desapareçam da minha cabeça.
As listas
Sem querer pensar nos assuntos que realmente me preocupam – se o actual governo da minha cara Inglaterra ficará no poder por mais quatro anos, com um vice-primeiro-ministro ex-comissário de bordo e ignorante da sua própria língua, ou se o clima em Portugal sofreu alterações com consequências permanentes – compilei uma lista de homens repugnantes, embora bem sucedidos, por ordem de habilidade de provocarem pele-de-galinha em qualquer mulher:
1. Yasser Arafat;
2. Salman Rushdie;
3. Elton John;
4. Andrew Lloyd Weber;
5. Robin Cook;
6. Mike Tyson;
7. Ian Paisley;
8. Donald Trump;
9. Danny de Vito;
10. Alfred Hitchcock.
E agora, apresento-vos os nomes de seis homens extraordinariamente carismáticos (dois dos quais já falecidos):
1. Walter Matthau (+);
2. Franco Nogueira (+);
3. Elie Weisel;
4. Peter Ustinov;
5. Anthony Hopkins;
6. Jonathan Miller.
Duvido que muitas mulheres considerem good-looking algum dos mencionados na segunda lista, uma vez que o consenso vai para Kevin Costner, George Clooney, Harrison Ford etc. Afinal, as mulheres consideram um bónus quando um homem interessante é abençoado com uma boa aparência. Estas dedicam muito menos importância aos atributos físicos do que os homens, sendo outros valores de maior prioridade. Querem apenas ser cortejadas, coisa nada difícil que requer apenas algum trabalho e know-how – e que vale a pena.
Então o que faz - ou fez - com que estes seis homens sejam tão irresistíveis para o sexo oposto? O charme é uma qualidade extremamente difícil de analisar, mas a espirituosidade e a inteligência não – ambos são afrodisíacos poderosos. É aqui que está o segredo.
Por muito que adorasse o Walter Matthau, tenho de reconhecer que, embora fosse alto, era extremamente “feio” – e no entanto? Quantos homens podem afirmar que o primeiro efeito que provocam nas mulheres seja a vontade de estas os abraçarem?
Gostaria de acabar com o seguinte mito: as mulheres não dão nenhuma importância ao cabelo dos homens; é um tema que simplesmente não lhes interessa. Alguma vez ouviram uma mulher dizer que tinha acabado de conhecer um homem muito interessante com um cabelo lindo? Preocupam-se mais em saber em que estado estão os dentes ou as unhas dele. Ou se é atencioso às necessidades dela sem ser cansativo, se é determinado, e também carinhoso etc.
Talvez seja uma surpresa para os homens descobrirem que as mulheres consideram medonho um rabo-de-cavalo comprido com início na nuca de um careca, e que tal coisa apenas atrai a atenção para a careca propriamente dita, algo que nunca esteve em questão. Do mesmo modo que uma porção de cabelo comprido e fraco, penteado para o lado por cima de uma careca, numa tentativa absurda de criar alguma ilusão, seja ridículo (Alberto João Jardim).
Pessoalmente, quando vejo um homem com este tipo de “penteado” não consigo deixar de o imaginar deitado na cama a dormir com os cabelos espalhados na almofada, ou pior, caídos sobre a cara da parceira nos momentos mais íntimos. E quanto a estas imagens, nem todos “os cavalos do rei e nem todos os soldados do rei” farão com que desapareçam da minha cabeça.
terça-feira, setembro 09, 2003
A minha Mãe acaba de me oferecer umas meias cheias de bonecada. É a mania ternurenta das mães em não quererem ver o óbvio: que as meninas pequeninas, todas, sem excepção, crescem e envelhecem. Olho novamente para as meias e concluo que se trata de um esquema diabólico, típico das mães, cujo objectivo é o de acabar com o casamento das filhas. Um clássico.
Na Retórica de Aristóteles (tradução inglesa, The Complete Works of Aristotle, ed. Jonathan Barnes, Princeton University Press), leio uma passagem que vai ao encontro do que o Américo diz. "We must also take into account the nature of our particular audience, when making a speech of praise; for, as Socrates used to say, it is not difficult to praise the Athenians to an Athenian audience" (1367b 8-10). Se as pessoas para quem falamos ou escrevemos não compreendem o que dizemos, será sempre mais difícil (evito dizer impossível) persuadi-las. As técnicas de argumentação funcionam quando há um entendimento básico comum entre orador (analista, ensaísta) e público. E é por isso mesmo que não há garantias de nada.
segunda-feira, setembro 08, 2003
O Mata-Mouros premiou o diálogo sobre a ambiguidade entre o Retórica e Persuasão e esta vossa criada fardada. O Américo já agradeceu a estatueta e fez-me um elogio muito bonito. E a segunda pergunta? A das garantias (muito gosto eu desta palavra). Passamos to the next level ou fazemos um intervalucho para comer um gelado? Mas ainda antes da segunda pergunta e só para concluir a discussão gostaria de saudar o Extravaganza que meteu o bedelho e muito bem - até porque obrigou o Américo a escrever coisa que é sempre de louvar - e de transcrever uma parte de uma mensagem que me foi enviada pela Maria Manuela, uma leitora que seguiu o nosso diálogo. Obrigada, minha querida.
"Entretanto, eu, do lado de cá, entusiasmada também, a seguir a conversa e a pensar no assunto, diria que a ironia é talvez a forma mais honesta de expressar uma ambiguidade ou quando se pretende enfatizar a ambiguidade do que se quer transmitir. A ironia é honesta porque não pretende ser enganadora. Mas, como bem diz, não é para todos. Ou, pelo menos, temos de ter em conta o alvo (leitor ou destinatário, porque comecei a pensar para lá da escrita) para, de acordo, escolher até onde se pode refinar a ironia ou mesmo se é de optar por dizer "curto e grosso", sem ambiguidade nenhuma e desperdiçando a graça, de que acabamos por nos rir sozinhos. A ambiguidade, ainda no mesmo contexto em que - e cito-a - não serve para ninguém, é desonesta porque normalmente é construída para se poder negar a posteriori o sentido verdadeiro (subentendido) do que se pretendeu transmitir."
Como imagina, gosto da ideia de associar a ironia à honestidade, porque o sentido está na frase que não é compreendida por todos, e gosto da ideia de associar a ambiguidade à desonestidade. É quase sempre irresistível associar o que julgamos ser contrário ao seu contrário. Dá uma bela frase, convincente para muitos. Mas não sei se desonestidade é uma boa caracterização para ambiguidade. E penso nisso porque penso em mim (e é aqui que está o perigo do preconceito).
Voltemos à pergunta inicial: a ambiguidade é um erro? Como muito bem referiu o Américo, a pergunta é desde já algo ambígua porque revela pouco. Eu teria com certeza uma opinião (como tenho relativamente às duas perguntas a que falta responder) sobre o assunto. Isso revela más intenções da minha parte? Temos duas possibilidades para resolver o problema: 1) a pergunta é ambígua e eu sou uma manipuladora do caraças ou 2) a pergunta não é ambígua; é uma pergunta de quem tem algumas ideias sobre o assunto e as quer discutir com quem percebe disso. Na verdade, trata-se de descrever o problema de maneiras diferentes e não de o resolver. Sei qual é a resposta, mas será isso o suficiente?
A Maria Manuela conclui: "(...) a mim apetece-me, antes, perguntar: e o Shaw, enviou ao Churchill bilhetes para o dia seguinte? E o Churchill, foi? É que muitas vezes, pela ironia, estabelecem-se grandes cumplicidades."
"Entretanto, eu, do lado de cá, entusiasmada também, a seguir a conversa e a pensar no assunto, diria que a ironia é talvez a forma mais honesta de expressar uma ambiguidade ou quando se pretende enfatizar a ambiguidade do que se quer transmitir. A ironia é honesta porque não pretende ser enganadora. Mas, como bem diz, não é para todos. Ou, pelo menos, temos de ter em conta o alvo (leitor ou destinatário, porque comecei a pensar para lá da escrita) para, de acordo, escolher até onde se pode refinar a ironia ou mesmo se é de optar por dizer "curto e grosso", sem ambiguidade nenhuma e desperdiçando a graça, de que acabamos por nos rir sozinhos. A ambiguidade, ainda no mesmo contexto em que - e cito-a - não serve para ninguém, é desonesta porque normalmente é construída para se poder negar a posteriori o sentido verdadeiro (subentendido) do que se pretendeu transmitir."
Como imagina, gosto da ideia de associar a ironia à honestidade, porque o sentido está na frase que não é compreendida por todos, e gosto da ideia de associar a ambiguidade à desonestidade. É quase sempre irresistível associar o que julgamos ser contrário ao seu contrário. Dá uma bela frase, convincente para muitos. Mas não sei se desonestidade é uma boa caracterização para ambiguidade. E penso nisso porque penso em mim (e é aqui que está o perigo do preconceito).
Voltemos à pergunta inicial: a ambiguidade é um erro? Como muito bem referiu o Américo, a pergunta é desde já algo ambígua porque revela pouco. Eu teria com certeza uma opinião (como tenho relativamente às duas perguntas a que falta responder) sobre o assunto. Isso revela más intenções da minha parte? Temos duas possibilidades para resolver o problema: 1) a pergunta é ambígua e eu sou uma manipuladora do caraças ou 2) a pergunta não é ambígua; é uma pergunta de quem tem algumas ideias sobre o assunto e as quer discutir com quem percebe disso. Na verdade, trata-se de descrever o problema de maneiras diferentes e não de o resolver. Sei qual é a resposta, mas será isso o suficiente?
A Maria Manuela conclui: "(...) a mim apetece-me, antes, perguntar: e o Shaw, enviou ao Churchill bilhetes para o dia seguinte? E o Churchill, foi? É que muitas vezes, pela ironia, estabelecem-se grandes cumplicidades."
domingo, setembro 07, 2003
Esta rapaziada jovem mete-se comigo. Já o tinham feito há umas semanas (sim, continuo a ler tudo) com um texto escrito "à minha maneira", que não comentei por falta de tempo. Também gosto de vocês. (Neste breve texto não há ambiguidade nem ironia.)
sábado, setembro 06, 2003
sexta-feira, setembro 05, 2003
O maradona queixa-se de não ter paciência para rever o que escreve; já lhe bem basta escrever. Did you say rever? Pois proponho-me desde já a rever seja o que for que o meu querido escreva, porque é tudo bom, sem excepção (gosto sobretudo dos textos sempre intitulados Kournikova e que nunca têm nada a ver com nada). E faço-o com muita amizade.
Recordo com muita saudade os tempos em que escrevi n' O Independente o Big Relatório. Eram duas páginas preenchidas com escritos sérios, enciclopédicos e de simples troça - e às vezes com graça - (valeram-me muitas cartas anónimas, graças a Deus), sobre os participantes do Big Brother I. Gostava de fazer a mesma coisa no bomba para este BB4. Mas cheguei rapidamente à conclusão de que o programa perdeu o interesse.
E o que eu gosto de reunir os amigos à terça-feira para comentar os ditos dos selvagens! Bom, pode ser que isto mude, mas por enquanto, em vez de vos animar e escrever comentários longos e pormenorizados sobre a tadinha da Zélia, que foi expulsa sem saber ler nem escrever - e talvez até literalmente - e sobre a minha homónima que usa as saias mais curtas das saias mais curtas disponíveis em qualquer colecção da Berska, limitar-me-ei à transcrição de conversas que vou tendo com os meus amigos e com o meu marido acerca do programa.
- Maria João, o Nando julga que morreu e foi para o céu, com tanta gaja boa.
- É uma espécie de bombista suicida.
- Mas em vez das setenta virgens encontrou sete putas.
E assim se vão passando belos serões, em grande galhofeira.
E o que eu gosto de reunir os amigos à terça-feira para comentar os ditos dos selvagens! Bom, pode ser que isto mude, mas por enquanto, em vez de vos animar e escrever comentários longos e pormenorizados sobre a tadinha da Zélia, que foi expulsa sem saber ler nem escrever - e talvez até literalmente - e sobre a minha homónima que usa as saias mais curtas das saias mais curtas disponíveis em qualquer colecção da Berska, limitar-me-ei à transcrição de conversas que vou tendo com os meus amigos e com o meu marido acerca do programa.
- Maria João, o Nando julga que morreu e foi para o céu, com tanta gaja boa.
- É uma espécie de bombista suicida.
- Mas em vez das setenta virgens encontrou sete putas.
E assim se vão passando belos serões, em grande galhofeira.
quinta-feira, setembro 04, 2003
Dr. Pipi! Intervenha nesta polémica e esclareça os ceguinhos sobre o que se passa com Eduardo Prado Coelho e João Bénard da Costa.
Acabo de ler os excelentes comentários no Retórica e Persuasão ao meu texto sobre a ambiguidade ser um erro. As perguntas ou frases com o verbo ser pelo meio provocam quase sempre um problema: se qualquer coisa é, é-o para todos (qual é a diferença entre "a parede é branca" ou "a ambiguidade é um erro"?) e é-o em qualquer circunstância. E no entanto, sabemos que não é assim. Porque logo depois temos o terrível "a ambiguidade é um erro para mim". O que até nem é verdade, neste caso, porque como já escrevi no texto anterior, a ambiguidade é um erro em determinadas situações, nomeadamente aquelas em que é fundamental a clareza do discurso (notícias, relatórios, ensaios).
Tem toda a razão o Américo quando diz que a minha frase "a ambiguidade é um erro porque é algo indeterminado e vago? não demonstra argumento nenhum contra a utilização da ambiguidade, mas que apenas a descreve. A minha frase é coxa e não tenho muletas que me salvem.
Quanto à ironia, só uma coisa: quando percebo a ironia chamo-lhe ironia; mas quando não a percebo (porque estou a dormir profundamente, claro!), chamo-lhe ambiguidade. Não lhe parece a palavra ambiguidade depreciativa? Algo que é ambíguo não se percebe, é pouco claro, esconde segundas intenções, é dúbio. Como impedimos a interpretação de uma frase ambígua? Percebo que as palavras têm um sentido literal, mas também percebo que nem sempre são utilizadas no mesmo sentido. Será sempre ambiguidade?
Uma frase que é ambígua pode significar uma coisa ou outra contrária; uma frase irónica pode significar uma coisa para quem tenha capacidade para a entender e nada para quem tenha o sentido de humor de uma pinha (ora, é óbvio que uma pinha não tem sentido de humor, mas o Américo que percebe o que quero dizer, esboça um sorriso neste preciso momento, e o que pensa? "Esta Charlotte é muito irónica" e não - espero! - "esta Charlotte é muito ambígua").
Julgo que uma frase ambígua num contexto em que se exige uma explicação (e a nossa vida não é literatura, graças a Deus) é uma frase errada e que uma frase irónica não é para todos. Ou seja, a ambiguidade não serve para ninguém e a ironia só serve para alguns. Será um caso de má vontade com a palavra? Continuemos.
Tem toda a razão o Américo quando diz que a minha frase "a ambiguidade é um erro porque é algo indeterminado e vago? não demonstra argumento nenhum contra a utilização da ambiguidade, mas que apenas a descreve. A minha frase é coxa e não tenho muletas que me salvem.
Quanto à ironia, só uma coisa: quando percebo a ironia chamo-lhe ironia; mas quando não a percebo (porque estou a dormir profundamente, claro!), chamo-lhe ambiguidade. Não lhe parece a palavra ambiguidade depreciativa? Algo que é ambíguo não se percebe, é pouco claro, esconde segundas intenções, é dúbio. Como impedimos a interpretação de uma frase ambígua? Percebo que as palavras têm um sentido literal, mas também percebo que nem sempre são utilizadas no mesmo sentido. Será sempre ambiguidade?
Uma frase que é ambígua pode significar uma coisa ou outra contrária; uma frase irónica pode significar uma coisa para quem tenha capacidade para a entender e nada para quem tenha o sentido de humor de uma pinha (ora, é óbvio que uma pinha não tem sentido de humor, mas o Américo que percebe o que quero dizer, esboça um sorriso neste preciso momento, e o que pensa? "Esta Charlotte é muito irónica" e não - espero! - "esta Charlotte é muito ambígua").
Julgo que uma frase ambígua num contexto em que se exige uma explicação (e a nossa vida não é literatura, graças a Deus) é uma frase errada e que uma frase irónica não é para todos. Ou seja, a ambiguidade não serve para ninguém e a ironia só serve para alguns. Será um caso de má vontade com a palavra? Continuemos.
quarta-feira, setembro 03, 2003
Termina-se um dia com um regresso e começa-se o dia seguinte com outro. São estas as maravilhas da blogosfera. O Pedro Mexia voltou munido da boa tecnologia que nunca (hopefully) nos deixa ficar mal. A todos. Hip hip hurra!
terça-feira, setembro 02, 2003
E para acabar o dia, nada mais bonito do que um regresso. Sim, falo do regresso do Tradução Simultânea, celebrado com um texto à medida perfeita da ocasião. Um grande beijinho, Nuno!
Leio no Contornos um texto divertidíssimo: "Tenho medo de poesia porque é um campo em que se torna mais fácil sermos iguais a toda a gente. Não é um medo idiota?" Bom, se interpretarmos isso à letra, claro que sim, porque a poesia começa por não ser um campo e daí para a frente então é uma loucura pegada. Percebendo que esta frase é literária, continua a ser um medo idiota, porque é bom sermos iguais a toda a gente. Sobretudo àquela que é igual a nós. Um beijo de boas-vindas à blogosfera e parabéns pelos escritos, que são tão, tão bons.
O Américo de Sousa respondeu à minha primeira pergunta (a ambiguidade é um erro?), felizmente, de uma maneira que exclui a ambiguidade. Se a resposta fosse ambígua, não se perceberia. Porque a ausência de ambiguidade é o mais importante, para não provocarmos a dúvida, quando o que se pede é um pedido de explicação.
Entendo, por isso, que possa depender da situação. Mas será o recurso à ironia uma espécie de utilização da ambiguidade? No exemplo referido entre Churchill e Shaw, ambos partilham de um determinado código, que lhes permite perceber perfeitamente o que querem dizer. Afinal, existe ambiguidade no exemplo?
Admito: para mim (e este "para mim" é o mais complicado de perceber e a ele voltarei um dia), a ambiguidade é um erro, porque é algo indeterminado e vago. Porque se muitas pessoas não percebem o que o outro diz, isso significa que há um erro no discurso. A ironia parece-me ser outra coisa (uns percebem, outros não; uns têm mais sentido de humor do que outros; uns são ingleses, os outros alemães etc.).
Convém esclarecer que falo da escrita de todos os dias, dos ensaios, da redacção de notícias e não, por exemplo, da poesia.
É provável que o meu problema resida no uso da palavra "ambiguidade" numa descrição ou numa justificação. Numa aula perguntou-se se os epitáfios eram explicações literárias (mais uma pergunta curta que convida ao diálogo). Todos responderam de uma maneira mais barroca ou menos floreada que sim. Fui a única que discordei e que o justifiquei dizendo que todos merecemos um epitáfio, mas nem todos merecemos uma explicação literária. Isto porque acredito que as palavras não se substituem umas às outras.
Continuemos, Américo! Estou a gostar muitíssimo.
Entendo, por isso, que possa depender da situação. Mas será o recurso à ironia uma espécie de utilização da ambiguidade? No exemplo referido entre Churchill e Shaw, ambos partilham de um determinado código, que lhes permite perceber perfeitamente o que querem dizer. Afinal, existe ambiguidade no exemplo?
Admito: para mim (e este "para mim" é o mais complicado de perceber e a ele voltarei um dia), a ambiguidade é um erro, porque é algo indeterminado e vago. Porque se muitas pessoas não percebem o que o outro diz, isso significa que há um erro no discurso. A ironia parece-me ser outra coisa (uns percebem, outros não; uns têm mais sentido de humor do que outros; uns são ingleses, os outros alemães etc.).
Convém esclarecer que falo da escrita de todos os dias, dos ensaios, da redacção de notícias e não, por exemplo, da poesia.
É provável que o meu problema resida no uso da palavra "ambiguidade" numa descrição ou numa justificação. Numa aula perguntou-se se os epitáfios eram explicações literárias (mais uma pergunta curta que convida ao diálogo). Todos responderam de uma maneira mais barroca ou menos floreada que sim. Fui a única que discordei e que o justifiquei dizendo que todos merecemos um epitáfio, mas nem todos merecemos uma explicação literária. Isto porque acredito que as palavras não se substituem umas às outras.
Continuemos, Américo! Estou a gostar muitíssimo.
segunda-feira, setembro 01, 2003
Quero agradecer ao latinista ilustre (e dar-lhe um beijo de reboas-vindas) a gentileza de ter transcrito um texto sobre a Shoah, do Bruno Bettelheim. O texto é muito claro e vem ao encontro (mais uma daquelas coisas curiosas, uma vez que não conhecia o texto em questão) do que escrevi sobre a diferença entre genocídio e sacrifício dos Judeus, e a manipulação que advém da utilização da palavra Holocausto para caracterizar, aceitar e desculpar o que se passou.
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