blogue de carla hilário de almeida quevedo bombainteligente@gmail.com

quinta-feira, julho 31, 2003

Como não tenho tido tempo para muito, decidi nomear a minha amiga Adriana como Directora de Conteúdos do bomba inteligente (sim, no bomba inteligente contratam-se amigos e paga-se-lhes a peso de ouro). Aproveito para lembrar que o bomba também tem uma correspondente em Pequim, isto só para vos dar uma ideia do poderio logístico desta grande empresa. A função da nova Directora será a de pesquisar na Net, blogues ou sítios de interesse. A Adriana é fotógrafa (uma das reconhecidamente melhores do País) e para hoje sugere dois fotologs: o Salad's Whore, o diário de uma americana kitsch, e o My Foodlog's Fotolog, o diário exclusivamente gastronómico de um californiano. Ambos contam uma história e ambos são documentos sobre a vida das pessoas.

quarta-feira, julho 30, 2003

Boas notícias antes de dormir: a triciclofeliz voltou à blogosfera!
Michel Foucault, em Fearless Speech, uma compilação de seis conferências em inglês dadas pelo filósofo na Universidade de Berkeley, analisa a importância da parresia na Grécia Antiga. Parresia, como Foucault bem explica, significa dizer tudo (pan = tudo + rima = verbo, ou melhor, aquilo que é dito). Foucault esclarece que, em inglês, parrhesia foi traduzido para free speech e que "(...) the parrhesiastes is someone who says everything he has in mind: he does not hide anything, but opens his heart and mind completely to other people through his discourse." Ou seja, o parresiatas é alguém que diz a verdade. A questão é depois aprofundada por Foucault, que liga a questão do exercício da verdade com a autoridade e o poder (coisas muito diferentes na altura e agora também). Segundo Foucault, a parresia só era pertença dos corajosos, porque habitualmente eram homens (aparecem mulheres parresiastas em Eurípides) de condição social inferior (ou os anónimos da altura) que num momento certo diziam o que acreditavam ser verdade. E acreditar no que é a verdade significa saber o que é a verdade, algo que para os gregos era a mesma coisa: "For the Greeks (...), the coincidence between belief and truth does not take place in a (mental) experience, but in a verbal activity, namely, parrhesia.

E o que tem o exercício da verdade a ver com a blogosfera? Tudo. Embora dizer a verdade na blogosfera não implique correr risco de vida (ainda). Este pormenor afasta-me da noção de parresia defendida por Foucault, porque para haver parresia de facto tem de haver um poder instituído, e na blogosfera isso não existe. A conjugação da verdade com a sinceridade é o que mais me interessa na blogosfera. E, já agora, na vida. Mas que não é para todos, lá isso não é.

terça-feira, julho 29, 2003

Tenho recebido mensagens muito gentis a perguntar pelo gato Varandas. Algumas pessoas chegaram a propor ficar com o bichano durante a época de férias. Pois vejo-me obrigada a explicar que o mimado Varandas não sai de casa, sob pena de ser comido pelas baratas da calçada. O bichinho não tem a mais pequena curiosidade por conhecer o mundo exterior e nem para jogos de computador tem pachorra. No outro dia, ofereci-lhe uma bolinha. Deu uma patada, outra, e ao que pensava eu ser uma ameaça de um terceiro toque, deitou-se e adormeceu de nariz colado ao brinquedo. Prometo uma exposição fotográfica para breve, aqui no bomba inteligente.
Enquanto me delicio com o novo sabor do gelado Häagen-Dazs Banana Caramel Pie, visito alguns blogues novos. Há três blogues muito engraçados e parresiásticos (quem quiser saber o significado desta palavra terá de me enviar um e-mail a pedir muito. Aviso: terei de falar de Foucault. Ainda acham que vale a pena?) na blogosfera. São eles os joviais Tomara-Que-Caia e Blogue de uma Loura, e o desconcertante Lisboa a Arder. Bem-vindos à blogosfera!
Gosto muito de começar o dia com boas notícias. Desta vez é o Macguffin que volta à blogosfera, acabadinho de reler Wittgenstein's Poker: The Story of a Ten Minute Argument Between Two Great Philosophers. Uma óptima sugestão de leitura, que anda perfeitamente de mãos dadas com as minhas recomendações. Um grande beijo de reboas-vindas!

segunda-feira, julho 28, 2003

Finalmente terminou a ansiedade da espera pelo Telejornal. E agora? O que me reservará o futuro? O esquecimento ou Hollywood?
O bomba inteligente entrará a partir de hoje em velocidade de cruzeiro. Entre o trabalho, as leituras, a escrita de coisas sérias, uma ou outra festarola e umas valentes idas à praia, o blogue não será tão actualizado como até agora.

Para aqueles que vão de férias recomendo um livro: Artigos Portugueses, de Miguel Tamen. Muito divertido e inteligente, original e importante para desfazer de uma vez por todas esse preconceito de que a actividade intelectual é pertença dos grandes chatos. Para quem ficar em casa, sugiro Amigos de Objectos Interpretáveis, de Miguel Tamen. Já a leitura deste livro precisa de algum sossego e não poderá ser interrompida por putos palermas a jogar raquetes mesmo à frente do interessado leitor. Boas férias!
Hoje conheci uma bombinha inteligente: a Madalena, de dois anos, filha do 7000 Nomes.
Estou que nem posso. Já ando a valiuns por causa do caso Telejornal. Mata-se uma pessoa a trabalhar para isto. Ele é e-mails a perguntar como é, Charlotte, afinal apareces em que dia da semana, melher?! E de que ano de preferência! Ele é posts a definir a minha não aparição como uma verdadeira tragédia. Ele é lamentos vários. Ele é prémios recebidos a justificar a quantidade de pastilhongas que já meti no bucho. Sinto-me uma verdadeira diva em fim de carreira sem nunca ter aparecido. Muitíssimo divertido.

domingo, julho 27, 2003

Jornal da Tarde, na RTP, hoje, completamente dedicado à blogosfera!

Bibi afirma que não conhece o blogue de parte nenhuma.

Carlos Cruz jura a pés juntos que nunca fez um blogue na vida.

Paris Saint Germain faz um blogue ao Futebol Clube do Porto.

O juiz Rui Teixeira invoca o segredo de justiça para não revelar o blogue que lê.

Inaugura-se um blogue no Norte que une a Guarda a outra cidade qualquer e poupa uma hora de viagem.

O Centro de Aveiro tem a partir de hoje mais blogues.

Pedro Strecht afirma que, apesar de tudo o que se diz para aí, há muitos blogues feitos por crianças.

A PSP desmonta rede de blogues em Faro.

Concentração de blogues em Chaves.

A Guarda Republicana encontra muitos blogues abandonados na praia.

Juiz homossexual e nobre conta ao Expresso que tem um blogue.

Agricultura: Alerta sobre blogues declarado em sete países sul-americanos.

Defesa: Sargentos preocupados com a demissão do blogue do Estado-Maior do Exército.
O Blog do Piano manifesta a sua desilusão por não me ter visto ontem no Telejornal. Pois é. Anda uma pessoa o dia inteiro com dores de barriga e a roer as unhas para, afinal, não mostrarem a sua figurita modesta. Bom, mais um dia de mito que acabará - julgo - logo à noite.

sábado, julho 26, 2003

Aviso às esposas deste País: a minha amiga Marta hoje vai sair e percorrer alguns bares desta bonita Lisboa. Mantenham os vossos maridos fechados em casa!
Agora percebo que Telejornal só há um: o da RTP1 à noite e mais nenhum.

sexta-feira, julho 25, 2003

O Valete Fratres! incluiu o bomba na sua lista de blogues incontornáveis. E passou assim de querido a grande querido. Sinto-me muito honrada com a distinção.
Uma amiga perguntou-me em que telejornal vou aparecer. Respondo-lhe que não sei. Talvez no da hora do almoço, no da tarde, no da noite ou no 24 horas. Meu Deus, tantas possibilidades! E o gato Varandas vai aparecer!
Entrou-me uma equipa da RTP, muito simpática, pela casa dentro. É a silly season em todo o seu esplendor.
O Tudo Menos Política publica hoje a continuação da reportagem da TVI sobre o já famoso vendedor de bolas de berlim. Absolutamente a não perder!
Ideia de fim-de-semana: pena que o Mário Soares não tenha pensado nisto quando era Presidente da República.

quinta-feira, julho 24, 2003

A minha pobre cabecita chocha tem estado para aqui a pensar numas coisas. Ontem zanguei-me com o Outro eu porque o autor revelou o conteúdo de um e-mail meu sem a permissão da praxe. Agora, mais distante da indignação leio os e-mails que me enviou ontem e o pedido de desculpas que me tentou fazer no blogue em vão. A distância é a melhor ajuda que se pode ter. Ontem não a tive em suficiente medida. Como disse ao Outro eu, não tenho por hábito responder a críticas porque, muito sinceramente, não me interessam e poluem esta minha coisa engraçada a que orgulhosamente chamo bomba inteligente (cada vez gosto mais do nome que escolhi para o blogue). Mas a falta de ética enerva-me muito. Fico assim toda tremeliques. Julgo que o autor por desconhecimento, ou seja lá o que for, não terá percebido algo que para mim (e não só) é lógico. O castigo quando é desmedido gera uma situação de injustiça, e não gosto nada disso. Aceite um beijo de sinceras desculpas.
Uma jornalista da TVI entrevista um vendedor de bolas de berlim: "As suas bolas o que têm de especial?" Hei-de lembrar-me desta porque é sempre uma pergunta que fica bem em qualquer jantar.
O Leandro pediu-me para analisar a palavra depressão e verificar o seu étimo. Alguns dos significados de deprimere (apresento aqui o infinitivo do verbo para se perceber melhor) são os seguintes: abaixar, meter na terra, abater. Isto porque o prefixo de-, além do significado de afastamento em palavras como delirium, tem outro significado (graças a Deus, porque senão nunca mais acreditariam em mim) que é... tcha nan... o de movimento de cima para baixo. Ora premere significa (como se está mesmo a ver) enterrar, carregar, imprimir. Enterrar para baixo parece uma redundância, mas vejo a palavra depressão mais como uma insistência; é o estar mais em baixo do que o baixo. Tanta ginástica e ninguém me convidou para participar na Gymnaestrada...
Mas não me entendam mal. "Eu gosto muito de leeer", como diz esse vulto torneado da cultura portuguesa, Catarina Furtado. Mas adoro a apanha da maçã. Tirem-me essa actividade e não sou a mesma pessoa.
Não li o artigo da Clara Ferreira Alves, mas li os posts trocados entre o De Direita e o hARDbLOG. Chegaram-me para perceber a questão: a leitura torna-nos pessoas melhores? Gostei muito da maneira directa como o Manuel desabafou (desabafar de outra maneira é no mínimo estranho) e se defendeu. Diz o Manuel: "A Clara Ferreira Alves lança imenso a ideia de que a salvação está na leitura dos Clássicos". Pois. Essa frase é um clássico. Mas quais são as garantias? Significará isso que se ler a Ilíada me tornarei uma guerreira com um superior sentido de honra? Ou que depois de ler o Ulysses passarei a ter um entendimento perfeito da língua inglesa? E ler a Madame Bovary tornar-me-á uma mulher consciente das consequências nefastas da vaidade feminina? Se ler os contos e as peças do Tchékov vou tornar-me para sempre bondosa?

O problema é que já li estas obras e nada disso aconteceu. Não houve mudanças em mim por as ter lido. Será incompetência minha? É muito provável. Não me prometam mudanças, porque senão vou passar a devolver os livros que compro.

quarta-feira, julho 23, 2003

Finalmente uma boa notícia.

terça-feira, julho 22, 2003

Recebo algumas mensagens de pessoas que me enviam os endereços dos seus blogues. Respondo sempre porque julgo que uma mensagem merece sempre uma resposta. Essas mensagens são naturalmente privadas, como manda o bom senso. Hoje recebi um desses e-mails do autor do blogue Outro eu a pedir que o visitasse quando me apetecesse. Visitei-o e disse-lhe o que pensava: que tinha gostado, embora me parecesse tímido. Ora tímido é uma maneira polida de dizer que o blogue é pouco interessante.

Parece-me tonto que a partir da minha resposta, o autor deste blogue tenha escrito um post, transcrevendo o meu e-mail, criticando dessa forma a opinião que o próprio pediu (senão, para quê enviar o e-mail?). Como não suporto vidrinhos armados em chicos-espertos desde já dedico-lhe um sólido getalife!
A crítica literária não é um conjunto de citações; não é o resumo da história; não é uma minibiografia do autor.

segunda-feira, julho 21, 2003

Ai! Então não é que me esquecia do Terras do Nunca? Querido jmf! A verdade está reposta na lista ao lado, com um pedido de desculpas e um beijinho. Mas fico com o disco, se não se importa. Pode dar jeito para outras ocasiões.

domingo, julho 20, 2003

A lista de ligações à blogosfera está concluída. Por agora, pois claro.

sábado, julho 19, 2003

Conversa entre o psiquiatra e o paciente

- Tomou o medicamento para dormir?
- Não.
- Ainda bem. Esqueci-me de o avisar que pode provocar morte súbita.

sexta-feira, julho 18, 2003

Continuando o raciocínio do Abrupto no post Early Morning Blogs 12, gostaria de dizer que nos blogues há políticos; há jornalistas; há lambe-botas; há pessoas indecisas, paternalistas, muito paternalistas; há chatos, grandes chatos, amargos, tensos, com um humor azedo, sem humor. Mas muito mais do que na vida na qual não escolhemos estar (por mim, agradeço a quem me pôs cá), na blogosfera estamos porque queremos.

quinta-feira, julho 17, 2003

Sempre que o latinista ilustre escreve um texto, fico feliz. Venha de lá o Bruno Bettelheim (dele lembro-me - mal - da Psicanálise dos Contos de Fadas) e a interpretação da palavra holocausto. Pois eureka é uma muito boa palavra. Significa simplesmente encontrei (como referiu o latinista). Trata-se do pretérito perfeito do verbo ainda hoje utilizado pelos gregos, vrisko. Em grego antigo, o aoristo (tempo do passado) era construído com o chamado aumento (a letra "e" como uma espécie de prefixo), além da conjugação verbal. Neste caso, dir-se-ia evrika. Agora, o aumento caiu e só se diz vrika. Coisas por que as línguas passam.
Ando a ler o How to be Good do Nick Hornby. É um livro estranho e completamente diferente do romance filosófico The Good Apprentice, da Iris Murdoch. No primeiro, a personagem principal é uma médica adúltera que se auto-intitula "boa pessoa" e no segundo é um professor que decide abandonar tudo para se fechar num mosteiro e dedicar ao bem. Porque será tão importante para ambos ser bom e, sobretudo, ser reconhecido como uma boa pessoa?

quarta-feira, julho 16, 2003

Cenas da vida conjugal

(Em frente ao televisor a ver o Buena Vista Social Club)

Eu: Ainda não tocaram a minha favorita.
O meu marido: A minha também não. (pausa) Deve ser a mesma.
Conversa telefónica

Eu: Tens de fazer um blogue!
A minha amiga Adriana: Mas não sei. Não sei fazer um blogue.
Eu: Ó Adriana, com essa idade?
Os talentosos pastilhadores Ana e Vodka7 chegaram à blogosfera. Dois beijinhos de boas-vindas!
Muitas pessoas vêm ter ao bomba por fazerem uma simples pesquisa no google: bomba+inteligente. Pois deram com o sítio, meus caros! E logo à primeira. Do que eu gosto é de gente esperta, decidida e que sabe o que quer da vida. Bem-vindos!
A Amélia tem um blogue que se chama Procuro Marido. E, no máximo da coragem ou da pura insensatez, colocou uma fotografia do Júlio Isidro na página. É caso para dizer: aaaaaaaaaaargh! Ó Amélia, tem lá paciência! Divertiu-me também muito ver que a Amélia copiou os links do Aviz. Sim, aquele do jornal em hebraico e tudo! Psiuuu... mas falta-te o link para o Aviz. Bem-vinda à blogosfera!

terça-feira, julho 15, 2003

Gngngngn (a esfregar as mãozinhas). O Ivan Nunes é mais novo do que eu. Estou tão chateada! Eu a pensar que se tratava de um senhor respeitável dos seus 50 anos e afinal sai-me um catraio que escreve bem que se farta. É um menino de oiro! Ó Ivan, a partir de hoje trato-te por tu. É agora que escrevo umas linhitas sobre o paternalismo. Ou não.
Nestes dois ou três dias de pranto, recebi e-mails muito carinhosos e simpáticos. Estou atolada em flores e já apanhei uma dor de barriga da quantidade de bombons que recebi. Não há tristeza que me afaste de um bom chocolatinho. Em vez de me comover (já seria lágrima a mais), sorri com as palavras bonitas que me dedicaram. Obrigada a todos.
Vi o Fernando (vulgo emplastro) no programa do Herman a dizer que a SIC é bonita. As televisões gostam de mostrar os seus loucos: a Linda Reis, o Alexandrino (a meu ver, um louco perigoso), outros tantos nos telejornais e agora o pobre Fernando. Já perceberam por que razão digo que a loucura não tem piada nenhuma? Não tem. Nunca tem. Quando além de loucura temos miséria, ainda pior. A única coisa que me parece errada é culpar a televisão por mostrar estas coisas. A televisão é um negócio em que não há moral. Não serve para educar, nem para ensinar nada a ninguém. Não serve para orientar e nem mesmo para informar. Trata-se de um negócio cujo objectivo é entreter. E o povo português diverte-se com a loucura e aplaude-a. Afinal de contas, quem não tem moral: a televisão ou os espectadores?

segunda-feira, julho 14, 2003

Nada melhor do que um dia de grande tristeza para sacar da gaveta aqueles escritos amarelados pelo tempo. Não pude deixar de sorrir quando desenterrei este textito da minha adolescência em inglês.

The Cage

Once upon a time there was a cage. It was a magic cage, they said. It had such powers that it had been safely kept by the Queen. "This cage is mine", she cried. "It will give me back my youth and glamour." And all the villagers laughed for they did not believe in its powers. Until one day, the Queen decided to move into the cage and stay there for life. Again the villagers laughed, and the one who felt younger was the King.
Nos momentos de grande tristeza sinto-me dormente. Como se estivesse entre cá e lá, seja lá o que isso quer dizer. Fico pequenina, toda encolhida à espera que passe. Na grande tristeza anula-se a hipótese de distância e por isso só se pode pensar nela num intervalo, depois de um enxugar de lágrimas. Na grande tristeza há interrupções: limpam-se lágrimas, assoam-se narizes. Nesses intervalos, procuro a distância que me pode safar. O tempo que demoro a encontrá-la é quanto dura o momento de grande tristeza. Aproveito os intervalos para percebê-la e para assim conseguir adiá-la.

domingo, julho 13, 2003

As meninas Quezia, Papoilinha e Tudo Menos Política puseram fotografias dos respectivos gatinhos no blogue. Gngngngngn... (carne dixit) Apetece-me tanto expor o gato Varandas ao mundo, em cima da mesa, apanhado no bidé, sentadito a um canto da sala, esparramado no chão. Adorava fazer um especial Varandas, mas só tenho polaroides e não tenho scanner. Snif...
O Urinol elege-me como uma das grandes mictantes nacionais e mesmo europeias. Corro para o telefone; consulto amigas, amigos, familiares. Finalmente, tenho uma conversa séria com o meu marido. E concluo: não sou das mais mijadeiras que os meus mais próximos conheceram na vida. Já o gato Varandas...
E por falar em Charlottes... O 7000 Nomes escreveu há dias que passou na londrina Charlotte Street. O diabo é que parece que em Charlotte Str. há uma clínica para tratamento de doenças venéreas! Ai.
O Macguffin dá hoje a receita para a Pescada Charlotte, da deusa Maria de Lourdes Modesto. Segue a brevíssima troca de palavras da praxe com o meu marido:

- Olha, o Macguffin diz que há uma Pescada Charlotte!
- O quê? Com chocolate?
Gosto do blogue A Praia mas não conheço o autor. Por mais que a minha cabeça chocha se esforce não consegue ligar o nome à pessoa. Mas os escritos têm muita graça, o tom é excelente e o template é muito bom. Mas que bom template, Ivan; as frases todas bem aconchegadas, as palavrinhas bem visíveis, tudo em grande harmonia com o banner do blogspot. Este é o género de coisas em que uma rapariga obsessiva repara primeiro. Bem-vindo à blogosfera!
Isto hoje são só boas notícias. O Bicho Escala Estantes voltou! E logo com dois textos lúcidos sobre a Margarida Rebelo Pinto. Que seja muito rebem-vindo à blogosfera!
Iupi! O latinista ilustre voltou! Um beijo de reboas-vindas.

sábado, julho 12, 2003

O que se passará com o latinista ilustre? Terá ficado soterrado nos volumes do Rodrigo de Sá Nogueira? Volte, latinista! Não se preocupe com o ser blogador ou blogueador. Ainda lhe estou a dever uma resposta, mas também não consigo resolver os problemas do ovo (ôôn e avgo) e da água (hydor e neró) gregos. Tenho cá uma teoria que diz que as palavras já existiam e que as primeiras entraram na língua grega por via erudita e as segundas por via popular (achavam que o grego era sinónimo de erudição? Nã...). Mas não há nenhum dicionário que a possa comprovar. Não faz mal.
O Urinol é um blogue preocupado com o estado e a frequência das casas de banho públicas. Pode ser um tema tão interessante como qualquer outro. Bem-vindo à blogosfera!
Diz o DSM-IV: "um delirium caracteriza-se por uma perturbação da consciência e uma alteração da cognição que se desenvolvem num curto período de tempo". Mas o étimo de delírio diz mais: o prefixo de- designa afastamento, separação e lira (de-lira-re) significa sulco. Ou seja, delirar é saltar do buraco da razão. A etimologia é fascinante; a realidade do delírio, dramática.
O gato Varandas cumpriu hoje o Shabath; passou o dia fechado no armário.

sexta-feira, julho 11, 2003

Que grande ideia a de fazer um blogue só com receitas de cozinha, bem escritas, com graça e música à mistura. Ladies and gentlemen... O Cozinheiro!
Hoje percebi que não sou nietzscheziana. Antes tarde que nunca.
O Noite Escura (que tem pouco a ver com noite e é tudo menos escuro) escolheu uma música para o cocktail com Pimm's. A ideia de haver uma canção para cada frase, ou uma banda sonora para cada vida, é muito engraçada. Bem-vindo à blogosfera!

quinta-feira, julho 10, 2003

Bebida para o Verão: Pimm's com rodelas de pepino e uma rodela de limão, Ginger Ale e muito gelo. Uma delícia.
Tenho lido com atenção os escritos do Azul Cobalto. A. e M. são duas pensadoras de respeito, que dizem coisas como esta: "Sou sempre a mesma mas, às vezes, diferente." No outro dia o céu estava de um azul cobalto, que já vira muitas vezes, mas não sabia que nome lhe dar. Lembrei-me do blogue de A. e de M.

quarta-feira, julho 09, 2003

O meu Avô era monárquico e chumbou no último ano do curso de Direito por causa de uma resposta considerada insolente:

Professor: Qual é o maior veneno que vossa excelência conhece?
O meu Avô: É o partido republicano de que vossa excelência faz parte.
Ainda por causa desta frase, recorro ao dicionário. Há qualquer coisa na palavra holocausto que me provoca desconfiança. No Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa leio o significado: "sacrifício ou ritual religioso, em especial entre os antigos hebreus, em que a vítima era totalmente imolada pelo fogo". Trata-se de um vocábulo de origem grega constuído por 'ollos (o apóstrofo - espírito - antes do "o" é transliterado para "h"), que significa todo, e o verbo kavteo, que significa queimar. Porque é que nos andam a impingir a palavra holocausto, quando o que se passou foi um genocídio: "crime contra a humanidade, que consiste no extermínio deliberado e sistemático de um grupo nacional, racial, étnico, religioso"?
Estou em estado de choque desde segunda-feira. Numa mistura de surpresa e tristeza tudo por causa de uma frase, para mim reveladora de um pensamento perigoso. A frase é a seguinte: "Acreditar que Jesus Cristo existiu pode ser a mesma coisa do que acreditar que o holocausto não existiu." Tive vontade de vomitar. Em vez disso, respondi com violência: "Pois, com a diferença de que à primeira chamamos fé e à segunda antisemitismo". E agora?

terça-feira, julho 08, 2003

O Abrupto esceveu que os nossos comentários sobre o jantar da UBL pareciam um bocadinho carloscastrianos. Deixe-me que o corrija: os comentários escritos são formas de agradecimento pela disponibilidade das pessoas em estarem presentes e também a descrição de um serão agradável e divertido. Não sei se o Abrupto está a ver bem o que significa a palavra divertido.

À Susana, que me pôs no divã sem eu querer, só pergunto: e?
The Office na Faculdade de Letras de Lisboa

Professor: Podia fazer um trabalho sobre o trágico no Livro de Job.
Aluna: Hm... Isso é uma coisa bíblica, não é?

segunda-feira, julho 07, 2003

Por que razão se continua a chamar literatura e estilo a problemas de semântica?

domingo, julho 06, 2003

Ao Pipi, de quem muito se falou no jantar, dedico esta canção.
Pronto. Começo eu a falar sobre o jantar da UBL. Apesar de o Espaço Lisboa ser agora considerado um restaurante governado pela extrema-esquerda que pretendeu boicotar (sem nenhum sucesso) a nossa reunião, o arroz de pato estava uma verdadeira delícia e as farófias divinais (tenho cá uma teoria que diz que uma rapariga não é completa sem a sua sobremesa hipercalórica).

Bonito foi ver as caras de quem não conhecia e associá-las à escrita de quem leio há algum tempo. Acredito que as pessoas são aquilo que escrevem (talvez até por eu própria julgar que sou aquilo que escrevo), mas é nestas alturas que penso que estou errada: são melhores. Na escrita podemos omitir sentimentos e até mentir porque o texto é uma organização do nosso pensamento. Nessa organização, muitas coisas ficam esquecidas. Como sou afectiva, é-me impossível dissociar os afectos da organização racional na escrita.

Adorei conhecer o nosso Roman Polanski (como reconheceu imediatamente o meu marido) Pedro Lomba porque é jovem e inteligente. O que mais se pode querer da vida, meu querido Pedro? O Pedro Mexia é um doce de timidez com graça (usa essa vantagem com as raparigas, Pedro! As miúdas gostam disso). Os rapazes impecabilíssimos do De Direita são mais do que o que escrevem: são muito giros. O irmãos Noronha d'O Intermitente e do Valete Fratres! merecem castigo por nos terem privado da sua companhia no pós-jantar. Os complotistas são maravilhosos e fazem-me acreditar na próxima geração. Miguel, nunca mais deixes que te trate com paternalismo e que te mande para a cama no chat do Pastilhas. O fundador da UBL, Statler, veio expressamente da Covilhã para o evento e ainda bem! O Manuel do Picuinhices é o adulto mais persuasivo que alguma vez conheci. A sua mulher, a bonita e simpática Teresa, escolheu bem o pai dos seus filhos.

Aos amigos Nuno, Zé Diogo e Clara só quero dizer que vos adoro e que se fosse homem queria namorar com a Clara. Mas como sou mulher, escolhi o Carlos.

sexta-feira, julho 04, 2003

Aos vizinhos costumamos pedir sal, açúcar, farinha ou, se formos ousados, ovos. Com os bons vizinhos é possível ter uma conversa como esta:

- Desculpe...
- Sim? Olá...
- Preciso de ler uma peça do Tchékov, O Jardim das Cerejeiras.
- Ah, tenho-a em inglês.
- Óptimo! E tenho de ler a Mãe Coragem, do Brecht...
- Essa tenho em francês.
- Hm... posso tentar. Por acaso não tem A Menina Júlia do Strindberg?
- Tenho em português.
- Que bom! Posso pedir-lhos emprestados durante três dias?
- Espere. Deixe-me escrever no caderninho... Até segunda.
Samuel Beckett percebeu. "(...) she did not know... what position she was in... imagine!.. what position she was in!.. whether standing... or sitting... but the brain-... what?.. kneeling? (...)" (Not I, 1972)
O Macguffin deu a cara! E que livros são esses atrás do nosso mais querido pastilhador? Ora vejo Oakeshot, vejo Belin, vejo Beckett...
O Miguel Sousa Tavares escreve hoje um texto comovedor sobre Buenos Aires. Não li o post scriptum.
Hoje realiza-se o maior blind date de que há memória: o jantar da União dos Blogues Livres.

quinta-feira, julho 03, 2003

Clicou? Pois...
Cuidado! Perigo! Se quiser trabalhar, ler, estudar, passear ou dormir, não clique aqui.
Li no Guerra e Pás (que desde já cumprimento com um beijo de boas-vindas) um texto muito interessante (post #78) sobre disparates que dizemos, aplaudimos, em que nos refugiamos e que tomamos como certezas durante toda a vida. O habitual "gostos não se discutem" como ponto final de uma discussão precisamente sobre o gosto é pateta. Como dizia um muito influente professor meu: "Se os gostos não se discutem, porque não fazemos outra coisa?" De facto, a expressão em latim traduz-se por "gostos não se disputam". E é nesta altura que me levanto para tirar o pó da Crítica da Faculdade do Juízo, de Kant. Kant explorou a diferença fundamental entre disputieren (disputar) e streiten (discutir), pegando nas diferenças entre o latino "de gustibus non disputandum est" e o alemão "über Geschmack lässt sich nicht streiten". Se disputarmos gostos, isso significará que podemos apresentar provas desses gostos e dizer que um gosto é melhor do que o outro. E o que significa isto? E para distrair da minha incapacidade para responder, pergunto: e o que é que o inglês "there's no accounting for taste" tem a ver com isto?
Acordei a pensar que o Gregor Samsa provavelmente sofria de uma doença mental orgânica e tinha delírios de infestação.

quarta-feira, julho 02, 2003

O bomba hoje fez quatro meses. Agora é que percebi. Cutchi-cutchi-cu.
Ideia da semana: o Pacheco Pereira é o Graça Moura.
O meu marido gostava que eu fosse esta, mas aguenta-me porque me acha parecida com esta. Quando era miúda, queria ser esta, mas agora gostava de ser uma mistura entre esta e esta, ter uma pitada desta (dizem que já tenho, o que facilita a coisa) e, já agora, desta. Se este post repleto de angústias femininas não chega para definir o género de quem escreve estes textos, vou ali e já venho.
No outro dia, de cabeça puxada para trás no cabeleireiro lembrei-me do seguinte: o Cruzes Canhoto deve gostar de Heraclito. Isto porque há tempos tivemos uma discussão sobre a existência de Homero. Uma discussão que não pode levar a lado nenhum, como se imagina. E lembrei-me do Heraclito porque tem um fragmento que reza assim: "Homero merece ser expulso dos concursos e ser açoitado, bem como Arquíloco." (A tradução é da maravilhosa Maria Helena da Rocha Pereira.) Ó diabo... Estaria com certeza Heraclito a falar dos poemas homéricos e não do Homero propriamente dito, até porque o fragmento é situado entre os séculos VI e V a.C.

Percebe-se que Heraclito não goste de Homero. Os fragmentos "a mim mesmo me estudei" e "aos homens todos é dado conhecerem-se a si mesmos e saberem pensar" demonstram o oposto do que são os heróis homéricos: homens sem vontade, sem capacidade de decisão, sem consciência de si; governados pelos deuses que tudo decidem. Para o homem homérico não há escolha. Isto leva-me a pensar se haverá, de facto, tragédia nos poemas homéricos. Porque a tragédia não é só acreditarmos que o destino existe; que não podemos escolher. A tragédia é injusta, implica um desequilíbrio; um castigo demasiado pesado para o crime cometido. Afinal de contas, o que é isso de matar o pai para dormir com a mãe?
Tenho dois livros à minha frente, ambos de leitura obrigatória num muito curto espaço de tempo. São eles o Horace, do Corneille, e o The Death of Tragedy, do George Steiner. Optei pelo clássico um-dó-li-tá, cara de amendoá, o segreto coloreto quem está livre, livre... Lá terá de ficar o Corneille para outra encarnação. Como se tivesse alguma vez duvidado.

terça-feira, julho 01, 2003

A loucura afeia as pessoas bonitas, embrutece as inteligentes, entristece as alegres; transforma quem não deseja a mudança. A loucura é uma espécie de queda, umas vezes repentina, outras mais lenta; mas uma queda. Por isso, não acredito que, por exemplo, o brilhantismo do génio se possa dever a uma coisa tão degradante como a loucura. Isso seria considerar a possibilidade de haver doenças boas e a palavra doença segue outro caminho, oposto ao da palavra bom.

Não há nada de encantador e fascinante na doença mental. O armazém da memória é assaltado e pela porta escancarada saem as ideias, a imaginação, a lucidez. Restam as prateleiras caídas, o pó levantado, as caixas desarrumadas, as faltas e a certeza da impossibilidade da reposição do stock. Não é o vazio, mas a confusão.
O Pipi respondeu de forma genial ao poema de VGM, publicado pelo Abrupto. Pela primeira vez, em muitos anos, dou por mim a olhar embasbacada para o ecrã. Obrigada Pipi, por nos surpreenderes diariamente.
Querem ver isto? Querem lá ver que vamos ter um Ponto de Encontro na blogosfera? O Horácio (desde já uma vénia pelo nome superior) do Blog de Vela fala do bomba e de mim de uma maneira muito carinhosa e diz que, em tempos, conheceu alguém como eu. Ora eu digo: impossível. Só podia ser eu própria. Horácio, se foste meu colega de carteira a Literatura Inglesa com o Professor Álvaro Pina, chamo o Henrique Mendes e temos programa. Se não, tens de decobrir essa tua amiga que também a quero conhecer.

O Horácio pergunta se já acabei de ler o The Good Apprentice, da Iris Murdoch. Ainda não, mas estou quase. Mas uma coisa já confirmei: não é possível ser uma boa pessoa sem se fazer coisas boas.
Uma vez que sou a responsável pelo boato de que o Vasco Graça Moura seria o Pipi, sinto que o seu poema, uma contribuição para a cultura portuguesa, agora publicado pelo Abrupto, a desmentir o boato se deve um bocado a mim. Peço desculpas ao Pipi e insisto que, se fosse verdade, teria muita graça.
O autor da nova fatiota do bomba é o estilista, designer e santo (porque tem muita paciência para os meus caprichos) Nelson do blogue A Espada Relativa. Obrigada!

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